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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

ESPECIAL: WEEDS

★★★★★★★
Nota:
Título: Weeds
Ano: 2007-2012
Gênero: Comédia, Drama
Classificação: 16 anos
Direção: Vários
Elenco principal: Mary Louise Parker, Hunter Parish, Alexander Gould, Kevin Nealon, Justin Kirk, Elizabeth Perkins
País: Estados Unidos
Duração: 25 min.

SOBRE O QUE É O SERIADO?
Sobre uma recém viúva que resolve investir no mercado ilegal de maconha no pequeno subúrbio onde mora para pagar as dívidas de casa e sustentar os dois filhos, travando uma batalha com toda a hipocrisia ao seu redor.

O QUE TENHO A DIZER...
Weeds é um seriado que serviu para muitas coisas, principalmente para quebrar determinados paradigmas na televisão, numa época que as pessoas parecem cada vez mais caminhar para a involução, além de ainda morrerem de medo e vergonha de falar de temas considerados "ultrajantes" e que fujam de tabus sociais. Por anos o seriado foi o grande assunto da mídia especializada e de premiações importantes. Todo mundo comentava, e essa grande atenção dada é compreensível. O humor de Weeds sempre foi o ponto alto e o responsável pela aceitação do público sem preconceitos, já que tudo com humor é melhor absorvido do que sem ele. Esse foi o grande trunfo de Jenji Kohan, a criadora da série, e até mesmo do canal Showtime, que depois do sucesso de crítica e público, elevou mais ainda o nível de suas produções, investindo em seriados mais críticos e realistas, em um patamar comparável às produções originais da HBO.

O seriado começou contando a história de Nancy Botwin (Mary Louise Parker), recém viúva e com dois filhos adolescentes que estava afogada em dívidas. Por acaso ela descobre que a pequena cidade onde mora esconde muito mais do que aparenta, existindo por baixo de toda uma falsa moral um comércio e consumo exacerbado de drogas ilícitas por todos os lados e por pessoas que ela nunca imaginava, variando entre pais entediados, mães estressadas, filhos rebeldes, políticos corruptos e falsos religiosos, ou seja, todos os patamares, mas tudo de forma muito discreta e disfarçada. Sem vergonha alguma ela se infiltra por todos eles e passa a negociar maconha, sempre da melhor qualidade, e conforme suas vendas aumentam ela descobre o que cada um dos moradores do pequeno subúrbio esconde embaixo dos panos, conquistando dessa forma diversos amigos e aliados, mas ao mesmo tempo muitas inimizades, já que ela atentava contra a moral e também pisava em território inimigo ao tirar a clientela de outros comerciantes e traficantes. Tudo isso ela conseguiu de maneira limpa e ética, apenas na simpatia, no humor sarcástico e no seu dom persuasivo, se safando de ameaças e chantagens usando a seu favor a hipocrisia das pessoas contra elas mesmas. Foi ganhando força e poder no decorrer das temporadas e de uma simples viúva mal falada e que era pouco ouvida nos desprezíveis eventos sociais da cidade, virou uma mulher poderosa e que tinha todos na mão, mas sempre agindo com integridade e fiel a sua ética pessoal. Ao mesmo tempo tinha que lidar com seu filho caçula problemático, seu filho mais velho adolescente, a vizinha invejosa, seu cunhado ninfomaníaco e sem onde morar, seu amigo que está sempre entorpecido e outras pessoas que acabavam procurando sua ajuda ou atropelando seu caminho, construindo uma rede de confiança e de interesses necessários para a sobrevivência de sua família e dos negócios.

Sem dúvida as características mais importantes do seriado nunca foram as drogas, nem mesmo o clã Botwin viver um novo inferno a cada dia, e muito menos os erros cometidos por cada um dos personagens a cada novo episódio, mas sim os problemas sociais que ele apontava, enfiando o dedo na ferida e torcendo, ao mesmo tempo que assoprava e fazia cócegas. Para compreender melhor o seriado, nada melhor do que conhecer uma cidade pequena e suburbana como a imaginária Agrestic/Majestic/Regrestic (a cidade mudou de nome três vezes por razões explicadas durante as temporadas), pois só assim para saber como é sobreviver em um lugar no qual algumas pessoas sejam rodeadas por uma grande maioria ignorante movida por uma aparência inexistente, e todos agindo iguais. A crítica começa logo na abertura do seriado, que foi a mesma durante as três primeiras temporadas, mostrando pessoas iguais, agindo iguais e de forma repetida, como se todos fossem produtos de uma mesma maquininha, tudo ao som da clássica canção "Little Boxes", sátira política de Malvina Reynolds, gravada originalmente em 1962 e que, cinco décadas depois, é mais atual do que nunca.

Essa posição determinista de que o ambiente é o grande fator condicionante nunca foi tão real, sendo obviamente revoltante para um pequeno número que se contrapõe a esta situação, querendo, de propósito e a todo tempo, fazer coisas apenas para provocar a ignorância alheia e brincar com a abstração de realidade sofrida pela maioria. Era isso que Nancy Botwin fazia, e foi isso que o seriado mostrou de maneira brilhante e inteligente, de forma que o espectador se sente conectado a tudo isso, seja se indentificando com a minoria reacionária, ou na hipocrisia da maioria. Portanto as primeiras 4 temporadas do seriado significaram muito mais do que um seriado que falava de drogas e sexo, mas uma forte crítica sobre a hipocrisia e ignorância suburbana.

Além de toda essa crítica social disfarçada em comédia absurda e por algumas vezes surreal, como uma viagem de THC, também havia a interpretação dos atores. Mary Louise Parker encarnou perfeitamente o papel de mãe moderna e reacionária, e é difícil imaginar qualquer outra atriz desempenhando o mesmo papel, tanto que ela foi indicada ao Emmy por quatro anos consecutivos e outras três ao Globo de Ouro (vencendo uma vez, em 2007). Elizabeth Perkins, no papel da vizinha invejosa Celia Hodes, foi uma das personagens mais memoráveis que o seriado teve por ser exatamente o retrato de todos os defeitos de uma sociedade ignorante, preconceituosa, racista, arrogante e psicótica, que sofria de uma depressão profunda, sempre mergulhada em um mau humor corrosivo que até os raros sorrisos eram duros igual uma pedra. As atitudes da personagem foram sendo justificadas ao longo das temporadas, e a compaixão por ela muitas vezes acaba sendo inevitável, por isso que ela se tornou a bruxa que todos adoram. Perkins também concorreu diversas vezes ao Emmy e ao Globo de Ouro, mas injustamente foi ignorada todas as vezes. A eterna rivalidade entre ambas e a relação de amor e ódio que foi desenvolvido durante as quatro primeiras temporadas podia ser vista como uma metáfora da guerra perpétua entre a tolerância e a ignorância.

Mas a partir da 4ª temporada as coisas começaram a tomar um rumo diferente no seriado. A criadora da série e também cabeça da equipe de roteiristas, tentando dar uma chacoalhada nas idéias e na falta de novos argumentos, resolveu tirar o clã Botwin do subúrbio para jogá-lo no mundo, mudando drasticamente o formato do show. Numa jornada que parecia infinita, os Botwin foram para todos os cantos possíveis, e de um seriado satírico e de humor negro sobre a vida suburbana, se transformou em uma comédia-pastelão-dramática-familiar onde todos deixaram de ter um papel importante para virarem apenas adornos de um roteiro pobre e sem rumo. Era notável que o destino dos personagens estava incerto, o público não aderiu muito bem as mudanças e o seriado começou a sofrer diversas críticas.

A criadora, juntamente com os roteiristas, pressionados pelos comentários e o desgosto dos fãs, tentaram por várias vezes resgatar a fórmula das primeiras temporadas, mudando as situações de forma brusca, tentando a todo custo criar ambientes similares ao suburbano em que viviam, como por exemplo, ao situá-los em Nova York, na sétima temporada.

Weeds ficou cansativo, com entrada e saída de personagens sem razões ou explicações, repetindo argumentos e tramas. Celia Hodes, que antes era uma personagem crucial no desenvolvimento dos episódios, foi perdendo espaço a cada nova temporada até se transformar em algo patético, vergonhoso e sem força, uma heresia para uma personagem que outrora fora tão forte. Sem saberem o que fazer ou que desenvolvimento dar a ela, Elizabeth Perkins se desligou do seriado em definitivo e na sétima temporada todos estranharam seu sumiço e sua falta foi sentida até o último episódio do seriado.

Nacy Botwin casou, teve filho, separou, fugiu, foi presa, foi solta sob condicional, foi ameaçada, brigou com os filhos, com o cunhado, transou a torto e a direita, conquistou seu espaço, perdeu seu espaço, perdeu a guarda do filho, ficou rica, comprou uma casa, ganhou a guarda do filho, levou um tiro na cabeça, entrou em coma, acordou desejando a paz mundial num dia e no dia seguinte voltou a ser como era antigamente, como se nada antes disso tivesse acontecido. Não havia mais linearidade. O nível de indecisão das tramas foi tão grande que a oitava e última temporada foi uma das mais absurdas e confusas, talvez a pior de todo o seriado, começando com um salto de 4 anos, além da entrada e saída de personagens e o cancelamento de histórias tão logo quanto começavam. E "cancelamento" é o termo mais apropriado, já que muitas delas acabavam sem mesmo uma razão melhor fundamentada.

