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sábado, 20 de abril de 2019

HÁ POTENCIAL...

★★★★★★★☆☆☆
Título: Hanna
Ano: 2019
Gênero: Ação, Supense, Drama, Policial
Classificação: 16 anos
Direção: Vários
Elenco: Esme Creed-Miles, Mireille Enos, Joel Kinnaman, Rhianne Barreto
País: Estados Unidos
Duração: 60 min.

SOBRE O QUE É O SERIADO?
A jornada de uma garota altamente treinada que, ao mesmo tempo que terá de encontrar meios para sobreviver uma perseguição de uma organização que pretende capturá-la, também terá de lidar com descobertas que os 14 anos isolada da sociedade lhe privaram de compreender além da teoria.

O QUE TENHO A DIZER...
Hanna, como bem se sabe, é uma série baseada no aclamado filme homônimo de 2011, dirigido por Joe Wright. No filme, a protagonista era interpretada por Saoirse Ronan. Eric Bana fazia o papel de seu pai, e a grande vilã da história, Marissa Wiegler, tomou forma através da indiscutível Cate Blanchett.

Wright fez do filme um thriller controverso por transformar uma adolescente em uma assassina rigorosamente treinada por seu pai desde os dois anos de idade para poder sobreviver em qualquer situação de iminente perigo. Não que ela tenha sido treinada para ser uma assassina de fato, mas matar faria parte da sua cartilha de sobrevivência, já que os humanos serão seus maiores inimigos, como é deixado claro nos diálogos.

Não há muitas difenças na linearidade da história entre o filme e a série. Claro que, no filme, por uma questão de formato e duração, muitos detalhes são deixados de lado e que a série até tenta desenvolver de maneira um pouco mais efetiva ao longo dos oito episódios.

A grande diferença entre o material original de sua adaptação é que o tom do filme era muito mais denso e violento, além do ritmo ser mais acelerado e as cenas de ação muito mais impactantes, havendo uma característica muito peculiar e bastante interessante: Wright trabalhou muito com o contraste de situações sérias e lúdicas para causar impactos mistos e desenvolver uma história que se situa num complexo meio termo, transpondo ao espectador os mesmos sentimentos conflitantes da protagonista de maneira visual e sinestésica, deixando-nos confusos sobre alguém tão jovem ter que agir de maneira tão cruel para sobreviver no meio da crueldade dos outros.

Por exemplo, quando a situação exigia mais maturidade da personagem e um comportamento mais adulto e tático, o cenário muitas vezes era mais lúdico e neutro, causando maior impacto na violência junto com a trilha sonora mais estridente e complexa. Quando a situação exigia um comportamento mais delicado e condizente com a idade da personagem, o cenário era mais sério e ameaçador, intensificando uma fragilidade na personagem que ela constantemente oprimia. Essa contradição entre a ação e o visual, em outras palavras, mostrava os dois lados de sua mesma moeda: o lado adulto que ela teve de desenvolver tão precocemente, e o lado infantil que ela teve de abandonar tão cedo.

No seriado essas nuances não são tão visualmente importantes porque há espaço para desenvolver melhor todos esses conflitos que Hanna se depara ao longo de sua jornada pessoal de sobrevivência, bem como a relação com seu pai é melhor explorada nos momentos de codependencia e nos momentos de negação que surgem conforme as subtramas se revelam.

O seriado oferece aquilo que um thriller de ação deve oferecer e que muitas pessoas pretendem encontrar. Há uma trama principal consistente, drama e certos momentos de alívio cômico, tudo como manda a cartilha. Os personagens são muito bem explorados pelos atores, e não fogem muito da proposta do material original. Claro que preferimos Eric Bana, mas Joel Kinnaman (o mesmo do hit Altered Carbon) tem seus momentos de consistência. Mireille Enos talvez seja o grande destaque, roubando a atenção em todas as cenas que aparece. A sua versão de Marissa não apenas se equivale ao de Blanchett como também explora outras nuances que permitem a ela momentos de redenção sem soarem forçados ou clichés, e momentos bastante sutis de intensa crueldade de uma pessoa condicionada no trabalho desumano que exerce.

A novata Esme Creed-Miles pode não ter a mesma experiência e bagagem de Ronan, atriz que começou sua carreira no cinema aos 13 anos de idade e que com 23 já concorreu a 3 Oscars, enquanto Esme está sendo protagonista pela primeira vez aos 18 anos. Mas ela consegue expressar os sentimentos mistos de maneira efetiva e momentos de sobriedade, doçura, fragilidade e descobertas que o filme não tinha espaço e nem tempo para explorar tão a fundo. Claro que em algumas situações e outras é explícita a inexperiência da atriz, como nos três momentos de quebra cênica que ocorre em três episódios distintos onde ela acidentalmente olha diretamente para a câmera. Não é nada que atrapalhe muita coisa, mas evidencia uma certa falta de cuidado da direção e a inexperiência cênica já citada.

São detalhes que poucas pessoas poderão dar atenção, mas estão lá, e que no fim comprometem o resultado de tudo como um todo, como o excesso de uso de dublês nas cenas de ação com a protagonista, que definitivamente quebram qualquer realismo que a história tente construir, ao contrário do filme, em que Ronan realizou grande parte das cenas de ação e que estão longe do resultado plástico e artificial do seriado.

O roteiro também sofre no decorrer dos episódios, apressando eventos que poderiam ter ocorrido de maneira mais lenta e natural, como a relação de amizade entre Hanna e Sophie (Rhianne Barreto). A relação de amizade incondicional que elas criam da noite para o dia é grosseira, e não sutil como é quando Hanna tem contato com o primeiro garoto assim que sai dos limites do território em que foi criada.

Muitas vezes os diálogos também são sofríveis, numa preocupação óbvia dos roteiristas em criarem mais frases de impacto para impressionar o espectador de forma fácil do que evitar resultados tão caricatos como os de folhetins televisivos.

Portanto, ao contrário do excesso de elogios que a série tem recebido, há defeitos relevantes que tiram da produção toda a consistência que demonstrou ter nos primeiros episódios. A produção também não se atenta a detalhes que em pleno século XXI não fazem o menor sentido, como um grupo tático altamente treinado, armado com metralhadoras, não acertarem uma bala sequer no carro durante um resgate, ou colocar uma personagem enfrentando todos eles com uma mera pistola.

Sim, o material entretém, mas nem por isso devemos fechar os olhos para problemas e defeitos que, caso se tornem recorrentes, podem comprometer e muito o futuro promissor que a série tem.
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