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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

COMO O OSCAR CONSEGUE SER CONSTRANGEDOR...

Nas previsões que realizei nas categorias principais, só errei no prêmio de Melhor Diretor. Ao invés de ter ido para Spielberg, o prêmio foi com grande surpresa a Ang Lee. Foi um choque, pois a predileção era Spielberg na falta de Ben Affleck na categoria.
 
Mas o que falar do show do Oscar?
 
A cada ano que passa ela se torna uma festa mais degradante. O último grande sopro de novidade aconteceu em 2007, seis anos atrás, quando Ellen Degeneres foi convidada para ser apresentadora do evento. Tentando sair do óbvio e fazer da festa algo interessante e glamuroso sem precisar ser quadrado, ela ousou dentro dos limites, conseguindo ser engraçada, delicada e genuína, deixando de lado a grosseira ou o excesso de sarcasmo, da autodepreciação e do constrangimento alheio, coisas demasiadamente absurdas que viraram marcas registrada daquilo que eles consideram "o maior evento do cinema mundial".
 
2008 tentou ser interessante com Jon Stewart, que foi um pouco mais político, alfinetando aquilo que deveria, mas dentro de seu senso de humor ácido. Hugh Jackman, em 2009, foi um verdadeiro host, um lord, mas os exageros da Academia deixaram a festa mais cafona do que já ousou um dia ser ao extrapolarem na medida de provar que Jackman é um homem multitalentoso. Depois tivemos Alec Baldwin com Steve Martin (ahn?!), James Franco e Anne Hathaway (o pior dos piores anos), Billy Crystal (chato e cansativo como sempre), e quando achamos que nada poderia ficar pior, tivemos Seth MacFarlane.
 
MacFarlane, um desconhecido comediante pra grande maioria, ficou famoso por ter escrito e dirigido o filme mais politicamente incorreto dos últimos anos, Ted (2012). E foi com essa presunção em mente que ele achou que iria conquistar o público de igual forma. A diferença é que ele não imaginou que quem é engraçado é o personagem de boca suja que bebe, fuma, arrota e fala palavrão, e não ele.
 
A cerimônia já começou constrangedora. MacFarlane atirou para todos os lados e não poupou esforços em ser desagradável com piadas desnecessárias, que ultrapassavam o politicamente incorreto no humor americano mais baixo, gratuito, vazio e grosseiro que pudesse existir. Pintou um personagem de si próprio que precisaria descobrir a fórmula perfeita para receber a aprovação do público, ironizando o tempo todo. Se autocriticou incansavelmente, minou ele mesmo e reverteu qualquer futura crítica negativa em piada, uma boa jogada para ter liberdade de fazer tudo que é ruim sem ser apedreijado, como até mesmo cantar uma música chamada "We Saw Your Boobs" (Nós Vimos Seus Peitos) em altos brados, numa das esquetes musicais mais vergonhosas de todos os 85 anos da premiação. Na música o (dito) "comediante" dizia que todos nós já vimos os peitos de diversas atrizes, citando várias delas que estavam na platéia, bem como os filmes em que isso acontece. Eles fizeram uma montagem que fingia o constrangimento de Naomi Watts e Charlize Theron, mas isso não deve ter sido mentira com as demais, frente a recepção fria que a platéia teve.
 
