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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

PRECISAMOS FALAR SOBRE MARTHA...

★★★★★★★
Título: Martha Marcy May Marlene
Ano: 2011
Gênero: Suspense, Drama
Classificação: 16 anos
Direção: Sean Durkin
Elenco: Elizabeth Olsen, Hugh Dancy, Sarah Paulson, John Hawkes
País: Estados Unidos
Duração: 102 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Martha é uma garota estranha e ninguém sabe o que se passa com ela.

O QUE TENHO A DIZER...
Dirigido, escrito e também filme de estréia do diretor Sean Durkin, que chamou a atenção do circuito independente por contar uma história estranha de uma menina esquisita e com um passado enigmático chamada Martha, às vezes Marcy May e raramente de Marlene. O filme estreiou no Festival de Sundance, um dos mais importantes do circuito não comercial mundial, e acabou ganhando o prêmio de Melhor Direção. Foi indicado e ganhou outros prêmios que, em sua maioria, consagraram o diretor/roteirista e a atriz Elizabeth Olsen, que por sinal é irmã mais nova das gêmeas Mary-Kate e Ashley Olsen, além de também ser sua estréia como atriz. Chega a ser impressionante porque a atuação que suas irmãs gêmeas não ofereceram em todos os filmes que trabalharam, Elizabeth oferece em um único filme.

A única coisa que sabemos de Martha é que por alguma razão desconhecida ela passa a morar em um tipo de sociedade alternativa, naturista e sexista que realiza cultos espirituais e sexuais com garotas virgens. O grupo é liderado pelo enigmático Patrick (John Hawkes), e possuem uma lista de regras rígidas e outras mais adaptáveis. Cada uma das garotas acaba descobrindo sozinha sua função no grupo, mas basicamente devem servir sexualmente o líder. Elas só podem engravidar dele, e só podem ter filhos do sexo masculino. Elas dividem as mesmas roupas, os mesmos cômodos, compartilham sexo entre si, são constantemente abusadas, moral ou sexualmente. Perdem a vergonha, os pudores, o apego por bens materiais e todas as regras sociais e morais importantes na sociedade convencional, se transformando em pessoas livres que fazem o que querem, do jeito e na hora que quiserem, perdendo o senso de julgamento e adaptação. Além do comportamento machista dos homens e submisso das mulheres, regularmente o grupo também invade mansões por razões que também não são claras, e eventualmente situações mais graves e sérias podem ocorrer, como o filme deixa implícito.

Nunca sabemos como Martha foi parar lá, como ela achou o lugar, se ela foi por espontânea vontade, se foi sequestrada ou coagida, ou quais as regras de aceitação do grupo. Isso tudo é um mistério. O filme começa com sua fuga desesperada, cujas razões, a princípio, não são claras. Sem ter a quem recorrer, Martha resolve procurar sua irmã Lucy (Sarah Paulson), que imediatamente oferece ajuda. Martha passou 2 anos vivendo com o grupo e a perda de senso crítico, julgamento e adaptação são os grandes responsáveis pela dificuldade que ela tem de se inserir novamente dentro das regras éticas e convencionais de uma sociedade que ela foi convencida e condicionada a esquecer.

Esse nome tão extenso não é por acaso, ele também tem um significado importante no filme. Martha é como ela é chamada por sua irmã e cunhado, seu nome de batismo. Marcy May é como ela chamada pelas pessoas da "sociedade alternativa" em que ela foi morar. Marlene é o único nome que não é citado durante o filme todo, mas pode ser visto como uma lista de regras anotadas na parede da casa, acima do telefone, pois Marlene é o nome comum que todas as garotas devem usar ao atender o telefone, assim como os rapazes devem fazer com o nome Michael.

É um filme confuso, que em momento algum esclarece o que se passa com a personagem principal, como se o diretor/roteirista quisesse que o espectador tivesse a mesma sensação e impressão que Lucy e seu marido, Ted (Hugh Dancy), tem: a de dúvida, desconfiança e insegurança. As interpretações, principalmente de Elizabeth Olsen, chegam a ser impressionantes e bastante impactantes. É um filme do subgênero suspense dramático. O drama se desenvolve pelas dificuldades pessoais de Martha se adaptar fora do grupo e de sua família compreender seus problemas, enquanto o suspense gira em torno do mistério de seu passado e da imprevisibilidade da personagem.

Não há o que discutir sobre a direção do filme. Sean Durkin consegue de forma constante manter a distância e o desconforto, bem como nunca deixar o espectador saber de fato o que aconteceu. Tudo é dedutível, e a sensação de frustração, raiva, angústia e desespero é construído em cima da falta de informação, e são esses buracos do filme que faz quem assiste terminar no mesmo sentimento que Lucy e Ted, de impotência e desistência. A trilha sonora aparece apenas em momentos cruciais, e o som do violino distorcido chega a ser ensurdecedor de tão caótico, exatamente como deve estar o psicológico de Martha.

Não é fácil de ser digerido por causa da sua história desconstruída e lenta. É um daqueles filmes que mostram muito mais do que simples conflitos internos ou entre personagens, mas que se desenvolvem em cima de bases sólidas e exemplos realistas e não fantásticos de distúrbios psiquiátricos, como acontece com o distúrbio de personalidade em Possuídos (Bug, 2006) ou a sociopatia psicótica em Precisamos Falar Sobre O Kevin (We Need To Talk About Kevin, 2010). Por isso filmes como esse se tornam muito melhor apreciados depois do conhecimento das doenças em questão, porque aí toda a história e as condições das personagens se justificam por completo. Neste filme a história foca apenas nos gatilhos que levaram a personagem a desenvolver os delírios que caracterizam a paranóia aguda que ela desenvolve, numa confusão entre aquilo que está na sua cabeça com a realidade. Por isso a edição do filme consegue mesclar a realidade com as lembranças tão bem, pois o indivíduo paranóico não consegue dissociar a realidade do stress vivencial sofrido. Talvez a personagem principal já sofresse de predisposições para a doença e que posteriormente se agravaram com os abusos sofridos, mas essa dúvida também é uma das chaves do filme.

CONCLUSÃO...
É um filme alternativo por lidar com temas que são difíceis de serem assimilados por quem não tenha conhecimento ou interesse em esmiuçar as condições da personagem e do ambiente determinante, mas se transforma num material interessante para quem queira mais do que algo óbvio ou didático. Também é um quebra-cabeças com peças faltando e um final sem conclusão, o que pode ser bastante irritante para muitas pessoas.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

FRACO, COMUM E PREVISÍVEL...

★★
Título: Código Vermelho (State Of Emergency)
Ano: 2010
Gênero: Suspense, Terror
Classificação: 14 anos
Direção: Turney Clay
Elenco: Jay Hayden, Scott Lilly, Tori White, McKenna Jones
País: Estados Unidos
Duração: 90 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Uma explosão de uma indústria de produtos químicos libera uma toxina que contamina habitantes de um condado, afetando o sistema nervoso e deixando-os violentos.

O QUE TENHO A DIZER...
O filme começa bem e os créditos enfatizam bastante que o filme foi produzido pelos "Irmãos Clay, bem como o roteiro foi escrito e dirigido por Turney Clay. A maneira como é apresentado é como se Turney Clay ou os "Irmãos Clay" já fossem famosos por alguma coisa, o que não são.

Depois que filmes desse estilo surgiram com tudo nos anos 2000, vários lançamentos excelentes pipocaram, como os remakes das obras de Romero, Madrugada dos Mortos (Dawn Of The Dead, 2004) e A Epidemia (The Crazies, 2010), ou a série de Danny Boyle, Extermínio (28 Days Later, 2002) e Extermínio 2 (28 Weeks Later, 2007). Levando isso em consideração, o filme poderia ter sido interessante se tivesse fugido do óbvio, o que não faz em momento algum.

É cheio de momentos clichés, e não tiveram nem preocupação em ao menos mudarem a ordem dos acontecimentos. Tudo piora quando entra uma personagem chata e metida a garota revoltada enquanto ninguém sabe se o mundo está acabando de verdade ou se vão jogar uma bomba em tudo pra conter a contaminação.

Ou seja, incoerente só pra criar clima.

CONCLUSÃO...
Ruim e fraco. Fique com os outros citados.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

NÃO COLA E NEM DECOLA...

★★★★★
Título: 2 Dias Em Nova York (2 Days In New York)
Ano: 2012
Gênero: Comédia, Romance
Classificação: 14 anos
Direção: Julie Delpy
Elenco: Julie Delpy, Chris Rock, Albert Delpy, Alexia Landeau, Alexandre Nahon
País: Alemanha, França, Bélgica
Duração: 96 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Marion agora está casada com outra pessoa, o locutor de rádio Mingus. Dessa vez, ao invés de ela ir a Paris visitar sua família, são eles quem vão para Nova York passar dois dias em sua casa. O resultado é uma confusão de línguas e informações somados ao caos de uma das maiores cidades do mundo.

O QUE TENHO A DIZER...
Que Julie Delpy tem talento, isso é inegável. A diretora, escritora, produtora, atriz e compositora já fez inúmeros filmes memoráveis, seja como atriz ou diretora. Entre eles estão os conhecidos e adorados Antes do Amanhecer (Before Sunrise, 1995) e Antes do Pôr do Sol (Before Sunset, 2004), filmes que elevaram o nível e conseguiram inovar o gênero "comédia romântica", caindo no gosto até mesmo dos mais críticos e preconceituosos sobre um estilo que é constantemente taxado por clichés, mas que recebeu um ar diferenciado com essas duas obras do diretor Richard Linklater e que, por sinal, também foi anunciada uma terceira parte prevista para 2013.

