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domingo, 18 de janeiro de 2015

FERIDA QUE DÓI E NÃO SE SENTE...

★★★★★★★
Título: Dois Lados do Amor (The Disappearance Of Eleanor Rigby)
Ano: 2014
Gênero: Drama
Classificação: 14 anos
Direção: Ned Benson
Elenco: Jessica Chastain, James McAvoy, William Hurt, Isabelle Hupert, Viola Davis
País: Estados Unidos
Duração: 123

SOBRE O QUE É O FILME?
A história de um casal que tenta retomar a vida e o amor que um dia tiveram juntando os pedaços de um passado que pode ter ido embora há muito tempo.

O QUE TENHO A DIZER...
O Desaparecimento de Eleanor Rigby seria o nome do filme se traduzido literalmente em português, o que teria sido um título muito melhor do que o atual dado por aquelas pessoas que a gente não sabe quem são. Um título tendencioso, que remete a uma comédia romântica fajuta qualquer, quando este não é o propósito do filme, e está muito longe de qualquer coisa parecida.

O desaparecimento de Eleanor que se fala é apenas um sentido figurado, já que a personagem está presente o tempo todo. A ausência é de sua essência, daquilo que a deixava viva e autêntica, pois hoje Eleanor nada mais é do que uma carcaça ambulante, apática, que sofre de uma culpa que não se sabe de onde vem e de um vazio que não há conteúdo que o preencha.

Dirigido e escrito por Ned Benson, é também sua estréia com longas metragens. A princípio o filme foi lançado em duas partes, a parte Ele, contada pela perspectiva de Conor (James McAvoy), e a parte Ela, contada pela perspectiva de Eleanor (Jessica Chastain). As duas partes foram lançadas no Festival de Cannes e posteriormente o diretor fez uma terceira edição entitulada Eles, que é a edição final distribuida em maior circuito pela Weinstein Company.

Dois Lados do Amor mostra de forma muito realista e sensível os rumos inesperados de um casamento após um trágico episódio e das sinceras dores de se seguir em frente depois disso. Este acontecimento será o grande responsável por abalar todas as fundações da relação de ambos ao ponto de não haver solução para estancar a sangria desenfreada.

Benson até tenta criar um clima de mistério no ar que por alguns momentos nos leva a acreditar que a culpa pode ser tanto de um quanto de outro, dependendo do grau de empatia do espectador com cada personagem, mas em nenhum momento ele força essas situações e muito menos demora a revelar o que de fato aconteceu, ele apenas evita falar sobre isso, pois é isso que os personagens fazem o tempo todo: evitar lidar com a realidade.

É quando a história se torna muito mais densa, pois é muito triste notar conforme ela se desenvolve que nenhum dos dois possui de fato uma culpa sobre a situação que se encontram. Eles até tentam, com muita sinceridade, encontrar alguma solução, um meio termo em consideração ao amor e carinho genuínos que possuem um pelo outro, mas há um gosto amargo no ar sobre algo que não se vê, mas se sente mesmo assim. A atmosfera pesa, o ar fica denso e a presença um do outro é cada vez mais incômoda, como uma vergonha, numa situação insustentável a cada nova tentativa de reaproximação e uma necessidade de se ouvir desculpas de quem não tem desculpas para dar. Esse desenvolvimento lento e doloroso feito pelo diretor/roteirista funciona como a deixar a ferida exposta ao tempo, e por mais que ele tente nos mostrar que ainda possa haver esperanças, no fundo sabemos que não há alternativas. Embora os clichés sejam usados, a construção de tudo é tão honesta, emotiva e instrospectiva que não há outra impressão sobre o filme como um triste olhar sobre um jovem casal que poderia ter dado muito certo caso não fosse o acaso de seus próprios destinos.

Impressionante como a atriz Jessica Chastain tem escolhido filmes com muita acertividade, preferindo papéis mais densos e em produções menores do que ir para o caminho mais óbvio da fama, tanto que ela desistiu de O Homem de Ferro 3 para fazer este filme, que exige dela muito mais sutileza do que seus papéis anteriores porque a dor de Eleanor vem de dentro, de um lugar que nem mesmo o coração dela sabe onde está. Um alguém que a todo momento tenta se fixar em algum lugar na tentativa de recomeçar outra vez, mas não consegue fazê-lo de forma alguma.

