Translate

segunda-feira, 26 de maio de 2014

SINGER CONSEGUE SAIR PELA TANGENTE...

★★★★★★★
Título: X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido (X-Men: Days Of Future Past)
Ano: 2014
Gênero: Ação
Classificação: 12 anos
Direção: Bryan Singer
Elenco: James McAvoy, Hugh Jackman, Jennifer Lawrence, Michael Fassbender, Ian McKellen, Patrick Stuart, Ellen Page
País: Estados Unidos
Duração: 131 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Wolverine é enviado de volta para a década de 70 para impedir um assassinato que será responsável por dizimar todos os mutantes no futuro.

O QUE TENHO A DIZER...
Há 51 anos atrás a primeira edição de X-Men foi lançada, super heróis mutantes criados por Stan Lee e Jack Kirby pela Marvel Comics. O sucesso desses heróis é visto até os dias de hoje, valendo sempre dizer que eles, juntamente com o diretor Bryan Singer, foram responsáveis e pioneiros por mostrarem no início de 2000 que havia possibilidades do cinema de ação trabalhar com os quadrinhos de maneira relevante tanto como entretenimento como um produto comercial que não fosse inteiramente descartável. Tanto que 90% dos filmes de ação do verão norteamericano nos últimos anos tem sido apenas de super heróis, sejam eles da Marvel ou da DC.

Os X-Men nos quadrinhos se destacaram por vários motivos, mas um deles era de suas histórias se adaptarem com as épocas e fatos que viviam e até mesmo incoroporá-las em suas tramas, o que também deu certo e funcionou no cinema. Mas com o passar dos anos as histórias publicadas perderam fôlego e ficaram confusas, os personagens começaram a entrar em um loop infinito de erros, discordâncias e anacronismos ao ponto de todo o Universo Marvel ter sofrido imensas transformações principalmente nos anos 90 até culminar com a Era do Apocalipse, um evento que zerou novamente todo o universo, e isso sempre vai acontecer quando tudo bagunçar, como aconteceu no ano passado em que parte da Marvel foi novamente resetada com a chegada do Marvel Now (Nova Marvel, no Brasil).

Com o lançamento do primeiro filme dos X-Men em 2000, Bryan Singer teve boas intenções, porém seu excesso de autoestima e afirmação fez o diretor se precipitar ao pegar a história dos mutantes e recontá-la à sua maneira. Singer se manteve fiel a alguns personagens chaves, mas reinventou a história particular muitos deles a seu bel prazer, o que gerou uma confusão entre aquilo que fãs já conheciam e novos fãs estavam conhecendo, tanto que a Marvel teve que sambar para recontar suas histórias publicadas e diminuir essa grande incoerência do que se viu nas telas com o que existia nos quadrinhos até então.

De uma maneira geral, os dois primeiros filmes de Singer funcionaram nas telas e são as referências em qualidade até hoje, mas o terceiro filme, dirigido por Brett Ratner, deixou a desejar e foi quase um suicídio da franquia. Em 2011, houve uma tentativa de fazer um reboot da série, e Matthew Vaughn foi escalado para dirigir o quarto filme, entitulado Primeira Classe, que seria uma pré-sequencia da trilogia original ao contar como Charles Xavier fundou sua escola de jovens super dotados na década de 60, e como a curiosa relação entre ele e seu amigo Erik Lensherr/Magneto culminou em discordâncias ideológicas e se transformou em uma das mais clássicas e conhecidas rivalidade dos quadrinhos.

E aquilo que era pra ser o reinício de uma franquia e esquecer tudo que foi feito anteriormente, se transformou numa discussão entre a massa de fãs que se perguntava: como dar continuidade a essa história e alinhá-la à história da trilogia original?

Depois de ter abandonado a franquia para uma fracassada tentativa de reviver o ícone da DC em Superman Returns (2006), ninguém seria melhor que Bryan Singer para retornar à direção 10 anos depois justamente para realizar esta ponte entre os filmes e (tentar) consertar todos os erros cometidos no passado, inclusive por ele mesmo.

E funcionou?

Por incrível que pareça, sim.

A habilidade de Singer em administrar um grande número de personagens e de tramas paralelas é inegável e novamente visto aqui. Mas dessa vez Singer não apenas teve de lidar com as tramas paralelas do próprio filme como também com os buracos dos anteriores. Muitos dos erros são consertados de maneira discreta, e embora as referências aos filmes anteriores existam o tempo todo (incluindo também os dois péssimos spinoffs de Wolverine), muitas delas são feitas de maneira indireta justamente para não deixar o novo espectador confuso ou perdido e há até momentos para brincar com algumas situações inusitadas, como mostrar em uma sequencia de onde vem o trauma de Wolverine em viajar de avião.

Claro que isso não significa que seja necessário assistir os filmes anteriores para entender este, muito embora deva ser uma obrigação. Mas essa obrigação é para observar como Singer realmente conseguiu transformar tudo, entre erros e acertos, em um produto condensado, aceitável e grandioso dentro de todos esse complexo mundo confuso que ficou os dos X-Men. Parece que Singer finalmente deixou sua arrogante individualidade de lado e resolveu dar ouvido a base de fãs, pois entre méritos e deméritos, construções e desconstruções, este é o filme mais relevante dos X-Men como uma verdadeira adaptação.