Esses dois filmes foram a grande fonta de inspiração de Delpy, mas enquanto nos filmes de Linklater as personagens construiam uma relação de confidência e companheirismo apenas em diálogos, desenvolvendo discussões fundamentalistas ou existencialistas sobre temas simples do cotidiano, em 2 Dias Em Paris, Julie Delpy resolveu contar uma história similar, mas por uma outra perspectiva: a de uma relação já construída pelos pontos de vista cômicos e dramáticos do cotidiano. As diferenças de personalidade entre a francesa Marion (Julie Delpy) e o norte-americano Jack (Adam Goldberg) era o que alimentava a relação desfuncional e exagerada que entrou em uma situação de risco quando Jack foi a França conhecer os amigos e familiares de Marion, numa dificuldade de comunicação e num choque de culturas que foi responsável para colocar a prova a relação dos dois.

2 Dias Em Nova York a situação é um pouco diferente. Alguns anos se passaram, Marion teve um filho com Jack, mas a relação terminou enquanto ela ainda estava grávida. No lugar de Jack entrou Mingus (Chris Rock). Ambos começaram a namorar e um dia resolveram morar juntos. Os dois são parecidos e tem gostos em comum, mas Mingus fica intolerante com os parentes de Marion que resolveram visitá-la em Nova York e que são os mesmos que fizeram da vida de Jack um inferno no passado, com excessão da mãe que faleceu (por sinal, uma homenagem muito bonita, já que a mãe de Marion era interpretada pela mãe de Julie Delpy, a atriz Marie Pillet, e que veio a falecer em 2009).

A grande graça de 2 Dias Em Paris, e o que faz dele uma comédia romântica tão interessante quanto os filmes de Linklater, é o ponto de vista de Marion sobre a relação e as dificuldades que as pessoas têm de aceitar umas às outras com todos seus defeitos e bagagens. Delpy mostra no primeiro filme uma realidade moderna comum, apontando críticas, defeitos e reflexões que muitas vezes faltam entre duas pessoas, mas principalmente mostrando que o grande problema é a falta de confiança e de comunicação, independente de qual ela seja, ou como ela seja feita. Já em 2 Dias Em Nova York isso não acontece e esse ponto de vista pessoal, introspectivo e reflexivo da personagem não existe mais, soltando na tela apenas um caos entre franceses e americanos sem qualquer relevância ou fundamento. Assim, o filme deixou de ser um olhar objetivo e com reflexões subjetivas sobre as relações para se tornar um filme com um teor socioantropológico que não cola e nem decola.

Dessa vez Julie Delpy divide o roteiro com Alexia Landeau, que também atua nos dois filmes no papel de sua irmã mais nova, Rose. O ponto de vista cômico e o tempo de comédia afiado que Julie Delpy criou no primeiro filme deu lugar ao exagero e a situações forçadas, e a ironia constante nos diálogos sincronizados e inteligentes deram lugar a discussões tolas e fúteis numa bagunça francesa que mais irrita do que entretém. Talvez esse caos ambiental que Delpy criou tente ser uma metáfora ao caos, a futilidade e a caretice norte-americana, mas de forma alguma essa continuação manteve as qualidades e os prazeres que o primeiro filme desperta ao assistir. Até mesmo a narrativa corrida em sincronia com imagens editadas que ilustrava o pensamento da personagem de forma ágil e acessível viraram apenas um esboço. Em Paris o roteiro desenvolve numa constância fluida pelas ruas e pontos turísticos franceses, fazendo da cidade uma personagem ativa na história, mas em Nova York as cenas são desconexas, beiram o ridículo e sempre em locações internas, apenas para intensificar a bagunça familiar, levando a cidade apenas no título.

Sem dúvida o filme falha ao dar continuidade a uma comédia romântica que Delpy conseguiu criar um diferencial e se manter à altura dos filmes de Linklater. Sem dúvida é uma continuação incomum e sem pretensões de ser superior ou inferior, mas falha ao tentar mostrar uma personagem mais madura quando suas incertezas e neuroses se mostram mais presentes do que antes, além do foco ser perdido toda vez que a família da personagem entra em cena, não acrescentando muita coisa consistente como no primeiro filme.

CONCLUSÃO...
Esta continuação se mostrou desnecessária e aquém às expectativas positivas que geraram quando foi anunciada e causará estranhamento e, talvez, frustração àqueles que conheçam o primeiro filme. E caso não conheçam, devem. E depois de conhecer, fique apenas com ele.

domingo, 26 de agosto de 2012

A CASA É MUDA, MAS RECLAMA...

★★★★
Título: A Casa Muda (La Casa Muda)
Ano: 2010
Gênero: Terror
Classificação: 14 anos
Direção: Gustavo Hernandez
Elenco: Florencia Colucci, Abel Tripaldi, Gustavo Alonso
País: Uruguai
Duração: 86 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre um pai e uma filha que vão trabalhar e colocar em ordem uma casa no meio da floresta para que ela seja vendida, mas dentro da casa coisas estranhas começam a acontecer.

O QUE TENHO A DIZER...
Eu não gosto muito de clichés, mas às vezes eu gostaria que o filme fosse apenas baseado nisso do que tentar fazer algo muito mirabolante e que não dá certo. É o caso desse filme, que ao mesmo tempo que tenta fugir deles acaba caindo em outros de uma forma tão ruim que a história se torna intragável. O ponto negativo do filme já começa dizendo que é baseado em fatos verídicos, e eu não sei porque ainda insistem em tentar convencer o espectador de uma coisa que ele sabe que não é verdade.

A Casa Muda teve grande repercurssão no circuito alternativo de cinema principalmente porque foi um dos longa metragens mais baratos já produzidos, custando em torno de apenas US$6 mil, e também porque foi promovido como um filme sem corte, ou seja, realizado em uma única tomada. Mas quem ficar atento vai perceber que isso também não é verdade e que os cortes existem, mas estão muito bem disfarçados. Há quem diz que há cortes a cada 10 minutos, há quem diz que ocorre a cada 12 minutos. Independente do tempo entre uma tomada e outra, elas existem, mas o interessante é a sensação de como se realmente não tivesse. O filme acabou ganhando uma versão norte-americana inferior (se é que é possível ser mais), A Casa Silenciosa (Silent House, 2011).

Essa experiência e tentativa de realizar um filme em uma única tomada já foi feita em 1948 no filme Festim Diabólico (Rope, 1948), de Alfred Hitchcock, a diferença é que no filme de Hitchcock, baseado em uma peça teatral, o cenário é uma única sala. Festim também possui cortes disfarçados, tendo sido feito em 10 tomadas de 10 minutos cada, já que era a capacidade máxima de tempo de cada rolo de filme na época. Brian De Palma, admirador e copiador extensivo de Hitchcock, também tentou essa façanha, mas apenas nos 15 minutos iniciais do filme Olhos de Serpente (Snake Eyes, 1998), numa seqüência pra lá de ousada e coreografada, já que a câmera acompanha o ator principal (Nicholas Cage) por vários níveis de um ambiente público e movimentadíssimo. Quentin Tarantino e Scorcese também são fãs de tomadas longas, assim como todo diretor que gosta de ousar.

Filmado com uma câmera digital, essa tentativa de querer inovar o gênero de filmes de horror em primeira pessoa, embora não soe muito original, consegue dar um tom de novidade. O clima de suspense é proporcional à constância da filmagem, brincando com o medo nato do escuro e daquilo que não podemos ver, sem truques de edição ou câmera, tudo em tempo real, muito simples e funcional. As cenas são bem realizadas e dirigidas muitas vezes com precisão para as gafes não surgirem. A iluminação bastante escura acaba contribuindo bastante o clima sombrio e de observador que o espectador experimenta. O filme não consegue assustar tanto, mas deixa o clima de tensão constante.

Mas enquanto temos grandes qualidades técnicas dentro do baixo custo, há o pecado da falta de uma história adequada. Aliás, não há uma história, só existe um argumento tolo e confuso para dizer que o filme tem um roteiro. A personagem principal apenas anda e anda pela casa com um lampião elétrico, e ao invés de se preocupar com o que pode estar atrás e no escuro, ela se preocupa em observar detalhes, objetos e a procurar coisas em lugares que não caberia como, por exemplo, quando ela está procurando e chamando por seu pai enquanto verifica uma estante de livros (???).

Claro que isso pode fazer algum sentido no final, quando descobrimos que a personagem sofre um misto de síndrome de ilusão pós-traumática com um surto indefinido de amnésia e que acaba resultando em um ataque psicótico. Mas essa conclusão de soltar falsas pistas para o espectador e posteriormente justificar com alguma(s) doença(s) psiquiátrica(s) se transformou numa recorrência do cinema atual, um novo cliché, como acontece em filmes como Identidade (Identity, 2003), Possuídos (Bug, 2006), 1408 (2007), ou até mesmo Ilha do Medo (Shutter Island, 2010). Esses filmes trabalharam bem em cima dos argumentos, mas nesse filme essa conclusão é dedutiva e fica no ar, deixando quem assiste perdido em acontecimentos sem pé e nem cabeça, confuso na hora de encontrar uma explicação. É aí que digo que são nessas horas que o uso dos clichés comuns seriam bem vindos, não porque o filme seria mais fácil, mas porque ele seria mais coerente em seu propósito e menos propenso a erros.

É uma ficção que passa a deixar de convencer depois de tentar sair da trivialidade com medo de se tornar mais um filme comum do gênero. E veja só, não apenas continuou sendo mais um, como também não conseguiu impressionar tanto quanto poderia.

