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segunda-feira, 24 de junho de 2013

FE-FI-FO-FLOP!

★★★★★★
Título: Jack, O Caçador de Gigantes (Jack, The Giant Slayer)
Ano: 2013
Gênero: Ação, Aventura, Fantasia
Classificação: 10 anos
Direção: Brian Synger
Elenco:
País: Estados Unidos
Duração: 114 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Jack é um jovem plebeu que cresceu ouvindo história de gigantes que devoravam humanos e foram expulsos para um território entre o céu e a terra. Um dia o destino lhe coloca nas mãos um punhado de feijões que podem mudar o curso de toda a humanidade caso germinem. E acreditem, um deles germina.

O QUE TENHO A DIZER...
Jack, O Caçador de Gigantes é dirigido pelo ganacioso e orgulhoso Bryan Singer. O filme é baseado no conto inglês por aqui conhecido como João e o Pé de Feijão e foi um dos maiores imediatos fracassos de bilheteria do ano, entrou para um dos maiores da história e é o grande primeiro fracasso da vida do diretor. O filme custou aproximadamente US$195 milhões, e arrecadou "apenas", e com muito sacrifício, um pouco mais de US$ 65 milhões só nos EUA. Ou seja, nem ao menos a metade. Isso para um diretor qualquer seria um suicídio na carreira, bem como já aconteceu com tantos outros, porém Singer tem a sorte de estar ligado a uma franquia que pode ressucitar sua carreira quando ele quiser, a dos X-Men. Isto é... se tudo correr bem.

Aliás, foi a partir dessa franquia que o diretor ficou famoso, mas chegou a esnobá-la ao abandonar a FOX e migrar para a concorrente Warner para dirigir o esquecível Superman, O Retorno (Superman Returns, 2006), no interesse grandioso de transformá-lo em uma grande nova referência dos filmes de super-heróis. Com um sucesso mediano e bastante aquém do que a Warner esperava, o diretor foi posto na geladeira por um tempo. Ao mesmo tempo, X-Men - O Confronto Final (X-Men: The Last Stand, 2006), a terceira parte da franquia que Singer desistiu de dirigir, também não foi lá grandes coisas e recebeu um jorro de críticas negativas principalmente pelos fãs.

Foi por conta disso que, em 2008, o diretor foi convidado para dirigir o reboot dos mutantes, X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, 2011). Singer diz para a mídia que negou o convite por conflitos de agenda, pois estava "mergulhado" na produção de João, um projeto pessoal que há muito ele queria fazer, porém a impressão que se tem vai além disso, e aparenta que a concorrente Warner não aceitou dispensá-lo para voltar a FOX sem antes lhe render mais um produto descartável para uma leva de filmes baseados em contos de fada (tanto que após a conclusão de João, Singer retomou as rédeas dos mutantes e dirigirá o próximo capítulo do reboot, Dias De Um Passado Esquecido).

Ok, João não desaponta, e dentre os filmes baseados em contos de fada, ele é de longe o mais considerável. O personagem principal é interpretado por Nicholas Hoult, o zumbi simpático de Meu Namorado É Um Zumbi (Warm Bodies, 2013), ele não precisa de muito para convencer, mas tem um bom desempenho mesmo assim. O filme já começa grandioso, do jeito que Singer aprendeu a gostar, espetaculoso, com uma narrativa de abertura semalhante a de O Senhor Dos Anéis, cheio de efeitos e trilha sonora orquestrada recheada de rompantes sonoros estridentes para motivar e chamar a atenção logo no começo até mesmo os pouco interessados.

A história parte do princípio de que a história dos gigantes é uma história. Entenderam? Essa história era lida por duas pessoas muito distintas: uma rainha, que contava a história para sua filha, e um plebeu, que contava a história para seu filho. Isso já deixa claro que, em algum momento do filme o destino os unirá, e isso acontece quando o feijão germina e leva para a terra de gigantes a casa de João com a princesa dentro, e João fica na terra dos pequenos, inconsciente depois de ter caído do pé enquanto ele crescia. O rei, apavorado, envia uma leva de pessoas para resgatar a princesa, e João se voluntaria porque está apaixonado (óbvio).