Suas piadas foram um fiasco, apenas uma meia dúzia de gargalhadas forçadas eram ouvidas e as palmas da platéia vinham justamente de um meio centro apropriadamente ensaiado para enganar o espectador caseiro. Tudo isso para posteriormente ele vestir uma imagem de apresentador comum e que não conseguiu nem ao menos ser carismático. Ou seja, parece não existir mais um grande entertainer para a festa como um dia já existiu, ou textos inteligentes o bastante para serem engraçados, ou até mesmo situações irônicas sem a necessidade de pisar nos dedos de ninguém ou chamar o espectador de imbecil, porque é essa a impressão que eu tenho nos últimos 10 anos que venho assistindo. Uma sucessão de erros que todos enxergam, mas não fazem questão de mudar.
Uma das maiores reclamações da cerimônia sempre (e SEMPRE) foi sua interminável duração, tanto que há aproximadamante 10 anos (ou um pouco mais) as apresentações musicais foram gradualmente cortadas, pois eram exaustivas, principalmente na época em que Disney enchia seus desenhos de canções e dominava o gênero. Esse ano resolveram esquecer de tudo isso, e sem uma razão muito óbvia resolveram homenagear e enaltecer os musicais modernos (apenas os poucos três mais relevantes dos últimos 10 anos), com direito a reapresentação de alguma cenas memoráveis nos palcos pelos atores que as fizeram nas telas, incluindo o repeteco desnecessário de Catherine Zeta-Jones no seu já esgotado All That Jazz, de Chicago (2002). Ao todo foram umas 10 apresentações musicais, e o Oscar, que agora mais parece um MTV Awards de gala, resolveu vestir uma fantasia Grammy, tentando explorar a popularidade de Adele e o sucesso de um tema de James Bond que não se tinha desde... nem eu sei quando! E o mais engraçado é que, tudo isso, numa época em que ninguém mais se interessa por musicais no cinema. Então... qual o motivo de tudo isso? Falta de idéias? Onde está a coerência?
 
Uma lástima.
 
Mas, se por um lado foi um show mais uma vez cansativo, longo, chato e constrangedor, por outro tivemos grandes surpresas como a apresentação arrebatadora de Shirley Bassey, que aos 73 anos ofereceu uma performance aplaudida em pé, colocando Adele no seu devido lugar, que mesmo ganhando o prêmio de Melhor Canção da noite por Skyfall (e que nem merecia tanto assim) não recebeu mais do que medianos aplausos em um misto de lágrimas e desdém. Ela nem sequer ousou agradecer as demais divas que ocuparam o mesmo lugar nesses 50 anos de existência do espião, e que, como Rubens Ewald disse, se tornou uma marca da série e um estilo de música próprio: "as músicas de James Bond". Também tivemos outras coisas boas como Barbra Streisand e um discurso breve e emocionante de Christopher Plummer às atrizes coadjuvantes.
 
Foi um ano competitivo como há muito não se via, onde não houve favoritismo a ninguém e os prêmios foram muito bem divididos entre os filmes. Também não houve grandes injustiças como em anos anteriores, com excessão da predileção de Jennifer Lawrence ao invés da francesa Emmanuele Riva. Não que a jovem atriz não merecesse, mas o histórico e o grande desempenho da atriz francesa merecia uma melhor consideração, uma consideração que ela mesma pareceu não conseguir entender em não ter tido.
 
No mais tudo seguiu como planejado tal qual Anne Hatthaway receber o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante, ou a Primeira Dama Michelle Obama participar da entrega do prêmio de Melhor Filme naquilo que eu já havia dito e de certa forma previsto em posts anteriores sobre a atual necessidade da cultura norte-americana se enaltecer com pouco, numa época em que essa nação está às mínguas, e em um ano em que o cinema e os interesses políticos nunca estiveram numa polêmica tão forte. De um lado tinhamos A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty, 2012), que colocou em risco a imagem e a dignidade do serviço de inteligência do governo dos EUA. Por outro lado tinhamos Argo (2012), que pintava uma imagem excitante e patriotista do mesmo país. Houve também a surpresa da premiação de Ang Lee receber como Melhor Diretor, quando ele era o menos cotado a receber o prêmio em um ano que tinha tudo para ser de Spielberg se não fosse de Ben Affleck.
 
Novamente não foi um ano em que foi possível dizer que passar 4 horas assistindo uma premiação foi a melhor programação da noite de um domingo, mas foi um ano competitivo e de certa forma um dos mais ecléticos pelo ponto de vista da premiação, a grande pena é que nada disso caminhou com coerência em um espetáculo mais uma vez constrangedor e que mais irritou do que entreteve.
 
Para ver a lista completa de vencedores, clique AQUI.


terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

ÚLTIMAS APOSTAS PARA O OSCAR 2013!

Vou ser bem direto nas minhas apostas desse ano. Vamos lá...

