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sexta-feira, 27 de abril de 2012

BEL AMI DA ONÇA...

★★★★
Título: Bel Ami, O Sedutor (Bel Ami)
Ano: 2011
Gênero: Drama
Classificação:14 anos
Direção:Declan Donnellan, Nick Ormerod
Elenco:Robert Pattinson, Uma Thurman, Christina Ricci, Kristin Scott Thomas
País: Reino Unido, França, Itália
Duração: 102 min.

SOBRE O QUE É O FILME...
Sobre um jovem pobre que busca ascenção financeira e social na sociedade parisiense do século XIX do único jeito que sabe: conquistando as mulheres.

O QUE TENHO A DIZER...
É um projeto bastante ousado adaptar a obra de Guy de Maupassant logo na primeira empreitada dos novatos diretores Declan Donnellan e Nick Ormerod. O livro já foi adaptado no passado para o cinema, TV e teatro. É uma história que não chega a ser complexa, mas requer atenção, já que o personagem principal literalmente faz da cabeça das pessoas degraus sociais em prol da sua insaciável ganância e ambição, um exemplo referencial a tipos comuns, retratando de forma fiel uma sociedade movida a dinheiro e influências, além da sutileza das dependência políticas e sociais entre todos eles. Uma história que, apesar de seu tempo, é atual pela disposição dessas relações ser essencial para a existência e manutenção do poder e da diferença de classes.

A história se passa numa época muito importante da França após a regulamentação da mídia naquele país, onde os jornais, por conta da Lei da Imprensa, tinham liberdade de expressar e de circular sem a necessidade de regulamentação governamental, mas o filme não faz referência alguma a isso, se aprofundando mais nos influentes que passaram a dominar a mídia impressa, fazendo fortunas com o uso da informação, muitas vezes manipulando a política, o comércio e a sociedade, enriquecendo e dando mais poder aos já ricos e poderosos, além de enfraquecer e até mesmo destruir os rivais.

O interessante é que, neste caso, a história tanto do livro quanto do filme dispõem a influência feminina entre os homens. A sociedade conservadora daquela época impedia mulheres de trabalhar ou ter participações políticas. O excesso de casamentos por conveniência favoreciam os relacionamentos extra-conjugais tanto por parte dos homens quanto das mulheres, ampliando as relações, os contatos e a troca de informações. A participação limitada das mulheres na sociedade fazia delas peças importantes e imprecindíveis na guerra do poder, já que muitas delas eram detentoras de grandes fortunas (que podiam desfrutar apenas através de seus cônjuges já que uma mulher solteira e rica não era aceita na sociedade), tinham bons relacionamentos e eram verdadeiras caixas preciosas de informação. Portanto, embora o adultério fosse um crime, homens e mulheres faziam vistas grossas pela necessidade e importância do tráfico de informações e influências. Daí a razão da expressão "por trás de um grande homem há uma grande mulher" cair tão bem. O filme até consegue mostrar de forma digna que os grandes pensadores ou poderosos detentores de informação não eram os homens, mas as mulheres com as quais eles se relacionavam. Não é à toa que George Duroy (Robert Pattinson) começa sua escalada social através da sedução e da manipulação das mulheres, usando cada uma delas para uma razão específica no seu jogo ambicioso.

Os pontos principais do livro estão no filme, como a infiltração social de George Duroy, as relações de interesse, a tentativa de conspiração e boicote de seus rivais, a retaliação e sua constante ascenção. A direção de arte e figurinos são belíssimos, mantendo o mesmo misto de imundice e elegância da França da época, muito embora a fotografia tenha sido mal aproveitada.

