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terça-feira, 19 de outubro de 2010

EU PREFIRO MEUS SONHOS...

★★★★★★
Título: A Origem (Inception)
Ano: 2010
Gênero: Ação, Ficção
Classificação: 14 anos
Direção: Christopher Nolan
Elenco: Leonardo DiCaprio, Joseph Gordon-Lewitt, Ellen Page, Tom Hardy, Ken Watanabe, Cillian Murphy, Tom Berenger, Marion Cotillard, Pete Postlethwaite, Michael Caine
País: Estados Unidos, Reino Unido
Duração: 148 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Em um futuro não muito distante, a tecnologia passa a ser usada para invadir a mente das pessoas e controlá-las, habilidade de poucos espiões corporativos para investigar e roubar idéias do subconsciente das pessoas durante o sono profundo, quando a mente está mais vulnerável a ataques. Essa habilidade fez um desses espiões sofrer conseqüências graves com isso e até perder tudo aquilo que ele mais amou. Após uma condenação, ele tem a oportunidade de se redimir realizando um último trabalho, mas ao contrário de roubar uma idéia, ele terá de fazer o contrário, implantar uma.

O QUE TENHO A DIZER...
Todo ano eu pego um filme pra Cristo, principalmente quando são esses blockbusters ovacionados pela crítica e que arrecadam milhões e milhões em bilheteria, porque eles são responsáveis por fazer o que esse filme diz muito bem: implantar uma idéia. São esses filmes que plantam aquela sementinha da tendência das próximas temporadas. O que de novo terá nesses filmes? A narrativa, histórias, efeitos inovadores, mais ou menos explosões... o quê? Alguns chegam a não ser originais, inovam uma idéia.

A Origem pode ser o filme mais bem sucedido de 2010, mas não para mim. Não questiono a qualidade do filme como um gênero de ação, mas como um filme de ficção que, depois de Matrix, este aqui parece muito mais ilógico exatamente pelo fato de tentar ser realista e extremamente coeso e coerente, o que nunca cabe em uma fantasia, principalmente quando ela trata diretamente da imaginação. O que quero dizer com isso é que o diretor e roteirista Christopher Nolan tenta tratar do assunto como uma realidade possível, dando tantas explicações sobre os fatos mas com fundamentos que ele tirou mais da sua cabeça do que de qualquer outro lugar. Ele mesmo declarou que a idéia de A Origem surgiu de filmes como O 13º Andar (The 13th Floor, 1999) e Cidade das Sombras (Dark City, 1998), além do já citado Matrix. Ele é tão inspirado por eles que algumas referências são muito claras, principalmente do já clássico dos irmãos Wachowski, como: os botões vermelho e azul (assim como as pílulas vermelha e azul), o arquiteto sendo a figura mestre, o grupo em que cada um tem uma habilidade específica, a idéia (significando o vírus), os soldados dos sonhos (como os anti-virus), o totem (como o telefone), entre outros...

Isso tudo, fora outros acontecimentos, deixa claro que é apenas mais uma cópia modificada, o que faz desse filme, para mim, uma grande farsa.

Quem presta atenção nos sonhos ou está familiarizado com o básico desse processo natural do (in)consciente do ser humano sabe que o filme está correto em alguns pontos, mas algumas outras características sólidas e fundamentais falham no processo de reprodução disso. Os sonhos possuem, sim, diferentes níveis de consciência, como o filme orienta. Quando estamos em um sonho lúcido, somos capazes de controlá-lo e direcionar eventos e acontecimentos, e isso vai depender da habilidade e do controle de cada um. É por isso que somos capazes de ter um sonho lúcido e, mesmo se acordarmos, conseguir voltar para ele até mesmo de onde paramos se quisermos.

No sonho inconsciente você é incapaz de controlar, assim como você é incapaz de lembar detalhes, apenas fragmentos. É por isso que geralmente acordamos quando morremos ou caímos, porque nos sonhos inconscientes somos incapazes de nos "defender", e nosso cérebro entende a situação como emergencial e de fuga, havendo liberação de adrenalina e todas aquelas substâncias malucas que a gente produz em situações de perigo.

