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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

NÃO COLA E NEM DECOLA...

★★★★★
Título: 2 Dias Em Nova York (2 Days In New York)
Ano: 2012
Gênero: Comédia, Romance
Classificação: 14 anos
Direção: Julie Delpy
Elenco: Julie Delpy, Chris Rock, Albert Delpy, Alexia Landeau, Alexandre Nahon
País: Alemanha, França, Bélgica
Duração: 96 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Marion agora está casada com outra pessoa, o locutor de rádio Mingus. Dessa vez, ao invés de ela ir a Paris visitar sua família, são eles quem vão para Nova York passar dois dias em sua casa. O resultado é uma confusão de línguas e informações somados ao caos de uma das maiores cidades do mundo.

O QUE TENHO A DIZER...
Que Julie Delpy tem talento, isso é inegável. A diretora, escritora, produtora, atriz e compositora já fez inúmeros filmes memoráveis, seja como atriz ou diretora. Entre eles estão os conhecidos e adorados Antes do Amanhecer (Before Sunrise, 1995) e Antes do Pôr do Sol (Before Sunset, 2004), filmes que elevaram o nível e conseguiram inovar o gênero "comédia romântica", caindo no gosto até mesmo dos mais críticos e preconceituosos sobre um estilo que é constantemente taxado por clichés, mas que recebeu um ar diferenciado com essas duas obras do diretor Richard Linklater e que, por sinal, também foi anunciada uma terceira parte prevista para 2013.

Esses dois filmes foram a grande fonta de inspiração de Delpy, mas enquanto nos filmes de Linklater as personagens construiam uma relação de confidência e companheirismo apenas em diálogos, desenvolvendo discussões fundamentalistas ou existencialistas sobre temas simples do cotidiano, em 2 Dias Em Paris, Julie Delpy resolveu contar uma história similar, mas por uma outra perspectiva: a de uma relação já construída pelos pontos de vista cômicos e dramáticos do cotidiano. As diferenças de personalidade entre a francesa Marion (Julie Delpy) e o norte-americano Jack (Adam Goldberg) era o que alimentava a relação desfuncional e exagerada que entrou em uma situação de risco quando Jack foi a França conhecer os amigos e familiares de Marion, numa dificuldade de comunicação e num choque de culturas que foi responsável para colocar a prova a relação dos dois.

2 Dias Em Nova York a situação é um pouco diferente. Alguns anos se passaram, Marion teve um filho com Jack, mas a relação terminou enquanto ela ainda estava grávida. No lugar de Jack entrou Mingus (Chris Rock). Ambos começaram a namorar e um dia resolveram morar juntos. Os dois são parecidos e tem gostos em comum, mas Mingus fica intolerante com os parentes de Marion que resolveram visitá-la em Nova York e que são os mesmos que fizeram da vida de Jack um inferno no passado, com excessão da mãe que faleceu (por sinal, uma homenagem muito bonita, já que a mãe de Marion era interpretada pela mãe de Julie Delpy, a atriz Marie Pillet, e que veio a falecer em 2009).

A grande graça de 2 Dias Em Paris, e o que faz dele uma comédia romântica tão interessante quanto os filmes de Linklater, é o ponto de vista de Marion sobre a relação e as dificuldades que as pessoas têm de aceitar umas às outras com todos seus defeitos e bagagens. Delpy mostra no primeiro filme uma realidade moderna comum, apontando críticas, defeitos e reflexões que muitas vezes faltam entre duas pessoas, mas principalmente mostrando que o grande problema é a falta de confiança e de comunicação, independente de qual ela seja, ou como ela seja feita. Já em 2 Dias Em Nova York isso não acontece e esse ponto de vista pessoal, introspectivo e reflexivo da personagem não existe mais, soltando na tela apenas um caos entre franceses e americanos sem qualquer relevância ou fundamento. Assim, o filme deixou de ser um olhar objetivo e com reflexões subjetivas sobre as relações para se tornar um filme com um teor socioantropológico que não cola e nem decola.

Dessa vez Julie Delpy divide o roteiro com Alexia Landeau, que também atua nos dois filmes no papel de sua irmã mais nova, Rose. O ponto de vista cômico e o tempo de comédia afiado que Julie Delpy criou no primeiro filme deu lugar ao exagero e a situações forçadas, e a ironia constante nos diálogos sincronizados e inteligentes deram lugar a discussões tolas e fúteis numa bagunça francesa que mais irrita do que entretém. Talvez esse caos ambiental que Delpy criou tente ser uma metáfora ao caos, a futilidade e a caretice norte-americana, mas de forma alguma essa continuação manteve as qualidades e os prazeres que o primeiro filme desperta ao assistir. Até mesmo a narrativa corrida em sincronia com imagens editadas que ilustrava o pensamento da personagem de forma ágil e acessível viraram apenas um esboço. Em Paris o roteiro desenvolve numa constância fluida pelas ruas e pontos turísticos franceses, fazendo da cidade uma personagem ativa na história, mas em Nova York as cenas são desconexas, beiram o ridículo e sempre em locações internas, apenas para intensificar a bagunça familiar, levando a cidade apenas no título.

Sem dúvida o filme falha ao dar continuidade a uma comédia romântica que Delpy conseguiu criar um diferencial e se manter à altura dos filmes de Linklater. Sem dúvida é uma continuação incomum e sem pretensões de ser superior ou inferior, mas falha ao tentar mostrar uma personagem mais madura quando suas incertezas e neuroses se mostram mais presentes do que antes, além do foco ser perdido toda vez que a família da personagem entra em cena, não acrescentando muita coisa consistente como no primeiro filme.

CONCLUSÃO...
Esta continuação se mostrou desnecessária e aquém às expectativas positivas que geraram quando foi anunciada e causará estranhamento e, talvez, frustração àqueles que conheçam o primeiro filme. E caso não conheçam, devem. E depois de conhecer, fique apenas com ele.

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