As mudanças bruscas de direcionamento e roteiro, o retorno e a saída sem explicação de Jill (Jennifer Jason Leigh); o casamento sem sentido de Andy (Justin Kirk) com uma desconhecida; as atitudes cada vez mais absurdas e desnecessárias de Doug Wilson (Kevin Nealon); a rebeldia agora já sem sentido de Shane Botwin (Alexander Gould). Tudo isso são exemplos de uma encheção de linguiça feita para completar 13 episódios, sem nenhuma lógica ou sequência coerente.

Os dois últimos episódios foram apresentados juntos com a inédita duração de 50 minutos de última hora, talvez porque o canal não via a hora de acabar com o seriado tanto quanto os fãs não viam a hora de um ponto final naquilo que virou um circo de absurdos. Como se não bastasse o carnaval que se transformou, o último episódio teve outro salto de 10 anos no tempo, em um futuro no qual o iPhone é transparente, a maconha foi legalizada e Nacy Botwin se tornou uma empresária milhonária da droga, dona de 50 lojas por todo o país, das quais a Starbucks está interessada em comprar por uma quantia suficiente para "todos viverem em abudância para o resto da vida". A pobre surrealidade deste último episódio atingiu níveis ultrajantes, terminando em uma sequência de 2 minutos com todos os personagens em silêncio, fumando um cigarro de maconha na porta de casa. O simbolismo dessa cena foi bem menos do que aparenta, e significou apenas a falta do que ser dito e de que nada mais havia para ser dito depois de uma jornada que se tornou incoerente e com tão pouco a ser falado. Uma tragetória triste e um episódio final frustrante para um seriado que começou com temporadas brilhantes, mas ao longo dos anos se tornou insosso e cansativo (para não dizer patétitco). Mais uma prova de que alguns seriados não precisam ter essa longevidade toda.

CONCLUSÃO...
Vale e deve ser visto pelo menos por suas quatro primeiras temporadas, que são brilhantes e, mesmo tendo a maconha como um dos temas principais, não falam sobre apologia a drogas ou qualquer coisa parecida, mas foi uma fórmula certeira de lidar com as críticas suburbanas e a hipocrisia social em um humor negro que infelizmente foi perdendo seu tom ao longo dos anos e se transformando em um seriado sem sentido, com acontecimentos apenas para justificar a existência dele e entreter por entreter simplesmente.

domingo, 23 de setembro de 2012

DRAMA DE NOVELA...

★★★★
Título: People Like Us
Ano: 2012
Gênero: Drama
Classificação: 14 anos
Direção: Alex Kurtzman
Elenco: Chris Pine, Elizabeth Banks, Olivia Wilde, Michelle Pfeiffer
País: Estados Unidos
Duração: 114 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sam (Chris Pine) recebe a notícia de sua namorada, Hannah (Olivia Wilde), que seu pai ausente e irresponsável morreu. Mesmo relutante, ele vai para a casa de sua mãe, Lillian (Michelle Pfeiffer). Lá descobre, por intermédio de um testamenteiro, que ele tem uma irmã e um sobrinho, do qual nunca ouviu falar, e agora ele terá que lidar com esses dois lados da família e suas escolhas.

O QUE TENHO A DIZER...
Esse filme é a estréia do roteirista e produtor Alex Kurtzman na direção, que teve êxito ao produzir alguns episódios de seriados como Xena - A Princesa Guerreira (1995-2001), Alias (2001-2006) e Fringe (2008), além de dois filmes que foram de enorme sucesso comercial para seu currículo como o reboot de Jornada Nas Estrelas (Star Trek, 2009) e a comédia romântica A Proposta (The Proposal, 2009). O roteiro é assinado por ele em colaboração com mais dois autores, Roberto Orci e Jody Lambert. Roberto Orci parece ser colaborador de longa data, já que ambos possuem vários trabalhos em comum, enquanto o outro roteirista deve ter sido um tipo de estagiário, já que não possui algo muito relevante.

Esse drama, ainda inédito no país, atraiu minha curiosidade por ter um elenco bastante forte que é encabeçado por Chris Pine, ator atualmente em ascenção. O filme começa com Sam, um negociador corporativo egoísta, ambicioso e mentiroso, tendo problemas em sua empresa depois de uma das suas negociações violar leis federais de troca de produtos. Seu chefe o obriga a contornar a situação subornando os agentes responsáveis pela investigação com seu próprio dinheiro, ou ele será responsabilizado por todas as irregularidades. Ao mesmo tempo, Sam volta para casa e recebe a notícia da morte de seu pai. Relutante, acaba voando para Los Angeles para visitar sua mãe, Lillian (Michelle Pfeiffer). Por intermédio de um testamenteiro, descobre que seu pai deixou uma quantia de US$150 mil para um garoto chamado Josh, de 11 anos. Determinado a ficar com o dinheiro e resolver os seus atuais problemas, ele acaba descobrindo que Josh é, na verdade, seu sobrinho, filho de uma meia-irmã paterna, Frankie (Elizabeth Banks), da qual ele nunca ouviu falar. Sam se aproxima de Frankie, mas não consegue contar a verdade em momento algum.

O enredo do filme é do típico drama que norte-americano adora, envolvendo a difícil relação familiar e da dificuldade de aceitação dos erros dos pais pelos filhos depois que eles já estão adultos. Começa com a redundante e desnecessária informação de que é baseado em fatos reais, talvez para aumentar o vínculo entre o público e o drama. A verdade é que o que o protagonista vive com sua família, mesmo não sendo comum, é bastante recorrente não apenas no cinema como também na vida real, pois sabemos que acontece e existe por aí. Ao mesmo tempo isso também não significa que o filme seja carregado desse apelo pessoal que nos identifique a todo o tempo com a realidade, pois embora o título do filme tenha essa intenção, a história não fala de pessoas como nós, nem no sentido de conexão com os personagens e nem no sentido de que os protagonistas do filme sejam pessoas tão comuns quanto a gente, e os roteiristas não conseguem em momento algum criar esse vínculo.

Há um momento no filme que Frankie diz que você identifica uma mentira quando a pessoa carrega os fatos em detalhes desnecessários. O exagero do filme em "carregar" a história com paralelos inúteis é o que transforma tudo em um drama fictício e inverossímel, contradizendo a informação dada no começo. Os problemas profissionais que Sam está passando não tem nenhuma finalidade no filme além de tentar dar profundidade à sua personalidade egocêntrica e covarde que já são exploradas bastante nas suas relações familiares, deixando essa trama paralela suspensa e sem resolução, aparecendo aleatoriamente durante o filme para criar momentos de indecisão forçadas e que não levam a nada. Demora para os personagens e a história encontrar seu tom, e isso só vai acontecer depois de uma hora de filme.

Esse desenvolvimento confuso do roteiro é o que estraga uma história que poderia ter sido mais sincera e realista se tivesse mantido o foco apenas na relação familiar e nas dificuldades de administrar descobertas que levam a escolhas importantes e definitivas para todos. As tramas e complexidades dispersas não dão oportunidade a personagens e atores crescerem, como acontece com Michelle Pfeiffer, que faz o papel da mãe, se tornando uma personagem esquecida tanto quanto a personagem de Olivia Wilde.

A cena de reencontro entre Lillian e Sam mostra que ambos tem uma relação de um passado aparentemente conturbado e difícil, mas que nunca é desenvolvido ou explicado, envolvendo até um tapa no rosto de Sam, sem muita lógica ou nexo. A própria atriz insistiu que essa cena fosse deletada, alegando que que seria difícil para o espectador compreender o motivo e posteriormente ter compaixão por ela. E realmente fica difícil compreender essa sequência, porque a relação entre ambos segue como se nada disso tivesse acontecido, ignorando um passado turbulento que exista entre eles.

O foco fica sempre na relação entre Sam e Frankie, sua meia-irmã, uma alcólatra em reabilitação que também tem dificuldades com seu filho adolescente e rebelde, personagem que só tem a intenção de acentuar o apelo dramático e de como sua personagem é uma mãe esforçada e trabalhadora, que além de ter tido uma infância traumática e uma adolescencia problemática, também tem que lidar com o filho que não se adapta na escola por conta da ausência de uma figura paterna. A relação construída nesse núcleo é um tanto forçada, já que Sam invade a vida de ambos sem pedir licença e Frankie aceita de bom grado sem nem ao menos questionar em qualquer momento suas origens ou intenções, como se nenhuma experiência de vida a tivesse ensinado alguma coisa, se extendendo até a uma tensão sexual desnecessária que ocorre no ápice da relação dos dois, momento que, aí sim, ela resolve questioná-lo sobre tudo.

A inexperiência do diretor e o roteiro vago esquecem que a inteção do filme é mostrar como é difícil para todos lidar com as diferenças da instituição familiar e como as escolhas são importantes para que esses laços sejam mantidos independente dos graus de proximidade e de diferenças, além da posição que devemos tomar para a manutenção desses vínculos. Por conta disso o filme nunca atinge esse vínculo pessoal com o espectador, que vai absorver muito pouco ou achar pouca coisa relevante para ser interpretada como uma grande moral ou lição a ser aprendida.