CONCLUSÃO...
Uma idéia interessante e dentro um argumento fraco. Como um um pão bolorento, bonito por fora, mas estragado por dentro.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

TÉCNICA NÃO TEM PREÇO...

★★★★★★★★
Título: Absentia
Ano: 2011
Gênero: Drama, Suspense, Terror
Classificação: 14 anos
Direção: Mike Flanagan
Elenco: Courtney Bell, Katie Parker, Dave Levine, Justin Gordon, Morgan Peter Brown
País: Estados Unidos
Duração: 87 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Depois de 7 anos a procura de seu marido desaparecido, com a ajuda de sua irmã recém chegada na cidade, uma mulher decide simplesmente aceitar o fato de que seu marido morreu e dar andamento na sua vida e no filho que espera. Mas sua irmã passa a se deparar com fatos que mostrarão que o desaparecimento de seu marido não é apenas um fato isolado como também é similar ao de muitas pessoas.

O QUE TENHO A DIZER...
Ainda inédito no Brasil, achei esse filme por acaso em um site (é fácil achá-lo), fiquei curioso com a sinopse e fui pesquisar a respeito no IMDb. A nota oferecida pelos avaliadores é baixa, com uma média de 5,7, mas em compensação os comentários foram bastante favoráveis e percebi que esse era mais um daqueles filmes que muitas pessoas assistem e acabam subjulgando o produto porque não oferece aquilo que esperam, porque ele não é um filme de horror como a expectativa de muitos pode achar.

Este filme faz parte dessa nova safra de filmes de um subgênero que poucas pessoas estão dando atenção, o suspense dramático ou horror dramático, filmes que abusam de um enredo dramático familiar ou pessoal, e se desenvolvem como um filme desse gênero, mas que acaba tendo reviravoltas ou conclusões com características do suspense ou terror. Uma atmosfera similar a de filmes como Os Outros (The Others, 2001), O Orfanato (El Orfanato, 2007), Os Olhos de Julia (Los Ojos de Julia, 2010), e os mais recentes O Despertar (The Awakening, 2011), e o sem título nacional definido, The Tall Man (2012). Este último filme com uma temática até bastante similar, mas ao invés de falar de adultos, fala do desaparecimento de crianças.

É um estilo que notei ser mais comum em filmes europeus e particularmente assisti mais filmes espanhóis assim, talvez porque o público norte-americano goste de coisas fáceis e definidas, porque não me lembro de ter assistido alguma produção americana desse gênero que tivesse feito sucesso, com excessão de Os Outros, mas que é um filme que nem segue muito as características que definem esse estilo. Confesso que esperava um filme insosso e tedioso, mas quando acabou me encontrei tenso, com respiração curta e ao mesmo tempo lágrimas nos olhos.

O filme é dirigido, escrito, editado e produzido pelo desconhecido Mike Flanagan, e o mesmo pode ser dito sobre os atores, também pouco conhecidos e com poucos trabalhos relevantes no currículo, mas o talento de todos é evidente. Filme independente, custou apenas a bagatela de US$70 mil, uma produção muito barata pelas qualidades que ele oferece, mesmo com alguns defeitos como imagem granulada pela baixa qualidade da câmera, mas que combinam perfeitamente com o enredo do filme. Mike Flanagan participou e ganhou diversos festivais de cinema de horror espalhados pelos EUA com este filme, o que demonstra a boa aceitação e que existe um público cansado do gênero cru e comum de suspense ou terror. As pessoas não estão mais interessadas em levar apenas sustos, elas querem uma história apreensiva e que surpreenda pelo misto de sensações.

A história tenta dar razões para o sumiço de Daniel (Morgan Peter Brown), marido de Tricia (Courtney Bell), que está desaparecido há 7 anos e sem deixar qualquer pista. O clima criado pelo diretor é de solidão, confusão e distanciamento até mesmo quando Callie (Katie Parker), a irmã mais nova, chega na cidade depois de anos viajando, para ajudar Tricia com mudanças que acontecerão por conta da sua gravidez.

As coisas começam a mudar quando Callie encontra um homem estranho em um túnel que liga o bairro à cidade, e ao voltar para dar comida ao estranho, ele desapareceu. Posteriormente a isso, objetos estranhos começam a aparecer, como em um jogo de trocas, chamando a atenção de Callie para outros fatos que vem a acontecer.

Não estragaria muitas surpresas se eu contasse mais sobre o filme, porque ele não tem grandes mistérios, mas mesmo assim acho bom mantê-los de lado por conta das surpresas dramáticas, que é o grande atrativo do filme junto com o clima de suspense mantido na expectativa que criamos frente aos acontecimentos de cada uma das personagens. As atuações são bastante convincentes e a direção consegue deixar a tensão suspensa o tempo todo, desde a forma como o roteiro e os atores são conduzidos durante o processo, realizando cenas certas nas horas certas, até o uso de diferentes estilos de filmagens em momentos adequados, em sequencias subjetivas e objetivas, câmeras livres e enquadramentos fechadas, opacos, claustrofóbicos. Mike Flanagam também abusa de diferentes lentes de filmagem, principalmente em momentos de tensão, objetivando a sensação de foco e atenção. São truques manjados, mas que quando usados de maneira correta e em momentos certos é quase imperceptível, ao mesmo tempo que consegue causar o impacto pretendido em quem assiste. Portanto, para tirar do espectador sensações e sentimentos, basta saber utilizar as técnicas. E técnica não tem preço, muito menos boas idéias.

Absentia tenta dar explicações sobrenaturais para os acontecimentos, mas ao mesmo tempo o roteiro não desvia da realidade ao dar outras breves alternativas e deduções mais plausíveis, o que dá a livre escolha a quem assiste de acreditar mais em um ponto de vista do que outro, ou apenas aceitar os dois lados.

CONCLUSÃO...
Uma das grandes surpresas que assisti esse ano e que recomento àqueles que desejam sair um pouco do óbvio e do susto encomendado. Como disse antes, o filme tem um teor muito mais dramático, e o clima de horror e suspense são criados exatamente por explorar diferentes pontos de vista dramáticos que raramente costumamos ver. Definitivamente merece ser assistido por quem quer mais do que susto gratuito e procura uma história simples, porém densa e que se desenvolve por vários lados.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

PRAZER, SOU UM EXCELENTE FILME NORUEGUÊS...

★★★★★★★★
Título: Headhunters (Hodejegerne)
Ano: 2011
Gênero: Crime, Suspense
Classificação: 14 anos
Direção: Morten Tyldum
Elenco: Aksel Hennie, Synnove Macody Lund, Nikolaj Coster-Waldau, Eivind Sander, Julie Olgaard
País: Alemanha, Noruega
Duração: 100 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Um poderoso chefe de uma empresa especializada em recrutamentos de alto escalão esconde um segredo bastante incomum para complementar a renda familiar, ele também é um meticuloso ladrão de obras de arte. Mas tudo dá errado quando ele descobre que sua próxima vítima também é o amante de sua mulher.

O QUE TENHO A DIZER...
Obviamente que todos os envolvidos nesse filme são desconhecidos por esses lados de cá do mundo, o que não é de se espantar, já que são poucas as produções de países como Holanda, Bélgica, Alemanha, Noruega e Suécia que conseguem chegar por aqui sem se perder no meio do caminho. E isso não significa que o cinema desses países seja ruim, muito pelo contrário, o cenário é bastante expressivo, mas apenas no continente europeu. Alguma atenção é dada quando alguma produção recebe alguma indicação na categoria Melhor Filme Estrangeiro no Oscar, ou quando, mais raramente, é baseado em alguma coleção que se transforma numa febre mundial, como aconteceu com a trilogia Millennium, de Stieg Larsson.

Não é à toa que esse filme é produzido pela mesma produtora das adaptações cinematográficas suecas da trilogia Millennium, a Yellow Bird, o que deu liberdade para que várias cenas aéreas utilizadas anteriormente na trilogia fossem reaproveitadas nessa produção (com apenas algumas alterações digitais), além de outras referências diretas à trilogia baseada nas obras de Larsson.

O filme é baseado no livro homônimo do autor norueguês Jo Nesbo e que teve sua primeira publicação em 2008. Mas o autor de 52 anos já possuia vários títulos de sucesso anteriormente, incluindo uma série de (até o moment0) 9 livros de investigação centrados sempre no mesmo personagem, o policial Harry Hole. Headhunters teve excelente receptividade, e no mesmo ano de sua publicação o autor também inaugurou uma organização filantrópica que tem como objetivo diminuir o analfabetismo infantil em países de terceiro mundo, levando o nome do personagem de sua famosa série de livros, a Harry Hole Foundation. Jo Nesbo fez questão que todos os lucros gerados pelos livros, independente da edição ou dos formatos, fossem revertidos para sua organização. A mesma exigência foi feita aos lucros gerados pelo filme. Essa atitude chamou a atenção da mídia e de muitas pessoas, fazendo do livro um sucesso e o filme ter se transformado no segundo de maior bilheteria da Noruega e o primeiro filme mais bem sucedido do país, pois até o seu dia de estréia, os direitos de exibição já havia sido vendido para mais de 15 países. O livro ganhou o prêmio de melhor publicação do ano em 2008 e atualmente há uma adaptação Hollywoodiana sendo escrita.

Curiosidades à parte, o filme viaja no argumento policial e no suspense, naquele estilo de enganar quem assiste o tempo todo, surpreendendo e dando reviravoltas na história que ninguém esperaria. Portanto, falar muito sobre o filme é estragar a experiência, por mais que em alguns momentos essas reviravoltas possam parecer um pouco forçadas. Mas essa é a graça do estilo policial moderno, fazendo de um gênero que antigamente era o clássico e batido polícia-ladrão atingir outros níveis ao ser mesclado com outros gêneros, como o suspense e o drama, criando um subgenero simpeslmente chamado de CRIME, pois nele já sabemos que envolve o gênero policial, a investigação e todas as surpresas que obviamente surgirão no decorrer da história.