MELHOR FILME
Definitivamente será Argo porque de fato ele é o grande diferencial de 2013, um filme de ação incomum fundamentado em uma história verídica e que consegue ser ao mesmo tempo empolgante, divertido e dramático, sendo fictício em doses exatas apenas para o bem da narrativa. Também será a forma da Academia tentar se redimir pelos erro que cometeu de não ter colocado Ben Affleck entre os finalistas de Melhor Direção. É difícil pra mim ter que aceitar esse fato, porque tenho lá meus preconceitos com o roteirista que virou ator, e de ator agora é diretor e produtor... mas fazer o quê? O rapaz vem fazendo tudo certinho e provando que tem mais charme atrás das câmeras do que na frente delas.

Mas minha escolha pessoal seria Indomável Sonhadora. É um filme belíssimo, delicado e lúdico, que também tem lá seus fundamentos verídicos sobre as dificuldades que a população miserável sulista nos EUA passa e não faz questão de mudar para manter sua integridade cultural. Filme emocionante sem cair na pieguice e convincente por todos os lados.

MELHOR DIRETOR
Na falta de Ben Affleck, o prêmio irá para Steven Spielberg, que provavelmente fará algum discurso nobre sobre a ausência do colega na categoria. Esse ano ele poderá ganhar por W.O., já que não há outro candidato mais forte, e minha escolha pessoal também seria ele, mesmo se Ben Affleck estivesse presente.

MELHOR ATOR
Daniel Day-Lewis, não há mais dúvida alguma sobre isso.

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Aposto em novamente ser Christopher Waltz, o que também bate com minha escolha pessoal.

MELHOR ATRIZ
Tudo indica que será Jennifer Lawrence. Ela vem abocanhando todas, incluindo o Screen Actors Guild, mas perdeu o BAFTA, o último grande prêmio antes do Oscar. Mas não vejo nada brilhante na sua atuação, apenas algo bem feito e que gerou uma boa química com o ator Bradley Cooper.

Mas tomara que eu esteja bastante errado e o prêmio vá para minha escolha pessoal, Emmanuelle Riva. O desempenho desta atriz no filme Amor é arrebatador. Ela foi esquecida no SAG, mas venceu o BAFTA, o que ainda oferece uma grande esperança de que ela vença, e se isso acontecer, não conseguirei segurar minhas lágrimas, pois será emocionante com certeza. Corre um leve boato de que agora ela tem muitas chances, além de uma campanha não oficial que anda pairando pela internet já há um bom tempo.

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Anne Hathaway é a favorita, e nem é porque é seu melhor papel, mas por ser aquele em que ela se destacou o necessário para isso, e levará o prêmio mais pelo seu conjunto de obras simpáticas e pela sua popularidade do que pelo desempenho. Isso é comum na história da Academia e todo ano isso acontece.

Confesso que minha escolha pessoal fica dividida entre Helen Hunt e Jacki Weaver.

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
Tarantino poderá levar por Django Livre. O filme foi polêmico e Tarantino é uma máquina de criar roteiros bem feitos, e meu favoritismo pessoal também é pra ele.

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Ben Affleck tem grandes chances de levar para novamente compensar sua falta na categoria de Melhor Direção.

Tony Kushner mereceria por Lincoln, mas confesso que o roteiro de Ben Affleck realmente tem um "quê" a mais de originalidade e que fez o filme ser uma das coisas mais pitorescas e divertidas do gênero nos últimos anos. É, admito... fico com Ben novamente.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

PRECONCEITOS DE LADO: É BOM MESMO!