CONCLUSÃO...
Uma pena que esse filme vai passar despercebido no grande circuito, pois as atuações são bastante impressionantes e por parte de todo elenco, além de ser uma história sutil, delicada e verdadeira sobre a relação de um casal que se perdeu, de um amor que ainda existe, mas cuja presença esvaneceu e deixou entre eles apenas um vácuo inexplicável.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

ÚLTIMAS APOSTAS PARA O OSCAR 2015!

Este ano, obviamente, haverá favoritismos, mas também houveram algumas surpresas tanto agradáveis quanto desagradáveis. Para quem ainda não viu a lista de indicados, acesse AQUI.

MELHOR FILME
Todos os oito filmes que a Academia considera "os melhores do ano" estão lá, ainda havendo inclusão de Sniper Americano (American Sniper, 2014), de Clint Eastwood. Filme que passou despercebido e que foi lembrado apenas pelo BAFTA e (agora) o Oscar. Está mais lá porque a Academia realmente puxa muito saco de Eastwood. Mas o pário está duro entre Boyhood, Birdman e O Grande Hotel Budapeste. Minha preferência fica entre os dois últimos. Pode ser que Boyhood leve como melhor filme, e deixe os demais filmes levarem nas outras categorias. Mas pela primeira vez em muitos anos estou muito indeciso.

MELHOR DIRETOR
A situação também está difícil nessa categoria. Mas se a princípio eu achava o trabalho realizado por Richard Linklater em Boyhood algo digno de nota, depois de assistir Birdman o prêmio deveria ir direto para Alejandro Iñárritu por Birdman. O que ele fez neste filme é algo tão brilhante quanto o que seu amigo conterrâneo Cuarón fez em Gravidade (2013). Complexo e desafiador, segundo ele diversos diretores disseram para ele não fazer o filme como se fosse uma tomada só. Ao invés de desistir da idéia, o cabeça dura foi, fez mesmo assim, e entregou um dos filmes mais interessantes do ano.

MELHOR ATOR
Hollywood já está de olho em Benedict Cumberbatch há muito tempo, mas o prêmio irá para Michael Keaton. É merecido, e a indústria adora fazer Cinderela Story com atores que ora fizeram sucesso, ora amargaram o fracasso como Robert Downey Jr. e Mickey Rourke. Está bem evidente que esse será o ano de Keaton, e o trabalho que ele desenvolve em Birdman é de fato muito complexo e que ele desempenha muito bem.

MELHOR ATOR COADJUVANTE
J.K. Simmons quando ganhou o Globo de Ouro na mesma categoria foi aplaudido em pé. É o que fazem quando atores que já passaram dos 60 recebem seu primeiro grande reconhecimento depois de décadas de uma carreira bem traçada, porém nunca reconhecida dessa forma.

MELHOR ATRIZ
Esse ano tudo indica que Julianne Moore finalmente levará o prêmio pra casa depois de outras 3 indicações. Não sou muito fã de Jennifer Aniston e nunca achei seus desempenhos memoráveis, nem mesmo quando estrelava Friends, talvez por falta de uma boa oportunidade, o que ela finalmente teve com Cake. Ela recebeu indicação ao Globo de Ouro, mas perdeu. Poderia ter recebido novamente aqui, mas ficou de fora porque felizmente colocaram Marion Cotillard no lugar, atriz que foi esquecida no Globo de Ouro. Uma surpresa agradabilíssima e merecida porque seu desempenho em Dois Dias, Uma Noite é simplesmente formidável e de longe a melhor das indicadas. O trabalho de Julianne, por melhor que seja, não deixa de ter aquele ar previsível, o de Marion é completamente o oposto. O "favoritismo" de Rosamund Pike é mais pelo sucesso comercial de Garota Exemplar. O trabalho dela é bem feito, mas a Academia não vai premiá-la agora.