O mundo do sonho inconsciente, onde a maior parte do filme se passa e tenta reproduzir já que os personagens estão em um estado de pré-coma (estado em que não temos consciência), é muito mais confuso e caótico do que parece. Poderia ter sido muito mais explorado se não tivesse sido dada tanta atenção às sequências de ação. A única parte do filme que realmente se parece com um sonho caótico é quando o trem atravessa uma avenida. Naquele momento eu pensei que as coisas passariam a ser visualmente interessantes, mas não foi.

Dando mais atenção a ação do que para a ciência, os personagens possuem uma mala mágica que conecta várias pessoas no sonho de alguém sem fundamento algum. Em Matrix existe aquela máquina gigante que é conectada no cérebro para transferí-los a um mundo imaginário previamente construído por uma máquina, fazendo com que duas ou mais pessoas dividam o mesmo ambiente virtual. Isso faz Matrix ser muito mais aceitável na explicação do que A Origem, pois cientistas acreditam que dividir um mesmo sonho seja possível já que o cérebro é movido por impulsos elétricos. Logo, se tivermos uma placa mestre capaz de unificar e decodificar esses impulsos, isso seria possível. Mas em A Origem o que realmente os conecta? Apenas um poderoso sedativo? Eles são super-heróis ou o quê? Não existe uma base científica, mesmo que posteriormente fosse transformada para o bem da ficção.

Enquanto Matrix trata de um mundo gerado eletronicamente, em A Origem eles tratam de sonhos que possuem cidades, pessoas, telefones celulares que funcionam, explosivos, batidas de carro, pessoas morrendo e sangrando e tudo mais... mas nunca há o poder da imaginação. Trabalhar com o tema da implantação de uma idéia, de como fazê-la ser uma semente que cresça na mente e se transforme em algo real, é muito interessante, e as barreiras para impedir isso poderiam ter sido qualquer coisa além de um monte de soldados armados atirando e explodindo o que tivesse pela frente. Poderia ter sido um dinossauro, um escudo invisível, um Pokemon, ou até mesmo a avó de calcinha. Estamos falando de SONHOS e da IMAGINAÇÃO, e não da Guerra do Golfo. Há uma seqüencia do filme em que eles precisam estar em determinado lugar em um tempo determinadíssimo e que os personagens acreditam que não terão tempo para isso. Oras, estamos falando de sonhos, e no sonho, se eu quiser estar em qualquer lugar AGORA, eu vou sem precisar lutar com todo mundo antes.

É inegável que seja uma idéia refeita, a mesma coisa que Avatar é para Pochahontas. Mas este filme não me acrescentou nada novo ou incrivelmente interessante que eu não tenha visto anteriormente. Filmes com temáticas semelhantes sobre o poder da imaginação como Dublê de Anjo (The Fall, 2006), Mácara de Espelho (Mirror:Mask, 2005), ou até mesmo A Cela (The Cell, 2002), que não tem uma história tão boa, mas possui seqüências surrealistas que conseguem dar uma idéia mais fiel sobre como são os sonhos inconscientes, conseguem ter muito mais sucesso nessa tentativa do que A Origem, o que é uma vergonha, já que são filmes de orçamento muito menores e nem por isso deixam de ser visualmente muito mais deslumbrantes. Tudo que este filme poderia ter sido, mas não é.

A mídia considerou o filme como um dos melhores de 2010 e um dos melhores do gênero de todos os tempos, e isso sinceramente insulta minha inteligência porque não há nada novo, e o que poderia ser novo é tão absurdo que vejo como é fácil enganar o público mais leigo. Mas a indústria necessita produzir dinheiro de algo tempos em tempos, e acharam em A Origem uma grante máquina de dinheiro.

CONCLUSÃO...
Tecnicamente é fantástico e um excelente filme de ação, mas como ficção científica é uma enganação. Muita coisa para nada, ou, talvez, muita coisa para, no fim, o filme explicar que é extremamente difícil plantar uma idéia tanto quanto eu convencer você de que o filme não é tão bom quanto parece.
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