A história se passa dez anos depois do Primeira Classe e 50 anos antes da dizimação dos mutantes na Terra. Esse período é baseado em um episódio dos quadrinhos que leva o mesmo nome e que também já foi adaptado na primeira série animada. Tudo começa com uma boa sequencia de ação no futuro, que teoricamente se passaria nos nossos dias atuais, só que completamente diferente do nosso presente, sendo muito mais tecnológico e apocalíptico. Depois perde o ritmo com piadinhas manjadas e uma crise depressiva de Xavier-jovem que não convence muito até mesmo pela facilidade com que ele é convencido a ajudar o Xavier-velho. Há outros momentos já vistos antes, como novamente Magneto isolado em uma prisão de segurança máxima, ou Wolverine novamente sendo neutralizado por Magneto, a relação de amor e ódio entre Xavier e Magneto, e a sempre clássica dúvida entre tentar viver em harmonia com os humanos ou não. Não há uma cena de batalha realmente impressionante ou de tirar o fôlego como nos filmes anteriores, mas nas poucas que existem, como nas batalhas com os Sentinelas, podemos sentir aquele gostinho muito bom de vê-los trabalhando em equipe, o verdadeiro grande atrativo dos X-Men.

Os personagens mais conhecidos estão presentes, e claro que a história novamente vai se concentrar nos personagens mais populares e nos atores que possuem mais relevancia popular e comercial, como Wolverine (Hugh Jackman, reprisando o papel pela sétima vez), Mística (Jennifer Lawrence, atualmente a atriz mais bem paga do cinema) e Magneto (Michael Fassbender, o alemão de ouro de Hollywood). Alguns que fizeram apenas algumas pontas nos anteriores voltaram com alguma participação maior, como Colossus (que outra vez entra mudo e sai calado), Kitty Pride (Ellen Page novamente fazendo aquela sempre cara de que não está nenhum pouco a fim de fazer o filme) e Bob Drake/Homem Gelo (sempre querendo fazer mais, mas Singer sempre oferecendo de menos). Novos mutantes agora aparecem como Quicksilver (que nos quadrinhos é filho de Magneto), Sunspot (não confundi-lo com o Homem Tocha de Quarteto Fantástico), Blink e Bishop, esses três últimos apenas para incrementar as cenas de ação, já que não possuem qualquer relevância em toda a trama.

Essa mania de concentrar as histórias sempre nos personagens ou nos atores mais populares é, talvez, o grande defeito de todo o filme, porque X-Men não é Wolverine, e essa noção de "trabalho em equipe", que sempre foi um dos fundamentos principais de Xavier, se perde. Diferente de Os Vingadores (The Avengers, 2012), em que o Homem de Ferro se tornou o personagem mais popular por conta de sua franquia e mesmo assim o filme soube dar momentos especiais para todos os demais personagens. Mas isso nunca acontece de maneira satisfatória nesse filme.

Apesar de Singer tentar consertar algumas coisas e encaixar a história com os quadrinhos de uma forma que ele nunca havia feito, ele ainda insiste na mesma tecla de deturpar as histórias dos personagens e criar as suas próprias, como o fato de Bishop (que nos quadrinhos é o verdadeiro viajante do tempo) ser o personagem que menos tem a ver com tudo isso no filme, e agora Kitty Pride ter esse novo poder de transportar a consciência dos mutantes para o passado, quando isso deveria ser uma missão de Xavier, Jean Grey, Emma Frost ou até mesmo uma simples máquina no tempo, como aquelas criadas pelo personagem Forge nos quadrinhos. Essas são, talvez, as maiores heresias cometida por ele, e imperdoáveis no ponto de vista de quem conhece a função de cada um nessa história. Essas gafes colossais realmente deixam os fãs um tanto decepcionados, mas para aqueles que pouco conhecem a fundo a história dos mutantes, nada disso é percebido, nem mesmo serão percebidos os erros de continuidade e questões chaves que não deveriam ter sido ignoradas, como o website SCREENRANT publicou.

Na parte do design de produção e figurino, é notável a queda de qualidade do filme anterior para esse. Se em Primeira Classe a década de 60 foi reproduzida com uma qualidade de encher os olhos e, inclusive, elogiada pela crítica em sua maioria, neste filme a década de 70 nem se parece com ela, principalmente depois do deleite visual de Trapaça (American Hustle, 2013). No filme há até um notebook com tela LCD. Além desse ato falho e absurdamente anacrônico, é engraçado observar a atuação dos figurantes, que de tão mal dirigidos ou dirigidos com pressa, fica evitente a mecânica e a coreografia de organização. Enfim, erros pequenos para quem enxerga pouco, mas bem graves para uma produção de US$200 milhões.

Como um todo, não há como negar que Singer conseguiu, a duras penas, aprender que com os X-Men não se brinca e sair pela tangente de maneira fina. A Marvel estava muito preocupada com o que fazer sobre a terceira franquia mais lucrativa da empresa e um dos principais ícones de sua marca. A sequencia final, por si só, define a razão do filme existir e já vale a pena todos os seus 131 minutos, como também é um final nostálgico, trágico e emocionante, que conseguiu transportar pra tela muito desse misto de angústia e esperança que os quadrinhos e a primeira série animada conseguiram fazer, além de, inclusive, dar gás para novos filmes no futuro (uma nova sequencia já foi anunciada para 2016).

Sorte teve Singer em conseguir encontrar linhas comuns entre todos os individuais filmes e, ironicamente, tal qual como o filme, seus erros do passado justificam os resultados desse novo episódio.