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Embora Patricia tenha levado o Globo de Ouro na categoria Comédia, não acredito que ela leve o Oscar. A surpresa mesmo foi ter Laura Dern entre as indicadas, merecido também. Keira Knightley eu não consigo entender como ainda pode concorrer, atriz fraca, que não agrega nada. Meryl Streep... Tá, todo mundo já sabe que ela é boa, genial, etc... mas já está ficando chato indicá-la todo ano. Minha preferência é Emma Stone. Ela é jovem, talentosa e seu trabalho em Birdman é tão complexo quanto o de Michael Keaton, cheia de nuances entre o humor negro e o drama.

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
Acredito que disputa ficará entre Birdman e O Grande Hotel Budapeste. Sou muito fã dos dois e por mim Wes Anderson poderia ter levado todos os prêmios caso Birdman não fosse tão bom.

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Paul Thomas Anderson concorre por Vicio Inerente por concorrer, talvez porque ninguém tenha tido coragem de dizer que é uma droga e fez cara de paisagem dizendo que o filme é excelente sem ter entendido nada. O Jogo da Imitação, A Teoria de Tudo e Whiplash são os favoritos. Acredito que O Jogo leve, mas particularmente torço para Whiplash.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

A VIRTUDE DA IGNORÂNCIA...

★★★★★★★★★☆
Título: Birdman - A Inexperada Virtude da Ignorância
Ano: 2014
Gênero: Drama, Comédia
Classificação: 16 anos
Direção: Alejandro Gonzáles Iñárritu
Elenco: Michael Keaton, Emma Stone, Edward Norton, Naomi Watts, Zack Galifianakis
País: Estados Unidos
Duração: 119 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Um ator decadente que ficou famoso por interpretar um icônico super herói no passado, e agora deve lutar contra seu próprio ego e problemas familiares conforme produz sua nova peça teatral na Broadway.

O QUE TENHO A DIZER...
Que Alfonso Cuaron e Alejandro Iñarritu são amigos de longa data, isso todo mundo já sabe. Se não sabia aqui vai uma ótima oportunidade pra saber. Junto a dupla podemos colocar Guilermo Del Toro no grupo e a entourage mexicana está pronta.

Em 2013 Cuaron supreendeu com Gravidade (Gravity), dando ao filme elementos experimentais e ao mesmo tempo comerciais que atingiram a perfeição técnica e elogios pelo mundo todo. Cuaron elevou o nível de experiência das ficções científicas de tal forma que ele pode ser considerado um grande clássico moderno do gênero e da história do cinema, tal qual foi 2001 (1968). Suas cenas coreografadas como um balé espacial em planos sequências de até 15 minutos foram grandes passos à frente daquilo que até então conheciamos como uma odisséia espacial. E precisou ser um diretor mexicano para fazer isso na meca do cinema chamada Hollywood.

Ok. Agora é a vez de Iñarritu, que pegou a proposta inicial de Cuaron e elevou à 10ª potência, dirigindo, escrevendo e produzindo aquilo que vemos em uma tomada só. Bom, ao menos é a impressão que ele passa, já que foi incrivelmente bem editado e um desafio herculeo aos atores que em algumas ocasiões tiveram que não apenas decorar mais de 15 páginas de texto como marcações precisas dos cenários. Segundo Iñarritu, seria como Phillippe Petit andando em uma corda bamba entre as Torres Gêmeas, se algo desse errado, tudo estaria perdido.

De fato, a experiência angustiante e aflitiva que o filme passa são méritos desse estilo de filmagem que Iñarritu de certa forma desenvolveu ao longo de sua carreira e que hoje em dia caem muito bem na tendência que o cinema demonstrou bastante em 2014 em dar atenção a produções que focam o lado mais intimista e realista dos personagens com câmeras na mão, ausência de maquiagem e locações reais ao invés de estúdios. Enfim, tudo aquilo que o cinema independente e europeu já traçou há quase 20 anos atrás, mas apenas agora o público mais popular está aceitando.

