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sexta-feira, 16 de março de 2012

EU JÁ VI ESSE FILME ANTES...

★★★★
Título: O Despertar (The Awakening)
Ano: 2011
Gênero: Terror, Suspense, Drama
Classificação: 12 anos
Direção: Nick Murphy
Elenco: Rebecca Hall, Dominic West, Imelda Staunton
País: Reino Unido
Duração: 107 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre uma parapsicóloga que desmistifica atividades paranormais e desmascara charlatões, e é convidada a investigar os acontecimentos dentro de uma velha e tradicional escola fundamental.

O QUE TENHO A DIZER...
É engraçado como os filmes mais mal desenvolvidos são feitos por diretores estreiantes como esse, o que passa a impressão de que eles estudam cinema, mas não assistem filmes de maneira crítica, pois utilizam sempre das mesmas fórmulas e caem sempre nas mesmas mesmices e erros. O diretor Nick Murphy, que também assina o roteiro, já havia feito alguns pequenos documentários antes, mas não foi o suficiente, até porque a linguagem é completamente diferente. O filme passou despercebido em vários países, em alguns ele foi lançado diretamente em home video e aqui no Brasil isso só não aconteceu porque falou que tem fantasminha, brasileiro vai correndo.

Há algumas coisas bem interessantes neste filme. Ele é muito bem atuado pelo trio de atores principais e tem uma direção de arte fantástica, com uma cenografia simples, mas que brinca com a atmosfera fria, distante e por vezes sombria, reproduzindo fielmente o tempo numa fotografia bastante objetiva. Não apenas isso, mas a profissão da personagem principal, de desmistificar atividades paranormais e desmascarar charlatões foi muito interessante no meio de tantos filmes lançados nos últimos anos e que ficou cansativo frente a constante repetitividade o que da um ar de novidade (até certo ponto). O mesmo pode ser dito sobre a direção (até certo ponto), que não apenas consegue tirar o melhor de seus atores como também conduzir a história de forma efetiva, segurando a atenção e introduzindo-o na história (até certo ponto).

Mas quando a trama culmina na resolução, me senti desapontado. Enganado, na realidade. Tudo começa com uma cena de sexo desnecessária que foi jogada no meio do filme sem uma razão. Naturalmente já acho cenas de sexo desnecessárias em 98,5% dos filmes, neste caso não apenas não encaixa no desenvolvimento como também não acrescenta nada. Tudo bem que, se formos analisar os personagens, todos eles são completamente estranhos e solitários, numa época em que sexo casual era totalmente contra os princípios sociais e religiosos, e o comportamento da personagem de Rebecca Hall é evidentemente justificável pela solidão e pela falta de uma vida afetiva. De qualquer forma, a cena foi jogada livremente na história. Essa condição solitária dos personagens e a necessidade de afeto poderia ter tido uma abordagem diferente e o significado teria sido o mesmo, porém mais delicado. Portanto, essa cena foi o divisor de águas do filme, porque a partir daí vira um festival de bagunça.

Desde O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999) este tema sobre fantasmas e crianças já está saturado, e partindo-se do princípio que não há mais muitas novidades ou resoluções interessantes (já que quase todas que conhecemos foram exploradas exaustivamente), os roteiristas estão chegando à conclusão que a saída para isso é misturar as conclusões de todos os filmes em um só, dando a impressão de ser algo novo, quando na verdade não é. O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999), Ecos do Além (Stir Of Echoes, 1999), Os Outros (The Others, 2001), O Orfanato (The Orphanage, 2007), só pra citar os mais populares. Há um pouco de cada um deles neste filme, mas ao invés de oferecerem algo maravilhosamente surpreendente, apenas tira uma cansada sensação de "outra vez isso?" de quem está assistindo.

O filme se perde nos gêneros num ponto que nem os atores parecem saber mais o que estão fazendo ou para onde devem ir ou o que fazer. A explicação que dão sobre a personagem principal é simplesmente intragável porque só uma pessoa no mais profundo coma para não lembrar de onde veio, para onde foi e o que fez. O mesmo digo sobre o fim descabido, cheio de interrogações pra levantar questionamentos da audiência, fazer ninguém chegar a conclusão alguma e dar a falsa impressão de que é muito inteligente. Já vi esse fim antes também.