Mas a escolha de Robert Pattinson foi de uma imensa infelicidade. Um ator inexperiente, jovem e que aqui mantém as mesmas expressões faciais da Saga Crepúsculo. O filme, que poderia ser agradável e interessante, se torna desconfortável e irritante com as constantes caretas fora de hora numa tentativa do ator expressar uma coisa que não se sabe o que é, ao invés da leveza, simpatia e sutileza de um personagem canastrão, cínico e interesseiro, que na falta de uma educação nobre compensa sua ignorância com a sedução e a manipulação. Talvez tenha sido esse o grande erro do filme, que se preocupa muito mais em tentar convencer de que Robert Pattinson é um grande ator de caretas do que dar mais atenção às relações que o personagem desenvolve, o uso que ele faz das influência das mulheres na sociedade, suas manipulações e chantagens. A impressão que se tem é que o único êxito que o personagem teve foi de levar para a cama todas as personagens principais, quando é muito mais do que isso. Todos os confrontos e complexidades do personagem e suas relações são colocados em um plano bastante coadjuvante e esquecível, o que não deveria acontecer, já que o personagem é a representação de um grupo social, mas é posto como um menino mimado e chato, o que é contraditório e incoerente nessa adaptação, já que ele nunca foi um nobre para agir dessa maneira. O roteiro cai novamente no erro do drama comum ao invés do drama socio-político, como deveria ser. O contraste de atuações é notável quando entra em cena o elenco feminino, que são as verdadeiras engrenagens da história. Uma Thurmam apresenta uma atuação inspirada que não se via desde Kill Bill (2003-2004), como a romântica, intelectual e política Madeleine Forestier. Christina Ricci sempre sobrando com as personagens mais esquisitas como a infeliz, apaixonada e compreensiva Clotilde de Marelle, e Kristin Scott Thomas numa atuação memorável da correta, perturbada e possessiva Virginie Walters.

CONCLUSÃO...
Tinha tudo pra ser uma grande adaptação, com um excelente elenco, cuidado visual e uma grande trama de época, porém não consegue ser convincente por ter um ator que mais irrita do que atua, e um roteiro perdido, que não sabe se desenvolve uma versão boba e superficial dos romances ou se tenta ser algo mais sério e profundo. Foi como disse no começo, é um projeto bastante ousado e ganancioso para ser um primeiro filme dos diretores, e essa inexperiência atinge diretamente a alma de tudo.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

MELHOR QUE O LIVRO...

★★★★★★
Título: Jogos Vorazes (The Hunger Games)
Ano: 2012
Gênero: Ação, Aventura
Classificação: 12 anos
Direção: Gary Ross
Elenco: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Stanley Tucci, Elizabeth Banks
País: Estados Unidos
Duração: 142 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre tantas coisas... Mas vou tentar ser bastante simples: em um futuro muito, muito distante, depois da Terra ter sobrevivido a diversas guerras, em um lugar conhecido como Panem (onde seriam os Estados Unidos), os humanos vivem em situações precárias com pouca comida e recursos, e além disso, como forma de punição aos civis que se rebelaram contra o governo no passado e fazer com que todos se lembrem de que quem manda é quem pode, todos os anos é sorteado um casal de jovens de cada distrito (há um total de 13) para participarem dos Hunger Games, um evento transmitido em rede nacional onde todos os participantes são postos em uma arena e devem lutar até restar apenas um vivo.

O QUE TENHO A DIZER...
Adaptado do livro homônimo de Suzanne Collins, sendo a primeira parte da trilogia de sua série de ficção para jovens adultos. A direção e o roteiro é de Gary Ross, que dirigiu o belo Pleasantville - A Vida em Preto e Branco (Pleasantville, 1998) e o interessante Nascido Para Ganhar (Seabiscuit, 2003).

A versão cinematográfica consegue ser mais interessante que o livro. A impressão que se tem é que a própria autora (que também assina o roteiro) tentou consertar a simplicidade da sua obra, porque embora o livro seja curto, tem uma narrativa em primeira pessoa bastante simplória. Esse tipo de narrativa muitas vezes é bastante interessante por mostrar pontos de vista objetivos através do narrador sobre os acontecimentos, mas também é um recurso bastante utilizado por aqueles que não conseguem transcrever de forma efetiva um mundo imaginário. Ok, podemos pensar que é um livro direcionado a uma faixa etária dos 15-20 anos e que a tradução em português talvez o empobreça, mas isso não justifica uma literatura tão simplista frente a outras superiores e que também tiveram adaptações cinematográficas, como Harry Potter, de J. K. Rowlings, ou até mesmo O Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien, que foi um livro originalmente intencionado para adolescentes.

De qualquer forma o livro tenta nos transportar para um mundo futurista que mescla tecnologia com sistemas arcaicos. Quem detém a tecnologia são os ricos, e os pobres sobrevivem em métodos um tanto quanto medievais, caçando, vivendo de subsistência, trocando produtos e vendendo a vida para comprar um punhado de farelo de milho, além, claro, de ter que contribuir constantemente com impostoso e viver sobre a sombra do medo de ter um filho, parente, ou amigo, sorteado para participar dos tais Jogos Vorazes.