CONCLUSÃO...
Novamente é Singer fazendo tudo da sua forma, mas sua habilidade de conseguir lidar com diversos personagens e tramas paralelas fazem desse filme um grande divisor nesta pentalogia. Claro que vai agradar mais os fãs dos filmes do que dos quadrinhos, mas nem por isso vai deixar de emocionar os mais exigentes ao ver seus heróis preferidos personificados na tela, mas também vai despertar o ódio por muitos erros de continuação existirem e questões fundamentais da trilogia original terem sido ignoradas.

domingo, 18 de maio de 2014

O EXTRAORDINÁRIO MUNDO DE JEUNET...

★★★★★★★★★☆
Título: Uma Viagem Extraordinária (The Young And Prodigious T.S. Spivet)
Ano: 2013
Gênero: Aventura, Fantasia
Classificação: 10 anos
Direção: Jean-Pierre Jeunet
Elenco: Kyle Catlett, Helena Bonham Carter, Callum Keith Rennie, Niamh Wilson, Judy Davis, Dominique Pinon
País: França, Canadá
Duração: 105 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre T.S. Spivet, que resolve fazer uma viagem do oeste para o leste dos Estados Unidos para receber um prêmio científico. O que eles não sabiam é que a pessoa a receber o prêmio tem 10 anos de idade.

O QUE TENHO A DIZER...
T.S. Spivet é dirigido pelo magnífico diretor francês Jean-Pierre Jeunet, do qual sou suspeito para escrever, já que sou grande fã. Felizmente tive oportunidade de assistir todos seus filmes e, consequentemente, acompanhar essa brilhante carreira de poucas obras, mas relevantes e de uma riqueza narrativa e visual raros no cinema atual.

Claro que pouca gente conhece Jeunet se você perguntar pelo seu nome, mas todo mundo vai dizer que sabe quem é quando você disser que ele é o diretor de O Fabuloso Destino de Amelie Poulain (Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain, 2001), seu primeiro filme mais famoso e mundialmente conhecido. Ao mesmo tempo, provavelmente, ninguém vai conhecer nada mais além disso, o que é uma grande... grande pena. Por isso, vale mesmo fazer uma breve apresentação do diretor antes de falar do filme, até porque todo novo filme de Jeunet merece um grande comentário.

Jeunet começou a carreira com longas em parceria com seu amigo, Marc Caro. O primeiro filme, Delicatessen (1999), chamou atenção pela sua atmosfera pós-apocalíptica bizarra, mas ao mesmo tempo leve e curiosa pela narrativa diferenciada, o humor pra lá de obscuro e principalmente pela facilidade que o diretor tem em criar empatias entre o público, suas histórias e seus personagens, mesmo quando estes são estranhos, esquisitos, com atores feios ou de uma beleza exótica que fuja completamente de qualquer conveniência. Esta parceria com Marc Caro foi se repetir com o segundo filme, Ladrão de Sonhos (La Cité Des Enfants Perdus, 1995), talvez um dos filmes mais visualmente deslumbrantes do diretor, mais colorido que Delicatessen, um pouco menos sombrio, mas muito mais fantasioso e emocionante. O sucesso do filme rendeu um jogo de video game igualmente belo e fiel à história do filme.

Dois anos depois a parceria entre Jeunet e Caro ficou abalada quando Jeunet aceitou dirigir Alien - A Ressurreição (Alien: Ressurection, 1997) e Caro não viu interesse algum na produção, embora ele tenha auxiliado o amigo por diversas vezes. Mesmo assim o filme não apenas é considerado o pior da franquia como é praticamente um arrependimento do próprio diretor, que sofreu duras críticas pela sua sólida base de fãs. Houve intensas dificuldades na produção, o estúdio mandava e desmandava, fazia e desfazia mil coisas enquanto, ao mesmo tempo, havia um intenso problema de comunicação entre o diretor (que não fala inglês) com o roteiro, os atores e toda a equipe. Tanto foi assim que, propositalmente ou não, ele ficou aproximadamente quatro anos longe das câmeras. Foi quando ele finalmente pegou o mundo de surpresa com Amelie Poulain e a volta de todo seu fabuloso mundo surreal, fantasioso, mas agora mais doce, em um tom mais alegre e cômico que anteriormente, talvez por novamente haver a falta do peso das mãos de Marc Caro.

Como dito, Amelie foi seu filme de maior sucesso, e depois dele Jeunet encontrou em Audrey Tautou sua musa, e a parceria com a atriz se repetiu com o belíssimo e delicado Eterno Amor (Un Long Dimanche de Fiançailles, 2004), seu segundo filme mais famoso e conhecido. Novamente Jeunet recebeu críticas de sua base de fãs, dizendo que ele agora havia se rendido ao cinema comercial por repetir a mesma fórmula de Amelie.

Jeunet sumiu do cinema novamente, mas dessa vez porque ficou preso na produção de As Aventuras De Pi (Life Of Pi, 2012) por dois anos. Segundo o diretor, o filme já estava pronto: o roteiro já havia sido escrito, as locações de filmagem já haviam sido pesquisadas e inclusive o storyboard já havia sido feito. Mas pelos constantes adiamentos do estúdio, Jeunet se demitiu da produção e escreveu a história de Micmacs - Um Plano Complicado (Micmacs à Tire-Larigot), que foi lançado apenas em 2009. O filme não passou nem perto do mesmo sucesso e reconhecimento dos dois anteriores, o que é triste, já que é igualmente fantástico em todos os sentidos em um filme onde todos os personagens foram baseados em personagens de desenhos animados, o que acentuou mais ainda a marca do diretor. Nesse meio tempo, em 2008, Elizabeth Ezra lançou suas análises sobre o diretor contemporâneo para a coleção Contemporary Film Directors, contendo comentários dele mesmo sobre suas obras e inspirações.