★★★★★★★★★☆
Título: Argo
Ano: 2012
Gênero: Ação, Drama
Classificação: 14 anos
Direção: Ben Affleck
Elenco: Ben Affleck, Alan Arkin, John Goodman, Bryan Cranston, Kyle Chandler, Victor Garber
País: Estados Unidos
Duração: 120 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Baseado na missão verídica Canadian Caper durante a Crise de Reféns do Irã em 1979, em que um agente da CIA se infiltra no país para resgatar seis diplomatas norte-americanos sem que o governo iraniano perceba. 
O QUE TENHO A DIZER...
O filme é dirigido, escrito, produzido e atuado por Ben Affleck, a produção também é assinada por George Clooney, que é outro ator que vem desempenhando um forte papel como diretor nos últimos anos, e que talvez tenha sido uma grande mão na roda desse filme, já que sua experiência com longas é bem maior.
Tenho que finalmente torcer minha lingua e concordar que é um bom filme, e realmente tem razão de figurar entre os melhores de 2012. É o terceiro longa metragem do ator que se destacou como roteirista ao ganhar o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado (juntamente com seu então amigo Matt Damon) pelo filme Gênio Indomável (Good Will Hunting, 1997) e agora se tornou uma figura poderosa em Hollywood ao se consolidar como um dos novos e bons diretores dessa geração, e Hollywood tem feito de tudo para promovê-lo assim.
O histórico da carreira de Ben Affleck é cheio de altos e baixos. Da noite para o dia ele se tornou um galã, e do dia para a noite sua fama despencou por conta das constantes perseguições da mídia e do frequente esculacho sofrido a respeito da sua limitada capacidade de interpretação e de sua vida pessoal. Demorou para ele voltar a se resguardar, ser esquecido pela mídia sensacionalista e aos poucos se reestabelecer pessoal e profissionalmente. É o novo patinho feio, e agora Hollywood se aproveita disso para pintá-lo dessa forma e, talvez, de também pedir desculpas por tanto escárnio ao longo de boa parte de sua carreira.
Sr. Affleck vem causando surpresa por ter feito arrastões na temporada de premiações de 2013, já recebendo prêmios de Melhor Diretor e/ou Melhor filme em eventos importantes como o Critics Choice, Globo de Ouro, Screen Actors Guild e Directors Guild. O filme também recebeu sete indicações ao Oscar, mas isso não impediu de que ele fosse esnobado pela Academia que não o incluiu na lista de finalistas de Melhor Direção, embora figure na lista de Melhor Filme. Esse fato tem causado bastante polêmica e levado os membros da Academia a sofrerem fortes críticas por isso frente a tanto favoritismo que Argo vem tendo. Há duas grandes fortes razões para isso ter acontecido. A primeira delas pode ter sido pela mudança da data de votação dos finalistas ao Oscar já que foi feito em um período de férias e festas de final de ano, sendo dito por aí que muitos membros do comitê para a categoria de Melhor Direção não tenham tido tempo suficiente para enviar os votos e que, ao mesmo tempo, muitos outros tenham feito suas votações sem ao menos ter assistido os filmes, dando votos cegos. A segunda razão, e talvez a mais plausível, é pelo comitê não engolir a ascenção de Ben Affleck por puro preconceito mesmo. O próprio ator/diretor/roteirista/produtor já desmonstrou seu descontentamento a cerca disso e não vem evitando situações para sutilmente alfinetar a Academia a cada novo prêmio conquistado.
O filme é baseado no fato verídico do plano Canadian Caper, em que o agente da CIA, Tony Mendez (Ben Affleck), liderou o resgate de seis diplomatas norte-americanos que conseguiram escapar da Embaixada Americana do Irã após a invasão de militantes e estudantes islamitas, levando à Crise de Reféns do Irã, que durou entre 1979 e 1981, envolveu o sequestro de 52 norte-americanos que se encontravam na Embaixada e que foram mantidos em cativeiro por 444 dias. Após várias missões de resgate falharem, Tony Mendez surge com a idéia absurda de se infiltrar no país disfarçado de produtor de cinema canadense que trabalha em Hollywood e que está procurando locações no país para a filmagem de um novo longa de ficção científica chamado Argo. O plano principal era encontrar o grupo foragido e igualmente disfarçá-los de cidadãos canadenses que fazem parte da equipe de filmagem para poder extraí-los do país sem que o governo iraniano percebesse.
Embora Argo seja o título do filme e o título do roteiro utilizado no plano que o filme narra, na missão real de extração o título do roteiro utilizado foi de um filme que nunca foi filmado chamado O Senhor da Luz (Lord Of Light), baseado na obra de Roger Zelazny, e aquilo que parecia absurdo, no fim se tornou um sucesso e um exemplo de parceria e cooperação diplomática entre diferentes nações. Foi isso que chamou a atenção de Ben Affleck para adaptar a história originalmente publicada como um artigo em 2007, mas que já havia se tornado pública durante o governo de Clinton.