O enredo é infantil, mas não há como negar que Singer sabe conduzir uma história, por mais banal que seja, dando um dinamismo e uma versatilidade que deixa tudo muito interessante mesmo nas situações mais banais. Os efeitos especiais são deslumbrantes, e ficam mais interessantes por não terem a intenção de ser perfeito, já que os gigantes são desformes de forma caricata, e com uma postura assustadora apenas para deixar criancinhas de olhos esbugalhados, vidrados no filme. Enfim, a gente vê na tela de forma explícita onde os US$195 milhões foram usados.

Mas é aquela coisa... conto de fada é conto de fada e essas histórias já fazem parte de um consciente coletivo que já demonstrou que não estã interessado em visões particulares sobre ela. Uma coisa é você ouvir ou ler uma delas, outra coisa é você tentar engolir uma imaginação já pronta. É a mesma coisa que a vida toda você acreditar que Chapeuzinho Vermelho tem os cabelos castanhos escuros, e de repente aparece Amanda Seyfried mais loura que palha de milho. É difícil.

CONCLUSÃO...
Por melhores que tenham sido as intenções de Singer, o filme é grandioso e não chega a ser uma perda de tempo, mas é um fracasso considerável e que nos faz questionar se adaptações de contos de fadas são realmente necessárias em um mundo onde novos contos podem surgir.

domingo, 23 de junho de 2013

INCÔMODO, PORÉM CORAJOSO...

★★★★★★★
Título: Segredos de Sangue
Ano: 2013
Gênero: Suspense, Drama
Classificação: 16 anos
Direção: Chan-wook Park
Elenco: Mia Wasikowska, Nicole Kidman, Matthew Goode, Dermont Mulroney, Jacki Weaver
País: Estados Unidos, Reino Unido
Duração: 99 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
India Stoker fez 18 anos e perdeu o seu pai. Ela viveria apenas com sua mãe caso não chegasse Charles Stoker, irmão do seu pai e o qual ela nunca soube que existia, nascendo uma relação de distanciamento e afinidades que culminarão em segredos que definirão sua nova fase de vida.

O QUE TENHO A DIZER...
Segredos de Sangue é dirigido pelo sul coreano Chan-wook Park. É seu primeiro filme em inglês, cujo roteiro é curiosamente assinado pelo ator Wentworth Miller, conhecido pelo seu papel principal em Prision Break. O roteiro fez parte da Black List de 2010, uma lista feita todos os anos contendo os melhores roteiros que ainda não foram produzidos.

Basicamente conta a história de India Stoker (Mia Wasikowska), uma garota inteligente e de classe média alta, que vive em um mundo particular de observação, de constante desconfiança, avessa a determinadas regras sociais e que tem a forte tendência de contrariar ordens, principalmente quando partem de sua mãe. India gosta de observar e ouvir pequenas coisas, ler e explorar o mundo que a rodeia por um ponto de vista por vezes estranho e obscuro, como uma foto em negativo. Ela não tem amigos, nunca namorou e as únicas relações próximas eram com seu pai, Richard Stoker (Dermont Mulroney), e seu piano. Sua relação com sua mãe, Evelyn Stoker (Nicole Kidman), é conturbada, em um misto de distância, mágoa e um afeto que existe, mas nunca ultrapassa um determinado limite. A vida de India e Evelyn mudam completamente quando Charles Stoker (Mathew Goode) aparece no velório de seu irmão. India trata seu tio com estranheza como a um intruso por nunca ter tido conhecimento de sua existência, e Evelyn se encanta com as constantes gentilezas do cunhado, do bom gosto e da beleza jovial que ela há muito não conhecia.

Falar muito sobre o filme é como estragar determinadas surpresas, pois não há como negar que, mesmo entre uns tropeços e outros, Segredos de Sangue é um filme corajoso e, de certa forma, audacioso em Hollywood, pois é um daqueles raros filmes que é desconfortável e que em nenhum momento cria uma conexão de afinidade com o espectador, seja na história ou com qualquer um dos personagens. O filme cresce numa tensão e em uma sucessão de erros que se tornam coerentes dentro da natureza que vive cada um dos arquétipos retratados pelos personagens.

O suspense traçado muitas vezes é bastante similar com o hitchcockiano. Obviamente que não chega a ter o mesmo peso sutil e a classe do mestre, mas essa tentativa existe e é válida o tempo todo numa fotografia caprichada, limpa e que evita os excessos para evidenciar as personas e as situações construídas entre eles. O diretor também se atenta na câmera estática, enfatizando a calma e o sossego rotineiro do território bucólico que India vive e que no decorrer do filme se torna assustador por ser belo e esconder segredos muitas vezes mórbidos.