A mistura das batalhas de gladiadores durante o ápice do Império Romano com aquilo que hoje conhecemos como reality show sem sombra de dúvidas foi o resgate mais interessante da autora para a cultura pop dos últimos anos, tentando criticar de alguma forma o atual sistema de entretenimento, trazendo para os dias atuais aquilo que era conhecido como panem et circus (pão e circo), atualizado como um programa de televisão líder absoluto de audiência e ovacionado por todos, por mais cruel, inaceitável e absurdo que possa ser. Nessa questão o filme sucede e consegue até realizar essa crítica, nunca escondendo de quem assiste que tudo que acontece é falso e uma grande e perversa tragédia disfarçada de espetáculo e entretenimento.

O diretor e roteirista, juntamente com a própria autora, conseguem ampliar tudo o que é limitado no livro, como o mundo e o espaço em que a história se passa, os personagens que fazem parte e as dificuldades e obstáculos que cada um deve superar, mas perde muito tempo mostrando o solitário sofrimento da personagem principal e seus dias perdida na floresta, quando deveria ter utilizado esse tempo para reproduzir mais fielmente toda a voracidade existente nas batalhas travadas entre os participantes do jogo, o que não é feito, dando a impressão que tudo nada mais é do que um bando de adolescentes chatos assediando moralmente uns aos outros e não duelando como animais e matando uns aos outros como máquinas de guerra num jogo de sobrevivência, uma das poucas coisas que são melhores descritas no livro. Mas também sabemos que isso é uma imposição do próprio estúdio que não queria que o filme fosse violento demais e a censura ultrapasse os treze anos de idade, o que limitaria muito a arrecadação na bilheteria. E funcionou bem, pois o filme teve um custo de US$72 milhões (mediano para o tamanho da produção), e já arrecadou mais de US$646 milhões no mundo, além de estar em 6º lugar no ranking dos filmes que mais arrecadaram no seu dia de estréia, conseguindo pagar antecipadamente as próximas duas seqüencias que, segundo o estúdio, só seriam feitas caso isso acontecesse.

De qualquer forma, dentre os atuais filmes baseados em série de livros, Jogos Vorazes consegue ser melhor que a série que o antecedeu, Crepúsculo, principalmente ao colocar como atriz principal a talentosa Jennifer Lawrence, já indicada ao Oscar por Inverno Da Alma (Winter's Bone, 2010), que ao contrário da heroína da outra série, consegue manter sua boca fechada, ser expressiva, convincente e elevar a qualidade do filme, fazendo-o deixar de ser apenas um produto direcionado a adolescentes fãs dos livros, mas também agradar o público adulto por ser madura e carismática o suficiente pra isso.

Os demais personagens coadjuvantes conseguem ser bastante fiéis ao livro em sua caricatura, com o apresentador Caesar Flickerman (Stanley Tucci e suas imensas próteses dentárias expostas em gargalhadas exageradas) e Effie Trinket (Elizabeth Banks, irreconhecível com tanta maquiagem). A narrativa do filme varia entre câmeras fixas e livres, e embora as cenas com câmera livre sejam interessantes por tentar reproduzir a narrativa em primeira pessoa do livro, acaba se tornando cansativa, confusa e enjoativa no meio de tantas explosões e fugas.

O filme não fez tanto sucesso no Brasil já que a série de livros só passou a ser divulgada e mais conhecida pouco antes do filme estreiar no país, mas a legião de fãs e de curiosos tende a aumentar.

CONCLUSÃO...
Poderia ser melhor e mais ousado, mas não chega a ser tão ruim quanto o livro. Para as pessoas com pouco senso crítico o filme cumpre seu papel como um produto de ação fantasioso e que também consegue, da sua maneira, criticar a cultura pop descartável e emburrecente da mídia atual. As atuações e a produção caprichada salvam o filme da superficialidade dominante em outros filmes de ação voltado ao público adolescente.

sábado, 21 de abril de 2012

TUDO É PELA METADE...

★★★★★
Título: 50% (50/50)
Ano: 2011
Gênero: Drama, Comédia
Classificação: 12 anos
Direção: Jonathan Levine
Elenco: Joseph Gordon-Lewitt, Seth Rogen, Anna Kendrick, Bryce Dallas Howard, Angelica Houston
País: Estados Unidos
Duração: 100 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre um rapaz que descobre que está com um câncer raro na coluna e tem 50% de chances de se curar.