CONCLUSÃO...
Sem dúvida é um filme sofrível de ser assistido por conta do péssimo desenvolvimento e de uma direção perdida. O pouco êxito se dá por conta da experiência dos atores, que nem precisaram ser dirigidos pelo visto, e a grande intenção que tiveram de fazer tudo funcionar como deve. Mas o produto final não agrada, virando um filme com uma traminha aguada de novela.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

ESPECIAL: DAMAGES

★★★★★★★
Título: Damages
Ano: 2007-2012
Gênero: Suspense, Drama, Crime
Classificação: 16 anos
Direção: Vários
Elenco principal: Glenn Close, Rose Byrne
País: Estados Unidos
Duração: 60 min.

SOBRE O QUE É O SERIADO?
Sobre uma recém-formada em direito contratada para trabalhar junto com uma das mais poderosas e influentes advogadas de Nova York, que vê na jovem uma oportunidade de transformá-la em sua pupila e ter a possibilidade de deixar o seu legado para alguém ambicioso o suficiente para isso. Mergulhando em jogos de intrigas pelo poder e ambição, tanto pessoais quanto de seus clientes, ambas farão de tudo para alcançar o que querem, resultando em perdas e danos irreparáveis e que nenhuma delas ousou imaginar.

O QUE TENHO A DIZER...
Nessas cinco temporadas de Damages foi possível observar de tudo, desde como um seriado consegue um sucesso praticamente imediato, sua força de persuasão e atuações incríveis, até seu declínio e a facilidade de um show de TV perder a conexão com a sua audiência tão rapidamente como conquistou. Tudo isso foram fatores importantes para perceber que, sim, ainda é complicado manter um seriado na televisão, e ao mesmo tempo que o público busca algo diferente, ele necessita de informações fáceis e clichés que os conectem a algo, o que os criadores de Damages não conseguiram muito bem ao longo dos anos.

Mas sem dúvida que Damages foi um dos melhores seriados a ter estreiado em 2007, não pela sua história que é bastante fictícia - mesmo cada uma das temporadas terem sido baseadas em importantes casos jurídicos nos Estados Unidos - mas pela forma como elas foram contadas em paralelo à trama principal, e principalmente pelas atuações e a química tensa e sincronizada das protagonistas.

Glenn Close dispensa qualquer comentário. Sempre foi e será magnífica em qualquer papel. Neste show em particular ela é fabulosamente assustadora, com uma personagem sem escrúpulos e que sofre de um narcisismo compulsivo e psicótico. Concordo que seja um desperdício de talento ver uma atriz da sua categoria trabalhando em um seriado de televisão, mas ao mesmo tempo é um imenso privilégio ter essa possibilidade.

Rose Byrne também foi uma grande surpresa e o seriado foi responsável pela sua grande estréia ao tirá-la do patamar de atriz desconhecida e colocá-la em um status de uma das novas atrizes mais requisitadas atualmente tanto na televisão quando no cinema. Australiana, já havia estrelado alguns filmes pequenos e que chamaram a atenção da mídia e da crítica, como no filme Extermínio 2 (28 Weeks Later, 2007), continuação do filme de terror dirigido por Danny Boyle em 2002, de grande sucesso e que conquistou uma legião de fãs pelo mundo. Rose atualmente atravessa por uma fase de ascenção em Hollywood depois do enorme sucesso de Missão Madrinha de Casamento (Bridesmaids, 2011) e pela grande aceitação que teve como Dra. Moira MacTaggert em X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, 2011).

Durante o quinto episódio da primeira temporada, Patty Hewes (Gleen Close) diz a Ellen Parsons (Rose Byrne) para não confiar em ninguém. O seriado inteiro se desenvolve em torno deste aviso porque tudo é um segredo, ninguém é de confiança e nada é o que parece ser. Todos os elementos de um bom enredo de crime e suspense estão lá. Alguns clichés existem, mas são importantes para o desenvolvimento e o interesse de quem assiste.

A primeira temporada, baseada no escândalo da Companhia Enron, que levou centenas de pessoas à falência nos EUA, foi de enorme sucesso de crítica e público, com todos os melhores elementos que seriados de televisão como este deveriam ter. Seu episódio final foi surpreendente o bastante para que todos esperassem pela segunda temporada com grande entusiasmo. Os criadores da série não acreditavam que teria a repercurssão que teve e imediatamente o canal FX aprovou a produção da segunda e terceira temporada.

Com quase um ano e meio de atraso, a segunda temporada estreiou, sendo baseada na crise de energia na Califórnia. Os mesmos elementos de flashback e flashforward que caracterizaram o seriado voltaram à tona, apresentando um enredo novo, indefinido e que parecia surpreendente tanto quanto fora a temporada anterior. Mas conforme os episódios foram passando as coisas se mostraram muito mais confusas do que um interessante quebra-cabeças. O espectador deixou de ser uma parte ativa no desenvolvimento, e sua função de descobrir junto com os personagens os mistérios e segredos, havia sumido. A audiência ficou passiva, desafiada o tempo todo com mudanças bruscas na trama, pistas falsas inconclusivas e absurdas que não serviam para nada além de enganar sem motivo. Houve a participação de atores de forte calibre como William Hurt e Marcia Gay Harden, esta última, em um papel esquecível e que não aproveitou de seus potenciais em nenhum momento, tanto para acréscimo do seriado, quanto para o enredo, com uma personagem que tinha tudo para oferecer muito mais do que havia sido proposto. O fim foi uma resolução banal e sem continuidade ou qualquer fundamento, perdendo os elementos e características que fizeram a primeira temporada algo especial e um tanto inovadora no gênero. A desconexão e o desinteresse do público começou aí. Aos poucos as pessoas deixaram de assistir o seriado por acharem a temporada confusa e inferior.

A terceira temporada, baseado nos esquemas fraudulentos do empresário Bernie Madoff, seguiu a mesma tragetória. Sendo talvez a pior temporada, mesmo com um elenco novamente estelar que incluia a veterana e desperdiçada Lily Tomlin, que foi escalada para o papel por ter expressado a um dos criadores e roteiristas que era uma grande fã do seriado. Ao longo da temporada parecia que os roteiristas não sabiam mais o que estavam fazendo ou que direcionamento dar aos personagens, chegando até mesmo a matar um dos principais, Tom Shayes (Tate Donovan), um personagem que tinha grandes oportunidades para crescer e desempenhar outros papéis nas tramas, mas que nunca foi desenvolvido.

A audiência despencou porque o público de Damages era diferenciado, de pessoas que estão acostumadas e procuram produtos mais elaborados. Os fãs não gostaram dos rumos inferiores nos argumentos e histórias muito mal desenvolvidas. O preço dos episódios ficou muito caro (apenas o salário de Glenn Close era de aproximadamente US$200 mil/episódio, considerado alto para os padrões de canais fechados). O canal FX ficou em dúvida entre cancelar ou não o seriado porque, embora a audiência fosse ruim, o seriado era uma boa publicidade para o canal devido a suas participações em premiações importantes como Emmy e Globo de Ouro. Glenn Close chegou a ser premiada com um Globo de Ouro em 2008 e dois Emmy (um em 2008 e o outro em 2009). Rose Byrne também foi indicada algumas vezes tanto para o Emmy quanto para o Globo de Ouro. Por fim, a DirecTV demonstrou interesse em salvar o show de um fim repentino, pegando carona no poder publicitário que ele tinha. A companhia passou a produzí-lo, alegando que a audiência fiel atingia o número esperado para o canal e que o seriado ainda tinha muito a oferecer. O contrato estipulado era para a produção de mais duas temporadas de apenas 10 episódios cada, ao invés de 13, o que acabou compactando muito mais as histórias e amenizando o número de tramas paralelas dispensáveis.

A quarta temporada estreiou no canal Audience Network, sendo levemente baseado na companhia militar privada norte-americana, a Blackwater. As mudanças foram nítidas e o seriado voltou ao seu clima de mistérios e crimes envolvendo personagens de alto escalão político em um roteiro que novamente resgatou as características da primeira temporada. Diferente das duas temporadas anteriores, não houve reviravoltas enganosas ou absurdas que pudessem chamar o espectador de tolo, não havia pegadinhas, havia um enredo desconstruído e que se encaixava conforme os episódios eram apresentados, exatamente como foi na primeira temporada. A impressão que se tem é que fizeram questão de esquecer que a segunda e terceira temporada existiram, pois elas não são citadas em momento algum. Mesmo assim a audiência não subiu, e a quinta temporada foi decisiva para que o seriado colocasse um fim à épica rivalidade entre Patty Hewes e Ellen Parsons.

A temporada 2012, dessa vez baseada nos escândalos que envolveram Julian Assange, seu Wikileaks e algumas acusações de abuso sexual, fechou de forma satisfatória o ciclo das duas protagonistas, tendo íntima relação com os acontecimentos da primeira temporada. As temporadas anteriores são citadas por vários momento, seja em referências diretas ou não, mas nada muito importante ou que precise realmente ser revisto porque, além de serem desinteressantes, não acrescentam nada à conclusão da trama. Sem dúvida foi uma temporada para satisfazer o público fiel, finalmente respondendo questões que pairavam no ar há muito tempo. Os interesses de Patty e Ellen ficaram muito mais evidentes, bem como a personalidade de cada uma chegou ao limite para ambas. Por um lado temos Patty Hewes que durante as temporadas mostrou ter cada vez mais poder e influência ao ponto de ser indestrutível. Por outro temos Ellen Parsons que de uma mera protegida se transformou em uma mulher cada vez mais confiante e poderosa, que entrou no jogo com unhas e dentes para ganhar, custe o que custar.