Sem dúvida é um filme que acaba enaltecendo os Estados Unidos em um período difícil que o país passa de descrença entre seus próprios cidadãos e do constante declínio de sua hegemonia e imagem no resto do mundo. Também acaba sendo sem querer um ponto de vista mais bonito, humanitário e contraditório do filme A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty, 2012), em que a diretora Kathryn Bigelow e o roteirista Mark Boal não mediram esforços para mostrar o lado mais desumano e anti-diplomático dos Estados Unidos quando o assunto envolve a guerra de interesses. Talvez seja por essa razão que o filme de Affleck esteja sendo ovacionado pela crítica e pelo público, pois é um filme que acaba por promover uma imagem que os EUA agora carece.
Enquanto Argo mostra o lado patriótico e pacífico da CIA, A Hora Mais Escura mostra o lado negro da força da agência de inteligência secreta do país, suas influências perigosas e o abuso de força e poder. Por isso, mesmo os dois filmes se passando em épocas e situações distintas, se tornaram importantes títulos que são interessantes de serem assistidos para essa observação ser feita, pois juntos erguem questões fundamentais que o grande público até então tinha pouco acesso.
Enquanto Bigelow deu um ar mais histórico ao seu filme evitando transformar fatos em cenas de ação comuns do gênero, Affleck oferece um tom mais fictício transformando os fatos em um grande entretenimento, e não há como negar os méritos disso. O filme se destaca exatamente por ser igualmente baseado em pesquisas sólidas para retratar e caracterizar tudo da forma mais histórica possível (como é mostrado durante os créditos finais) e ainda recebe as dosagens exatas de humor, ação convencional e suspense. Por conta dessa união feliz de diferentes fatores que poderiam facilmente cair em um grande besteirol, Argo é um filme de ação incomum e inteiramente verídico, porém dentro de um tom teatral útil que entretém e nunca deixa o espectador entediado.
Obviamente que Affleck usa e abusa de clichés para manter um clima de tensão constante, repetindo aquela mesma tática de segurar as situações e enganar o espectador, fazendo-o acreditar que tudo vai dar errado até o clímax ser atingido e todo mundo finalmente poder dizer "ufa". Essa fórmula é repetida não com frequência, mas seguidamente, o que acaba sendo um pouco cansativo e previsível porque depois da primeira vez que isso acontece a tensão continua existindo, mas não há surpresas. Independente disso, para a proposta do filme, a tática funciona bem até o último minuto.
Grandes pontos positivos também para os atores, que também receberam o prêmio SAG de Melhor Elenco de longa metragem, uma das categorias mais importantes do evento e da temporada de premiações, já que é avaliado as atuações como um todo e sua química em cena. Isso deve ser por conta da maioria do elenco ser formado por atores experientes e gabaritados, mais conhecidos por trabalharem em seriados de televisão como: Bryan Cranston, de Breaking Bad; Victor Garber de Alias, Clea DuVall, de American Horror History; Kyle Chandler de Friday Night Lights; e Tate Donovan, Chris Messina e Zeljko Ivanek, de Damages. Atores que já estão acostumados a trabalhar com grandes equipes e tem uma capacidade maior de interação entre si. O grande defeito de elenco é o próprio Ben Affleck, que ainda insiste em atuar (ou finge atuar) em seus próprios filmes. Mas aqui sua incapacidade nem é tão notada, tudo fica bem camuflado no meio de tanta barba, cabelo e demais atores que conseguem roubar as cenas.
O filme ainda concorre ao Oscar de Melhor Edição, que é bastante pontual e funcional, nunca deixando o clima cair ou desandar. A produção de arte e o figurino também são excelentes, retratando bastante os anos 70, inclusive no tipo de filmagem, já que Ben Affleck fez questão de que a imagem tivesse o mesmo aspecto envelhecido de documentos da época, realizando um processo de filmagem convencional, porém em um tamanho menor de imagem, e depois duplicando seu tamanho na hora da revelação para que essa granulação ficasse mais nítida.
Buscando a história real e os fatos verídicos, há alguns anacronismos e desvios que Affleck fez questão de dizer que foram feitos simplesmente para amarrar o roteiro e manter os climas de tensão, desde as coisas mais supérfluas (como as letras de Hollywood em ruínas, que foram restauradas antes da época em que o filme se passa) até as mais sérias, como o fato do filme afirmar que apenas a Embaixada Canadense ofereceu refúgio aos seis americanos, quando na realidade tanto a Embaixada Britânica quanto a Neozelandesa também ofereceram ajuda.

