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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

PRECISAMOS FALAR SOBRE MARTHA...

★★★★★★★
Título: Martha Marcy May Marlene
Ano: 2011
Gênero: Suspense, Drama
Classificação: 16 anos
Direção: Sean Durkin
Elenco: Elizabeth Olsen, Hugh Dancy, Sarah Paulson, John Hawkes
País: Estados Unidos
Duração: 102 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Martha é uma garota estranha e ninguém sabe o que se passa com ela.

O QUE TENHO A DIZER...
Dirigido, escrito e também filme de estréia do diretor Sean Durkin, que chamou a atenção do circuito independente por contar uma história estranha de uma menina esquisita e com um passado enigmático chamada Martha, às vezes Marcy May e raramente de Marlene. O filme estreiou no Festival de Sundance, um dos mais importantes do circuito não comercial mundial, e acabou ganhando o prêmio de Melhor Direção. Foi indicado e ganhou outros prêmios que, em sua maioria, consagraram o diretor/roteirista e a atriz Elizabeth Olsen, que por sinal é irmã mais nova das gêmeas Mary-Kate e Ashley Olsen, além de também ser sua estréia como atriz. Chega a ser impressionante porque a atuação que suas irmãs gêmeas não ofereceram em todos os filmes que trabalharam, Elizabeth oferece em um único filme.

A única coisa que sabemos de Martha é que por alguma razão desconhecida ela passa a morar em um tipo de sociedade alternativa, naturista e sexista que realiza cultos espirituais e sexuais com garotas virgens. O grupo é liderado pelo enigmático Patrick (John Hawkes), e possuem uma lista de regras rígidas e outras mais adaptáveis. Cada uma das garotas acaba descobrindo sozinha sua função no grupo, mas basicamente devem servir sexualmente o líder. Elas só podem engravidar dele, e só podem ter filhos do sexo masculino. Elas dividem as mesmas roupas, os mesmos cômodos, compartilham sexo entre si, são constantemente abusadas, moral ou sexualmente. Perdem a vergonha, os pudores, o apego por bens materiais e todas as regras sociais e morais importantes na sociedade convencional, se transformando em pessoas livres que fazem o que querem, do jeito e na hora que quiserem, perdendo o senso de julgamento e adaptação. Além do comportamento machista dos homens e submisso das mulheres, regularmente o grupo também invade mansões por razões que também não são claras, e eventualmente situações mais graves e sérias podem ocorrer, como o filme deixa implícito.

Nunca sabemos como Martha foi parar lá, como ela achou o lugar, se ela foi por espontânea vontade, se foi sequestrada ou coagida, ou quais as regras de aceitação do grupo. Isso tudo é um mistério. O filme começa com sua fuga desesperada, cujas razões, a princípio, não são claras. Sem ter a quem recorrer, Martha resolve procurar sua irmã Lucy (Sarah Paulson), que imediatamente oferece ajuda. Martha passou 2 anos vivendo com o grupo e a perda de senso crítico, julgamento e adaptação são os grandes responsáveis pela dificuldade que ela tem de se inserir novamente dentro das regras éticas e convencionais de uma sociedade que ela foi convencida e condicionada a esquecer.

Esse nome tão extenso não é por acaso, ele também tem um significado importante no filme. Martha é como ela é chamada por sua irmã e cunhado, seu nome de batismo. Marcy May é como ela chamada pelas pessoas da "sociedade alternativa" em que ela foi morar. Marlene é o único nome que não é citado durante o filme todo, mas pode ser visto como uma lista de regras anotadas na parede da casa, acima do telefone, pois Marlene é o nome comum que todas as garotas devem usar ao atender o telefone, assim como os rapazes devem fazer com o nome Michael.

É um filme confuso, que em momento algum esclarece o que se passa com a personagem principal, como se o diretor/roteirista quisesse que o espectador tivesse a mesma sensação e impressão que Lucy e seu marido, Ted (Hugh Dancy), tem: a de dúvida, desconfiança e insegurança. As interpretações, principalmente de Elizabeth Olsen, chegam a ser impressionantes e bastante impactantes. É um filme do subgênero suspense dramático. O drama se desenvolve pelas dificuldades pessoais de Martha se adaptar fora do grupo e de sua família compreender seus problemas, enquanto o suspense gira em torno do mistério de seu passado e da imprevisibilidade da personagem.

Não há o que discutir sobre a direção do filme. Sean Durkin consegue de forma constante manter a distância e o desconforto, bem como nunca deixar o espectador saber de fato o que aconteceu. Tudo é dedutível, e a sensação de frustração, raiva, angústia e desespero é construído em cima da falta de informação, e são esses buracos do filme que faz quem assiste terminar no mesmo sentimento que Lucy e Ted, de impotência e desistência. A trilha sonora aparece apenas em momentos cruciais, e o som do violino distorcido chega a ser ensurdecedor de tão caótico, exatamente como deve estar o psicológico de Martha.

Não é fácil de ser digerido por causa da sua história desconstruída e lenta. É um daqueles filmes que mostram muito mais do que simples conflitos internos ou entre personagens, mas que se desenvolvem em cima de bases sólidas e exemplos realistas e não fantásticos de distúrbios psiquiátricos, como acontece com o distúrbio de personalidade em Possuídos (Bug, 2006) ou a sociopatia psicótica em Precisamos Falar Sobre O Kevin (We Need To Talk About Kevin, 2010). Por isso filmes como esse se tornam muito melhor apreciados depois do conhecimento das doenças em questão, porque aí toda a história e as condições das personagens se justificam por completo. Neste filme a história foca apenas nos gatilhos que levaram a personagem a desenvolver os delírios que caracterizam a paranóia aguda que ela desenvolve, numa confusão entre aquilo que está na sua cabeça com a realidade. Por isso a edição do filme consegue mesclar a realidade com as lembranças tão bem, pois o indivíduo paranóico não consegue dissociar a realidade do stress vivencial sofrido. Talvez a personagem principal já sofresse de predisposições para a doença e que posteriormente se agravaram com os abusos sofridos, mas essa dúvida também é uma das chaves do filme.

CONCLUSÃO...
É um filme alternativo por lidar com temas que são difíceis de serem assimilados por quem não tenha conhecimento ou interesse em esmiuçar as condições da personagem e do ambiente determinante, mas se transforma num material interessante para quem queira mais do que algo óbvio ou didático. Também é um quebra-cabeças com peças faltando e um final sem conclusão, o que pode ser bastante irritante para muitas pessoas.

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