O seriado foi concluído sem um grande conflito entre as protagonistas, tudo muito pacífico e limpo, como Ellen mesmo afirma no último episódio. Isso pode ser um pouco frustrante para quem esperava uma atitude mais impensada e impulsiva, mas por outro ponto de vista também é interessante e de alto nível por parte do roteiro que não ignorou a evolução de Ellen Parsons durante as temporadas, personagem que deixou sua impulsividade de lado ao longo do seriado, se tornou cada vez mais contida, enigmática e calculista, até sua postura e imagem ficaram mais confiantes ao longo dos anos. Enquanto isso Patty Hewes apenas a observava sem o menor esforço, vendo sua discípula amadurecer a cada novo passo, como uma criança, se gabando e prevendo cada estratégia, porque ela mesma já passou pelas mesmas experiências de Ellen.

A temporada conclusiva conseguiu ser surpreendente por diversas vezes, obrigando-nos a manter nossa atenção até o último episódio tal qual aconteceu na primeira temporada, balanceando as pistas e seqüências aleatórias entre conclusões simples e completamente diferentes do que a audiência poderia suspeitar, com outras mais dramáticas e inesperadas. O cliché aparece o tempo todo, mas como dito anteriormente, importantes para o desenvolvimento e a conclusão da busca e da espera de cada uma, das perdas e dos danos, e o preço que cada uma delas teve de pagar para conquistar o que queria. O diálogo final entre ambas é breve, discreto, e ao mesmo tempo um deja vu sombrio e determinista que termina em um silêncio seco e engasgado. Não foi um final aparentemente feliz, mas tenso e satisfatório.

CONCLUSÃO...
Damages pode ter tido muitas falhas, principalmente na segunda e terceira temporada, que são esquecíveis e dispensáveis, mas o seriado todo ofereceu uma qualidade cinematográfica de atuação e desenvolvimento de trama raramente vista na televisão, tal qual a química entre duas grandiosas atrizes: uma veterana que já atingiu a perfeição de sua técnica, e uma novata que conseguiu se manter à altura. Um paradoxo até que bastante interessante entre suas personagens.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

PSEUDO-FILOSOFIA...

★★★★★★
Título: Prometheus
Ano: 2012
Gênero: Ficção Científica, Drama, Ação
Classificação: 14 anos
Direção: Ridley Scott
Elenco: Noomi Rapace, Michael Fassbender, Charlize Theron, Logan Marshall-Green, Idris Elba, Guy Pearce
País: Estados Unidos, Reino Unido
Duração: 124 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
A tripulação da nave Prometheus finalmente chega a um planeta desconhecido depois de 2 anos e meio de viagem para uma exploração intencionada a descobrir as origens da raça humana.

O QUE TENHO A DIZER...
Não é novidade para quem gosta de cinema que Ridley Scott não é mais o mesmo de antigamente. Por ser dono de três importantes títulos como Alien (1979), Blade Runner (1982) e Thelma & Louise (1991), a impressão que tenho é que o mito ficou maior do que a verdade, e esse tão falado "visionarismo" do diretor nada mais foi do que uma mera "ousadia" no tempo certo. Alien, o cult classic favorito dos amantes da ficção científica, foi um sucesso. Teve um custo de US$11 milhões na época, e arrecadou mais de US$185 milhões no mundo, sem falar de seus relançamentos em DVD e versões extendidas, remasterizadas e em alta definição no cinema ao longo dos anos e que contribuiram para o aumento desses números.

Agora, uma curiosidade é que, ao contrário do que parece, Blade Runner não foi o sucesso que a mídia reporta. Foi um filme praticamente fadado ao fracasso, que ficou conhecido apenas no circuito alternativo e demorou anos para ser assimilado pelo público mais popular, tanto que o filme original sofreu várias mudanças até chegar no formato que conhecemos. Com um custo de aproximadamente US$28 milhões, arrecadou suados US$32 milhões só nos EUA. Ou seja, o sucesso de Blade Runner é mais boato do que fato. Seu sucesso comercial foi acontecer apenas ao longo dos anos e da insistência com os constantes relançamentos em home vídeo e diferentes versões no cinema. Óbvio que isso não diminui a qualidade do filme e do seu poder de referência, mas quebra bastante o paradigma de que Ridley Scott é dono de dezenas de sucessos. Alguns poucos sucessos subsequentes, incluindo o de Thelma & Louise, só foram conquistados em cima desse falso marketing.

A última grande investida do diretor foi em Gladiador (Gladiator, 2000), novamente muito mais uma aposta de sorte do que de visionarismo, e que trouxe de volta um estilo que não deu muito certo nas mãos de outros diretores, incluindo dele mesmo, quando tentou repetir esse sucesso com Cruzada (Kingdom Of Heaven, 2005), um grande fracasso comercial.

A história de um quinto filme da série Alien surgiu como um boato ainda no começo de 2000, quando Ridley Scott e James Cameron, juntamente com Sigourney Weaver, demonstraram interesse em voltar para mais um filme da franquia. Mas enquanto o roteiro estava sendo desenvolvido, o estúdio deu sinal verde para o lançamento do terrível crossover Alien Vs. Predador (2004). Alegando que este lançamento teria repercurssão negativa para a série, James Cameron desistiu do projeto e ninguém mais voltou a falar sobre o assunto.

Em 2009, a nova onda dos reboots por conta do sucesso da série Batman, de Christopher Nolan, trouxe novas possibilidades e a Fox resolveu fazer o mesmo com a série Alien e uma pré-sequencia havia sido confirmada desde que Ridley Scott retornasse para a direção. A pré-produção sofreu diversas mudanças criativas e de desenvolvimento e no fim das contas Ridley Scott afirmou que, embora a idéia do filme tenha sido inspirada na série Alien e que a história se passe no mesmo universo, o processo criativo desenvolveu uma nova idéia, em um filme completamente diferente que se basearia na mitologia e na criação do universo.

De fato, a história até puxa algumas referências que explicam - dentre várias coisas que explicam ou deixam sem explicar - a origem da espécie humana e alienígena, mas o filme parte de um princípio completamente diferente da série Alien, e que realmente o classifica como uma história única, e não uma pré-continuação.

Prometeus é o nome de um titã da Mitologia Grega que roubou o fogo dos deuses para que os homens pudessem usar para seu progresso e civilização. Por conta disso ele foi condenado ao sofrimento, sendo amarrado em uma rocha onde todas as manhãs uma águia comeria o seu fígado, que regeneraria para ser novamente devorado no dia seguinte, e assim por toda a eternidade.

A história e a moral desenvolvida no filme segue particularmente a linha mais romântica de Prometeus, a do herói titã que se transformou em símbolo da bravura humana e do conhecimento, mas que também significou o risco de ultrapassar os limites até suas últimas consequências, já que seus esforços em incentivar o progresso e a melhoria dos homens também resultou na sua própria tragédia. Em resumo significaria o homem brincar de deus, e ao criar algo que possa favorecê-lo, também cria algo que volta-se contra ele mesmo.

Ao contrário do que parece ser, Prometeus não é um filme de horror científico tal qual é a série Alien. É muito mais um drama científico do que qualquer outra coisa. Lento e com basicamente apenas três grandes sequências de ação durante suas mais de duas horas, pode fazer muitas pessoas ficarem um pouco desapontadas ou frustradas.

A verdade é que Ridley Scott, juntamente com os roteiristas Jon Spaihts e Damon Lindelof, tentaram fazer desse filme uma obra pós-moderna de ficção científica tal qual Alien ou Blade Runner significaram em seu tempo. O uso da mitologia grega ou suméria (e até de outras culturas similares na sua construção) para justificar a busca pela origem humana, é bastante evidente, o que não caracterizaria o material como algo original, embora ele também apresente alguns poucos elementos próprios. A história também tenta afirmar que a religião que é baseada na ciência, e não o contrário, como muita gente acredita. Mas a aproximação dessas duas linhas de pensamento tão distintas e de como isso é feito chega a ser muitas vezes até subliminar, talvez para evitar polêmicas ou conflitos desnecessários. Tanto é assim que a personagem principal, a cientista Elizabeth Shaw (Noomi Rapace), se mostra uma cristã devota principalmente em uma das sequencias finais, quando ela pede perdão por ter ido tão longe, convergindo para o princípio religioso do abuso do poder dado aos homens e as duras consequências colhidas por seus atos de grandeza.

Obviamente que a grande característica do filme, e que o encaixa como um material dentro do universo proposto (ou "DNA Alien", como disse Ridley Scott), é o visual obscuro, metalizado e biomecânico resgatado do primeiro Alien, legado do diretor de arte Roger Christian e do artista plástico surrealista H. R. Giger. Os cenários grandiosos e o uso do 3D para ampliar a sensação de profundidade é o que mais tem chamado a atenção, mais do que a própria história. Isso acontece porque ela em si se mostra um tanto redundante, andando em círculos e esclarecendo quase nada. O espectador não consegue respostas para muitas das situações que são jogadas na sua frente sem qualquer relevância. Não dá pra entender muito bem qual a função de algumas determinadas coisas, como a da substância negra, que ao mesmo tempo que destrói também desenvolve (ou muta). Além disso, há um número desnecessário de atores no elenco. Muitos deles estão lá apenas para desvirtuarem propósitos ou darem falsas pistas gratuitamente, novamente sem relevância alguma para o desenvolvimento da história.