Um novo hiato de quatro anos aconteceu até T.S. Spivet chamar sua atenção. O filme é baseado no livro The Selected Works Of T.S. Spivet (2008), do norteamericano Reif Larsen. É o segundo filme em lingua inglesa do diretor, só que ao contrário do que aconteceu em Alien, vemos aqui que não houve problemas de comunicação, nem de roteiro (que foi escrito por ele mesmo em parceria com Guillaume Laurant), e o resultado é um filme redondo, com começo, meio e fim, que segue sem tropeços ou buracos.

O filme conta a história de Tecumseh Sparrow Spivet, um garoto prodígio de dez anos de idade (no livro ele tem doze anos) que mora em uma isolada fazenda no extremo Oeste dos Estados Unidos, que vê em tudo uma oportunidade de estudar as razões físicas de existirem no seu sentido mais científico. Aos quatro anos de idade, ele criou seu primeiro experimento, e aos dez ele conseguiu montar a roda perpétua, um gerador de energia que tem autonomia para funcionar por 400 anos sem consumir qualquer outra energia, que seria responsável por mudar toda a ciência. Por conta disso ele é chamado para receber um importante prêmio da instituição científica Smithsonian, no leste dos Estados Unidos, que daria o direito ao vencedor a um grande discurso em Washington. Dentro de uma precoce crise existencial por conta da perda de seu irmão gêmeo e demais conflitos familiares que ele julga serem por sua culpa, o personagem resolve fugir sozinho, pegando um trem que cortará todo o hemisfério norteamericano para chegar a seu destino.

Assim como todos seus filmes anteriores (com excessão de Alien), T.S. Spivet possui uma linguagem visual forte e que abusa no uso das cores primárias e de designs assimétricos ou de incomum simetria, já que os elementos do cenário e objetos de interação entre o personagem e o meio são mais do que um mero design de produção, mas partes vivas da narrativa, da visão ingênua e da imaginação infantil e particular que Spivet tem sobre o mundo. A angulação das câmeras em planos superiores e inferiores para intensificar a fragilidade ou a hostilidade dos personagens, além da excentricidade de cada um deles também é uma das marcas registradas do diretor, como caricaturas que saem de desenhos animados, que possuem uma simpatia e humor inerentes, responsáveis pela empatia instantânea com o espectador. Há também a forma narrativa em surpreender ou causar um leve suspense apenas omitindo informações chaves, e por isso nunca sabemos (até momentos antes do fim), a verdadeira razão de Spivet se sentir responsável por tantas coisas, ou nunca sabermos quais personagens se tornarão amigos ou vilões em sua trajetória, como no momento em que ele pega carona com o esquisito caminhoneiro, um momento genuíno de Jeunet de nos mostrar como podemos subjulgar alguém apenas pelas suas aparências ou atitudes. Há também referências sobre seus filmes anteriores o tempo todo, como a jornada do personagem principal pela busca ou compreensão de algo, a referência sobre ausências familiares, ou até mesmo sobre a vilania de alguns, como a caricatura da personagem G.H. Jibsen (Judy Davis), que se assemelha muito às irmãs malévolas de Ladrão de Sonhos, vividas pelas atrizes Odile Mallet e Geneviève Brunet, mas aqui de uma forma muito mais cômica e leve. Enfim, é um típico filme de Jean-Pierre Jeunet, que mesmo com todos os mesmos traços de seus filmes anteriores, não deixa de ser deslumbrante e um prazer indescritível, além de também ser emotivo na sua forma simples e ingênua de lidar com os conflitos dos personagens, numa delicadeza rara de se ver no cinema.

Tem sido comparado a A Invenção de Hugo Cabret (Hugo, 2011), de Martin Scorcese, por também contar em 3D a jornada de um personagem infantil. Mas a comparação, acima de tudo, é por sofrer da mesma crise de identidade em não saber para qual público ele foi feito ou a qual público ele deve ser direcionado. Diferente de Hugo, que pretendeu recontar a história do cinema francês e ter deixado tanto crianças e adultos mais deslumbrados com as imagens e bastante cansados pela longa duração (126 min.), em Spivet esse problema não acontece, pois Jeunet não se utiliza de uma história muito complexa para criar a bela narrativa contada sem cansaços. Os adultos compreenderão e sentirão melhor as nuances dramáticas, enquanto o público infantil ficará deslumbrado com as peripécias do garoto e todo o visual do mundo particular de Spivet. Independente de algumas similaridades com Hugo, é importante saber que o filme de Scorcese foi uma homenagem ao cinema francês, e uma das referências do diretor americano, além de George Meliés por sua excelência, foi Jean-Pierre Jeunet, que sempre foi fiel ao legado de Meliés.