CONCLUSÃO...
É decepcionante para um filme que começa muito bem, os roteiristas pegaram o caminho mais difícil para oferecer mais do mesmo. Tem gente que vai gostar, mas uma pessoa mais analítica não engole esse filme de forma alguma.

quarta-feira, 7 de março de 2012

BRUNA E RICCELLI ACERTAM OUTRA VEZ...

★★★★★★★

Título: Onde Está a Felicidade?
Ano: 2011
Gênero: Comédia
Classificação: 12 anos
Direção: Carlos Aberto Riccelli
Elenco: Bruna Lombardi, Bruno Garcia, Marcello Airoldi, Marta Larralde, Maria Pujarte
País: Brasil, Espanha
Duração: 110 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre uma chef de cozinha e também apresentadora de um programa de culinária afrodisíaca que descobre que a emissora onde trabalha será vendida e que seu marido cultiva uma amante virtual. Em uma depressão emocional e crise existencial, resolve juntar suas malas e fazer o caminho de Santiago de Compostela em uma peregrinação para sua redescoberta pessoal e da felicidade.

O QUE TENHO A DIZER...
É o terceiro filme dirigido e produzido por Riccelli, com roteiro e também produção de Bruna Lombardi. Também é o segundo filme dos dois no qual Bruna atua. Assim como O Signo da Cidade (2007), este é grande surpresa. Enquanto o filme anterior era um drama bem feito e com cenas belíssimas sobre um ponto de vista bastante melancólico da cidade de São Paulo e o questionamento difícil entre escolhas e destino, neste filme a comédia gira em torno da felicidade e onde poderemos encontrá-la através de hilários pontos de vista de alguns tipos excêntricos.

Riccelli e Lombardi estão ficando melhores a cada novo trabalho e isso é inquestionável. O trabalho anterior foi interessante e com um bom desenvolvimento de roteiro, mas alguns elementos quebravam a experiência, talvez pelo excesso de exigências da distribuidora (Globo Filmes) e a falta de uma direção mais firme que fizesse os atores oferecerem atuações mais inspiradas. Mas parece que Riccelli aprendeu com a experiência e melhorou sua maneira de conduzir as coisas. Mesmo a Globo Filmes continuar sendo a distribuidora do filme, a confiança tanto de Riccelli quanto Lombardi é muito mais evidente, lidando melhor com problemas e falhas que fizeram de O Signo da Cidade um filme belo, mas frustrante em algumas cenas.

Bruna é bastante influenciada neste filme por Almodóvar e comédia de absurdos, que se misturam com seu próprio estilo em um filme que não se passa em um período ou uma época definida para contar a história de Teodora, a personagem prinicipal. Mesmo parecendo ser mais uma comédia comum, há vários momentos genuinamente engraçados, aém de uma produção de primeira. O equilíbrio existente entre o figurino colorido, diálogos inteligentes e motivados junto com uma peregrinação por um lugar tão mágico quanto Santiago de Compostela fazem do filme algo extremamente prazeroso de se assistir.

Atuado por atores de vários lugares, cada um deles tem sua importância, e os atores convidados são apresentados e colocados em cenas devidas e que não atrapalham o desenvolvimento da história, o que é um alívio, já que geralmente não é assim que acontece quando tentam sempre enfiar participações de atores mais pela popularidade do que pela sua importância na história, uma característica quiçá pobre e ainda mantida pela Globo Filmes. Os demais atores do elenco principal são bem dirigidos e alguns outros que poderiam ser irritantes nunca são exatamente pelo fato de Riccelli ter dado mais atenção às atuações do que se preocupar apenas na perfeição técnica das cenas, diferente do que acontece no filme anterior. Os diálogos são muito interessantes e inteligentes, encaixados em situações absurdas mas com o cuidado de não cair no ridículo, sendo poucos os momentos entediantes. Nunca fui muito fã de Bruno Garcia (Nando) e seus vícios de interpretação, mas ele fez um bom trabalho com cenas que nunca excedem o necessário. Bruna Lombardi, embora nunca tenha sido uma grande atriz, assim como em O Signo da Cidade, mais uma vez oferece uma de suas melhores performances, muito melhor do que quando atuava em novelas.