Achei essa inutilidade de personagens talvez o mais revoltante de todo o filme, pois não há como o espectador evitar de prestar atenção nesses detalhes e no fim se sentirem enganados para nada. São elementos que foram utilizados até a exaustão na série Alien e demais filmes de ação espacial, mas que hoje em dia se transformaram em clichés previsíveis e que não funcionam, gerando mais revolta do que expectativa. Não dá para entender, por exemplo, o motivo de Guy Pearce atuar como o velho Peter Weyland e aquela tenebrosa maquiagem visivelmente falsa, ou qual é exatamente a função de Charlize Theron como Meredith Vickers além de uma revelação tipicamente Guerra-Nas-Estrelas-de-ser.

A verdade é que muita gente não vai conseguir engolir muito bem essa pseudo-filosofia existencialista que o filme tenta propor. É um filme confuso, pois mesmo sua moral sendo bastante interessante e baseada em alguns fundamentos religiosos e míticos fortes, a ficção e o exagero de elementos desnecessários para forçar um clima de suspense e medo acabam não tendo a eficiência que deveriam justamente pelo excesso de intenção. Ridley Scott definitivamente tem se mostrado um diretor comum, que carrega em si apenas o peso do nome e da importância de alguns poucos títulos na história do cinema.

CONCLUSÃO...
Prometheus poderia ter sido um grande retorno e um filme tão grandioso quanto seus cenários, mas resultou num produto banal, inconclusivo, com um elenco grandioso e que muitos deles estão lá apenas para atrair público, não acrescentando qualquer coisa que seja, tanto para aqueles que esperavam algo original, quanto àqueles que assistiram como uma pré-continuação da série Alien. Uma continuação já foi anunciada, e se for seguir a tradição da série Alien, em que Aliens (continuação de 1986, dirigido por James Cameron) é considerado melhor que o original de Ridley Scott, então talvez isso não soe tão mal assim.

O AMOR E OS PRÉ-CONCEITOS...

★★★★★★★
Título: Flipped
Ano: 2010
Gênero: Comédia, Romance
Classificação: Livre
Direção: Rob Reiner
Elenco: Madeline Carroll, Callan McAuliffe, Rebecca DeMornay, Anthony Edwards, John Mahoney, Penelope Ann Miller, Aidan Quinn
País: Estados Unidos
Duração: 90 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Uma garota é perdidamente apaixonada por seu vizinho desde o primeiro dia em que o viu, e seu vizinho foge desesperadamente dela todas as vezes que ela aparece, até ele descobrir que ela não é exatamente tudo aquilo que ele pensava.

O QUE TENHO A DIZER...
Dirigido, escrito e produzido por Rob Reiner, famoso por títulos como Conta Comigo (Stand By Me, 1986), Harry & Sally (When Harry Meets Sally, 1989), Louca Obsessão (Misery, 1990), Questão de Honra (A Few Good Man, 1992), Meu Querido Presidente (The American President, 1995) e A História de Nós Dois (The Story Of Us, 1999). Os filmes de Reiner perderam bastante a força durante os anos, e Flipped se torna até uma grande surpresa, principalmente por vir logo em seguida do infame e exagerado Antes de Partir (The Bucket List, 2007).

A história gira em torno de dois vizinhos. Bryce (Callan McAuliffe), um garoto de 19 anos que conta como conheceu Juli (Madeline Carroll), sua vizinha, quando ainda tinham 7 anos. A narrativa começa pelo ponto de vista de como ele se sentia incomodado com as perseguições obsessivas dessa menina que em nenhum momento esconde ser apaixonada por ele. O problema é que a história também é contada pelo ponto de vista de Juli, que não o perseguia e muito menos era obsessiva, ela apenas era a vizinha apaixonada e que fazia tudo pensando em agradar.

Fala muito sobre a descoberta do primeiro amor e os sentimentos mistos que surgem com isso, mas não chega a ser tão apelativo e exagerado no açúcar como o clássico Meu Primeiro Amor (My Girl, 1991). Mas a verdade é que tudo isso nada mais é do que um pano de fundo para algo muito mais sério e que ignoramos bastante: os diferentes pontos de vista.

O roteiro nos faz calçar os sapatos de cada personagem para que possamos compreender melhor o pensamento e o comportamento de cada. Assim, pelo ponto de vista de Bryce, podemos ver em Juli uma menina chata e maluca, e pelo ponto de vista de Juli podemos ver Bryce como um menino mentiroso e covarde, mas será através da narrativa individual de cada que realmente entenderemos e saberemos como cada um é. A história não gira em torno do amor dos dois, mas do pré-julgamento e a constante mania do ser humano de nunca ir atrás dos fatos de fato, mas de sempre achar que a melhor forma de conhecer alguém é sentar em uma poltrona e criar os pré-conceitos em cima do que se vê e do que se fala, e nunca daquilo que realmente se passa, além de também mostrar a grande vergonha que sentimos quando tudo isso é percebido.

CONCLUSÃO...
Filme fácil e até bastante didático pelas narrativas serem divididas com exatidão e de forma bastante visível, mas também é extremamente sutil na hora de tratar de assuntos mais sérios por conta da falta de malícia dos personagens, tanto que muita gente pode acabar ignorando muita coisa e assistindo simplesmente como uma comédia romântica simples e comum sobre dois adolescentes. Realista, bem feito e com uma grande moral.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

SEMPRE DÓI COMO A PRIMEIRA VEZ...

★★★★★★★★
Título: Namorados Para Sempre (Blue Valentine)
Ano: 2010
Gênero: Drama, Romance
Classificação: 16 anos
Direção: Derek Ciafrance
Elenco: Michelle Williams, Ryan Gosling
País: Estados Unidos
Duração: 112 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre um casal que tenta sobreviver e manter um relacionamento falido, fracassado por anos de falta de compreensão e entendimento.

O QUE TENHO A DIZER...
Já vimos a traição e suas consequências em Fim de Caso (The Enf Of The Affair, 1999) e no desesperador Infidelidade (Unfaithful, 2002); o nascimento da paixão e do amor como em Antes do Amanhecer (Befor Sunrise, 1995) e Antes do Pôr do Sol (Before Sunset, 2004); a aceitação das diferenças em 2 Dias Em Paris (2 Days In Paris, 2007); o amor e o peso da rejeição em Amantes (Two Lovers, 2008); ou até mesmo a angustiante tentativa de reconstrurir uma vida após o fim de uma relação no mais recente Lola Versus (2012). O amor, a traição, o desejo e a separação. Desde sua forma mais pura até a mais trágica ou banal possível, pelo ponto de vista cômico ou dramático. O romance já foi visto e revisto de todas as formas possíveis no cinema em uma lista indefinível, e o sofrimento nunca é novidade, mas mesmo assim dói como se fosse a primeira vez.

Nesse filme dirigido e escrito por Derek Ciafrance, a história não poderia ser diferente, e mesmo moderna, não foge daquilo tudo que já conhecemos, até mesmo porque é baseado em experiências pessoais do próprio diretor, que trabalhou no filme durante 12 anos, desde o primeiro roteiro escrito até a pós-produção e distribuição.

Namorados Para Sempre foi lançado no Brasil no final de semana do Dia Dos Namorados de 2011. Digamos que foi uma tática bastante enganosa e traiçoeira da distribuidora na tentativa de vender o filme no país, sendo divulgado como um romance típico para essa data. Com certeza fez muitos casais novos sairem engolindo seco do cinema, ou casais em situações parecidas chegarem a um fim de fato, pois está longe de ser um romance leve e seu título em português tem absolutamente nada a ver nem com a proposta e muito menos com a resolução da tragetória dos personagens Dean (Ryan Gosling) e Cindy (Michelle Williams). Com o custo de apenas US$1 milhão recebido como prêmio por seu roteiro ter ganho um concurso em 2006, acabou arrecadando mais de US$12 milhões no mundo. Chamou modestamente a atenção da mídia, e conseguiu até uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz para Michelle Williams.

Com certeza é uma grande história de amor, mas a parte romântica, bonita e muitas vezes utópica se mostra apenas como uma vaga lembrança nas memórias de um casal que, no presente, vive um drama cujos níveis de tolerância atingiram o ápice da falta de comunicação e agora caminham para a inevitável dissolução. Freud dizia que os filhos tendem a reproduzir os erros dos pais e que há uma perpetuação de ações e conseqüencias por conta disso de maneira inconsciente. Isso é notável na história quando Cindy, em uma conversa com sua avó, confessa seus desejos de que ela não seja como seus próprios pais, que vivem um casamento sem respeito e com um amor que não existe mais. Logo seguida vemos o presente dos personagens princiais, frio e despido de qualquer sentimento por parte de Cindy.