Uma das características hitchicockianas mais fortes no filme são as interpretações friamente calculadas e milimetricamente detalhadas. Todas as ações dos personagens, um gesto, um olhar, um caminhar, uma forma de parar frente a câmera... tudo parece ensaiado e calculado diversas vezes para causar sempre a melhor impressão e ter um sentido sublime para aquela situação específica. E funciona, pois não é mecânico, mas é frio e bonito. Algo raro de se ver.

O tema, para ser mais explícito e didático, sem ser um fator que estrague as surpresas do filme, é mais um daqueles que tenta transpor de forma mais humana determinadas psicopatologias como a sociopatia psicótica, mostrando que uma doença psiquiatrica estabelecida desde a infância culmina em atitudes imprudentes que podem ser compreendidas, embora difíceis de serem aceitas por uma sociedade comum. A especialista em criminologia Ilana Casoy, autora do livro Serial Killer - Louco ou Cruel?, deu uma entrevista há alguns anos explicando que é muito fácil para a população leiga condenar um assassino, mas o que essas mesmas pessoas desconhecem e não fazem questão de ter conhecimentosão das razões e dos fatores psicossociais que levaram essa pessoa a cometer um crime. Não que isso justifique o ato, mas coloca a pensar que, para os conflitos internos e existentes na psiquê dessa pessoa, isso é algo coerente. Uma doença de fato que deve ser tratada como tal, e não simplesmente posta para um julgamento qualquer. Mas para isso ser feito é necessário, a princípio, a compreensão de seu mundo particular.

O elenco caiu como uma luva. Mia Wasikowska sem dúvida está entrando para a mesma lista de grandes e jovens atrizes de sua geração, no mesmo patamar que a popular e querida Jennifer Lawrence, Juno Temple ou a um pouco mais nova Saoirse Ronan, naquela versatilidade de poder ser uma atriz menina a uma jovem adulta apenas numa mudança de postura ou em um olhar. Nicole Kidman realmente se sai melhor em filmes pequenos e ousados, conseguindo oferecer curtos momentos de uma interpretação que chega ao sublime por atingir o sofrimento emocional e demonstrá-lo com pouco. Sutil e contida, impressionando até mesmo eu, que nunca fui seu fã. Matthew Goode não só impressiona como seu semblante carregado no cinismo e na perversão é bastante assustador, um personagem que realmente marca, daqueles que mesmo assistindo outros filmes com o ator, com outros personagens, será difícil desassociar.

Há muitas resenhas e sinopses do filme que informam erroneamente que India sofre maus tratos da mãe, ou que sua mãe sofre de instabilidade emocional crônica. Isso tudo é mentira, ou ao menos o filme nunca deixa qualquer uma dessas duas alternativas explícitas. A instabilidade emocional de Evelyn existe tal qual a de India justamente pelo filme se passar logo após a morte de Richard, o que é bastante compreensivo.

Os grandes problemas do desenvolvimento surgem quando a história não esclarece determinadas situações, como a razão da relação entre India e sua mãe serem tão distantes. Seria isso uma referência batida ao Complexo de Édipo? Os breves conflitos entre a governanta ou da tia Gwendolyn Stoker (Jacki Weaver, sempre muito boa) com Charles também aparentam serem fúteis e desnecessários, além da indiferença e do consentimento de India com várias situações soar forçado, por mais que tudo aparente familiar e natural para ela.

CONCLUSÃO...
De qualquer forma, Segredos de Sangue é um filme para poucos, que explora bastante o psicológico de seus personagens principais que crescem gradualmente em uma sucessão de fatos distorcidos, surpreendendo o espectador por não fugir de sua idéia principal em nenhum momento, além de nunca ter a intenção de incrementar a história com elementos que possam atenuar o que incomoda para o bem de um público que sempre espera um final feliz ou satisfatório.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

CELESTE E JESSE PARA SEMPRE?

★★★★★★
Título: Celeste e Jesse Para Sempre (Celeste & Jesse Forever)
Ano: 2012
Gênero: Comédia, Romance, Drama
Classificação: 14 anos.
Direção: Lee Toland Krieger
Elenco: Rashida Jones, Andy Samberg, Will McCormack, Ari Graynor
País: Estados Unidos
Duração: 92 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Celeste e Jesse não estão mais casados, mas são amigos, se amam, mas não querem ficar juntos por terem objetivos diferentes na vida. Celeste quer uma pessoa estabilizada e madura o suficiente, e Jesse quer alguém para viver do amor e ter filhos. E aí?