O roteiro, também de Iñarritu, é digno de prêmios. De fato a complexidade que se vê na tela só seria possível se muito bem detalhada a cada ponto final e a cada nova linha. Não há espaço para erros, muito embora o ambiente claustrofóbico dos corredores do teatro St. James, e tantas idas e vindas dos personagens por esses caminhos tortuosos e apertados acabam por algumas vezes excedendo a paciência de quem assiste, mas isso também faz parte da angústia do personagem que desenvolveu uma paranóia depois de tantos fracassos. As incertezas de sua nova peça teatral, na qual ele mesmo dirige e também atua, estão levando-o a loucura, fazendo-o confundir realidade e fantasia, tendo disturbios delirantes um tanto esquizofrênicos com Birdman, o herói que o deixou famoso nos anos 90 em uma trilogia de ação. O personagem agora se transformou no seu alter-ego, já que Riggan Thomson passa a agir e tomar decisões de acordo com o que Birdman faria.

Peraí. O personagem é um ator que foi famoso nos anos 90 por interpretar um super herói e agora tenta ressurgir depois do fracasso... isso me lembra Michael Keaton depois de Batman. Sim. Uma ironia (com certa paródia) talvez à própria vida do ator, e que lhe caiu como uma luva.

A moral principal do filme, e também um dos diversos significados do subtítulo poético, é exatamente como a futilidade e superficialidade reinam sobre todos nós e a nossa incansável busca pela aprovação alheia e o sucesso de alguma forma, nem que seja demonstrado por apenas um indivíduo. Todos os personagens são insatisfeitos e todos os personagens buscam aprovações, levando-os a atitudes vazias e impensadas.

É um filme visceral, uma comédia dramática negra que nos leva cruelmente para o caminho mais fácil da ignorância e que, por vezes, pode soar uma virtude, pois estar consciente e na tentativa de controlar tudo o tempo todo muitas vezes pode ser a sua própria auto-destruição. Não que ser ignorante seja nossa natureza, mas é isso que nos fazem ser o tempo todo não nos dando o direito dela ser apenas uma opção, nos dando produtos vazios e descartáveis para consumirmos a todo instante. Não é à toa que em um determinado momento vemos várias pessoas vestidas de super heróis brigando umas com as outras, ou quando Birdman diz que as pessoas gostam de explosões e sangue. Ou, principalmente, na já clássica cena de Michael Keaton correndo pelas ruas apenas de cueca, o momento que ele é mais notado de todo o filme, justamente por parecer um otário para aqueles que não sabem o motivo (apenas nós, espectadores, sabemos).

O filme não podia vir em melhor hora, colocando Michael Keaton novamente em um lugar que ele havia esquecido onde era. Vem muito a calhar depois de sua consagração no Globo de Ouro e depois da observação pontual de Gerge Clooney de que o sucesso só dura enquanto se está no tapete vermelho. Muito certeiro também depois do retorno do seriado The Comeback e da personagem Valerie Cherish na sua desesperada maratona ao sucesso.

Do sucesso ao fracasso e do fracasso ao sucesso em apenas um instante. É nessas horas que a virtude da ignorância é inexperada, e muito que bem desejada. Somos livres para fazermos o que gostamos e aquilo que desejamos fazer, independe das aprovações, porque elas são só aprovações, não significam nada no fim do dia.

CONCLUSÃO...
E mais um mexicano consegue fazer uma nova revolução técnica de filmagem. Sim, roteiro complexo e difícil para filmagens muito mais complexas e difíceis que resultaram em uma das experiências cinematográficas mais realistas de 2014 nessa onda que tem tomado força no cinema Hollywoodiano. O filme foi muito bem recebido pela crítica e já ganhou vários prêmios, entre eles o Globo de Ouro de Melhor Ator e Roteiro. Um grande concorrente ao Oscar, e um prêmio de direção a Iñarritu não cairia nada mal.

O TRABALHO NEM SEMPRE DIGNIFICA...