Nessa história o roteiro começa nos mostrando a elite financeira e industrial, seguindo para o submundo dos caçadores de recompensa, dos jogos de trapaça e assassinatos. É aí que somos apresentados ao charmoso vilão, Roger Brown (Aksel Hennie), que de um poderoso, bem sucedido e respeitado empresário, se transforma em um fugitivo. Daí o título do filme ter duplo sentido, já que ele se refere tanto aos headhunters que procuram talentos e profissionais únicos, como também aos assassinos profissionais e caçadores de recompensa. E naquele velho ditado de "ladrão que rouba ladrão, sete anos de perdão", a trama se desenvolve.

É um filme com uma narrativa diferente da que costumamos ver em produções hollywoodianas do gênero. Não há perseguições mirabolantes, não há atiradores de elite, não há cenas de luta, explosões e nem um plano definido. Muito pelo contrário, são pessoas comuns que seguiram caminhos errados, atolaram o pé na lama e agora devem viver ou se deixar render. Tudo corre naturalmente, havendo espaço até para as burrices dos personagens, mas no geral nada é além daquilo que um cérebro inteligente e pensante não faria, claro, dentro das proporções de um filme, já que estamos falando de ficção.

Chega a ser até um filme engraçado em alguns momentos, pois as situações só parecem piorar a cada instante, dando outro elemento de interesse, suspense e surpresa para quem assiste e, sem dúvida, termina tirando uma deliciosa satisfação de que o tempo foi bem gasto.

CONCLUSÃO...
Bem construído, é mais uma produção para podermos dizer que o cinema de ação do norte europeu deve ser respeitado, bem como os materiais pelos quais eles são baseados. É uma história intrigante e que chama atenção por ser feito de forma simples e que segura a atenção apenas pela sua história e personagens bem construídos. Uma excelente surpresa.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

UMA TERRÍVEL BOBAGEM...

★★★
Título: O Segredo da Cabana (The Cabin In The Woods)
Ano: 2011
Gênero: Horror, Comédia, Ficção
Classificação: 14 anos
Direção: Drew Goddard
Elenco: Kristen Conlly, Chris Hemsworth, Anna Hutchison, Fran Kranz, Jesse Williams, Richard Jenkins, Bradley Whitford
País: Estados Unidos
Duração: 95 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Cinco amigos vão passar um final de semana em uma cabana no meio da floresta, ao chegarem lá descobrem que a cabana esconde coisas sobre um passado misterioso e que poderão acordar seres que apenas trarão destruição.

O QUE TENHO A DIZER...
É o primeiro filme dirigido por Drew Goddard, que anteriormente havia trabalhado como roteirista e produtor de seriados como Buffy e Angel (ambos criados por Joss Wedon), Alias e Lost (ambos criados por J.J. Abrams). Ele também foi roteirista do inesperado sucesso Cloverfield (2008), e tem mais dois roteiros prontos e já em fase de pré-produção: o próximo filme do lendário Steven Spielberg, Robopocalypse, e a também há-muito-tempo-anunciada seqüência de Cloverfield.

Só por este breve currículo do roteirista e diretor já é possível perceber que o cara é bem influenciado na indústria, tendo braços fortes como Joss Wedon (que também assina o roteiro e é atualmente responsável pela terceira maior bilheteria do mundo por Os Vingadores), J.J. Abrams (famoso criador de séries que agora se tornou um poderoso diretor e produtor de Hollywood), e também caiu nas graças de ninguém mais que Steven Spielberg (que "por acaso", junto com Abrams, também foi produtor de Cloverfield e Super 8). Ou seja, Drew Goddard pode não ser excelente, mas está bem engrenado e cheio de oportunidades.

Confesso que tentei gostar de O Segredo da Cabana porque, apesar dos defeitos, ele tem elementos e idéias boas, mas os defeitos são ruins mesmo. O filme é uma baderna e uma bagunça que eu não me lembro de ter visto anteriormente em nenhuma época.

Imagine todos os filmes de horror, terror adolescente, fantasia e ficção científica que você já assistiu, bata tudo no liquidificador. Aquilo que você jogar no copo é o filme. E se você não quiser saber mais, então pare de ler aqui, porque eu não vou falar do filme em metáforas só pra não "estragar" surpresas, porque isso não vai amenizar o fato do filme ser desagradável.

Usa como referência direta o filme de Clive Barker, Hellraiser (1987) (tanto que o cartaz do filme é uma referência ao cubo do filme de Barker), e também os filmes da trilogia de Sam Raimi, Uma Noite Alucinante (The Evil Dead, 1981/1987/1992). Com essas referências básicas ele tenta ser um horror diferenciado, misturando os sustos e a direção clássica de Raimi com os seres bizarros e o medo maniqueísta de Barker, de que tudo que é do mal vem do inferno, é esquisito, causa dor, sofrimento e angústia. Pavores natos do ser humano.

Ele tenta dar uma explicação boba para a existência de todos os fenômenos e seres paranormais, místicos, surreais, infernais, lendários, bizarros e fantasiosos sem foco algum, para dar a falsa sensação a quem assiste de que essa confusão toda é algo muito original, pois é isso que fazia os filmes de horror clássico terem se tornado cults no gênero. Infelizmente o público acreditou nisso, e o filme atingiu um pico de 7.8 no IMDb e 79% de aceitação no Rotten Tomatoes. Mas naquela época pouco ainda havia sido explorado e tudo realmente parecia novidade, e o público adolescente atual pouco conhece as referências que movimentavam legiões na década de 80, com reuniões nerds e cosplayers para assistirem e discutirem sobre nada.

Chris Hemsworth ainda nem pensava em virar Thor quando o filme foi filmado, ainda em 2009. O filme foi lançado apenas este ano, e esse atraso de quase 3 anos quase o engavetou. Depois do lançamento de Thor, o estúdio achou que seria uma boa repensar no lançamento do filme, e através de uma campanha maciça de uma "revolução no gênero", como tentaram promover, o boca a boca atingiu proporções mundiais. O filme foi lançado e resultou numa bilheteria favorável por conta dessa expectativa, arrecadando (até o momento) mais de US$65 milhões no mundo, um pouco mais do dobro do que custou. Ainda continua inédito no Brasil, mas é fácil assistí-lo.

Diferente de Hellraiser (onde um cubo místico seria capaz de abrir as portas do inferno e a história giraria em torno do imaginário comum do ser humano de que o mundo das trevas é habitado por seres bizarros e mutilados cuja única função é torturar a carne e transformar a vida numa eterna dor), ou até mesmo de Uma Noite Alucinante (que um livro de ocultimo seria capaz de abrir um portal capaz de trazer os demônios para a terra), O Segredo da Cabana tenta usar uma fajuta justificativa de que os seres humanos são marionetes comandadas por uma "organização secreta" existente para saciar a vontade de "deuses" sádicos (chamados de anciãos). Esses tais "anciões" assistem televisão e gostam de reality shows, e para deixarem o mundo continuar rodando como deve, eles precisam constantemente se alimentar do sofrimento humano, sendo obrigação dessas organizações manter uma gigantesca estrutura tecnológica e virtual para esta finalidade. Essa estrutura ainda conta com uma coleção de todas as criaturas sobrenaturais já vistas ou imaginadas em caixas que se organizam automaticamente numa ordem infinita, como no cult de ficção e horror de Vincenzo Natali, Cubo (Cube, 1997). Se esses deuses não forem agradados como devem, eles ficam nervosinhos e resolvem destruir tudo e fazer tudo de novo. Uma bobagem sem tamanho.

Li muita gente considerando o filme uma sátira bem feita do gênero, mesclando horror moderno com clássico. Mas não é. Sátiras já foram feitas aos montes, e geralmente elas sempre caem no ridículo, ao invés de ser inteligente. O grande defeito é sempre a prepotência de fazer um filme ser bom em mais de um gênero e, no fim, não conseguir ser nem uma coisa, nem outra. Os personagens são clichés logo de cara, em situações clichés, para depois repetir o que outros filmes já fizeram dentro desse argumento absurdo de um ritual pra lá de tecnológico que vira e mexe entra em pane. Essa absurdez não convence nem dentro do argumento do filme. Não é nada agradável ver esses personagens tentarem convencer que a situação é assustadora e depois tirarem sarro disso. Isso é chamar a audiência de imbecil.

Se tudo é pra ser uma piada, então porque inventar tanto? Essa é a pergunta.

A idéia básica do filme é muito boa, mas apenas se a história tivesse sido levada para um caminho mais sobrenatural, ocultista e sério, sem esses elementos futurísticos que não acrescentam em nada. Mas se isso tivesse acontecido o público ignorante não teria apreciado.

CONCLUSÃO...
Uma grande besteira. Uma hora e meia de pura bobagem. Nem mesmo os monstros que aparecem chegam a convencer. Mais um filme para os adolescentes do fundamental que querem fazer um programinha "pra galera" no final de semana ou para aqueles sem um pingo de senso crítico e que adoram tudo que vira moda. E só esse público pra gostar mesmo. Quem gosta de filme de horror de verdade, ou de uma sátira bem feita, ou de uma comédia realmente engraçada, ou de uma ficção científica bem construída, não vai achar nesse filme nada, mesmo ele tentando ser tudo isso.

sábado, 11 de agosto de 2012

LÁ VEM ELE COM SEU PANDEIRO...