O QUE TENHO A DIZER...
Bom... filmes sobre doença é complicado quando ele já foi incansavelmente explorado de todas as formas possíveis e imagináveis, principalmente quando é sobre câncer, qualquer que seja ele.

Embora o papel principal não era pra ser de Joseph Gordon-Lewitt, foi evidente mesmo assim os esforços sobrenaturais que tentaram fazer no ano passado de tentar consolidá-lo com essa comédia (sim, comédia) boba que já foi vista antes. Fizeram de tudo para colocar tanto ele quanto o filme nas melhores premiações, mas não conseguiu nada mais importante que de duas indicações ao Globo de Ouro (Melhor Ator Comédia e Melhor Filme Comédia). Will Reiser até conseguiu abocanhar um Independent Spirit Award e um National Board Of Review de melhor roteiro original, até parecendo que ano passado não teve nada melhor.

50% foi do jeito que fiquei depois que terminei de assisti-lo. Não é ruim, mas não é bom. Não é maravilhoso, mas não é horroroso. Meio drama, meio comédia. Nada nele é por inteiro, tudo é pela metade. A direção frouxa e sem uma orientação definida fez do filme um caos, já que o roteiro autobiográfico de Will Reisner também falha bastante na tentativa de misturar drama e comédia usando um tema tão difícil como esse levando a momentos de inevitável cliché.

Além de tudo, o elenco principal atua os mesmos personagens que já interpretaram em um breve passado, recortando e colando as performances, só mudando o nome. Joseph sendo a personificação do sofrimento e da incompreensão como em (500) Dias Com Ela (500 Days Of Summer, 2009); Seth Rogen sendo aquele personagem chato e exagerado que tenta ser "engraçado", aquele tipo de ator que sempre é contratado ou enfiado em um filme pra tenta fazer as pessoas rirem e aliviar o tom dramático; Bryce Dallas Howard agindo como a mesma garotinha fresca e egoísta; Anna Kendrick repete a mesma insegura, eufórica e entusiasta como em Amor Sem Escalas (Up In The Air, 2009); e claro, Angelica Houston sempre sobrando e sendo subaproveitada em papéis esquecíveis como a mãe. Mesmo repetindo os mesmos estilos, nenhum deles oferece uma atuação realmente brilhante.

O resultado é o mesmo filme de câncer e as dificuldades para sobreviver a ele. Javier Barden já fez isso, Meryl Streep também, Susan Sarandon, Michael Keaton, Emma Thompson, Debra Winger... e a lista vai embora. Este filme é apenas mais um, mais uma vez usando a doença para terem oportunidade de mostrar os personagens se entorpecendo de maconha como se isso fosse uma grande piada engraçada. Parece simples e honesto, mas ao invés disso é descartável, tentando com muito esforço ser alguma coisa. Há alguns momentos engraçados, mas nenhum deles pelas tentativas frustradas de Seth Rogen. Alguns outros momentos bem tristes, mas muito mais pelo uso correto e efetivo de cenas impactantes junto com a trilha sonora apelativa.

CONCLUSÃO...
Um filme que não é tudo aquilo que dizem e tentaram promover, mas engana bem aqueles que não estão acostumados ou não ligam em assistir a mesma coisa sempre. Não chega a ser uma perda de tempo, mas também não serve pra ser uma primeira escolha ou muito menos deixar de fazer algo para assistí-lo. Feito pra ser assistido numa tarde chuvosa de domingo.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

CUIDADO, CHUCK NORRIS!

★★★★★★
Título: À Toda Prova (Haywire)
Ano: 2012
Gênero: Ação
Classificação: 14 anos
Direção: Steven Soderbergh
Elenco: Gina Carano, Ewan McGregor, Michael Fassbender, Bill Paxton, Michael Douglas
País: Estados Unidos, Irlanda
Duração: 93 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre uma agente que é traída durante uma missão e volta querendo vingança.

O QUE TENHO A DIZER...
Pelo número de filmes que Soderbergh já fez (e a maioria deles muito bons), ele fez questão de querer provar que é um diretor eclético, viajando através dos diferentes gêneros sem esforço, oferecendo abordagens diferenciadas sem sair muito do que é esperado. Ele faz filmes americanos para uma audiência americana diferente, e às vezes filmes hollywoodianos para aqueles que querem algo um pouco diferente do óbvio. E dessa forma Soderbergh provou que pode encabeçar a lista de melhores diretores de seu tempo, mas ao mesmo tempo este é o seu principal problema porque as pessoas geralmente superestimam demais seus filmes, caracterizando-os como obras cinematográficas grandiosas quando muitas vezes é apenas um filme diferenciado.