★★★★★★★
Título: Clockwatchers
Ano: 1997
Gênero: Comédia, Drama
Classificação: 14 anos
Direção: Jill Sprecher
Elenco: Toni Collette, Lisa Kudrow, Parker Posey, Alanna Ubach
País: Reino Unido, Estados Unidos
Duração: 96 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Uma garota consegue um emprego temporário em um escritório, mas não consegue se adaptar tão fácil por ser bastante introspectiva e tímida. Porém, é com a ajuda de uma colega que ela aprenderá como tirar bom proveitos por não ser notada, e ao mesmo tempo viver os piores dias de sua vida quando uma série de furtos começam a acontecer dentro do escritório.

O QUE TENHO A DIZER...
Foi o primeiro filme a ser dirigido e escrito por Jill Sprecher, que posteriormente foi se dar bem como produtora do seriado Amor Imenso (Big Love, 2006-2011). O filme é pouquíssimo conhecido por ser em um gênero meio comédia e meio drama, com um tema e desenvolvimento bem contra a maré do que era produzido na época, onde o público estava apenas interessado em besteirols, filmes de ação sem pé nem cabeça, slasher movies e Titanic (1997). O elenco forte conta com Toni Collette como a protagonista Iris. Embora a atriz já havia sido reconhecida mundialmente por O Casamento de Muriel (Muriel's Wedding, 1994), ainda construia sua fama nos Estados Unidos. Tem também Lisa Kudrow, que já estava famosa na televisão por Friends, mas existia na época um grande preoconceito entre atores de TV trabalharem no cinema e vice-versa, algo que não existe mais hoje por conta da qualidade das produções televisivas. A mais conhecida delas é mesmo Parker Posey, que hoje em dia pode não ser muito lembrada, mas era uma atriz cult dos anos 90 e rapidamente se tornou muito influente.

Ao contrário do que o cartaz pode parecer, o filme está muito longe de ser um chick flick, como são chamados os filmes de temática unicamente feminina. Longe disso, o filme mostra de forma bruta e cruel o sistema de trabalho, além do tratamento desumano das grandes corporações com seus empregados. Não é à toa que o filme é mal lembrado, ou lembrado de forma alguma, pois o tema é inesperado em uma época que mulheres ou eram mártirs ou eram protagonistas de comédias românticas.

Não há muito a ser analisado profundamente porque Sprecher deixa tudo muito claro e evidente, mas de forma alguma cliché ou previsível. A roteirista apenas explica através das personagens, em momentos bastante oportunos e bem encaixados na história, o porque tudo aconteceu e a razão pessoal de cada um deles ter agido como agiu. Sprecher também traz muita evidência ao mostrar de forma bastante fiel o dia a dia de pessoas que se sujeitam a subempregos e como o tratamento distante, reciclável e desinteressado que recebem de seus superiores não apenas é responsável pela deterioração pessoal e de relações construídas, como ainda também é, espantosamente, bastante atual.

Desde o tratamento que as protagonistas recebem de seus chefes e o assédio moral que sofrem deles por serem os alvos mais fáceis na hora de se culpar sem apontarem os dedos, até no momento final, onde Iris resolve transformar tudo isso em um grande benefício, são situações que apenas para quem já trabalhou, em qualquer lugar que seja, consegue perceber as semelhanças universais que o filme apresenta.

É uma comédia, mas não dá pra deixar de sentir a angústia presente nele. O elenco realmente é o grande forte, mesmo que por algumas vezes Toni aparente repetir a fórmula de Muriel, mas tudo funciona mesmo assim.

CONCLUSÃO...
Não é algo que encantaria muita gente, mas para quem gosta de uma história relevante que representa uma situação ainda bastante atual construída sem pressa, Clockwatchers é um excelente pequeno filme. Embora possa ser uma comédia, há uma tristeza presente dentro dele por mostrar que o trabalho nem sempre dignifica uma pessoa.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

OS PREMIADOS DO GLOBO DE OURO 2015...