★★★★★★
Título: Tão Forte e Tão Perto (Extremely Loud & Incredibly Close)
Ano: 2011
Gênero: Drama
Classificação: 12 anos
Direção: Stephen Daldry
Elenco: Thomas Horn, Tom Hanks, Sandra Bullock, Max Von Sydow, Viola Davis,
País: Estados Unidos
Duração: 120 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Um garoto de nove anos que sofre de um transtorno autista e com fortes inclinações políticas e sociais, encontra uma chave que pertencia ao seu pai, uma das vítimas dos atentados de 11 de Setembro de 2001. Acreditando que esta chave pode ter um sentido maior, ele desesperadamente sai em busca da fechadura que ela possa abrir e, talvez, manter a memória e a presença de seu pai.

O QUE TENHO A DIZER...
Este filme é uma adaptação do livro homônimo do escritor Jonathan Safran Foer, escritor que com apenas 35 anos já tem dois títulos de grande sucesso. Seu outro livro, Uma Vida Iluminada (Everything Is Illuminated), também ganhou uma excelente adaptação em 2005 e que infelizmente passou despercebido pelos cinemas (é fácil encontrá-lo em home video), filme que foi escrito, dirigido e produzido pelo ator Liev Schreiber, que se identificou com a história e a tragetória do personagem principal (que é até bastante similiar com a do personagem de Tão Forte e Tão Perto, mas em uma situação e em um conflito bastante diferente).

Dirigo por Stephen Daldry, mais conhecido por dramas como o delicado Billy Elliot (2000), por ter dado o papel que premiou Nicole Kidman por As Horas (The Hours, 2002), e por ter feito o mesmo com Kate Winslet por O Leitor (The Reader, 2008). Daldry chegou a concorrer na categoria de Melhor Direção por todos esses mesmos filmes, o que o faz encabeçar a lista não de melhores diretores atuais, mas dos respeitáveis, pois seus filmes costumam ser conduzidos com uma sutileza que poucos diretores conseguem em um gênero que é muito fácil pesar a mão e transformar em um dramalhão comum. Óbvio que, assim como Tão Perto e Tão Forte, todos seus filmes possuem seqüencias que chegam a ser apelativas às lágrimas, principalmente porque ele gosta de escolher mártirs, focalizando suas dores, ou isolando-os no cenário para transpor o sentimento de sofrimento e incompreensão. Tudo sempre muito regado a uma trilha sonora simples, com notas chorosas de piano e/ou violino. Apesar de tudo são cenas que funcionam no propósito e poderiam ser um desastre em mãos mais pesadas.

Demorei muito tempo para assistir o filme por puro preconceito mesmo, pois sendo uma adaptação de um livro que foi muito bem aceito pelo público, principalmente o norte-americano, o filme teve recepção muito mista tanto pela crítica especializada quanto pela leiga. Eu não li o livro, então não poderia traçar um paralelo bom entre ambos, mas por diversos materiais que li, cheguei à conclusão de que o grande defeito que encontrei no filme também é a grande insatisfação da maioria dos que leram o livro. Os críticos (especializados e leigos), em sua maioria alegam que, embora o filme tenha sequências bastante emocionantes, é difícil se sentir completamente conectado a elas, como se ouvesse um obstáculo o tempo todo.

O grande obstáculo entre a mensagem e o sentimento é, sem dúvida, o ator Thomas Horn, que interpreta o personagem principal de 9 anos e que sofre de um transtorno autista conhecido como Síndrome de Asperger. Por isso a dificuldade de socialização e comunicação, que são descritos logo no começo do filme, do comportamento ora atencioso e carinhoso, ora nervoso e agressivo, e da obsessão por tarefas metódicas e repetitivas até sua conclusão e o auto-flagelamento quando ele não consegue atingir seus objetivos da forma esperada.

O filme desmonstra os transtornos do personagem muito bem, mas pouco explica sobre isso (porque obviamente não é o tema central da história). Para quem não conhece a doença ou pouco deu atenção nos raros momentos em que ela foi citada no filme, acabarão encontrando em Oskar um personagem chato, mimado e irritante, mas por demérito do próprio ator. Ele não consegue atingir um ponto de transição convincente entre o comportamento infantil e os repentes do transtorno que o personagem sofre, simplesmente tentando imitar uma atuação adulta conforme o roteiro indicava. Isso é justificável pelo fato de Thomas ser um ator novato e o filme ter sido seu primeiro trabalho em atuação. Portanto, sua interpretação é crua e baseada naquilo que ele acreditava ser uma atuação e não no que ele acreditava que o personagem estivesse passando e sentindo, oferecendo uma presença petulante e inconveniente em várias situações, chamando mais a atenção de quem assiste pelo tom arrogante que ele impõe do que pela tragetória de adaptação e superação de traumas que o personagem está passando. Para piorar, o personagem anda o filme todo com um pandeiro barulhento e irritante, que ajuda mais ainda na antipatia pelo ator, que poderia ter usado o instrumento apenas em situações simbólicas e não durante as duas horas de filme.

De qualquer forma, o filme tenta ser sutil na abordagem dos atentados de 11/09 para não usar os fatos de forma abusiva e apelativa, já que ainda é um assunto delicado para muitos norte-americanos e sempre impactante para muitas pessoas. Os curtos momentos em que há a relação direta dos personagens com o fato são suficientes para ter apenas um traço do sentimento de impotência, desespero e fragilidade das pessoas que vivenciaram isso. A condição traumática de Oskar e de sua mãe, e a relação difícil que ambos desenvolveram após o incidente, são apenas um exemplo da confusão e reação psicológica que inflingiu milhares de famílias.

As demais atuações são brilhantes. Sandra Bullock se mantém em um nível seguro e comedido, e sua presença é sempre forte o bastante com pouco. Para quem não assistiu seu filme anterior pelo qual ela ganhou o Oscar de Melhor Atriz, Um Sonho Possível (The Blind Side, 2009), ou até mesmo seus outros poucos papéis dramáticos como em Confidencial (Infamous, 2006) ou Crash (2004), pode ficar um pouco surpreso caso esteja acostumado com as comédias românticas pelas quais ela ficou estereotipada, mas quem já assistiu sabe que sua atuação dramática é sutil, e nesse filme, mesmo se escondendo em uma cabeleira mal cuidada ou com as mãos no medo da personagem expressar suas fraquezas, confesso que o filme encontra o tom exato que buscou o tempo todo apenas próximo ao fim, quando sua personagem entra efetivamente na história e conta a sua perspectiva sobre o que estava acontecendo. Max Von Sydow, que faz um velho mudo e rabugento, tem presença bastante coadjuvante e todas suas cenas juntas não somam 20 minutos, mas ele é genial e com certeza subutilizado em uma adaptação em que ele poderia ter tido uma participação maior. Mas nem por isso isso o diminui e suas poucas cenas são gratificantes e emocionantes, naquele balanço entre a sutileza, o drama e a sinceridade típicos de experientes atores como ele. O mesmo pode ser dito sobre Viola Davis, que em apenas 10 minutos de cena eleva o filme de maneira que o ator principal nunca consegue. E o show do filme são mesmo os coadjuvantes e suas histórias paralelas, algumas poucas surpresas e o desfecho que parece decepcionante no propósito egoísta do personagem, mas que agrada com a excelente moral.

CONCLUSÃO...
É um filme que mostra uma jornada que poderia ter sido muito mais gratificante se o personagem principal tivesse sido interpretado de forma mais delicada e complacente. Mas quem não prestar atenção nisso vai conseguir ver uma história emocionante, simples e com muitos significados numa perspectiva dentro de um tema delicado como é os atentados de 11/09 em Nova York. A maioria dos comentários por aí de pessoas que leram o livro dizem que a experiência literária é melhor, mas como disse antes, os atores coadjuvantes e suas pequenas participações elevam o nível de um filme que por muitas vezes é difícil de encontrar uma conexão por conta da falta de simpatia não do personagem principal, mas da forma como ele é interpretado.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

"NOBODY LIKES A DIRTY GIRL!"

★★★★★★★★
Título: Dirty Girl
Ano: 2010
Gênero: Comédia, Drama
Classificação: 14 anos
Direção: Abe Sylvia
Elenco: Juno Temple, Jeremy Dozier, Milla Jovovich, Mary Steenburgen
País: Estados Unidos
Duração: 90 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre uma adolescente rebelde que, junto com seu mais novo amigo gay que fugiu de casa por seus pais terem descoberto sua orientação sexual, resolve ir atrás de seu pai que ela não conhece.

O QUE TENHO A DIZER...
É o primeiro e (por enquanto) único longa metragem escrito e dirigido pelo promissor Abe Sylvia, que demorou sete anos para tirar o projeto do papel. O roteiro já estava pronto, mas ele não conseguia financiamento até que uma produtora independente, a Killer Film, aceitou financiar o projeto. Com ele pronto, o filme foi lançado no Festival de Toronto em 2010, e alguns dias depois a Weinstein Company, dos famosos irmãos Weinstein (fundadores da antiga Miramax), adquiriram os direitos, e apenas em 2011 ele foi lançado em pequeno circuito nos cinemas. Segundo Abe, o roteiro foi escrito na sala de aula, quando ele ainda cursava Cinema, sendo a personagem de Daniele (Juno Temple) baseada numa colega de sala que ele teve ainda no ensino médio, e o personagem Clark (Jeremy Dozier), baseado nele mesmo.

