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quinta-feira, 24 de agosto de 2017

PARA O PÚBLICO EXAGERADO...

★★★★☆☆☆☆☆
Título: Onde Está Segunda? (What Happened To Monday?)
Ano: 2017
Gênero: Ação, Ficção Científica, Drama
Classificação: 14 anos
Direção: Tommy Wirkola
Elenco: Noomi Rapace, Gleen Close, Willen Dafoe, Marwan Kenzari
País: Reino Unido, França, Bélgica, Estados Unidos
Duração: 123 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sete irmãs gêmeas deverão sambar sobre tamancas para sobreviver em um mundo superpopulado e sem recursos, onde apenas filhos únicos são permitidos,

O QUE TENHO A DIZER...
Com o fim do seriado Orphan Black, onde Tatyana Maslany interpretou, ao longo de cinco temporadas, cinco personagens fixas distintas (fora outras não fixas), o lançamento do novo longa também assinado pela Netflix, Onde Está Segunda?, pareceu bastante estratégico, já que Noomi Rapace igualmente oferece multiplas interpretações em o número absurdo de sete personagens. Absurdo porque o que Maslany fez em 50 episódios, Rapace fará em apenas 2 horas. Capiche?

Em Orphan Black, o tema era a clonagem humana, o que justificou a ousadia de tantas personagens interpretadas pela mesma atriz. Neste filme, o tema soa um pouco mais interessante e original dentro da fantasia científica que se propõe. Em um mundo superpopulado e com falta de recursos, domina uma lei de controle de natalidade, onde todos devem ser filhos únicos. Mas para as famílias que tinham uni ou bivitelinos, os governos optaram pela criogenia dos excedentes, os quais seriam trazidos de volta em um futuro onde a população já estivesse controlada e abaixo dos níveis de emergência.

Dirigido pelo noruegues Tommy Wirkola, conhecido pelos divertidos Zumbis Na Neve 1 e 2 (Dead Snow, 2009/2014), a trama começa quando vemos Terrence (Willem Dafoe) em um berçário, recebendo a notícia de que sua filha, a grávida de Taubaté do filme, não havia resistido ao parto de sétuplos. De maneira muito prática, ele resolve dar às suas netas órfãs o nome de cada dia da semana. Muito inteligente e esperto para seus planos futuros, que não demoram para serem revelados ao espectador.

Não há dúvida de que a idéia do filme seja interessante, já que embarca numa onda parecida não apenas com o seriado protagonizado por Maslany, mas também por outro longa aclamado no passado do diretor Alfonso Cuarón, Filhos da Esperança (Child Of Men, 2006). Enquanto no filme de Cuarón a infertilidade da população levou ao colapso, aqui é o inverso.

Mesmo sendo um avô, a imagem do "pai herói" que Dafoe constrói, naquela linha tênue entre o cândido e o carrasco, onde todas ações se justificam para salvar a vida de suas netas em um mundo cruel e injusto, consegue ter uma construção interessante, e a idéia de que todas adotem uma identidade única também. Mas quando a segunda parte do filme começa, com as irmãs já adultas, em um cena pra lá de batida, onde interagem em uma mesa de jantar para serem apresentadas individualmente de maneira bastante didática ao espectador a partir de suas distintas personalidades e caracterizações, já é possível perceber que a produção tenta usar, a todo custo, um cafona exagero como atrativo.

E no clássico erro do cinema comercial, esse exagero se sobrepõe a uma idéia interessante, ofuscada pelo excesso de personagens que estão lá não para desenvolver a história de maneira consistente, mas para impressionar desnecessariamente, cobrindo buracos e pulando saliências.

Quando Nicolette Cayman (Gleen Close) é apresentada como a grande vilã, não dá para evitar lembrar da atriz em Mulheres Perfeitas (Stepford Wives, 2004), refilmagem de um clássico de 1975 que se tornou uma referência do cult trash moderno, já que é tão ruim, mas tão ruim, que se torna divertido por isso.