A distinção da instituição familiar entre o tempos antigo e contemporâneo fica explícito no filme neste paradoxo. Enquanto seus pais viveram juntos na tristeza e na felicidade, na doença e na saúde, na riqueza ou na pobreza até que a morte os separassem, Dean e Cindy viveram juntos por apenas 5 anos, tempo suficiente para todo o amor despertado, o companheirismo e a felicidade do início secarem e desaparecerem pelo acúmulo de problemas e da constante falta de soluções. Segundo o filme, essa bola de neve é o comodismo e a consideração diária que se transformam naturalmente em hábitos do cotidiano, a falta de paciência, de honestidade e compreensão, como se fossemos obrigados a conhecer um ao outro em sua plenitude para satisfazer desejos e vontades sem mais a necessidade do respeito, apenas do convívio e das obrigações, interrompendo o ciclo do aprendizado e do conhecimento mútuo, tornado-se algo automático e insensível, uma tortura diária que poderia ter sido evitada com pequenas atitudes, em algum momento, em alguma época.

A instituição familiar hoje em dia é considerada falida justamente pela exposição desses defeitos perpetuados e que hoje se tornaram intoleráveis e se transformaram em gritos de liberdade para muitos. Mas se essa quebra de paradigmas também será responsável pela transformação dos padrões e da reincidência dos erros dos pais pelos filhos, isso já é uma dúvida deixada pela história quando Cindy diz ter tomado esta decisão pensando em sua filha, de que ela prefere o fim ao invés de optar por vê-la crescer em um ambiente hostil.

O filme consegue ter semelhanças com as comédias românticas de Richard Linklater e Julie Delpy por seguir essa tendência realista e questionadora em diálogos e situações improvisadas, mas por um ponto de vista mais dramático e fatalista. Ryan Gosling e Michelle Williams atuam de maneira convincente como exemplos reais graças não apenas à competência dramática, mas também pelo laboratório desenvolvido pelos dois e pela direção de Derek Ciafrance.

Durante o período de filmagem, ambos alugaram uma casa na qual conviveram e viveram juntos por um mês, mantendo e se alimentando com a mesma renda que os personagens viveriam na história, agindo como se o casal fictício fosse real. Como não existia uma relação de fato entre eles, as situações de conflito naturalmente surgiam com facilidade. Ciafrance dava orientações contraditórias a cada um dos atores sem que eles soubessem, na intenção de catalisar esses conflitos. Para Williams, orientou que ela sempre tentasse manter distância e se livrar de Ryan Gosling, seja deixando o cômodo onde estivessem ou quebrando argumentos, como a fugir das situações. Para Ryan Gosling o diretor instruiu o contrário, para que ele sempre argumentasse a favor de ambos e a mantesse perto a todo custo. O diretor também chegou a dizer que houve uma situação em que ele insistiu para de Gosling entrasse no quarto onde Williams estava e insistisse que ambos fizessem sexo. Williams recusou e o expulsou do quarto, em uma atitude repreensiva e impassível tal qual sua personagem. O resultado não podia ser melhor, e essa relação difícil e desastrosa acaba soando bastante familiar com casos reais que constantemente presenciamos, ou até mesmo vivemos, sendo um choque com a realidade, nos levando a refletir sobre aquilo que almejamos, o que é a cumplicidade e o que é que acontece dentro de nós que não conseguimos impedir os mesmos erros e evitar a catarse.

CONCLUSÃO...
Ao contrário do que pode parecer, não é uma comédia romântica e muito menos um filme para ser visto por casais que não conseguiriam manter discussões saudáveis sobre os temas abordados. Pelo contrário, é um filme denso sobre as realidades e divergências amorosas que poderiam ser reorganizadas e tratadas, mas por razões indefinidas não conseguimos.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

LOLA CONTRA O MUNDO...

★★★★★★★
Título: Lola Versus
Ano: 2012
Gênero: Comédia, Romance
Classificação: 14 anos
Direção: Daryl Wein
Elenco: Greta Gerwig, Zoe Lister Jones, Hamish Linklater, Bill Pulman, Debra Winger
País: Estados Unidos
Duração: 87 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Quantas vezes, ao terminar uma relação, achamos que será o fim do mundo? Pois parece que para Lola está sendo a primeira vez. Ela estava noiva do seu primeiro namorado, aquele que ela ainda conheceu no ensino médio. E agora, com 29 anos e três semanas antes do casamento, ele resolve desistir de tudo. É o motivo para o mundo estar contra ela.

O QUE TENHO A DIZER...
Lola (Greta Gerwig) passará por maus bocados entre momentos de euforia e outros de angústia durante todo o filme, sintomas típicos da distimia sofrida pelo fim de uma relação. Seus amigos, Alice (Zoe Lister Jones, que também assina o roteiro) e Henry (Hammish Linklater), farão de tudo para tentar apoiá-la e mostrar a situação por outras perspectivas, mas nessas horas nenhuma ajuda parece suficiente, e será passando por tudo isso que ela, enfim, encontrará sua redenção em algum momento.

Depois da sutileza de 500 Dias Com Ela (500 Days Of Summer, 2009), o público redescobriu o que é uma boa comédia romântica. Lola Versus não chega a ter um apelo tão caloroso ou um personagem que desperte tanta compaixão quanto no filme de Marc Webb, características que fizeram do filme um sucesso de crítica e público, mas segue o mesmo estilo profundo e humano do sofrimento na sua forma mais pura, e os erros e defeitos naturais que acompanham um grande amor e a superação da sua decepção. Todos nós também já tivemos os dias de Lola algum dia, e já ficamos contra tudo tanto quanto ela, e essa comédia romântica não podia ser mais sincera ao mostrar simploriamente esses sentimentos mistos que temos quando somos pegos de surpresa nessas situações. É fácil nos simpatizarmos com a personagem e sua inquietação, angústia, confusão e aquela dor que não se sente, mas sabemos que está lá, assim também como sabemos que ela irá se recuperar e tomar as melhores decisões.

É uma comédia romântica incomum e bastante fora do circuito, e por muitas vezes pode parecer desinspirada ou fora de ritmo, talvez por isso tem sido mau interpretada pelo público. A história é lenta e presenciamos o período de um ano na vida da personagem e o seu processo de recuperação, indas e vindas, recaídas e mágoas afogadas em álcool e sexo sem sentido na tentativa das dores serem esquecidas e a vida seguir normalmente. São situações bastante familiares para muitos porque são os clichés do cotidiano, e só quem já passou por isso para compreender o que se passa com Lola.

Ao contrário do que pode parecer, é um filme inspirador por várias vezes, com uma trilha sonora motivante e diálogos irreverentes. Os personagens são carismáticos e por vezes dão o tom certo da comédia sem parecerem forçados e, mesmo sem intenções, consegue ter sequências engraçadas. Não é um filme que fará a cabeça de muita gente, mas com certeza é uma reprodução bem feita da nossa tolice e perda de tempo, e de que a culpa de todas nossas condições é de ninguém além de nós mesmos.

CONCLUSÃO...
Inspirador e melhor apreciado por aqueles que já ficaram contra o mundo, justamente por saber exatamente como é que Lola está se sentindo no momento.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

TERROR SEM PRETENSÕES...

★★★★
Título: O Túnel (The Tunnel)
Ano: 2011
Gênero: Terror
Classificação: 14 anos
Direção: Carlos Ledesma
Elenco: Bel Deliá, Andy Rodoreta, Steve Davis, Luke Arnold
País: Austrália
Duração: 90 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Um grupo de jornalistas resolve investigar os mistérios que envolvem o governo e os túneis de metrô abandonados no subsolo de Sydney.

O QUE TENHO A DIZER...
É o primeiro longa metragem tanto do diretor quanto dos roteiristas (que também são os produtores). Confesso que houve até uma certa coragem para realizarem esse filme, que não é muito diferente de outros do gênero. É também um tanto ousado, pois é um filme independente e que foi produzido através do Projeto 135K criado pelos próprios produtores do filme para captar fundos para a produção. A idéia do projeto era vender cada frame do filme por $1,00 (1 segundo de filme tem 25 frames, ou seja, 25 fotos). Para 90 minutos de filme seria necessário 135.000 frames vendidos, ou seja $135 mil. O comprador não estava limitado a comprar apenas 1 frame, podendo ele comprar quantos quisesse, ou até mesmo comprar o filme todo. Conseguiram apenas em torno de $38 mil, e tiveram que fazer o uso da criatividade para finalizarem e promoverem o filme com esse dinheiro, e inclusive o pôster do filme é feito com os nomes de todos os compradores que participaram do projeto. Por fim ele foi lançado em alguns cinemas locais na Austrália, através do canal Showtime australiano e também via torrent, sendo a primeira vez que um filme é distribuido legalmente via sistema peer-to-peer.

A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project, 1999), Atividade Paranormal (Paranormal Activity, 2007), REC (2007), Coverfield (2008), Contatos de 4º Grau (The 4th Kind, 2009), A Casa Muda (La Casa Muda, 2010), Fenômenos Paranormais (Grave Encounters, 2011), Apollo 18 (2011), 388 Arletta Avenue (2011), O Diário Chernobil (Chernobyl Diaries, 2012), dentre alguns outros esquecíveis... Todos eles tem em comum a mesma filmagem em primeira pessoa, naquele esquema de "salvem a câmera custe o que custar" (com raras excessões), mas no fim a proposta é sempre a mesma, tentar inovar um estilo que já está cansado.