Além dos méritos já existentes Dirty Girl também conta com o figurino assinado por Mary Claire Hannan, a mesma dos filmes de Tarantino, Cães de Aluguel (Reservoir Dogs, 1992), Pulp Fiction (1994) e Jackie Brown (1997). O figurino, junto com a direção de arte e a fotografia reproduzem com bastante similaridade o final dos anos 80 sem dar a sensação, em momento algum, de que o filme é uma produção pequena e independente. Mas a nostalgia também atinge a trilha sonora, importantíssima em filmes que retratam épocas como os anos 80 justamente pelo cenário musical ter sido tão influente na moda e na vida das pessoas de maneira tão distinta e característica. Quando falamos dessa época automaticamente lembramos de Cyndi Lauper, Madonna e Michael Jackson, os nomes top of mind da época. Tentando manter essa obviedade de lado, Abe Sylvia escolheu a dedo as canções. Fugindo do cliché, o repertório se baseia em músicas que provavelmente muita gente já vai ter esquecido, mas no momento que ouvir será imediatamente transportado para algum momento daquela época em que a música estava tocando.

Felizmente, vez ou outra somos agraciados com filmes adultos sobre adolescentes, traumas de infância ou disputas de sala, como o humor negro e depressivo de Bem-Vindo À Casa de Bonecas (Welcome To The Dollhouse, 1995), o inesquecível O Casamento de Muriel (Muriel's Weddin, 1994), o escrachado e oitentista Romy & Michele (1997), ou até mesmo o moderno e inteligente Meninas Malvadas (Mean Girls, 2007). Dirty Girl com certeza complementa esta pequena lista de bons filmes sobre a adolescência rebelde com causa(s) justificada(s).

Juno Temple, considerada umas das novas estrelas em ascenção da atualidade, ainda era uma jovem atriz britânica pouco conhecida quando fez esse filme. Independente disso, o talento dela é inegável. Ela consegue dar a personagem Danielle um misto de rebeldia punk e futilidade adolescente de maneira impressionante. Ela não é uma aluna qualquer do colégio e muito menos uma adolescente que se importa em ser a rainha do baile, ela quer é ser notada e demonstrar poder e independência a todo custo. Inteligente, afiada, boca suja e sarcástica, cria inimizades e é falada por onde passa por extravasar ao invés agir como a maioria das outras garotas de sua idade: conter. Tudo isso por conta da ausência de um pai que ela não conheceu e por uma mãe submissa que outrora também era transviada e motivo de fofoca da boca pequena, mas agora, adulta e solitária, é preocupada com a imagem social e vive sob a sombra do medo de não encontrar um marido e constituir uma família que ela, nem sua filha, tiveram. Com isso Danielle constrói uma imagem e postura impositora e provocativa como forma de se proteger da hostilidade alheia.

Como antagonista temos o adolescente tímido, incompreendido e que, por ser gay, sofre constantemente abusos físicos tanto na escola quanto do pai que não aceita a orientação do filho. Mas ao contrário de Danielle, ele é introspectivo e tímido, pois tem medo de expressar seus gostos e vontades no medo de ser julgado pelos outros e principalmente por seu pai, que o ameaça e constantemente o coage a ser algo que ele nunca será. E ao contrário de Danielle, a presença paterna em sua família é forte, mas ignorante, e o que falta é a materna, já que a mãe é igualmente submissa e teme as repreensões e a personalidade estúpida do marido. A interpretação de Jeremy Dozier é bastante delicada, transpondo dramas e dúvidas típicos e bastante comuns em jovens que se encontram na mesma situação que ele.

É o típico Complexo de Édipo: por um lado Danielle maltrata e despreza a mãe na ilusão de que é com o pai que ela ficará assim que encontrá-lo. Do outro lado Clark gostaria que o pai não existisse para que ele possa ser feliz apenas com sua mãe. Durante a tragetória desses dois exemplos do cotidiano, eles acabam descobrindo que nem sempre as coisas são como imaginadas e que a realidade muitas vezes é mais dura do que poderia parecer.

Danielle e Clark, aos trancos e barrancos, se tornam amigos por identificarem um no outro suas próprias dores e angústias, além de completarem suas faltas. A química dos dois atores é um dos outros raros momentos que esquecemos que estamos assistindo a um filme e somos convencidos de que aquela amizade e conexão são reais, e não uma interpretação. Por também ser um road movie, a dupla facilmente seria Thelma & Louise aos 17 anos.

A construção dos personagens e de suas personalidades é bastante definida com todos e não há deslizes em nenhum momento, dando espaço para os acontecimentos e uma história que a cada minuto que passa apenas cresce e se desenvolve com momentos muito engraçados e outros que é impossível não chorar, chegando a um final óbvio e intencionalmente cafona, mas motivante e sincero. É impossível não se identificar e comover não apenas com a dupla principal, mas com os demais personagens que sofrem, como as mães interpretadas por Mary Steenburgen (fantástica como sempre) e Milla Jovovich, que me pegou de surpresa (eu não sabia que ela estava no filme) e que pela primeira vez a vejo sendo bem dirigida e atuando decentemente, o que já demonstra bastante que, para conseguir isso, o filme é realmente bom.

CONCLUSÃO...
Sincero e delicado, acho que são as duas palavras mais honestas pra descrever esse pequeno filme, porém grandioso nas qualidades.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A LENDA TENTA SER EXPLICADA...

★★★★★
Título: O Homem das Sombras (The Tall Man)
Ano: 2012
Gênero: Suspense, Drama
Classificação: 14 anos
Direção: Pascal Laugier
Elenco: Jessica Biel, Jodelle Ferland, Stephen McHattie, Samantha Ferris
País: Estados Unidos, Canadá
Duração: 105 min

SOBRE O QUE É O FILME?
Uma pequena cidade é atormentada pelo desaparecimento de crianças que, segundo alguns moradores, são levadas pelo Homem Alto. Essas crianças nunca mais são encontradas, e os esforços de uma mãe em descobrir o paradeiro de seu filho levam-na de encontro a lenda.

O QUE TENHO A DIZER...
Escrito e dirigo pelo francês Pascal Laugier, que dirigiu dois títulos de terror anteriormente, os desconhecidos Saint Ange (2004) e Martyrs (2008), mas que teve seu nome no topo dos trend topics dos fóruns de filmes de horror quando a responsabilidade do remake de Hellraiser caiu sobre suas costas. Mas por diferenças criativas (desculpa que sempre é dada em casos onde o barraco com certeza quebrou), ele largou o projeto.

Ao invés de Hellraiser, ele embarcou no projeto deste filme, que ainda é inédito no Brasil, mas provavelmente passará despercebido ou será lançado diretamente em home video por razões óbvias. É um filme construído em cima da lenda que é por nós conhecida como a lenda do Homem do Saco, que sequestra criancinhas que nunca mais aparecem. Isso fará com que ele certamente seja promovido como um filme de terror para ser vendido mais fácil, mas na verdade é um suspense que chega a ser tenso em vários momentos, mas o conflito principal, e a linha guia, é o drama. Além disso, ele possui uma temática difícil de ser digerida para muita gente, e que provavelmente não encontrarão moral definida e sairão atirando para todos os lados que o filme é ruim.

O filme não é uma obra de arte, mas também não é ruim. Ele só é diferente e confuso por ter uma mistura brusca de gêneros, e Pascal se utiliza de todos os recursos do suspense sem medo de errar, tanto na direção quanto no desenvolvimento de roteiro, para prender a atenção e contar de maneira incomum uma história com um ponto de vista diferente e, talvez, uma grande realidade, com surpresas e reviravoltas que me impedem de ser mais claro a respeito para a experiência não ser quebrada.

Encabeçado por Jessica Biel, que oferece uma atuação pra lá de convincente, a história vai surpreender bastante principalmente nos primeiros 40 minutos, perderá o fôlego próximo ao fim, mas vai deixar uma sementinha plantada na cabeça. As surpresas surgem não por pistas falsas, mas por detalhes que são revelados apenas nos momentos certos, ora pelos acontecimentos, ora pela narração feita pela personagem de Jodelle Ferlan, a mesma atriz mirim que fez a encarnação do demônio no filme de Renée Zellweger, Caso 39 (Case 39, 2008). Esses elementos oferecem seqüências bastantes tensas, e as dúvidas e os mistérios ficam no ar até o último momento.

O final poderá ser um pouco decepcionante para aqueles que esperarem algum cliché do gênero, pois a conclusão é tipicamente dramática e dará a impressão de que a situação não se encaixa muito em todo o contexto misterioso, mas aí vai depender da absorção e percepção de cada um. A idéia do filme é interessante, mas a argumentação dada é fantasiosa demais para um assunto delicado, sendo o grande atrativo apenas a forma como ela é contada e desenvolvida.

No fim das contas deve ser assistido por um ponto de vista infantil e os desejos que as crianças acabam alimentando na infância por dificuldades familiares e sociais, as lendas que esses desejos criam e a ilusão de que tudo poderia ser melhor se fosse diferente. Também é uma crítica, e uma forma de colocar os pais a pensarem sobre o rumo e as proporções que a relação pais/filhos tem tomado, e também imaginarem o pesadelo que poderia ser se as coisas não chegassem a ser diferentes, mas dessem errado.

CONCLUSÃO...
Com uma idéia bastante interessante e incomum, essa diferença entre o clima pesado de suspense e o tema dramático pode acabar sendo um choque que deixará muita gente com uma carinha de "acho que não gostei". Mas vale ser assistido pelas atuações, pela maneira como o clima é construído e pelo sentimento, mesmo que breve, de como é bom ser bem enganado.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

BATMAN E SEUS AMIGOS...