O diretor realmente começou sua escalada ao sucesso e ao topo dos mais influentes da atualidade com seu filme Sexo, Mentiras e Videotape (Sex, Lies and Videotape, 1989), recebendo uma indicação ao Oscar por Melhor Roteiro Original por ele. Alguns anos e algumas produções pouco lembradas depois, emplacou nas bilheterias e na crítica dois filmes no mesmo ano, Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento (Erin Brockovich, 2000) e Tráfico (Traffic, 2000). Ambos foram ao Oscar, sendo que o primeiro consagrou Julia Roberts como Melhor Atriz daquele ano, e o segundo abocanhou quatro estatuetas, sendo uma delas de Melhor Diretor. Isso foi o suficente para Soderbergh superestimar ele mesmo, lançando um filme por ano e variando entre pequenas e grandes produções, entre público alternativo e popular, mas no geral todo filme novo era um sucesso, fosse de público ou de crítica. Isso foi o suficiente para acreditar que Hollywood estava a seus pés. Ele chegou ao cúmulo de realizar um filme apenas para reunir os amigos e se divertirem, como na continuação absurda e incoerente 12 Homens e Outro Segredo (Ocean's Twelve, 2004). Chegou a fazer ficção científica, arriscou no estilo noir e fez o mais ambicioso de seus projetos até hoje, Che (Che, 2008). Dividido em duas partes, o filme totalizava aproximadamente 4 1/2 horas. Foi pouco foi assistido e lembrado, além de ter sido ignorado pela maioria das premiações e festivais. Foi aí que Hollywood deu sua primeira rasteira, e ele voltou às pequenas e discretas produções.

Para Haywire ele criou um discurso promocional fantástico. Disse que sempre teve vontade de fazer um grande filme de ação e até criticou de maneira generalista, inferiorizando os filmes do gênero de hoje, dizendo que os diretores não sabem fazer mais filmes de ação, apenas explosões, tiros e efeitos especiais. Para quem ouvia essas afirmações imaginava que vinha aí uma grande revolução do gênero e uma obra prima.

Mas não era bem assim. Um bom filme de ação para ele era um com os moldes clássicos, onde o personagem principal bate e arrebenta com os próprios punhos e sem dubles, explosões ou armas. Foi quando conheceu a lutadora de MMA, Gina Carano, e então ele decidiu que era hora de fazê-lo, convidando-a e desenvolvendo o filme especialmente para ela. Ele também chegou a afirmar que sua decisão de resgatar um filme "bate e arrebenta" com uma mulher como personagem principal era que muitos dos filmes de ação usam a sexualidade feminina mais do que seus dons marciais. E assim o filme foi feito. As habilidades de Gina Carano definitivamente excluem dublês, resultando em cenas realistas e intensas.

O filme cumpre o que promete, Sodebergh tenta manter as cenas de ação focadas inteiramente nas lutas e nas sequências de perseguição, nunca usando trilha sonora ou tiros mais do que o necessário para não invadir e encobrir toda a atenção técnica que ele tanto queria experimentar. E funciona, mas não muito. Para uma audiência comum o filme pode não parecer o que esperam, podendo ser frustrante, principalmente se essas declarações do diretor chegaram ao ouvido dessas pessoas antes delas assistirem.

O tema do filme é extremamente previsível e comum, nada que nenhum outro filme de ação já tenha desenvolvido anteriormente, e nós conhecemos Soderbergh o suficiente para saber que toda a complicada trama é apenas para causar a falsa impressão de que seus filmes não são estúpidos.

De qualquer forma, gostei do resultado final e admiro o esforço dele tentar resgatar essas velhas visões técnicas no filme, mas Haywire não sai muito da linha que ele tanto quis ficar de fora. Ele está muito certo ao afirmar que não existem filmes de ação com uma personagem feminina principal interessante, mas ao mesmo tempo é pretencioso demais ele esquecer que antes de Haywire existiu a excelente Trilogia Bourne que revolucionou de alguma forma como os filmes de ação são produzidos hoje em dia, sendo influencia para muitos e poucos conseguindo ser bem sucedidos no resultado final, como, por exemplo, Hanna (2011).