Não há como negar que a maneira adulta como Jeunet conta uma história por um ponto de vista infantil ou ingênuo é marcante e consegue atingir os diferentes públicos sem dificuldade. Reif Larsen, autor do livro, afirmou em uma entrevista que a inspiração de escrever a história veio sobre sua curiosidade sobre o estereótipo do cawboy do Oeste norteamericano, e porque essa imagem é tão forte até os dias de hoje, além de ter se transformado em uma referência mundial do caráter durão, irredutível e pouco adaptável. Durante as pesquisas sobre o Oeste, o escritor acreditou ser interessante mostrar uma história por um ponto de vista infantil, onde a criança fosse completamente diferente das heranças culturais daquela região, mas que ao mesmo tempo mantivesse em suas raízes características que o fizesse sobreviver grandes dificuldades mesmo sendo tão pequeno, o que no fim faria da sua determinação um caráter e aquilo que o caracterizaria definitivamente um "cowboy", mesmo não estando de chapéu e espora sobre um cavalo. O livro recebeu críticas positivas, e sua maior atenção foi voltada ao layout repleto de gravuras e ilustrações que complementam a narrativa. Por isso não é de se espantar que a obra tenha chamado a atenção do diretor, já que também é sua característica utilizar jogo de imagens para ilustrar de forma mais didática e dinâmica a história contada.

Todo o elenco é americano ou britânico, com excessão do conterrâneo Dominique Pinon, amigo pessoal e que já é regra marcar presença em todos os filmes do diretor. É também a estréia do ator mirim Kyle Catlett no cinema (ele será o protagonista da refilmagem de Poltergeist em 2015) e só deixa a desejar em alguns poucos momentos dramáticos, mas que em nada atrapalha o desenvolvimento, e chega mesmo a surpreender em vários outros. As únicas engasgadas de Jeunet talvez tenha sido colocar alguns flashbacks em lugares indevidos, ou de não ter sido mais firme em momentos dramáticos solo do garoto. A conclusão um tanto rápida talvez quebre um pouco toda a maravilhosa experiência, mas a satisfação como um todo, no fim das contas, não sai prejudicada.

Toda essa imaginação do diretor foi transposta para a tela pela primeira vez com câmeras digitais 3D. Assim como Scorcese fez em Hugo, Jeunet também teve o cuidado e a delicadeza de montar cena a cena de todo o filme dentro da melhor qualidade para que o 3D pudesse oferecer toda a experiência possível de dimensões espaciais e profundidade. E assim Jeunet nos imerge em seus filmes, em um mundo fantasioso e belíssimo, que vaga entre o cinema clássico e o moderno sem fugir das raízes do cinema francês, nos dando oportunidade para sonhar novamente, como imaginava George Meliés.

Embora seja um filme de um diretor francês, ele é americano, para um público americano, mas por um ponto de vista francês, talvez um agradecimento de Jeunet à homenagem que Scorcese fez aos franceses com Hugo. Mesmo assim ele ainda não foi lançado nos Estados Unidos. A Weinstein Company pretende lança-lo no fim do ano, boa época para promover filmes mais artísticos e sérios para serem considerados na temporada de premiações, o que é merecido a Jeunet.

CONCLUSÃO...
Novamente é Jeunet trazendo para as américas seu maravilhoso método fantástico francês de fazer cinema e nos imergir em imagens deslumbrantes e personagens carismáticos. Como uma maravilhosa sobremesa para os olhos, T.S. Spivet pode não ser seu melhor filme, mas ainda está longe de ser ruim, além de ser visualmente grandioso em cores, texturas e nuances dramáticas em igual medida.

terça-feira, 6 de maio de 2014

OS 26 MELHORES FILMES DE 2013 (ATÉ AGORA)...

Aqui vai a lista daqueles que considero os melhores de 2013 dentre os que consegui assistir e/ou ler a respeito. Tem muito, mas não tanto quanto teve em 2012. Volto a ressaltar que é uma lista um tanto pessoal, não há uma ordem específica e a numeração é só pra facilitar o serviço. Muitos ficaram de lado ou porque ainda não assisti e pouco li a respeito, ou porque desconheço, mas no geral foi um ano em que senti que os filmes fora de circuito comercial sofreram bastante para se promoverem e criarem vida própria pela rede, como geralmente acontece. Um ano cheio de bobagens boas, por sinal.

01. PHILOMENA
Stephen Frears conseguiu pegar a dura história real de Philomena Lee e dar leveza a ela, além de também tratar de um tema difícil sem tomar partidos. Mas o material que ele oferece é suficiente para o próprio espectador tirar suas próprias conclusões sobre temas como religião, a força do perdão e a fé, além da grandiosidade da alma desta mulher, muito bem representada por Judi Dench que foge de personas mais sérias e britânicas e apresenta uma senhora doce, ingênua e carismática. Tudo isso faz de Philomena um dos melhores e mais memoráveis de 2013.

02. 12 ANOS DE ESCRAVIDÃO
Depois de Django Livre (Django Unchained, 2012), era necessário que o cinema de Hollywood falasse novamente do mesmo tema, mas dessa vez sem a fantasia e a ironia particular de Tarantino. O resultado disso foi a adaptação de Steve McQueen de uma obra verídica escrita no século XIX por Solomon Northup, o protagonista da história, e que perdeu-se com o tempo por razões desconhecidas. O resultado disso é um filme que, embora tenha uma carga dramática esperada e que explore o tema de maneira previsível, consegue retomar a discussão do tráfico humano, do trabalho escravo e exploratório que ainda existe e, por incrível que pareça, ainda são temas atuais. Além disso, a crueldade sofrida pelos protagonistas vividos pelos atores Chiwetel Ejiofor e Lupita Nyong'O é tão impactante que conseguimos sentir a dor e o cheiro do sofrimento e da crueldade do próprio homem com ele mesmo.