Enfim, como ator Ben Affleck tem se provado um grande diretor e roteirista. Por um lado confesso que meu preconceito me impede de aceitar que Argo realmente tenha a melhor direção, o melhor roteiro e, por fim, acabe sendo o melhor filme de 2012, mas por outro também tenho que concordar que ele realmente não desaponta em nenhum aspecto, além de ter conseguido fazer uma coisa que nenhum dos filmes que figuram na lista dos melhores das premiações conseguiram até o momento, me deixar empolgado e em nenhum momento me entediar ou querer que acabasse logo.
CONCLUSÃO...
É um filme feito sob medida. Tudo nele funciona como deve e em nenhum momento peca por excessos ou faltas, e mesmo sendo um filme baseado fortemente em fatos verídicos, ele é construído em cima de um clima de ação e tensão que o deixa com um aspecto incomum. Interessante quando assistido junto com A Hora Mais Escura, já que é outro título de 2012 também fortemente baseado em fatos verídicos envolvendo ações da CIA e com uma narrativa completamente diferente, mas que ajuda a erguer questões fundamentais que não devem ser ignoradas. É Affleck sabendo escolher bons trabalhos e excelentes parcerias, como a de Clooney na produção e todo o elenco envolvido. O orgulho e preconceito de alguns pode dificultar, mas realmente ele merece estar entre o Top 5 de 2012.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

HORROR À MODA ANTIGA...

★★★★★★
Título: Terror Em Silent Hill: Revelação (Silent Hill: Revelation)
Ano: 2012
Gênero: Horror
Classificação: 16 anos
Direção: Michael J. Bassett
Elenco: Adelaide Clemens, Kit Harrigton, Sean Bean, Carrie-Anne Moss
País: França, Estados Unidos, Canadá
Duração: 94 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Heather, agora adolescente, morde a isca e volta a Silent Hill para resgatar seu pai que foi sequestrado pela Ordem e descobrir suas verdadeiras origens e quem ela realmente é.