Mas o ponto de maior destaque do filme é, sem dúvida, o roteiro. O filme não seria o que é se não fosse por ele. Bruna afirmou diversas vezes que foi morar em Los Angeles especificamente para estudar e aprimorar sua escrita e o processo de roteirização. Ela aprendeu bem. Sua forma de escrita é rica, descritiva e cheia de detalhes que enquanto eu assistia ao filme era como se eu estivesse lendo o que acontecia na tela.

Acredito que o único grande problema seria os seus quase 120 minutos, mas Bruna e Riccelli estão entrando no tom certo e se transformando em uma excelente influência no cinema nacional, o que me faz ter certeza de que o amor e a dedicação que eles tem pelo que fazem como artistas e produtores ainda nos presenteará no futuro com maravilhosas surpresas.

CONCLUSÃO...
É um pouco diferente dos padrões das comédias nacionais, extremamente bem produzido e com um humor leve e esperto, com diálogos bem escritos dentro de situações propositalmente exageradas que se equilibram, sendo até por vezes bastante motivador e que merece ser apreciado.

segunda-feira, 5 de março de 2012

HUGO E A SUA FANTÁSTICA FÁBRICA DE MEMÓRIA...

★★★★★★★★
Título: A Invenção de Hugo Cabret (Hugo)
Ano: 2011
Gênero: Fantasia, Aventura, Drama, Comédia
Classificação: Livre
Direção: Martin Scorcese
Elenco: Ben Kingsley, Asa Butterfield, Cloe Grace Moretz, Helen McCrory, Emily Mortimer, Sasha Baron Cohen.
País: Estados Unidos
Duração: 126 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre um órfão que mora numa estação de trem e passa os dia cuidando do relógio da estação e em busca de peças para tentar consertar um autômato deixado por seu pai e que ele acredita conter algum segredo.

O QUE TENHO A DIZER...
É uma bela história sobre o cinema que Martin Scorcese resolveu contar baseado na obra do escritor e ilustrador Brian Selznick, filho de David O. Selznick, grande produtor de Hollywood nos anos 20-50. É uma bela mistura de realidade e fantasia principalmente para aqueles que não estão familiarizados e acreditam que o cinema começou nos Estados Unidos, mas certamente serão poucos que irão assistir ao filme e assimilar este ponto de vista ou até mesmo perceber que estão assistindo a uma alegoria de uma história que não é fictícia. Um maravilhoso tributo ao cinema francês do começo ao fim.

O filme de alguma forma me lembrou bastante os de Jean Pierre Jeunet e Marc Caro, os aspectos visuais, a importância de segmentos da vida cotidiana, personagens incomuns e o uso da fantasia para contar uma história simples que se transforma bela e admirável. Isso acontece talvez pelo fato de Jeunet ser um dos mais importantes diretores franceses contemporâneos e que é claramente inspirado por George Meliés e seu fantástico e colorido mise en scene.

Scorcese oferece à audiência uma tocante e inspirada jornada que apenas um diretor experiente poderia oferecer, misturando o cinema clássico com o que há de mais moderno em tecnologia, resultando numa emocionante tragetória do antigo ao novo num perfeito equilíbrio. O grande problema do filme é ele ficar em um meio termo entre o público adulto e o infantil, além de infelizmente muitos não assimilarem a história e a que ela se refere. Um pouco longo também, como costumam ser os filmes do dirtor. Embora seja admirável essa homenagem e manutenção da memória que Scorcese quis, é uma pena que ela realmente pouco exista de fato. Mas agora está imortalizada e disponível para quem se interesse.

CONCLUSÃO...
Maravilhoso. O filme não é apenas nostálgico por nos levar às raízes do cinema, mas também aquilo que George Meliés exatamente esperava do cinema: uma oportunidade para sonhar novamente.
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