E realmente, Nicolette tem muito de Claire Wellington. O perfeccionismo da personalidade maníaca se destacam novamente, não porque Gleen Close se repete, mas porque o estigma que a atriz carrega de "eterna vilã" faz papéis parecidos e rasos sempre caírem em suas mãos e ela aceitá-los pela falta de algo melhor.

Noomi Rapace também não consegue ter uma articulação convincente como Maslany. Não que eu queira comparar ambas, que são extremamente diferentes, mas porque o trabalho exercido por elas é bastante similar. A atriz sueca, revelada em 2009 na trilogia original Millennium, baseada nos livros de Stieg Larson (que tentou ser adaptada por Hollywood com o ridículo Os Homens Que Não Amavam As Mulheres, de David Fincher), pode ser talentonsa e expressiva, mas deixa a caracterização prática (figurino, maquiagem e cabelo) ser mais importante que a caracterização física. Quando um ator se rende a isso, o resultado deixa de ser convincente e se tornar caricato. É evidente.

Culpas do exagero.

Se o roteiro tivesse reduzido o número de personagens na trama a apenas um par de gêmeos, Rapace certamente teria oferecido um trabalho mais consistente, menos estereotipado, e o filme teria tido oportunidade de explorar com maior efetividade o suspense de sua ficção-científica e usado as cenas de ação como complemento eficiente e não como um espetáculo pirotécnico para tirar a atenção dos inúmeros defeitos que ele se permite sem vergonha alguma.

O resultado de tudo isso é um filme esquisito e um tanto bizarro. Os péssimos enquadramentos, as composições caóticas das cenas, uma edição igualmente confusa que se limita a mostrar a expressão de uma, depois de outra e de outra em um loop infinito em diversas sequências cansativas e sem qualquer propósito, faz dele algo esteticamente feio, rendendo umas boas gargalhadas pelos clichés, defeitos, exageros cênicos e figurantes esquisitos para aqueles que prestarem atenção. Sem falar da história em si, que começa na interessante idéia de explorar como as sétuplas sobreviveriam nessa distopia, mas (SPOILER) com o roteiro matando uma a uma sem misericórdia, não apenas acaba contradizendo e emplodindo toda a narrativa inicial, como também se torna uma grande bobagem que nos faz finalmente questionar a redundância: para que tantas personagens, então?

Sem dúvida é um filme perdido, cheio de técnicas manjadas para impressionar o espectador de maneira forçada, como dar maior atenção à ação do que ao resto. Trash ele consegue ser, mas é um produto irrelevante por nem visualmente agradável ou divertido conseguir ser. Para aquele público que adora um exagero e que sempre acha que "quanto mais melhor", este filme tem de monte, menos qualidade, algo que definitivamente esse público pouco se importa.

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

A ÚLTIMA TEMPORADA DE ORPHAN BLACK...

★★★★★★★☆☆☆
Título: Orphan Black (Última Temporada)
Ano: 2013
Gênero: Drama, Ação, Ficção Científica, Policial, Suspense
Classificação: 14 anos
Direção: Vários
Elenco: Tatyana Maslany, Jordan Gavaris, Maria Doyle Kennedy, Kristian Bruun, Kevin Hanchard, Dylan Bruce, Evelyne Brochu
País: Canadá
Duração: 44 min.

SOBRE O QUE É O SERIADO?
Ao ver uma sósia idêntica se suicidar em sua frente, uma mulher rouba sua identidade para fugir da polícia e dar a ela e sua filha uma nova vida, mas isso foi apenas o gatilho de uma grande conspiração no qual será o grande pivô.

O QUE TENHO A DIZER...
Orphan Black nunca foi um fenômeno, mas teve uma base sólida de fãs. Por isso conseguiu ter seu começo, meio e fim ao longo de cinco temporadas.

Cinco temporadas que, segundo seus criadores, já estavam no cronograma para contar a épica e contemporânea batalha entre a protagonista e uma grande corporação que comercializa experimentos biogenéticos, da qual ela descobre ter sido vítima. O seriado começou com um enredo que envolvia exageros desumanos a respeito da clonagem humana, e posteriormente a trama se desenvolveu para revelar que as explorações científicas em cima disso - envolvendo alguns milhares de inocentes - era a base para aquele fascínio que sempre existiu tanto na ficção científica, como também na realidade: a busca da fonte da juventude eterna.