O QUE TENHO A DIZER...
Terror Em Silent Hill: Revelação, é dirigido e escrito pelo inglês Michael J. Bassett, e realmente desconheço qualquer outro trabalho que ele tenha feito. A princípio o filme era pra ser escrito e dirigido por Roger Avary, o mesmo roteirista do primeiro filme, mas aí o cara foi preso porque sofreu um acidente grave de carro com vítimas enquanto estava embriagado, e a produção foi suspensa. Por essas e outras razões a produção demorou seis anos para ter início, o que é um intervalo bem grande de tempo para a continuação de um filme que, embora tenha feito um relativo sucesso, não ficou na memória de muita gente.
Para quem não sabe (será?), o filme é baseado numa série de jogos de horror com o mesmo nome (ao todo são 9 jogos oficiais até o momento). Os produtores Don Carmody e Samuel Hadida sempre quiseram levar um segundo filme para as telas, para concluir o final estranho deixado pelo primeiro, além de também sempre acreditaram que Silent Hill oferecia um grande material para um filme de terror, o que sempre foi verdade, desde quando o primeiro jogo da série surgiu, lá em 1999.
O primeiro filme, Terror Em Silent Hill (Silent Hill, 2006) recebeu críticas positivas no geral, mas foi mais elogiado pelo seu clima sombrio e uma produção de horror caprichada que há muito tempo não se via no gênero, resgatando um estilo de filme que incita o medo sem a necessidade de sustos orquestrados, mas apenas sendo sombrio, que usou e abusou de todas as características dos jogos e sua atmosfera, o que foi impressionante. Tanto que o filme é considerado, de longe, a melhor adaptação de um jogo de video game (talvez a única), por se manter fiel a todos os elementos e ainda ser um filme igualmente assustador.
O segundo filme sofreu diversas modificações na produção. Embora ele ainda mantenha uma classificação de idade alta (16 anos no Brasil, 17 nos EUA), o que é raro, pois o retorno financeiro não é garantido já que limita bastante o público principalmente nos EUA, muitos cortes foram realizados. A produção do primeiro filme teve um orçamento de US$50 milhões, a do segundo caiu para "apenas" US$20 milhões. O primeiro filme teve um pouco mais de 120 minutos, a duração do segundo filme caiu para 94 minutos. Ao mesmo tempo teve a exigência de ser um filme em 3D, o que aumentou os custos e exigiu que a produção tivesse que pisar em ovos, mais do que já estava. O surpreendente é que, apesar de tudo isso, o resultado final ainda é impressionante. Salvo algumas cenas, é praticamente impossível notar qualquer diferença entre essa produção modesta com qualquer outra mais cara. Sem dúvida os produtores tiveram que sambar legal para conseguir manter um nível de qualidade dentro de tantas restrições, o que é outro fator admirável. Como esperado, não fez tanto sucesso quanto o primeiro, mas ao menos conseguiu se pagar com o total US$50 milhões arrecadados no mundo e agradar os fãs em geral.
A história dá continuidade ao primeiro filme e seis anos depois a garotinha Sharon/Alessa agora se chama Heather (Adelaide Clemens) e está bem crescida. Essa confusão com os nomes é explicada no filme, e nem é tão confusa assim, então ninguém precisa se preocupar com esse detalhe. Heather tem constantes sonhos bizarros envolvendo uma estranha cidade chamada Silent Hill, mas seu pai, Christopher (Sean Bean), esconde a verdade de sua origem para defendê-la e evitar que ela volte para lá. O problema surge quando A Ordem captura Christopher para usá-lo como isca. Prevendo que isso poderia acontecer algum dia, ele deixa uma carta a Heather contando suas origens e sendo enfático ao dizer que, custe o que custar ou aconteça o que acontecer, não é para ela ir a Silent Hill. Claro que ela volta para todas as revelações do título acontecerem.
É meio estranho falar do filme porque ele tem coisas ótimas e tem coisas péssimas que se equilibram bem e deixam o gosto dentro de um meio termo, que não dá pra classificá-lo como bom e nem como ruim.
A atriz principal é ótima e caracteriza muito bem a personagem do terceiro jogo, além de todos os demais elementos sombrios como os personagens bizarros, o clima macabro, sujo e até mesmo a trilha sonora característica, estarem lá. Há referências sobre os jogos o tempo todo, e isso para os fãs é como entrar numa loja de doces e poder comer de graça por uma hora. A produção de arte é caprichadíssima, favorecendo uma fotografia caótica e assustadora que mesmo bastante escura consegue ser distinguida facilmente.