O Globo de Ouro neste domingo foi bastante imprevisível. Haviam favoritos, sim, mas em uma rara vez eram todos de tão excelente qualidade que, em muitas categorias, escolher apenas um era uma escolha de Sofia. Diferente dos anos anteriores (e que eu me lembro) não houve uma puxação de saco, até porque os atores e filmes que concorreram eram muito equivalentes. Não dava pra dizer, por exemplo, que consagraram Jennifer Lawrence porque ela é a nova face dos EUA, como foi em 2013; nem que 12 anos de Escravidão foi escolhido Melhor Filme porque seria uma decisão feia caso não tivesse. Não houve situações desse tipo. Foi tudo muito bem equilibrado.

Pelo terceiro ano consecutivo as apresentadoras foram Tina Fey e Amy Poehler. Disseram que este será o último ano que apresentam. Elas disseram o mesmo na primeira vez. Mas tomara que dessa vez seja verdade, as piadas esse ano foram ácidas, desnecessárias e constrangedoras, naquela mania sempre recorrente que já comentei no Blog de como Hollywood aceita virar piada de mal gosto dela mesma. Hollywood é uma piada, sempre foi, mas em meio a tudo isso há atores que acreditam no seu trabalho e o levam a sério. Eu ficaria muito revoltado se participasse de uma celebração onde minha área de atuação acabasse sendo alvo de piada o tempo todo. Qual o propósito de ser um evento, então? Houve até momento para associarem Bela Adormecida com Bill Cosby, em referência às acusações de abuso sexual do ator. Entre espantos e algumas risadas amarelas, ficou tudo bem, quando não estava tudo bem. Não cabe a elas esse tipo de postura ou crítica, a lei já está fazendo o que deve ser feito. Ser ator e querer prestar serviços social em meio a piadas também tem limites. Também não cabia a elas criticarem a atitude da Coréia do Norte quando, dentre os males causados, também revelaram fatos importantes não apenas sobre a Sony, mas da atitute das grandes corporações em geral, muito mais sérios e que atingiam todos lá presentes de forma muito mais contundente. O discurso de George Clooney foi pontual sobre isso porque ele foi uma das vítimas dos e-mails vazados. Clooney criticou quem deveria ter sido criticado sem precisar citar nomes, mas envergonhando mais ainda aqueles que precisavam ser envergonhados sem precisar abaixar o nível, como fizeram Fey e Poehler.

O apoio à liberdade de expressão, principalmente sobre o atentado na França, foi aceitável e o assunto mais recorrente da noite, e o discurso do Presidente da Impresna Estrangeira de Hollywood, Theo Kingman, foi bom, com excessão na hora em que disse que a liberdade de expressão não deve existir apenas nos Estados Unidos, mas também espelhar no restante do mundo. Foi uma frase americanista e centralizadora demais para um presidente da imprensa estrangeira em um momento tão delicado. Dispensável também foi Jared Leto também dizer "I Am Charlie", em referência ao movimento viral sobre o atentado. Foi desnecessário também quando Clooney finalizou seu discurso com o mesmo apoio, embora seu contexto tenha sido outro. Entre pessoas que aplaudiram e outras que não, ficou claro que é bastante controverso apoiar esta causa. Uma coisa é desaprovar os atentados, que naturalmente são inaceitáveis, mas outra coisa é indiretamente endossar que o que a revista criticava e da forma como ela fazia era correto. Eu desaprovo qualquer ato terrorista, mas não sou Charlie.

Nas categorias de Séries, Mini-Séries e Filmes para a televisão, não posso deixar de expressar minha indignação pela imprensa estrangeira ter ignorado por completo o retorno do seriado The Comeback, que não recebeu nem ao menos uma indicação sequer. Ele teve uma audiência baixíssima nos seus 8 episódios, mas a interpretação de Lisa Kudrow, bem como o roteiro escrito em parceria com Michael Patrick King (que também faz uma excelente direção), foram fantásticas e as melhores da temporada dentre todos os seriados. The Comeback pode não ter muitos fãs, mas sua qualidade é inegável. Para ver a lista completa, CLIQUE AQUI:

MELHOR FILME
-Drama: Boyhood
-Musical/Comédia: O Grande Hotel Budapeste (The Grand Budapest Hotel)

