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terça-feira, 15 de dezembro de 2009

COMO ACEITAR ALGUÉM COM TODOS SEUS DEFEITOS E BAGAGENS...

★★★★★★★★★☆
Título: 2 Dias Em Paris (2 Days In Paris)
Ano: 2007
Gênero: Comédia, Romance
Classificação: 14 anos
Direção: Julie Delpy
Elenco: Julie Delpy, Adam Goldberg, Albert Delpy, Marie Pillet, alexia Landeau, Alexandre Nahon
País: França, Alemanha
Duração: 96 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Marion (Julie Delpy) e Jack (Adam Goldberg) moram em Nova York e estão juntos há dois anos. Marion é francesa, e Jack é americano. Ambos vão para a França passar dois dias em Paris para que ela possa visitar e rever seus familiares e amigos e para que Jack aproveite não apenas a viagem, mas para também conhecê-los e revisitar passados de Marion que ela não esperava encontrar.

O QUE TENHO A DIZER...
O que dizer sobre Julie Delpy? Depois de assistir Antes do Amanhecer (Before Sunrise, 1995) e Antes do Pôr do Sol (Before Sunset, 2004), ambos de Richard Linklater, resolvi ir atrás de outros filmes estrelados por ela. O talento é inegável. Ela não somente é atriz, como também é diretora, escritora, produtora e compositora, e no caso desse filme, além de ter feito tudo isso, também encontrou tempo para editá-lo.

Para quem já assistiu os dois filmes de Linklater, encontrará em 2 Dias Em Paris muitas semelhanças, já que eles são a grande fonte de inspiração de Julie Delpy, mas se achar que é a mesma coisa, estará enganado. Se achar que passará 96 minutos apenas ouvindo diálogos, está certo, mas se achar que ficará entediado, está enganado. Se achar que é uma história de amor, está certo, só que se achar que é uma história comum, está enganado.

Mesmo sendo uma comédia romântica, ele é surpreendente o tempo todo, sendo leve e engraçado sem perder o tom realista e sincero. Os diálogos irônicos são excelentes e constantes do início ao fim, com momentos realmente hilários e inteligentes sem ser cliché. Também é um filme bastante pessoal, já que aparenta incluir várias experiências pessoais de Julie Delpy. Inclusive, os atores que fazem seus pais no filme são seus pais na vida real, o ator e diretor de teatro Alber Delpy e a atriz Marie Pillet (falecida recentemente).

O maior atrativo do filme são as reflexões desenvolvidas pela personagem principal sobre a comunicação deficiente, a falta de compreensão e a dificuldade de casais aceitarem os defeitos e as experiências passadas uns dos outros, sem ser taxativo, piegas ou dramático. O humor negro de Jack e o humor auto-depreciativo e neurótico de Marion resultam em diálogos rápidos, sutis e complexos na abordagem das relações modernas e como as pessoas mudam conforme as circunstâncias. Ao mesmo tempo também há espaço para a dificuldade de comunicação e compreensão entre Jack e os familiares e amigos franceses de Marion, se tornando um avesso ao habitué de comédias românticas que transformam Paris no cenário do amor, e a obsessão dos personagens por suas diferenças é tão grande que o encanto da cidade é perdido, virando um campo de batalha e em uma personagem viva, tal qual Viena foi para os filmes de Richard Linklater, mas por uma perspectiva mais analítica e nada romãntica.

A seqüência final é uma das mais bonitas, sinceras e honestas entre os filmes do gênero, e resumem o filme em uma análise moderna e direta de Marion sobre a construção, a manutenção e o fim de um relacionamento, bem como a possibilidade de um recomeço e os fatores que fazem isso valer a pena. Uma lição de moral certeira e uma reflexão construtiva que deve ser levada em consideração por todos aqueles que ainda não sabem, ou acreditam saber, o que é uma relação.

CONCLUSÃO...
Recomendo para aqueles que gostam do gênero, mas estão cansados de assistir a mesma coisa. Uma comédia romântica que oferece muito mais do que pode ser esperado e que consegue atingir um nível reflexivo como poucas outras conseguem.

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