03. HER
Spike Jonze acertou em cheio no seu primeiro roteiro solo. Sua direção impecável, a fotografia fria e distante mostram a possibilidade e a probabilidade de um futuro próximo onde a individualidade e a ausência da relação e interação entre as pessoas será uma das maiores características da humanidade, ao ponto de acreditarmos em um sistema operacional criado e desenvolvido especialmente para suprir as necessidades de afeto e compreensão. Sem criticar as escolhas dos personagens, Jonze cria uma história de amor diferente, ingênua, idílica e, acima de tudo, convincente, pois o sentimento é real.

04. JOGOS VORAZES: EM CHAMAS
Nada mal para uma franquia baseada numa pobre trilogia de livros de Suzanne Collins. O primeiro filme conseguiu preencher a falta de narrativa e perspectiva dos livros, mas perdeu muito tempo em redundâncias e em efeitos especiais exagerados mais para chamar atenção do que incrementar a atmosfera do mundo distópico. Este segundo filme ainda tropeça em não se aprofundar nos esboços das problemáticas mais sociais e políticas mostradas. Mesmo dando mais atenção às cenas de ação e aos dramas da heroína Katniss Everdeen, tudo foi colocado corretamente, e no final das contas o desenvolvimento do filme agrada mais do que o esperado. Poderia ter sido um filme de ação muito mais relevante se o seu conteúdo mais maduro tivesse sido melhor explorado, mas já que o foco é o público jovem, até que o produto oferecido é muito acima da média.

05. MUD
Embora lançado em 2012, só foi chegar aos cinemas e chamar a atenção da crítica em 2013. Esta pequena pérola independente estrelada por Matthew McConaughey não apenas mostra mais uma vez que este ator tem talento nato para representar personagens broncos e sentimentalmente perturbados como também é uma belíssima e honesta história sobre duas perspectivas diferentes e que se interceptam sobre o amor. Temos o ponto de vista ingênuo de um jovem e o ponto de vista traiçoeiro de um adulto. Um tanto longo na narrativa, mas que consegue tratar do assunto sem ser piegas ou cliché.

06. ÁLBUM DE FAMÍLIA
Este filme pouco comentado e também interpretado por muitos por uma visão muito mais simplista do que o roteiro propõe é talvez um dos mais relevantes sobre relações familiares e sobre uma familília tipicamente norteamericana já produzidos em Hollywood, e olha que Hollywood não é um dos melhores lugares quando o assunto são relações familiares, não como é com o cinema Europeu ou Asiático. O roteiro assinado por Tracy Letts, baseado em sua própria peça teatral, embarca na análise estrutural e psicológica de uma família que há quatro gerações repetem os mesmos erros. O simbolismo que cada personagem carrega em si, dentro da sua função familiar e dessa reprodução de atos e erros, é de uma sutileza e de uma brutalidade dramática que só serão mais sentidos por aqueles que já conhecem e estão familiarizado com o estilo psicoanalítico de Letts. Para o público mais comum, o filme será mais um drama familiar com Meryl Streep, para aqueles que realmente se interessarem em compreender essa complexa (porém até verídica) construção familiar, irão encontrar material mais que suficiente para uma tese de mestrado.

07. CLUBE DE COMPRA DALLAS
Este clube que realmente existiu na década de 80 durante o surto pandêmico de HIV nos Estados Unidos foi comandado por um homem que, até então, pouco se conhecia, mas que de um mero canastrão explorador, se transformou em uma das poucas pessoas realmente interessadas na busca de um tratamento realmente efetivo contra a doença, sendo, talvez, um dos primeiros responsáveis por desenvolver um protocolo eficiente de tratamento e que aumentou a expectativa e a qualidade de vida de milhares de pessoas. Além disso, também há Matthew McConaughey mostrando porque sua consagração por este filme foi merecida, bem como a de Jared Letto, em um filme barato, que sofreu grandes problemas de produção e que foi filmado com apenas uma câmera, mas que nem é notado por conta da eficiente e fantástica edição e a sólida visão do produto final do diretor.

08. TRAPAÇA
Não há como negar que este filme tinha o intuito de impactar a crítica como fez e ser TÃO-TÃO o que é. A sua perfeição é tão encomendada que seu propósito é evidente. Apesar disso, a sua trama é tão bem elaborada e construída, e os personagens são tão bem interpretados e desenvolvidos que quando os créditos finais aparecem a satisfação de ter assistido algo tão bom, mesmo que comercial, vem à tona. Jennifer Lawrence pode roubar a cena com alguns exageros e pela superestimação resultante de sua intensa popularidade, mas quem desenvolve o melhor papel é Amy Adams, em uma personagem tão cheia de conflitos, angústias e desprazeres que há momentos em que é nítido que ela mesma parece não conseguir lidar com tantas camadas. Atuação brilhante, além de uma química entre todo o elenco que chega a ser deslumbrante.

09. BLUE JASMINE
Woody Allen e Cate Blanchett não poderiam fazer feio. O humor sarcástico de Allen e a caricatura comportamental de Blanchett dão o tom exato sobre algo que soa até como uma metáfora, e impossível não relacioná-la com a decadência da sociedade norteamericana, bem como novamente é um filme em que o diretor pisa com maestria entre a comédia e a tragédia no seu mais clássico significado.