O QUE TENHO A DIZER...
Celeste e Jesse Para Sempre é um filme pequeno e, digamos, um tanto independente. O roteiro é assinado por Rashida Jones e Will McCormack, ambos também atuam no filme: ela como a atriz principal e ele como um coadjuvante que tenta ser engraçado, aqueles que só aparecem nos filmes de comédia romântica pra tentar fazer uma piada que funcione frente a tantas que não funcionaram. Isso não resolve, como em toda formuleta de comédia romântica, mas também não chega a incomodar. E o filme é bem isso... não chega nunca a lugar algum, mas também não incomoda.

Ele tenta seguir uma narrativa parecida com a de De Repente É Amor (A Lot Like Love, 2005) ou Entre O Amor E A Paixão (Take This Waltz, 2011), mostrando as dificuldades, encontros e desencontros de uma vida juntos e de uma dúvida sobre se tudo o que o casal passou significa amor ou não.

O roteiro de Rashida e Will tenta colocar alguns estereótipos às avessas, e brincar com a condição de um casal jovem em um mundo moderno, onde quem é bem sucedido e workaholic é a mulher e a pessoa da casa, sensível e que deseja casar e ter filhos é o homem. A tentativa de fazer disso situações engraçadas é por vezes forçado e um tanto inadequado numa direção que não sabe pra que rumo levar tudo isso, mas, voltando a repetir, não incomoda, e acaba sendo o típico filme perfeito para ser assistido no fim da tarde ou no começo de uma madrugada, porque se você der uma cochilada no meio, não vai ter perdido muita coisa, e quando acordar vai ter a impressão de continuar exatamente onde parou.

Rashida Jones é uma atriz de filmes pequenos, que mais se destacou como atriz de comédias, isso é um pouco notável nas horas que o filme exige um pouco do seu drama. É pouco convincente e por vezes exagerado, mas ela é carismática mesmo dentro de seu estilo sarcástico de atuar. Andy Samberg é outro ator vindo da comédia e mais um daqueles que sairam da escola Saturday Night Live, mas o cara manda bem e consegue variar conforme a dança.

O filme fica o tempo todo na dúvida se Celeste e Jesse ficarão ou não juntos, e o final, embora não seja surpreendente, acaba sendo (digamos) diferente no contexto e um tanto gratificante por não ser de todo previsível.

Também não há como tentar deixar de lado comparações com o já clássico (500) Dias Com Ela (500 Days Of Summer, 2009), justamente por tratar da relação e do amor de forma um pouco mais realista e como ele realmente é na vida de verdade, sem jogar muito açúcar ou tentar provar para o espectador que tudo pode ser diferente quando sabemos que não é.

CONCLUSÃO...
Celeste e Jesse Para Sempre tenta ser um filme sensível, mas se perde em tantas tentativas de ser sério, engraçado, despretencioso, adulto e diferente, aparentando ser mais longo do que ele não é. O que embala a história é a vontade de saber o que é que vai acontecer e como tudo vai terminar. Não é nada muito genial, mas chega até a resultar numa moral honesta e verdadeira.

ZUMBIS TAMBÉM AMAM...

★★★★★★★
Título: Meu Namorado É Um Zumbi (Warm Bodies)
Ano: 2013
Gênero: Comédia
Classificação: 14 anos
Direção: Jonathan Levine
Elenco: Nicolas Hoult, Tereza Palmer, Analeigh Tipton, Rob Corddy
País: Estados Unidos
Duração: 98 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
R. é um zumbi diferente dos outros, que pensa, coleciona objetos alheios, ouve clássicos do rock e tenta descobrir qual é o seu lugar em um mundo de mortos e vivos, até o dia que ele come o cérebro de um humano e se apaixona pelas memórias do rapaz que remetem a uma jovem chamada Julie. A partir daí R. se apaixona pela humana e, na sua dificuldade zumbi de ser humano, tenta conquistá-la e mostrar que o seu coração morto pode voltar a bater.