Nota: Merecidíssimos. Richard Linklater, da tão cultuada trilogia Antes (do Amanhecer, do Por do Sol e da Meia Noite), poderia ter ganhado há muito tempo antes. Boyhood é merecido não pela complexidade de sua realização como também por ter sido tão bem feito. Claro que defeitos existem, ainda mais sobre uma produção filmada por 13 semanas divididAs em 13 anos, mas no geral o resultado é aquilo que apenas um diretor ousado poderia ter feito, e Linklater é um desses. O mesmo a ser dito sobre Wes Anderson, que ganhou pelo Grande Hotel em um momento que ele, assim como muita gente, tinha certeza que perdereria mais uma vez, mesmo sabendo que ele mais que merecia. Venhamos e convenhamos, por mais brilhante e original que ele seja, ele sempre foi esnobado por Hollywood por ser considerado "esquisito". Quando Tina Fey e Amy Poehler disseram que ele havia chegado ao evento "de bicicleta cheia de peças de equipamentos", ficou bem evidente o preconceito e evidente também que ele não gostou. O reconhecimento veio tarde, o diretor já poderia ter ganho lá em 2013 por Moonrise Kingdom (2012).

MELHOR ATOR

-Drama: Eddie Redmayne
-Comédia/Musical: Michael Keaton

Nota: Desconheço os trabalhos de Eddie Redmayne até o momento, mas dizem que sua atuação, embora boa, não seja tão exemplar como a de Benedict Cumberbatch em O Jogo da Imitação, que é um ator que deveria ter levado o prêmio simplesmente porque ele é muito bom, algo bem ao nível de Daniel Day Lewis. Michael Keaton ter ganho era uma volta por cima necessária em um filme que pode ser levado com certa ironia a própria carreira do ator. Keaton amargou fracassos após fracassos, virou ator de filmes de B a Z, foi esquecido, injustiçado e espezinhado por Hollywood desde quando abandonou a capa do Batman, e assim como houve os retornos triunfais de Mikey Rourke e Robert Downey Jr., agora é a vez de Hollywood entregar a faixa de Cinderela Story para Michael Keaton. Merecido também, mas não podemos esquecer que se Hollywood quiser desprezá-lo de novo, isso será fácil.

MELHOR ATRIZ
-Drama: Juliane Moore
-Musical/Comédia: Amy Adams

Nota: Embora Juliane Moore tenha escorregado em alguns quiabos nos últimos anos em alguns filmes bem meia boca, ela é uma das poucas de sua geração que podem ser equivalentes a Meryl Streep. Além de Para Sempre Alice, ela esteve em Mapa Para as Estrelas, de David Chronemberg, no qual também concorreu como melhor atriz coadjuvante. Não é um filme muito memorável, mas sua atuação foi magnífica. E Amy Adams vence pelo segundo ano consecutivo, é como se agora ela estivesse tirando o atraso das vezes que concorreu anteriormente e perdeu.

MELHOR ATOR COADJUVANTE
J.K. Simons

Nota: Era o predileto, não apenas pelo trabalho como também pelo conjunto de obra. Os perdedores tinham obrigação de aceitar.

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Patricia Arquete

Nota: Assim como o prêmio de Melhor Ator Drama, não acho que foi muito justo. Patricia tem uma atuação que sempre me aparenta desleixo, como se ela estivesse ali por estar. Em Boyhood não foi diferente. Ela começa muito bem, mas no decorrer do filme é evidente que ela parece estar de saco cheio. Não foi um papel diferente de nenhum q ela interpretou anteriormente, principalmente na televisão. Mas enfim... é outra que um dia foi famosa e no outro foi esquecida. Mas não acredito que la chegue ao Oscar.

MELHOR DIRETOR
Richard Linklater

Nota: Já disse acima que foi mais que merecido. Sem mais.

MELHOR ROTEIRO
Birdman

Nota: O filme de Michael Keaton (é assim que muita gente chamará) merecia. Ainda inédito no Brasil, tem recebido elogios impares sobre o roteiro, dizendo ser moderno, difícil... enfim. Não duvido... Inãrrítu, o diretor, sempre foi meio difícil.
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