10. STAR TREK: ALÉM DA ESCURIDÃO
Uma transformação total na franquia para conquistar novos fãs e ao mesmo tempo cheio de referências aos fiéis seguidores da sagrada e consagrada série. É J.J. Abrams mostrando mais uma vez porque se transformou em um dos maiores, mais populares e poderosos diretores e produtores do cinema comercial atual, o novo Spielberg, como dizem alguns. Um filme de ação moderno e que em nenhum momento deixa de lado suas raízes.

11. FRANCES HA
Também de 2012, mas que foi chegar aos cinemas em 2013, pode ser visto como uma versão mais pessoal, bem humorada e positivista de Greta Gerwig sobre uma personagem similar já interpretada anteriormente por ela no filme Lola Contra O Mundo (Lola Versus, 2012). A essência desse filme se difere de Lola por conta da constante força de vontade da personagem em superar as duras mudanças de uma vida que ela considerava simples e perfeita, mas que agora virou apenas um sonho no qual ela está determinada a reconquistar, custe o que custar. Motivador em sua completa simplicidade, carregado de diálogos memoráveis e uma trilha sonora grandiosa tanto quanto as vontades da personagem.

12. GRAVIDADE
Se for válido dizer que Kubrick finalmente deixou um legado relevante ao cinema, este é Gravidade. A jornada espacial de Cuarón não apenas impressiona visualmente como também é simbólica e uma metáfora ao renascimento. A interpretação visceral de Sandra Bullock impressiona, e o filme não teria a mesma carga dramática se tudo que é visto na tela com naturalidade não fossem frutos do intenso trabalho da atriz e do diretor juntamente com toda a pesquisa técnica desenvolvida em sua produção. Uma história simples e que pouco agrega, mas um dos maiores espetáculos visuais e sonoros da ficção científica nos últimos 10 ou 20 anos.

13. AS BEM ARMADAS
Sandra Bullock prova que, mesmo aos 45 anos, é uma atriz poderosa e de um profissionalismo ímpar ao dividir todas as cenas com Melissa McCarthy e em nenhum momento querer se sobrepor como é o esperado de grandes estrelas em filmes como esse. Um filme bobo por excelência, mas engraçado pela química perfeita das duas protagonistas e do tempo de comédia de ambas.

14. ANTES DA MEIA NOITE
Terceiro capítulo de uma maravilhosa história de amor que o diretor e roteirista Richard Linklater iniciou em 1995 com Antes do Amanhecer (Before Sunrise) e seguido por Antes do Por do Sol (Before Sunset, 2004). Com uma diferença de 9 anos entre um filme e outro, as histórias também possuem o mesmo intervalo de tempo. Enquanto nos dois primeiros capítulos tudo girou em torno de encontros e desencontros, expectativas e frustrações, desejos e anseios, eis que, finalmente, os protagonistas decidiram viver um para o outro, mas agora, adultos e sem mais grandes sonhos que a juventude propunha, encontram-se numa relação já acostumada e estagnada pela rotina. Agora as discussões relevantes são sobre a vida e o casamento e o que será depois dele. A interação entre os dois protagonistas (e atores) sempre foi o grande atrativo desta série que conseguiu mudar a linguagem das comédias românticas e transformá-las em algo muito além do final feliz. Os fãs poderão perceber uma brusca mudança de narrativa, mas que acompanha com coerência todo o desenvolvimento e amadurecimento de ambos nesta longa história de amor que já dura 18 anos.

15. GUERRA MUNDIAL Z
Talvez um dos filmes com as mais absurdas sequencias e com o maior número de buracos no roteiro de 2013, mas nem por isso deixa de ser um dos melhores filme de ação em seu mais puro significado. Tenso do início ao fim, não há um momento sequer que o espectador possa respirar aliviado sem ser surpreendido por mais uma horda de zumbis destruidores. Afinal, é essa a verdadeira intenção de filmes de ação e horror de sobrevivência. Ou você corre, ou você morre.

16. O QUE RICHARD FEZ?
Também de 2012, mas foi ancorar por esses lados no início de 2013. O filme irlandes é delicado na abordagem sobre o paradoxo entre aquilo que julgamos certo e as coisas erradas que fazemos. Nada mais a dizer, simples e puro assim.

17. SEGREDOS DE SANGUE
Confuso e por vezes até bizarro, consegue ser corajoso e audacioso por tentar fugir de fórmulas hollywoodianas. Não é um tipo de filme que agrada todo público, porque é denso e bastante psicológico, mas a atmosfera por vezes até hitchcockiana que o diretor Chan-Wook Park constrói em cenários limpos e atores que se movimentam de forma ensaiada frente a câmera, não apenas é belo como admirável. De tão bem ensaiadas parecem naturais em seus mínimos detalhes, e a história é uma tensa jornada sobre a progressão de uma sociopatia psicótica. Chega a ter um tema até similar ao de Precisamos Falar Sobre O Kevin (We Need To Talk About Kevin, 2011).

18. MEU NAMORADO É UM ZUMBI
É um grande e excelente besteirol de 2013, principalmente pelo diretor ter pego um tema que já está batido e resolver tirar sarro de tudo isso da melhor maneira possível ao vitimizar os zumbis tal qual foi feito com os alienígenas em Distrito 9 (District 9, 2009). Porém, a diferença é que aqui é uma comédia até pastelão no excelente estilo de Todo Mundo Quase Morto (Shaun Of The Dead, 2004), além do diretor pegar carona para satirizar de maneira indireta outras produções adolescentes e de gosto duvidoso.