O QUE TENHO A DIZER...
O filme é escrito e dirigido por Jonathan Levine, diretor que já tem alguns filmes no currículo, sendo o mais conhecido deles o comediodramático e forçado 50/50 (50%, 2011), que até fez sucesso, mas não o suficiente para ser relevante. Neste título fantasioso e satírico ele consegue se dar melhor do que no seu filme anterior, e isso de deve principalmente ao fato da total despretenção de colocá-lo forçadamente em algum lugar, como ele tentou com 50/50. Meu Namorado É Um Zumbi foi lançado discretamente e caiu no gosto do público, arrecadando mais de US$60 milhões só nos EUA.

É um daqueles poucos títulos que surgem uma vez ou outra, pegando um tema que está na moda e correndo contra a maré ao fazer disso a base de uma história inusitada e que tenta ser tão absurda quanto o mundo em que ela se passa, e que, por isso, acaba sendo coerente. Assim como aconteceu com o inesperado Distrito 9 (District 9, 2009), quando o diretor e roteirista Neill Blomkamp metaforizou o Aparteid ao transformar alienígenas em seres excluídos e demonizados pela sociedade, Meu Namorado também pega o mote de contar a história de personagens sistematicamente tidos como vilões e mostrar um ponto de vista mais humano e nunca imaginado. E assim ele constrói um mundo de mortos-vivos que podem pensar, amar e se recuperar dessa doença desde que eles sejam constantemente alimentados por uma fonte de vida chamada "amor". Parece banal e bobo, inusitado e também tão absurdo quanto, mas é por isso que funciona.

Levine usa o absurdo a seu favor para satirizar e brincar com um estilo que se tornou batido, e consegue dar um ar fresco para aquilo que parecia não ter mais conserto depois do exagero de filmes B que resolveram ressucitar os mortos-vivos nos últimos anos, além do seriado The Walking Dead, que pegou tudo que foi feito até hoje sobre o assunto e jogou em um liquidificador, chegando a fazer o diretor Danny Boyle a manter segredo absoluto sobre sua provavel idéia de dirigir/produzir uma terceira continução da excelente franquia Extermínio (28 Days Later/28 Weeks Later, 2002/2007) dizendo: "se eu disser qual é a idéia, eles irão usar em The Walking Dead".

Levine também pega uma leve carona e tenta criar uma atmosfera engraçada em cima de situações banais de produções acéfalas atuais e de gosto duvidoso, que colocam como plano principal casais adolescentes que sofrem por serem e viverem em naturezas distintas, como acontece com o casal Bella e Edward na Saga Crepúsculo. A referência a estes tipos insossos é tão forte que os atores principais são até parecidos com o da série citada, a grande diferença é que nada aqui é feito para ser levado a sério, e mesmo nada sendo levado a sério, os atores atuam melhor do que naquelas produções que tentam levar um absurdo a sério, como a saga mencionada.

Guiado por uma narrativa um tanto Braz Cubas de ser por conta de suas memórias póstumas e seus pensamentos sobre como seria a vida se ele ainda estivesse vivo, o zumbi R. não chega a ser cativante, mas o seu isolamento no mundo, a incompreensão de ser o que é e a tentativa de ser uma criatura melhor, conseguem ser. Talvez eu tenha achado tudo muito bonito depois de meia garrafa de vinho. Vai saber?!

Claro e óbvio que o filme não poderia deixar de abusar do desnecessário, inventando conflitos na regra de que para todo protagonista deve-se existir um antagonista, assim como para todo herói deve existir um anti-herói, pois os filmes comerciais obrigatoriamente necessitam dessas características para ser compreendido pelo público mediano. O que é uma pena, pois poderia facilmente ter abolido o desnecessário e mantido apenas o nível interessante, e que por muitas vezes ele tem.

De qualquer forma, nos momentos em que o diretor e roteirista esquece de se manter dentro de fórmuletas prontas, a história simples até consegue ser sensível sem ser piegas, e absurda sem ser forçada.

CONCLUSÃO...
Sem dúvida o filme é uma grande surpresa nessa leva de produções do gênero, conseguindo ser um diferencial exatamente por ir contra a corrente. Mesmo contra a corrente ele ainda se mantém fiel a determinadas regras e manuais de como se fazer um filme, mas os prós são diferenciais suficientes para, aquilo que parecia ser uma idéia naufragada, emergir com algo que sacia aqueles que buscam por algo diferente, nem que seja pouco.
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