Claro que O Túnel não seria diferente, e já assisti esperando tudo que eu já conhecia de todos esses filmes anteriores, sendo que alguns ainda me assustam como se fosse a primeira vez. Não é um filme bem desenvolvido e construído em boas idéias, boas atuações ou um grande final como algum dos anteriores do gênero, mas funciona como um filme de terror dentro desse estilo "sobrevivência" e chega a ser uma mistura de Abismo do Medo (The Descent, 2005) com REC.

O filme tenta com muito esforço nos fazer acreditar que tudo é baseado em fatos reais, como a maioria desses filmes faz. Eles usam gravações de telefone, gravações de vídeos de segurança e alguns depoimentos pessoais para fortalecer essa tese, mas é óbvio que tudo é ficcional. Às vezes parece que os personagens simplesmente não ligam para o que aconteceu, mas isso é por conta do nível amador de atuação. Há também o problema das filmagens dentro dos túneis, que muitas vezes funciona, mas em outras parece que estão usando os mesmos lugares, apenas mudando os ângulos ou entulhos de lugar. Um pouco claustrofóbico pelo excesso de visão noturna nas imagens e tomadas fechadas. Mas de qualquer forma, é um tipo de filme que dá liberdade para os erros e para a falta de qualidade, salvando ele mesmo de sérias análises.

Apesar de tudo é um filme sem pretensões e até oferece alguns sustos e surpresas. Uma continuação já está em pré-produção pela mesma equipe.

CONCLUSÃO...
Se você aguentou todos os outros filmes citados acima, esse vai ser algo fácil de assistir. Não é o melhor filme do mundo, nem o pior. Também não é um filme B, se considerar o fato de que é um filme australiano de horror, um país que não tem uma presença muito sólida no gênero e é mais conhecido por produzir os piores filmes de horror na indústria, fazendo O Túnel algo até acima da média até mesmo por conta dos esforços da produção, e só por isso ele vale a pena ser assistido.

"I WANT AN iPHONE!"

★★★★★★★
Título: God Bless America
Ano: 2011
Gênero: Comédia, Ação
Classificação: 16 anos
Direção: Bobcat Goldthwait
Elenco: Joel Murray, Tara Lynne Barr, Melinda Page Hamilton
País: Estados Unidos
Duração: 105 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Frank sofre de enxaqueca e insônia, não aguenta mais seus vizinhos da casa germinada onde mora, tudo na televisão é estúpido, no seu trabalho todos só falam do que está na moda e ainda conseguiu ficar desempregado e descobrir um tumor no cérebro. Ele conhece Roxy, uma adolescente madura para sua idade, porém com pensamentos homicidas, que consegue convencê-lo a sair por aí eliminando maus elementos da sociedade, aqueles responsáveis por deixar as pessoas mais estúpidas e ignorantes.

O QUE TENHO A DIZER...
Sim, o mundo está ficando ignorante, a população está emburrecendo e somos todos nós os responsáveis por isso. Se alguém ainda tem duvida disso não vai precisar de muito pra descobrir a verdade e nem mesmo uma citação importante do Facebook para aumentar a credibilidade desse texto. É só olhar à sua volta, com muita atenção.

"As pessoas não conversam mais além de simplesmente reproduzir o que vêem na TV, lêem nas revistas de fofoca ou ouvem nas rádios", é o que Frank (Joel Murray) diz, enquanto seus colegas de trabalho assistem seu discurso assustados, como se ele estivesse louco. Logo em seguida ele é demitido, pois é assim como as coisas sempre foram com todos aqueles que questionam a ignorância e a atitude da massa. Quanto mais pessoas pensarem igual, mais fácil é das coisas serem controladas. Em outros exemplos, é a exploração do ponto fraco de um grupo, de uma sociedade, ou população, como o filme deixa bem claro. Se é uma população amedrontada, venderemos armas e serviços de segurança. Se é um grupo ignorante, daremos informações erradas. Se é uma população xenofóbica, promoveremos o nacionalismo.

Há uma parte em que o personagem Frank também diz que alguns poucos anos atrás sentíamos nojo ao ver alguém comendo carne crua em reality shows, e hoje isso não faz nem cócegas. Essa afirmação é tão interessante por resumir o ponto em que a sociedade e sua cultura chegou, porque eu lembro bem a primeira vez que vi uma pessoa comer um testículo de bode ao vivo na televisão, e lembro porque aquilo foi chocante naquela época. Hoje não é, não porque nos acostumamos, mas porque a banalidade se supera cada vez mais, fazendo muitas das coisas perderem seus sentidos e valores.

Foi interessante assistir este filme logo depois de ter assistido Confissões (Kokuhaku, 2010), pois os dois filmes se complementam muito bem de alguma forma. God Bless America é um alerta ao excesso do cultivo da ignorância, e Confissões é sobre os resultados e as conseqüencias da constante alienação e da insistência das pessoas em ignorarem os problemas. Um filme é norte-americano, o outro é japonês, apenas para se ter uma noção de que não existem barreiras ou distância que impeça problemas comuns de existirem e que dizem respeito a todos nós.

Também se assemelha bastante a filmes como Um Dia De Fúria (Falling Down, 1993), Assassinos Por Natureza (Natural Born Killers, 1994) ou até mesmo ao mais recente Tiranossauro (Tyrannosaur, 2011), mas ao contrário desses filmes, God Bless America é uma comédia de um humor negro, pois é esse tom que faz a idéia ser assimilada. O acesso da mensagem por esse caminho é sempre mais fácil e menos chocante.

O filme foi escrito e dirigo por Bob Goldthwait, que logo no começo oferece uma sequencia extremamente violenta, não poupando nem um bebê, mas tudo é feito de forma tão satírica que o choque pode até acontecer, mas a gargalhada será inevitável. É importante entender que toda essa violência do filme não passa de uma metáfora, e todos os personagens são alegóricos, represantando os elementos intolerantes e repulsivos aos quais Frank e Roxy (Tara Lynne Barr) saem à caça, limpando os lugares de doenças sociais e exemplos negativos. Compreender isso é essencial para a mensagem ser válida.

Mesmo assim o filme não foge de alguns problemas de desenvolvimento. A força narrativa e a ousadia mostrada no início vão perdendo um pouco o fôlego, mas nada disso impede o objetivo principal da história, a de criticar o consumismo vazio, a superficialidade de idéias e o excesso do inútil. Goldthwaith foi certeiro na pontuação dos fatores intolerantes, pois são comuns à maioria das pessoas. Foram citados tantos exemplos que é impossível alguém não se identificar em nenhum momento, da mesma forma como ninguém vai terminar o filme sem pensar em outros. As semelhanças do que é mostrado ou citado com a realidade é tão grande que chega a ser assustador. Sim, é assustador pensar que qualquer pessoa do mundo possa se identificar com esse filme, pois só assim para termos noção da proporção gigantesca que as coisas estão tomando, e como tudo está igual em todo lugar, e porque tudo estão tão difícil, e porque a impressão que temos é que o mundo está acabando, e porque as pessoas estão pirando, e porque ninguém consegue mudar nada.

O caos é o limite, mas não há limite para o caos. O fim é previsível porque é assim como ele tinha que ser, pois é o fim de tudo que questiona ou tenta mudar o pensamento comum. A típica situação que é trágica se não for engraçada.

CONCLUSÃO...
Excelente discussão sobre os rumos que o pensamento comum tem dado às pessoas, e a desvalorização intelectual que está atingindo níveis inaceitáveis e intolerantes. Um filme que não deve ser ignorado e deveria ser obrigatório até mesmo em currículos escolares.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A INCANSÁVEL BUSCA PELO REMORSO E A AUTO-REPARAÇÃO...

★★★★★★★★★☆
Título: Confissões (Kokuhaku)
Ano: 2010
Gênero: Drama, Suspense
Classificação: 16 anos
Direção: Tetsuya Nakashima
Elenco: Takako Matsu, Ai Hashimoto, Yukito Nishii, Kaoru Fujiwara, Yoshino Kimura,
País: Japção
Duração: 106 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
No último dia de aula antes das férias, e também o seu último dia de trabalho, a professora Yuko Moriguchi (Takako Matsu) resolve se desperdir de seus alunos dando uma aula diferente, contando a história de como sua filha de 4 anos foi assassinada por dois de seus alunos que se encontram na sala.

O QUE TENHO A DIZER...
Norte-americanos adoram um drama cliché, europeus adoram dramas realistas, e japoneses adoram o drama chocante. Eles tem essa tendência de serem visualmente exagerados, talvez como uma forma de exteriorizar sentimentos culturalmente contidos ao longo dos séculos. Os filmes de horror japoneses, por exemplo, abusam de todas as fórmulas do medo com o uso excessivo do sangue e do bizarro, mas nem por isso deixam de ser poéticos. O mesmo ocorre nesse drama com cargas psicológicas fortíssimas. O excesso de seqüencias em câmera lenta dá sutileza até mesmo quando há jorros de sangue nas cenas, dando um tom surrealista ao sofrimento, a dor e à confusão, conseguindo ser bonito até mesmo nos momentos mais brutos e chocantes por conta da fotografia apagada, numa perspectiva sempre muito horizontal e limitada, sem profundidade ou grandes perspectivas, tal qual as personagens. Mas essa sutileza e beleza não evita o clima pesado e depressivo, só alivia o impacto da violência.