19. O LOBO DE WALLSTREET
Ainda não assisti a quinta colaboração entre Scorcese e DiCaprio por pura preguiça mesmo, mas a impressão que tenho sobre as críticas lidas é que essa interminável parceria já apresenta sinais de cansaço, muito embora o filme tenha sido elogiado mundialmente. Ao mesmo tempo o filme também foi bastante criticado por seu conteúdo moral ambíguo, sexual, vulgar e o excesso de drogas. Tudo o que Scorcese sempre utilizou em menores ou maiores graus em seus filmes, o que se torna uma discussão um tanto redundante principalmente quando parte da crítica especializada, como se Scorcese fosse um novato qualquer que nunca fez isso, mas que agora resolveu chocar. DiCaprio recebeu elogios ímpares sobre sua atuação, mas o filme longo demais tem expressado o tédio a muitos. As notas recebidas pelo filme já demonstram por si só que ele naturalmente já figura entre os melhroes.

20. TRUQUE DE MESTRE
Mais um grande besteirol que deu certo. A história do filme é um absurdo e é construída em cima do misticismo em torno da mágica e seus truques, mas se vamos ao cinema esperando fantasia, é claro que não poderíamos esperar seriedade em um tema como esse. O resultado de tudo é um filme que realmente abraça seu espectador, o faz esquecer dos absurdos e o leva por toda a fantasia sem questionar ou querer entender nada. O final não é muito surpreendente, mas há momentos memoráveis e até empolgantes.

21. O ESPETACULAR AGORA
Este filme de personagens adolescentes chega a não ter nada de adolescente. O tema é bastante maduro e abordado por um ponto de vista que não lembro ter visto no cinema tão recentemente. A complexidade do personagem principal e as várias camadas que o compõe vão se revelando aos poucos durante o filme, e de um rapaz antipático e inconsequente, ele se transforma em alguém incompreendido, confuso sobre ele mesmo e sobre as coisas que acontecem a sua volta. O desenvolvimento e a progressão de autoconhecimento que surge conforme o personagem se autodestrói é brilhante, e um dos personagens mais complexos e interessantes a serem adaptados em 2013. Como já disse, pode ser que o personagem no livro não seja tão complexo, mas a densidade e profundidade que os roteiristas deram a ele o fazem ser.

22. GLORIA
Embora seja um filme chileno e pequeno, Gloria é uma mulher de meia idade independente e que gosta de curtir os bons prazeres da vida sem dar a mínima para o que os outros possam pensar sobre ela e de suas atitudes. A personagem também não faz a mínima questão de criar uma empatia com seu espectador, mas independente disso, sua história já é motivante por si só e o espírito livre e desbravador de Gloria chega a ser contagiante e uma grande lição de vida principalmente às mulheres que acreditam que não há mais tempo para qualquer outra coisa.

23. UMA VIAGEM EXTRAORDINÁRIA
Não há como errar com Jean Pierre Jeunet em seu primeiro filme em inglês desde Alien: A Ressurreição (Alien: Ressurection, 1997). Sua essência está toda na tela ao contar a história de uma criança prodígio que parte em uma peregrinação para receber um grande prêmio por sua incrível contribuição à ciência. A forma lúdica como Jeunet costuma incrementar suas histórias com o excesso de cores, personagens esquisitos e carismáticos, e sua incrível mistura do cinema clássico com o moderno, impressionam sempre e fazem de seus filmes um grande prazer de serem assistidos, como comer uma maravilhosa sobremesa depois de um requintado jantar. Jeunet sempre manteve o estilo fantástico francês em seus filmes, seguindo o legado de George Meliés em sempre fazer de suas histórias uma oportunidade para sonhar novamente. Lindo!

24. NEBRASKA
Ainda não assisti a este novo road movie de Alexander Payne, mas foi um daqueles que tomaram a temporada de premiações de surpresa, o que acontece todo ano com algum título. O filme concorreu a 6 Oscars (embora tenha levado nenhum), foi parte da seleção de Cannes e levou a Palma de Ouro de Melhor Ator. A crítica especializada é praticamente unânime na positiva responsividade que o filme teve, informado como o retorno de Payne a uma linguagem mais pessoal e natural, sem contar que a atuação de Bruce Dern é, como dito por muitos, singular e fantástica.

25. O HOBBIT: A DESOLAÇÃO DE SMAUG
Tudo bem que a opinião sobre isso é quase unânime, de que Peter Jackson tenta, a todo custo, fazer um novo O Senhor dos Anéis em cima de um conto praticamente infantil e curto. O primeiro filme agradou os fãs, e o segundo, embora muito longo (como sempre), agradou mais, principalmente por haver uma maior conexão entre os personagens e o espectador. Admirável por Jackson fazer tanto com tão muito-pouco, só mesmo um grande fã de Tolkien pra fazer o que ele fez.

26. FROZEN
Ainda não assisti a essa animação que tenta ser um resgate da Disney aos velhos tempos, mesmo que ainda presa no 3D, e não na forma clássica e bonita, esquecida e perdida no tempo, que muita gente sente falta e ela ainda não percebeu. Mas se o filme arrecadou mais de US$1 bilhão no mundo, sendo a 4ª animação que mais arrecadou e o 6º filme mais assistido na história, significa que agradou muita criança por aí, mesmo tendo música chata para os adultos (como é a maioria das queixas que li por aí).
Add to Flipboard Magazine.