CONCLUSÃO...
É um excelente filme de ação, mas não deve ser assistido como um filme de ação comum. Tem uma narrativa lenta e é um filme muito mais tenso do que frenético. Vale pelas cenas realistas, pois o resto é esquecível já que Gina Carano é muito melhor lutando do que interpretando, e a história do filme não foge muito do habitual dos filmes desse gênero.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

NÃO, NÃO TEM ESTRELAS!

Título: Armadilha (ATM)
Ano: 2011
Gênero: Terror, Suspense, Comédia
Classificação: 12 anos
Direção: David Brooks
Elenco: Alice Eve, Josh Peck, Brian Geraghty
País: Estados Unidos, Canadá
Duração: 90 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre três jovens que ficam presos dentro de um ATM por conta de um maníaco desconhecido que sem razão alguma quer matar todos.

O QUE TENHO A DIZER...
É o filme de estréia do desconhecido David Brooks, com o roteiro assinado por Chris Sparling, o mesmo do tenso e (às vezes) absurdo, porém interessante Enterrado Vivo (Buried, 2010), diretor que ficou queimado em Hollywood por ter enviado e-mails a membros da Academia como que implorando para que considerassem o roteiro de Enterrado Vivo na premiação, o que é expressamente proibido, já que qualquer um dos envolvidos em qualquer produção que tenha essa conduta não apenas é completamente anulado como também todo o filme.

Pra ser sincero, não tem muito o que se falar sobre esse ERRO de filme que nem para ser engraçado frente a tanto absurdo prestou. Eu até hoje não entendo como tive coragem de assistí-lo até o final.

ATM é o acrônimo de automated teller machine, que são os caixas eletrônicos. Também é acrônimo de at the moment (no momento), mas também pode ser o acrônimo de A TERRIBLE MOVIE (um filme terrível) e é exatamente isso, pois sem dúvida alguma ele pode figurar na lista dos piores não apenas da década, mas da história do cinema.

A idéia das pessoas presas dentro de um caixa eletrônico, como acontece com Colin Farrell em uma cabine de telefone no filme Por Um Fio (Phone Boot, 2002), é interessante, mas é só e somente isso. O filme é recheado de gafes gravíssimas, buracos e interpretação amadora e irritante, extremamente previsível e cheio de situações absurdas. Eu poderia pontuar todos esses momentos, mas deixo essa diversão para quem realmente insistir em assistir esta grande peça de porcaria.

O assassino e seu jeitinho Jason de andar é hilário. Se todos tivessem saído correndo provavelmente teriam conseguido dar três voltas por todo o quarteirão enquanto o lerdo nem teria chegado na esquina.

Quando se pensa que o filme não poderia ficar pior, vem o assassino e tenta encher a cabine de água como se fosse um aquário gigante, e assim matar todos afogados. Olha... sinto muito, mas esse filme é vergonhoso e ultrajante.

Quem gostar de uma porcaria dessas ou: 1) porque é pré-adolescente; 2) nunca assistiu filme algum. E acredite, cheguei a ler comentários no IMDb de pessoas que o considerou "fantástico". Essas pessoas estão doentes.

CONCLUSÃO...
Se você tem amor próprio e valoriza seu intelecto, passe longe.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

UM POUCO DE RUINDADE NÃO FAZ MAL A JULIA ROBERTS...

★★★★★★
Título: Espelho, Espelho Meu (Mirror, Mirror)
Ano: 2012
Gênero: Comédia
Classificação: Livre
Direção: Tarsem Singh
Elenco: Julia Roberts, Lily Collins e Armie Hammer
País: Estados Unidos
Duração: 106 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre a Branca de Neve, e se você não conhece essa história, então é hora de diminuir as doses de Rivotril.

O QUE TENHO A DIZER...
O filme não merece tanto o desmerecimento que vem recebendo. Ano passado vi filmes muito piores com direção, roteiro e atuações terríveis e o público enlouquecendo como se estivessem assistindo o melhor filme de suas vidas. Definitivamente não consigo entender o gosto das pessoas. Mas consigo entender porque o diretor Tarsem é tão menosprezado, talvez porque poucos entendam seus conceitos e suas visões artísticas.

