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domingo, 26 de agosto de 2012

A CASA É MUDA, MAS RECLAMA...

★★★★
Título: A Casa Muda (La Casa Muda)
Ano: 2010
Gênero: Terror
Classificação: 14 anos
Direção: Gustavo Hernandez
Elenco: Florencia Colucci, Abel Tripaldi, Gustavo Alonso
País: Uruguai
Duração: 86 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre um pai e uma filha que vão trabalhar e colocar em ordem uma casa no meio da floresta para que ela seja vendida, mas dentro da casa coisas estranhas começam a acontecer.

O QUE TENHO A DIZER...
Eu não gosto muito de clichés, mas às vezes eu gostaria que o filme fosse apenas baseado nisso do que tentar fazer algo muito mirabolante e que não dá certo. É o caso desse filme, que ao mesmo tempo que tenta fugir deles acaba caindo em outros de uma forma tão ruim que a história se torna intragável. O ponto negativo do filme já começa dizendo que é baseado em fatos verídicos, e eu não sei porque ainda insistem em tentar convencer o espectador de uma coisa que ele sabe que não é verdade.

A Casa Muda teve grande repercurssão no circuito alternativo de cinema principalmente porque foi um dos longa metragens mais baratos já produzidos, custando em torno de apenas US$6 mil, e também porque foi promovido como um filme sem corte, ou seja, realizado em uma única tomada. Mas quem ficar atento vai perceber que isso também não é verdade e que os cortes existem, mas estão muito bem disfarçados. Há quem diz que há cortes a cada 10 minutos, há quem diz que ocorre a cada 12 minutos. Independente do tempo entre uma tomada e outra, elas existem, mas o interessante é a sensação de como se realmente não tivesse. O filme acabou ganhando uma versão norte-americana inferior (se é que é possível ser mais), A Casa Silenciosa (Silent House, 2011).

Essa experiência e tentativa de realizar um filme em uma única tomada já foi feita em 1948 no filme Festim Diabólico (Rope, 1948), de Alfred Hitchcock, a diferença é que no filme de Hitchcock, baseado em uma peça teatral, o cenário é uma única sala. Festim também possui cortes disfarçados, tendo sido feito em 10 tomadas de 10 minutos cada, já que era a capacidade máxima de tempo de cada rolo de filme na época. Brian De Palma, admirador e copiador extensivo de Hitchcock, também tentou essa façanha, mas apenas nos 15 minutos iniciais do filme Olhos de Serpente (Snake Eyes, 1998), numa seqüência pra lá de ousada e coreografada, já que a câmera acompanha o ator principal (Nicholas Cage) por vários níveis de um ambiente público e movimentadíssimo. Quentin Tarantino e Scorcese também são fãs de tomadas longas, assim como todo diretor que gosta de ousar.

Filmado com uma câmera digital, essa tentativa de querer inovar o gênero de filmes de horror em primeira pessoa, embora não soe muito original, consegue dar um tom de novidade. O clima de suspense é proporcional à constância da filmagem, brincando com o medo nato do escuro e daquilo que não podemos ver, sem truques de edição ou câmera, tudo em tempo real, muito simples e funcional. As cenas são bem realizadas e dirigidas muitas vezes com precisão para as gafes não surgirem. A iluminação bastante escura acaba contribuindo bastante o clima sombrio e de observador que o espectador experimenta. O filme não consegue assustar tanto, mas deixa o clima de tensão constante.

Mas enquanto temos grandes qualidades técnicas dentro do baixo custo, há o pecado da falta de uma história adequada. Aliás, não há uma história, só existe um argumento tolo e confuso para dizer que o filme tem um roteiro. A personagem principal apenas anda e anda pela casa com um lampião elétrico, e ao invés de se preocupar com o que pode estar atrás e no escuro, ela se preocupa em observar detalhes, objetos e a procurar coisas em lugares que não caberia como, por exemplo, quando ela está procurando e chamando por seu pai enquanto verifica uma estante de livros (???).

Claro que isso pode fazer algum sentido no final, quando descobrimos que a personagem sofre um misto de síndrome de ilusão pós-traumática com um surto indefinido de amnésia e que acaba resultando em um ataque psicótico. Mas essa conclusão de soltar falsas pistas para o espectador e posteriormente justificar com alguma(s) doença(s) psiquiátrica(s) se transformou numa recorrência do cinema atual, um novo cliché, como acontece em filmes como Identidade (Identity, 2003), Possuídos (Bug, 2006), 1408 (2007), ou até mesmo Ilha do Medo (Shutter Island, 2010). Esses filmes trabalharam bem em cima dos argumentos, mas nesse filme essa conclusão é dedutiva e fica no ar, deixando quem assiste perdido em acontecimentos sem pé e nem cabeça, confuso na hora de encontrar uma explicação. É aí que digo que são nessas horas que o uso dos clichés comuns seriam bem vindos, não porque o filme seria mais fácil, mas porque ele seria mais coerente em seu propósito e menos propenso a erros.

É uma ficção que passa a deixar de convencer depois de tentar sair da trivialidade com medo de se tornar mais um filme comum do gênero. E veja só, não apenas continuou sendo mais um, como também não conseguiu impressionar tanto quanto poderia.

CONCLUSÃO...
Uma idéia interessante e dentro um argumento fraco. Como um um pão bolorento, bonito por fora, mas estragado por dentro.

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