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terça-feira, 15 de novembro de 2011

A VERDADEIRA MALVADA...

★★★★★★★★★
Título: Pérfida (The Little Foxes)
Ano: 1941
Gênero: Drama, Romance
Classificação: 12 anos
Direção: William Wyler
Elenco: Bette Davis, Herbert Marshall, Carl Benton Reid, Charles Dingle, Patricia Collinge, Teresa Wright
País: Estados Unidos
Duração: 116 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
O filme retrata a era pós-guerra da comunidade sulista norte-americana na virada do século XX onde nada é mais importante que o dinheiro e o poder para Regina Giddens (Bette Davis). Na tentativa de juntar seus igualmente impiedosos irmãos num plano óbvio para conseguir seu poder e glória, ela usa e abusa de sua ingênua filha, Alexandra Giddens (Teresa Wright) para trazer de volta seu marido, Horace Giddens (Hebert Marshal), o qual estava morando em Baltimore enquanto trata de um sério problema cardíaco. Quando ela não consegue convencer seu marido a lhe dar o dinheiro e vê seus planos indo por água a baixo, ela então coloca em prática uma trama sórdida e calculista.

O QUE TENHO A DIZER...
Adaptado da peça homônima de Lillian Hellman, a qual também escreveu o roteiro desta adaptação, é a terceira de três parcerias de enorme sucesso entre o diretor William Wyler e Bette Davis. Os outros dois filmes foram Jezebel (1938), o qual rendeu a Bette Davis o Oscar de Melhor atriz, e A Carta (The Letter, 1940), que rendeu a Bette sua quinta indicação ao Oscar de Melhor Atriz. Com este filme Bette Davis recebeu a quarta de cinco indicações ao Oscar de Melhor Atriz em cinco anos consecutivos, além de ter lhe rendido, juntamente com sua personalidade difícil, o estigma de 'má', título o qual carrega até hoje, já que esse filme deixou evidente que 'ser má' não é apenas um fetiche cinematográfico, mas também um dom técnico sutil e apurado que compete a uma minoria.

Este filme não apenas é dirigido por um dos maiores diretores de sua geração, como também é considerado por muitos como um dos grandes filmes da história do cinema devido ao seu perfeccionismo técnico em diversos aspectos, a começar pelo seu roteiro baseado numa peça teatral de grande sucesso escrita por Lillian Hellman, uma das mais importantes escritoras responsáveis pela grande transição literária e política feminina na primeira metade do século XX. Sem falar da atuação brilhante de Bette Davis, que está bastante diferente dos papéis que representou antes e posteriormente a esse filme. Seu cuidado na criação da personagem foi tanta que William Wyder chegou a criticá-la tanto pelo excesso de antipatia na caracterização quanto pela maquiagem fria que chegou a ser comparada como a de um Kabuki. Essas diferenças de idéias chegaram a fazer Bette Davis abandonar as filmagens, mas voltou quando ficou sabendo que poderia ser substituída por Katherine Hepburne.

Hoje sabe-se que Bette Davis só conseguiu o papel por ter sido usada como parte de pagamento de uma dívida. De acordo com Samuel Goldwyn Jr., Jack L. Warner deu o passe de Bette Davis da Warner para a Metro Goldwyn Mayer como parte do pagamento de dívidas em jogos que aconteciam entre os grandes chefes de estúdio da época, que eram: Jack L. Warner, Samuel Goldwyn Jr., Harry Cohn, Louis B. Mayer, Darryl F. Zanuck e Carl Laemmle. A quantia da dívida era estimada em US$300.000. Isso rendeu a Bette uma das atuações mais memoráveis na sua lista, sendo considerada de longe a melhor pela maioria dos fãs e críticos, e ela nunca escondeu sua insatisfação por não ter recebido o Oscar por ele.

A magnificência tanto do roteiro do filme quanto da peça teatral está não apenas na falta de discernimento das personagens alegóricas que representam a frieza e o desespero da alta sociedade na manutenção e ostentação do poder, mas também no impacto da industrialização sulista norte-americana durante o período pós-guerra.

O filme é marcado por diálogos impactantes em sequências memoráveis criadas com extrema habilidade por William Wyler e que definitivamente transformou Pérfida em um clássico do cinema e uma referência do - talvez - estilo 'noir'. O filme foi um grande sucesso e recebeu 9 indicações ao Oscar, embora não tenha levado nenhuma estatueta, sendo considerado, juntamente com Cidadão Kane (Citizen Kane, 1942) um dos grandes injustiçados daquele ano e da história da premiação. O filme, sem dúvida, também é uma importante fonte histórica, trazendo embutido fatos importantíssimos da história política, social e do pensamento que fazem o cinema clássico ter a magia e sua importância artística que gradualmente foi diminuindo com o tempo.

CONCLUSÃO...
Além de ser uma importante fonte histórica, é um excelente material do cinema clássico que nos mostra que muito do experimentalismo da época se transformou em referência e é utilizado até os dias de hoje. Sem falar da brilhante atuação de Bette Davis que é impecável do início ao fim.
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