★★★★★★★★
Título: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises)
Ano: 2012
Gênero: Ação, Drama
Classificação: 14 anos
Direção: Christopher Nolan
Elenco: Christian Bale, Tom Hardy, Anne Hathaway, Gary Oldman, Marion Cotillard, Joseph Gordon-Levitt, Michael Caine, Morgan Freeman, Matthew Modine
País: Estados Unidos, Reino Unido
Duração: 164 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Depois da morte de Harvey Dent no segundo filme, Batman assumiu todas as culpas do político corrupto, e posteriormente vilão, para que a Gothan visse em um cidadão comum um herói de verdade. Alguns anos se passaram e os tempos de guerra também, até uma nova ameaça ultrapassar os limites da cidade e os tempos de paz acabarem novamente, colocando em xeque não apenas sua resistência física, mas também psicológica.

O QUE TENHO A DIZER...
De todas as trilogias lançadas ultimamente, nenhuma chegou no nível alcançado por Batman. O Senhor dos Anéis (The Lord Of The Rings, 2001/2002/2003) consegue ser um exemplo único de excelência, mas nenhuma adaptação de quadrinhos conseguiu os méritos que Nolan conseguiu com Batman.

Tim Burton tentou fazer de Batman uma trilogia nos anos 90. Apesar do estrondoso sucesso do primeiro filme (arrecadou mais de US$400 milhões no mundo na época), o estúdio reprovou o clima sombrio e fantasioso que estavam muito mais fortes no segundo filme e que assustou um pouco a audiência, não repetindo o mesmo sucesso do primeiro filme. Pesadas críticas caíram sobre ele na época e os chefões exigiriam que o terceiro filme fosse mais leve e colorido. Burton, fiel ao seu estilo, recusou e gerou conflitos, se afastando do projeto para nunca mais voltar. Ele alegou que sua visão artística sobre as coisas é diferente da maioria das pessoas e que sua adaptação nada mais foi do que a forma como ele via o personagem. Na intenção de não ferir a visão comum novamente, além das pressões por todos os lados serem exaustantes, Burton prometeu nunca mais adaptar qualquer história em quadrinhos que fosse (ele havia recebido inúmeras propostas depois de Batman). E assim o fez e vem cumprindo.

Nolan conseguiu colocar as adaptações de quadrinhos em outro nível, justamente em um nível que Tim Burton havia tentado lá atrás. E é bastante irônico Burton ter sido duramente criticado quando, na verdade, ele foi um dos grandes responsáveis por ter traduzido o personagem numa linguagem mais popular e oferecido mudanças significativas que o herói teve tanto em caracterização, como em personalidade, aderidas em todas as mídias nos anos posteriores. Quem não se lembra da febre que foi os brinquedos do "Batman preto", como era chamado. O Batman do uniforme cinza e azul havia morrido, dando lugar a figura moderna e atualizada de Burton. Christopher Nolan aderiu muito da interpretação de Burton. A figura retraída, deprimida e soturna do personagem e o uniforme são bastante similares ao proposto por Burton no passado. Com excessão da arquitetura monocromática e biomecânica, a Gothan City de Nolan não é diferente da de Burton, já que a atmosfera gótica, fria e distante é a mesma. O foco de Nolan foi manter a fantasia dos quadrinhos e a realidade numa proximidade tangível, abordando fatos e personagens de maneira mais humana e menos extraordinária, dando explicações realistas para aquilo que antes era apenas justificativas fantasiosas e exageradas. Dessa forma, hoje podemos compreender melhor e de maneira mais verossímil porque Espantalho é um dos vilões mais assustadores, ou Coringa é o mais insano, ou Bane ser o mais forte e resistente. Até mesmo as "orelhas" da Mulher-Gato tem um fundamento e uma razão de existir na visão de Nolan.

O terceiro filme fecha um ciclo de história e de expectativa para aqueles que queriam um verdadeiro grand finale. Ele é grandioso nos seus 160 minutos praticamente imperceptíveis, com locações e cenários caóticos, muitos efeitos especiais e, principalmente, muita trama e conspiração que se enlaça perfeitamente com os filmes anteriores. Portanto, ter conhecimento dos dois primeiros filmes não é imprecindível, mas quem tiver terá uma experiência muito mais interessante.

Como foi dito em algum dos filmes anteriores e que não me lembro qual: "isso nunca tem fim". Essa frase é reafirmada de maneira diferente, mas o entendimento é o mesmo. O que não tem fim é o caos, e a proporção do crime, da corrupção e da passividade da população são ampliados como em uma lupa ao ponto de, em determinados momentos, entendermos de maneira clara as razões dos vilões fazerem o que fazem, pois essa ampliação nos deixa evidente os defeitos e as virtudes de seus atos. As justificativas dadas por eles também nos colocam em um muro sobre as atitudes do herói, nos levando a questionar se Batman existe para manter a ordem ou para manter o caos. Ele é um herói ou mais um perturbado que acredita estar fazendo o bem? Se ele é herói, por que ele sempre ajuda a manter a sociedade dentro de um platô de ignorância, ou dentro de uma mentira, como a de que Harvey Dent era um herói? Essas questões são levantadas em momentos chaves pelo mordomo Alfred, pelo detetive Blake e até mesmo por Bane e Selina.

Todos nós sabemos que o grande atrativo de Batman não é o personagem em si, que é sempre o mesmo depressivo, mimado e calculista que deixou de surpreender. A maioria das pessoas gostam do herói por causa de seus vilões que fogem dos padrões da insanidade, mas que sempre tem suas ações justificadas e até mesmo com fundos filosóficos e existencialistas. Outro ponto muito importante na franquia de Nolan é que ele soube não apenas escolher os vilões como desenvolvê-los nos filmes, dando espaço para apenas um de cada vez, ao invés de dois ou três como em outras adaptações de super heróis.

Dessa vez o sorteado foi Bane. Esse vilão surgiu nos quadrinhos em 1993. Para um herói que tem mais de 70 anos de história, Bane é um vilão relativamente novo a estar na lista dos mais grandiosos, poderosos e difíceis. Sua aceitação foi tão grande que o vilão ganhou preferência entre os fãs de forma quase que imediata nos quadrinhos. Ele chegou a aparecer pela primeira vez no filme Batman & Robin (1997), mas embora sua caracterização fosse bastante fiel à dos quadrinhos, sua personalidade era ridiculamente diferente. Nos quadrinhos Bane é um dos vilões mais inteligentes e cultos do mundo Batman, além de um exímio estrategista dependente de Venom, uma droga anabolizante que dá a ele naõ apenas a força e o tamanho que tem, mas também as alterações sensoriais e de comportamento. Mas no filme de Joel Schumacher ele foi retratado como um bombado paspalho de mentalidade limitada, o que revoltou por completo os fãs. A caracterização de Bane no filme de Nolan é forte porque Tom Hardy consegue fazer muito com pouco, mas não chega a ser impressionante e assustadora como deveria. Fisicamente concordo que Tom Hardy não tenha sido uma boa escolha para um papel que exigia um ator com largura e estatura verdadeiramente impressionantes, coisa que ele não tem, e por isso tentam a todo momento disfarçar a baixa estatura do ator com truques de câmera e angulações, mas isso pouco ajuda. Nem mesmo sua voz, que tenta ser uma releitura da cavernosa voz de Darth Vader, consegue causar um grande impacto. Em um filme com tanto cuidado técnico, deixaram passar um detalhe tão importante como esse. Logo na primeira fala do personagem o som destoa de todos os demais de maneira nítida. Não houve uma edição de som boa o suficiente para que, ao invés de colar a voz do personagem no filme, a inserisse dentro dele. A impressão que se tem é que a voz do personagem é uma gravação à parte. E realmente é. A voz do ator foi gravada, alterada digitalmente e inserida na pós-produção. Pra mim, foi um grande erro, porque quebra muito a proximidade entre o que está na tela e quem assiste.

Mas obviamente que a personagem mais aguardada pela maioria foi, sem dúvida, Selina Kyle, dessa vez interpretada por Anne Hathaway. Selina Kyle é a Mulher-Gato, mas neste filme ela não é chamada pelo nome de guerra em momento algum. São feitas apenas referências à figura da personagem, como as orelhas que ela usa durante o baile de máscaras (e seus óculos que, quando não usados, também parecem orelhas), seu uniforme que se assemelha bastante ao utilizado por Julie Newmar no sériado dos anos 60, e a forma como ela luta, que é bastante similar à de Michelle Pfeiffer em Batman, O Retorno (Batman Returns, 1992). Mulher-Gato é uma das personagens mais misteriosas e provocantes não apenas da DC Comics, mas da história dos quadrinhos. Ela não é uma heroína e nem uma vilã, ela é uma personagem solitária, feminista e contra o sistema, que rouba apenas para deixar os ricos com menos e não para proveito próprio. Tanto no filme de Tim Burton como agora, no filme de Nolan, essas características essenciais da personagem são mantidas, mas a abordagem tanto de Michelle Peiffer quanto de Anne Hathaway são bastante diferentes dentro de cada contexto. Fiquei um pouco desapontado e também concordo com quem não gostou da mudança de personalidade e direcionamento que ela sofre no decorrer do filme. Remorso, compaixão e companheirismo estão longe de ser adjetivos da personagem, e são qualidades que ela se aproxima bastante no filme de Nolan. De qualquer forma, mesmo sua personagem começando muito forte e perdendo a força no decorrer do filme, Anne Hathaway surpreende diversas vezes e conseguiu superar as expectativas, não tentando copiar ou disputar com nenhuma das anteriores, mas criando uma Mulher-Gato própria. Certamente ela já se tornou uma referência tanto quanto é Michelle Pfeiffer ou Julie Newmar. Corre a boca pequena que, entre Batman e Bane, Mulher-Gato é a personagem com maior índice de popularidade no filme, o que tem deixado o estúdio uriçado para tocar um novo projeto apenas dela e apagar o fiasco de Hale Barry da memória de todos.