Já fiz uma análise sobre a série AQUI, e embora toda a trama tenha se desenvolvido de maneira respeitável e empolgante, é impossível negar que o grande atrativo de tudo era muito mais pela versatilidade de Tatiana Maslany do que pelo roteiro em si. Maslany interpretou, ao longo de toda a série, outras três personagens principais além da protagonista. Sem contar outras que apareciam entre uma episódio e outro apenas para dar maior densidade nas situações ou uma maior consistência momentânea, ora dramática, ora cômica.

Em uma entrevista dada a Chelsea Handler em 2016, Maslani afirmou ser um trabalho exaustivo representar tantos papéis, tanto para ela quanto para a equipe técnica, mas um desafio que vale a pena, e talvez uma experiência única a qualquer ator. Tanto valeu a pena que a atriz, finalmente, conseguiu o tão aguardado Emmy. Aguardado não por ela, mas pelos fãs e pela crítica, rendendo até uma piada (com fundo de verdade) de Jimmy Fallon a respeito disso, dizendo que se Maslani concorria por ter interpretado 5 personagens, a categoria deveria ter sido apenas dela.

De fato, a dedicação e o talento de Maslani são inquestionáveis, ultrapassando os poderes da maquiagem e cabelo na hora da caracterização, oferecendo uma interpretação física, vocal e comportamental tão convincentes que conseguimos diferenciar cada uma das personagens só de olhar para elas. Tanto que os momentos mais interessantes são quando alguma das personagens finge ser alguma das outras personagens, algo que acontece diversas vezes ao longo das cinco temporadas.

Era de se esperar que a quinta e última temporada não pudesse ser tão grandiosa quanto as anteriores, já que a história obviamente focaria na revelação de fatos ainda abertos e na conclusão de pontas soltas.

Infelizmente os 10 episódios pareceram curtos para tanta coisa, caindo em clichés um tanto óbvios e soluções "práticas" para surpreender o espectador e dar conclusões repentinas. A redenção de personagens que desenvolveram sua vilania ao longo de toda a série, ou a perda de outros que se tornaram imprescindíveis na história, são alguns desses exemplos, não causando tanto impacto como deveria, deixando no ar aquela estranha sensação de que certas coisas poderiam ter sido diferentes, mas foram como foi por serem mais fáceis.

O desenvolvimento da última temporada não foi tão bem pensado ou articulado como deveria. Definitivamente não causou a impressão de que tudo já estava tão bem resolvido na cabeça dos criadores como eles afirmaram ao longo dos últimos dois anos. Muitas pontas soltas permaneceram, bem como outros personagens continuaram de lado e só apareceram em momentos oportunos para afirmarem aos espectadores que eles ainda existiam e não haviam sido esquecidos, mas que voltaram a ser dispensados depois de suas participações.

A situação de evitar que as personagens interpretadas por Maslany se encontrassem com frequência também era evidente para evitar complicações técnicas, principalmente com a repentina "saída de cena" de algumas delas, com uma se enclausurando em um convento (e lá ficou esquecida), bem como outra que foi atrás de um certo "retiro espiritual" (e lá ficou esquecida também). Artifícios utilizados com frequência na televisão quando há excesso de personagens e ausência de eficiência deles nas tramas e subtramas.

Uma última temporada simples, que permaneceu numa zona de conforto que não superasse expectativas, mas que também não desagradasse os fãs. Há um momento em que Cosima reage com bastante emoção à perda de outra personagem, mas pra mim foi inevitável interpretar a situação como um choro de alívio da atriz de que todo o trabalho e esforço foram válidos, e que o peso de carregar todo um seriado em cima das próprias costas finalmente chegou ao fim. Isso não é um ponto de vista negativo, pelo contrário, tudo na vida há prazo de validade, e Orphan Black encerrou sua trajetória de maneira respeitável, sem precisar mofar ou apodrecer na prateleira para que isso acontecesse.
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