Formado no Centro Universitário de Arte e Design de Pasadena, começou sua carreira dirigindo comerciais para a Nike, Coca-Cola e Pepsi (na memorável versão de We Will Rock You, aquele com Enrique Iglesias, Beyonce, Britney Spears e Pink), além de importantes vídeos musicais, incluindo o antológico Losing My Religion, do R.E.M. Sigo sua carreira desde essa época, a qual foi uma grande escola para o amadurecimento de sua atual identidade, visíveis nos filmes A Cela (The Cell, 2000), o pouco visto, menosprezado - e com um terrível título em português - Dublê de Anjo (The Fall, 2006), Imortais (Immortals, 2011) e o atual Espelho, Espelho Meu (Mirror, Mirror, 2012). Ele afirmou em uma entrevista recente ao Hollywood Reporter que procurava projetos que pudessem dar liberdade para extravasar sua identidade mais do que ter um bom roteiro. O braço direito para toda essa sua extravagância foi a figurinista, designer, estilista e diretora artística japonesa Eiko Ishioka, que morreu no começo do ano. Eiko trabalhou com Tarsem em seus quatro filmes, além de também ter sido responsável por Drácula (Bram Stoker's Dracula, 1992). Segundo Tarsem, em uma matéria do MovieLine, não estava nos seus projetos filmar Espelho, Espelho Meu, já que era um filme visualmente orientado, o que ele não queria fazer no momento. Mas resolveu fazê-lo porque Eiko estava com câncer, ele sabia que ela tinha poucos meses de vida e que esta seria a última oportunidade que ele teria de trabalhar com ela, além dela ter expressado o intenso desejo de continuar trabalhando. E assim ele o fez.

O resultado é um filme agradável, direcionado especialmente para crianças, com humor infantil e cores fortes, contrastantes e lúdicas para chamar a atenção desse público em específico, bastante diferente dos trabalhos anteriores tanto de Eiko, quanto de Tarsem (com excessão de Dublê de Anjo). Por essa razão, muitos adultos poderão se sentir entediados ou considerar a história muito fraca. A narrativa é contada pelo ponto de vista da Rainha má, interpretada por Julia Roberts, que mesmo com todo aquele monte de pano ainda é possível notar a mesma requebrada de quadril clássica que lhe deu a fama (depois do sorriso), deixando clara a atuação despretenciosa e que, ao mesmo tempo, oferece os únicos diálogos mais adultos e sarcásticos de todo o filme. Lily Collins (filha do cantor Phill Collins), se encaixa perfeitamente no papel, tendo a doçura e a candidez que a personagem tem tanto nos contos quanto na versão animada da Disney. A história não segue as mesmas características do conto original, mas, depois da trilogia Shrek, nenhum conto de fadas tem mais a obrigação de ser levado a sério. O romance entre Branca de Neve e o Príncipe fica em segundo plano, e a química dos dois é bastante fraca. O Príncipe é representado muito mais como um paspalho do que como um herói, tendo sua alma aventureira e desbravadora substituída por cenas que chegam a ser até constrangedoras para um ator, mas vamos nos manter fiéis ao fato de que este é um filme infantil e tudo é possível.

Os sete anões, com participação e nomes bem diferentes da história original, são aqui apresentados como "bandidos", o que caiu melhor, pois são eles quem treinam e fazem de Branca de Neve tudo aquilo que o Príncipe, nessa história, não é. Embora um tanto diferente dos originais tanto dos irmãos Grimm, quanto da animação da Disney, as mudanças não atrapalham o desenvolvimento da história. O único problema é a falta de comprometimento do roteiro que apresenta as coisas de maneira vaga e em um vai e vem na Floresta Negra que acaba deixando a gente tonto, mas as crianças não prestam atenção nisso, sendo essa a razão do filme estar se saindo tão bem (já arrecadou mais de US$160 milhões em todo o mundo). O final vale até uma apresentação bollywoodiana, já que o diretor é indiano e, como é dito logo no começo do filme, "o reino era um lugar feliz, onde as pessoas cantavam e dançavam dia e noite..."

CONCLUSÃO...
Para quem for assistir para comparar com Branca de Neve e o Caçador (Snow White And The Huntsman, 2012), vai levar um belo tombo do cavalo, pois eles não apresentam nada em comum. Para os adultos que esperam algo exepcional, vão cair do cavalo da mesma forma. Apesar dos defeitos comuns nos filmes de Tarsem, o visual é magnífico e o último trabalho de Eiko Ishioka para ser apreciado em sua totalidade, que com absoluta certeza será muito mais apreciado pelo público infantil do que pelo adulto, que, ao menos no cinema, aparentou ter perdido a alma lúdica já há muito tempo.
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