Nolan já havia se consagrado um grande diretor com O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008), mas neste filme sua qualidade é impecável. Em nenhum momento ele tenta fazer dessa terceira parte algo melhor que os anteriores, da mesma forma que em nenhum momento também podemos dizer que é inferior. Com a última parte da trilogia ele definitivamente conseguiu criar uma história única dividida em três partes, o que não o livra de críticas, mas que dá o mérito que pouquíssimos diretores conseguem: manter o nível de uma série. É a noção exata do que ter em mente, saber como passar para o papel e conseguir traduzir em imagens. O domínio do processo criativo.

O filme começa com a frase: "eu acreditava em Harvey Dent". E por toda e ignorante Gothan City acreditar em Harvey Dent, Batman preferiu que assim fosse ao invés de desmentir o homem de duas caras. E a partir disso o filme se desenvolve, e também ajuda a mostrar a outra face de cada um, trazendo à tona importantes revelações que chegam até a surpreender algumas vezes. Há até algumas referências e brincadeiras que ninguém esperaria. O baile de máscaras e a abordagem de Bruce Wayne e Selina Kylie oferece um leve e interessante deja vu de uma cena similar em Batman, O Retorno, ou a participação de Cillian Murphy como o Juíz, após a explosão do presídio, que também é um episódio presente nos quadrinhos.

Particularmente eu esperava uma resolução mais trágica ou uma grande batalha de fato, tanto quanto foi nos quadrinhos, mas isso só teria acontecido se não fosse o fim de uma trilogia. De qualquer forma, não posso dizer muito mais sobre o filme porque ele consegue surpreender bastante, e apesar de algumas coisas que considerei desagradáveis, saí do cinema bastante satisfeito e nenhum pouco enganado. Embora a trilogia seja baseada fortemente na série de Frank Miller, O Cavaleiros das Trevas Ressurge (1986), este último filme também tem grandes referências de um período nos quadrinhos entitulado A Queda do Morcego (Kinightfall). Logo, quem conhece ao menos o básico desses dois períodos não só vai prever muito do que acontece no filme como também vai encontrar várias outras similaridades e referências que eu poderia contar, mas seria estragar as surpresas que não apenas Nolan, mas como todos os atores conseguiram guardar tão bem.

CONCLUSÃO...
Um dos raros momentos em que é possível sair do cinema satisfeito com o fim de uma trilogia. Há uma linearidade e coerência entre os três filmes que só é compreendida depois de terminar de assistir esta terceira e última parte. Não chega a ser perfeito, mas os defeitos ficam facilmente debaixo da sombra das qualidades que aparecem porque, depois dos dois primeiros filmes, não estamos mais interessados muito no que há para mostrar, mas no que há para ser contado e como tudo vai terminar. Há o fato de podermos ter a oportunidade de interpretar outras facetas do herói frente a seus constantes erros.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

ESQUECÍVEL...

★★★★
Título: 360
Ano: 2011
Gênero: Drama
Classificação: 14 anos
Direção: Fernando Meirelles
Elenco: Lucia Siposova, Gabriela Marcinkova, Johannes Krisch, Rachel Weisz, Jude Law, Juliano Cazarre, Maria Flor, Anthony Hopkins, Ben Foster
País: Áustria, Brasil, França, Reino Unido
Duração: 110 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre várias pessoas, de várias nacionalidades, espalhadas por aí, que não se conhecem, mas partilham de uma coisa em comum: da dificuldade de fazer a melhor escolha em suas vidas.

O QUE TENHO A DIZER...
Fernando Meirelles é aquele diretor que ficou famoso e internacionalmente conhecido por Cidade de Deus (2002) e que se tornou um diretor renomado e requisitado ao novamente levar para o Oscar seu filme seguinte, O Jardineiro Fiel (The Constant Gardener, 2005). Depois disso ele adaptou Ensaio Sobre a Cegueira (2008), que pouca gente gostou e foi mal interpretado por muitos, mas nada disso importa quando o próprio autor da obra, José Saramago em pessoa, aprovou a adaptação.

Por ter se despontado internacionalmente, Meirelles virou uma figura poderosa no Brasil, um au concour, daquelas que as pessoas admiram o trabalho mesmo muitas vezes sem saber do que se trata ou entendendo nada, numa atitude falsamente cult e venerável, coisa que brasileiro sabe fazer muito bem. Não que ele não tenha motivos para isso, porque ele tem, mas sabemos que isso abstrai as pessoas de senso crítico.

Bom, não é o que acontece comigo.

360 está sendo promovido enganosamente por aí como um suspense ou algo do tipo, colocando o nome de Meirelles em letras garrafais juntamente com alguns nomes importantes do elenco como Rachel Weisz, Jude Law e Anthony Hopkins. Isso é observado pelo próprio poster, com fotos do elenco em surpresa e apreensão. Mas a verdade é que o filme é um drama chato, o pior dos filmes de Meirelles, e os atores famosos são, na realidade, elenco de apoio, pois o filme mesmo é carregado nas costas pela outra parte do elenco desconhecido e que nem ao menos leva os créditos. Talvez a distribuidora saiba o péssimo filme que tem em mãos, e agora vão tentar fazer das tripas coração para vendê-lo de alguma forma, já que o fracasso é iminente.

O roteiro é assinado por Peter Morgan, roteirista bastante competente e que já assinou outros filmes interessantes com temáticas que a Academia de Hollywood sempre adora como: O Último Rei da Escócia (The Last King Of Scotland, 2006), A Rainha (The Queen, 2006), A Outra (The Other Boleyn Girl, 2008), Frost/Nixon (2008) e Outra Vida (Hereafter, 2010).

No meio de tantas pérolas que Morgan escreveu provavelmente estava 360, de escanteio, acumulando pó e ficando com as páginas amarelas de velhice, que só não foi filmado antes OU porque todos os diretores anteriores acharam que este filme seria só mais um OU porque realmente era a última opção. Qualquer que seja a razão, o fato é que ele é mais um e também seria a última opção, pois a história segue a mesma e velha premissa da ultra-conexão puxada por Robert Altman e seu Short Cuts - Cenas da Vida (Short Cuts, 1993), ou seja, aquela narrativa onde vários personagens com histórias distintas se interconectam no final. Esse estilo narrativo foi utilizado incansavel e exaustivamente como em Magnolia (1999) e Crash (2004), só pra citar os mais conhecidos porque a lista é interminável, filmes os quais 360 se identifica o tempo todo, mas que é aquele irmão bastardo, renegado e desprezado pela madrasta má.

Essa narrativa, mesmo exausta, ainda consegue surpreender e envolver de alguma forma, por isso que as pessoas gostam tanto. Mas não é o caso desse filme que é exatamente como o título se refere, uma volta inútil para a chegada ser o ponto de partida, tanto que ele termina do jeito como começa, e isso não é estragar a surpresa porque logo no começo do filme já é possível prever tudo isso.

O roteiro parte da metáfora de que em uma estrada devemos sempre ir onde a bifurcação está,, mas cabe a nós e a mais ninguém escolher qual lado dela seguir. Sabemos muito bem que essa decisão é difícil quando nos deparamos em situações como essa, e Meirelles tenta dar tantos exemplos que ele se perde no caminho, não conseguindo se aprofundar em nenhum. Ao invés de nos dar pontos de vista relevantes e seguros sobre a vida e suas decisões, acaba virando mais um filme sobre dramas amorosos e traição, quando estes são os temas que menos esperaríamos de um filme assim, deixando de lado assuntos mais relevantes e exemplos menos óbvios.

Só pra ter uma idéia, três casais na história estão em uma relação amorosa falida, ou seja, seria seis pontos de vista distintos sobre a mesma história. O grande problema é que esses pontos de vista não mudam muito de um personagem para o outro, dando a impressão que estamos vendo sempre a mesma coisa e que esse grande número de personagens é, na verdade, desnecessário, quando era muito mais simples fazer apenas uma história bem feita.

É um filme entediante que só é salvo do completo fracasso por alguns pequenos detalhes como: a edição bem feita e que consegue vagar entre os episódios com certa naturalidade, sem mudanças muito bruscas ou rápidas demais com conexões entre cenas que chegam a ser até interessantes; as atuações que, embora desperdiçadas, funcionam dentro dos esquetes; a direção de Meirelles, embora esteja comum e simples nesse filme, é efetiva e vale ser observada pelo cuidado que ele tem por pouco, como os ângulos de câmera, posicionamentos e até pela ousadia de ter lidado com um elenco de mais de 12 atores principais.

Mas falta profundidade porque nunca uma história é observada de perto o bastante, nunca sabemos o motivo de algo, como se um livro tivesse sido vendido só com a metade final, virando muito mais uma união de crônicas semelhantes e pobres de argumento do que exemplos relevantes. Tudo é muito superficial e o filme nunca nos mergulha em alguma das histórias ou realmente nos dá alguma importante filosofia ou conclusão. É fato que quando algo acontece nunca sabemos as razões de imediato, talvez essa tenha sido a intenção do filme, mas essa distância entre quem age e quem sofre, mas nesse caso entre quem age e quem assiste, não funcionou dessa vez.

CONCLUSÃO...
É esquecível. Qualquer outro filme com narrativa similar consegue ser melhor, até mesmo o mais recente O Exótico Hotel Marigold (The Exotic Marigold Hotel, 2011), que também parte da idéia da ultra-conexão, consegue ser melhor em vários aspectos. É uma pena, já que Meirelles é um homem de poucos e bons filmes, mas errou a mão e a dose dessa vez.
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