Confissões é sem dúvida uma ode a todos os sentimentos e fatores negativos que transformam os humanos em seres psicóticos, obsessivos e perversos, seja em menor ou maior grau; seja da simples vontade até as duras conseqüências da realização. É um filme duro, pesado e bruto que nos mostra pontos bastante realistas que dão corda suficiente para muita reflexão do início de um efeito dominó até a sua última peça.

Leva esse título porque a história é contada por 5 pontos de vista de maneira bastante particular e honesta, como em um confessionário de fato. As narrativas (ou confissões) muitas vezes se intercalam para desenvolver a história linearmente, explicando no momento correto as razões ou motivos que cada um teve, e o espectador literalmente se transforma em um ouvinte, como se estivesse em uma mesa redonda com todos eles. Há também espaço para que as histórias individuais tomem forma e arestas para ter maior noção das razões de cada um ter pensamentos negativos da vida, e que os levaram às infelizes consequências. As imagens apenas ilustram o que muitas vezes já imaginamos conforme a história é narrada, e talvez essa função passiva do espectador não seja tão efetiva pelo filme ser falado em japonês, perdendo muito mais tempo lendo as legendas e assimiliando o que é mostrado do que simplesmente ouvir o que é contado e deixar a imaginação entrar em sintonia com as imagens, o que seria uma experiência muito mais impressionante.

O filme mostra de forma sutil que problemas e traumas pessoais se manifestam na sociedade e no convívio, do contato entre as pessoas e dos choques que essa necessidade traz ao querermos sempre responsabilizar alguém pelos nossos sofrimentos individuais. Mostra de forma clara a fixação que todos os humanos tem em comum por tudo aquilo que choca e causa sofrimento ao outro, como se isso aliviasse os nossos. O diretor, e também roteirista, Tetsuya Nakashima, mergulha por vários fatores sociopsicológicos para justificar esses comportamentos traumáticos. Ele varia desde os abusos e abandonos, do assédio moral, do sensacionalismo midiático, da intransigência jurídica, do uso abusivo do anonimato, da inconsequência das modernas redes sociais, da ignorância popular, até a vulnerabilidade das pessoas frente a todas essas armas que são utilizadas sem qualquer remorso pela personagem principal. A manipulação dos alunos feita por Moriguchi é uma crítica ao comportamento e ao pensamento limitado, e à fraqueza que os humanos demonstram ao se comportarem como uma massa, e não como indivíduos. É um filme fatalista, por isso os únicos personagens que agem e pensam diferente são exatamente aqueles que são punidos.

O maior conflito de Moriguchi, como professora e humanista, foi ter finalmente percebido que a crueldade não está apenas nos adultos, mas que ela surge naqueles que ela acreditava serem incorrompidos e inocentes, resultando em um esforço e futuro perdidos, causando a destruição de todos apenas puxando o fio da fraqueza de cada um, com o único objetivo de não apenas preencher sua perda com o remorso e o arrependimento de quem lhe inflingiu a dor, mas de ensinar que a crueldade dos humanos não leva a nada além da sua auto destruição.

CONCLUSÃO...
Um filme fantástico e impressionante do início ao fim. Uma ironia cruel e perversa da realidade e do lado sombrio do ser humano. A busca incessante da causa e da consequencia, do remorso e da auto-reparação.

sábado, 1 de setembro de 2012

ESPELHO, ESPELHO MEU, EXISTE ALGUM FILME MAIS BOBO DO QUE O MEU?

★★★★★
Título: Branca de Neve e o Caçador (Snow White And The Huntsman)
Ano: 2012
Gênero: Ação, Aventura, Fantasia
Classificação: 14 anos
Direção: Rupert Sanders
Elenco: Kristen Stuart, Charlize Theron, Chris Hemsworth
País: Estados Unidos
Duração: 127 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Uma versão um pouco mais adulta da história de Branca de Neve.

O QUE TENHO A DIZER...
2012 foi o ano de Branca de Neve. Em Março estreiou a versão de Tarsem Singh da princesa injustiçada, estrelando Julia Roberts como a rainha má e Lily Collins como Branca de Neve, que havia originalmente feito testes para estrelar nesta versão do conto de fadas, mas Kristen Stuart quem acabou ficando com o papel, e o filme de Rupert Sanders estreiou em Junho. Os dois filmes foram bem nos cinemas, tanto que uma continuação para Branca de Neve e o Caçador estava em planejamento, mas agora é incerto devido às peripécias amorosas de Kristen Stuart com o diretor Sanders e toda a polêmica do traído Robert Pattinson.

Embora os dois filmes obviamente contem a mesma história, os pontos de vista são diferentes. No filme de Tarsem a história é contada pelo ponto de vista da rainha, enquanto no filme de Sanders, a história (a princípio) é narrada pelo Caçador sem nome, mas que por alguma razão desconhecida essa narrativa some e nunca mais volta. Talvez tenham esquecido. Acontece.

É difícil dar um tom sério ao conto dos irmãos Grimm quando ele foi incansavelmente recontado para um público infantil. Espelho, Espelho Meu (Mirror, Mirror, 2012) conseguiu ser fiel à sua proposta, e em nenhum momento Tarsem tenta nos enganar. O filme novamente foi feito para o público infantil, é fantasioso, colorido, leve, engraçado, bobo e com figurinos e fotografias deslumbrantes. Ao contrário de Branca de Neve e o Caçador que, apesar dos esforços, não consegue ser o filme adulto e maduro que eles tanto queriam. Cenas e algumas seqüencias chegam a ser de um amadorismo até vergonhoso e os diálogos são quase sempre infantis, porém floreados com uma pompa poética shakespeariana e um sotaque meio-britânico-ou-seja-lá-o-que-for para fazer de conta que são pessoas sérias e adultas conversando ou discutindo. Isso só serve pra convencer o público adolescente e os fãs de Kristen Stuart, que no fim das contas acaba sendo (ou tendo) quase o mesmo nível intelectual.

O roteiro é assinado por 3 pessoas: John Lee Hankcock, Hossein Amini e Evan Daugherty. O primeiro escreveu e dirigiu o filme que deu o Oscar e dezenas de outros prêmios de Melhor Atriz a Sandra Bullock, Um Sonho Possível (The Blind Side, 2010); o segundo foi o consagrado escritor e diretor do excelente e oitentista Drive (2011); e o terceiro... bom, ele é desconhecido mesmo, sendo este filme seu primeiro trabalho. Obviamente os dois primeiros serviram apenas com roteiristas de apoio, corrigido e alterando erros brutais porque é impossível imaginar que, por exemplo, o mesmo roteirista de Drive tenha sido capaz de trabalhar efetivamente em um roteiro tão pobre quanto o de Branca de Neve e o Caçador.

Kristen Stuart definitivamente se esforça. É notável que ela se doa de corpo e alma para a personagem e tenta provar que ela não é uma atriz insossa e mentalmente limitada, como ela demonstrou em toda a Saga Crepúsculo. Mas mesmo assim ela não convence, e eu gostaria muito de saber em qual escola de artes ela estudou para ter aprendido que expressar felicidade, surpresa, medo ou raiva, é deixar a boca aberta. Chris Hemsworth, que faz o Caçador sem nome, é tão ruim quanto. Nada aqui é diferente do que ele fez em Thor, a diferença é que ele está mais sujo e de cabelo preto. Com todo aquele tamanho, além do personagem dele ser um monte de nada e não acrescentar absolutamente qualquer coisa à história (o que é um absurdo já que o personagem é principal), não dá pra entender porque ele usa um sotaque estranhíssimo e sempre mais apanha do que bate.

Claro que os únicos créditos do filme vai para Charlize Theron, que além de ser linda é sempre uma excelente atriz e a verdade é que vê-la como uma rainha má é o que irá atrair o público mais adulto. E o tom que ela dá à personagem fica em um meio termo entre sentirmos ódio e compaixão. Os diálogos dela também são sempre fracos, mas quem é bom de verdade consegue ser MacGayver e construir um Shopping Center com um palito e um chiclete. Os atores que fazem os anões também levam crédito, valendo lembrar que eles não são anões de verdade, o tamanho dos atores foi alterado em computação gráfica na mesma técnica que diminuiu o tamanho dos atores que representaram os hobbits na trilogia Senhor dos Anéis.

Inclusive, Senhor dos Anéis é uma grande inspiração no filme. Além de todos os elementos fantasiosos e míticos, Sanders exagera nas tomadas aéreas para deslumbrar e nas tomadas fechadas de batalha para impressionar, tal qual Peter Jackson fez à exaustão em sua trilogia, o que não causa nada além de um "oh, que legal".

Apesar de tudo, o filme não é tão ruim do que poderia ter sido, mas também não é bom quanto haviam prometido.

CONCLUSÃO...
Mais engana do que faz o que promete. Bobo e infantil, mas disfarçado de intelectual e adulto, e Charlize Theron dominando todas as cenas e segurando o filme nas costas. Claro que existem filmes piores, mas não é dessa vez que um conto de fadas poderá ser levado a sério.

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