Os monstros, que são os maiores inimigos e atrativos dos jogos (porque mais bizarros que eles é impossível), também são a grande atração do filme, como as Enfermeiras, o Manequim Monstro (que é fantástico!) e o retorno do Cabeça de Pirâmide, dentre outros. Seres bizarros que, nos jogos, representam a força da cidade agindo sobre os pensamentos caóticos dos personagens, e que o filme até tenta reproduzir isso quando mistura as visões da personagem com a realidade. Apenas uma cabeça brilhantemente insana para criar essas figuras que conseguiram causar o mesmo impacto dos jogos no filme. Elas são assustadoras sem precisar de muito, pois distorcem a imagem daquilo que é inofensivo, e fazem do simples se transformar em um verdadeiro pesadelo. Acho isso fantástico quando bem usados (e no filme são) porque assustar é fácil, já que qualquer ação inesperada faz isso, mas causar o medo e o assombro é difícil porque a imagem está lá o tempo todo, mas é a forma como ela é mostrada que é o verdadeiro fator impressionante.
Há sequências perturbadoras como quando os cavalos do carrossel viram pessoas, ou quando Heather entra em uma cozinha em que o cozinheiro retira um filé que não é mignon, ou o chão de cabeças. Não há como deixar de lembrar de filmes como Hellraiser, pois essa imagem criada pro Clive Barker de que o infernal e perturbador é povoado por figuras de natureza masoquista, que vivem da dor e flagelação, sempre dilaceradas, disformes, costuradas e presas em materiais enferrujados cortantes ou pontiagudos, são seguidas a risca aqui e sem parecerem cópias.
Outro detalhe MUITO importante é que tudo foi feito à moda antiga, com maquiagens reais e cenários de verdade. Com excessão do Manequim Monstro, dos efeitos em cena, e de trabalho de pós produção para dar acabamento a alguns dos seres bizarros, o uso do CG foi limitadíssimo, o que é interessante pro nível de realismo e detalhes. A certa originalidade criada nos jogos e sua forma simples de ser perturbadora são mantidas nesses dois filmes, e esse é o grande show de elementos que realmente fazem desse filme ser mais um grande diferencial nos últimos anos quando o assunto é imagens perturbadoras.
Mas nem tudo é "flores". Assim como nos jogos, a história é boa, mas o roteiro é apressado e desenvolve de forma rápida e sem passagens de tempo, fazendo tudo soar forçado. Com excessão da atriz principal, os demais atores parecem amadores, isso inclui Sean Bean, inexpressivo, caricato e extremamente desinspirado, chega a ser constrangedor. E isso é resultado da carência de uma  direção mais efetiva. Os monstros poderiam ter tido maiores participações, e não aparecido apenas em sequências bastante definidas como se fossem fases de um jogo, o que fez o filme perder o gás conforme se aproximava do fim, como se o repertório de grandes idéias tivesse acabando, exagerando até para uma ceninha de luta pra lá de desnecessária. E o pecado de sempre: personagens e acontecimentos que não trazem acrescimo algum na história ou para o mérito do filme.
As coisas boas são boas mesmo, e as péssimas infelizmente fazem o filme deixar a desejar. Também não é um filme para quem não assistiu ao primeiro ou não conhece os jogos, o que pode deixar muita gente meio perdida e achando que poderia ser melhor. Realmente ele poderia ser melhor, mas não dá pra exigir muito frente a tantas limitações.
Não assisti o filme em 3D, o que me arrependo, já que mas tem muitas pessoas por aí que assistiram e, mesmo não tendo gostado, afirmaram que realmente são bons e impressionavam, pois ele foi filmado com câmeras especiais para isso, e não adicionado em pós-produção, como vem acontecendo com vários títulos atualmente. Mas acredito que isso não era necessário, e para um orçamento tão limitado essa tecnologia podia ter sido evitada para aproveitadar o dinheiro com outas coisas. Só a sequência final de créditos já deve ter ido uns bons milhões. E quem é que vai se importar com créditos finais de filme?

CONCLUSÃO...
É literalmente uma continuação do primeiro filme e uma boa coletânea de todos os elementos que fazem da série de jogos ser aterrorizante, não no sentido de sustos, mas do espectador ficar impressionado e com medo do bizarro como raramente conseguimos com filmes de horror modernos. Junto com o primeiro filme da série, talvez seja o único a ousar esse estilo no circuito comercial, o que é uma grande pena, já que esse gênero carece de boas produções como essa tentou ser, e até consegue. Grande ponto positivo para o uso limitado de CGs, provando que o bom e velho trabalho manual de maquiadores e cenógrafos ainda é insubstituível, principalmente para filmes como esse. Para quem gosta, é um prato generoso, podia ser um prato cheio, mas não podemos reclamar muito, pois o que é que temos melhor que isso atualmente nesse estilo? Nada.
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