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quarta-feira, 16 de abril de 2014

GLORIA CONTRA O MUNDO...

★★★★★★★★
Título: Gloria
Ano: 2013
Gênero: Drama
Classificação: 16 anos
Direção: Sebastian Lelio
Elenco: Paulina Garcia, Sergio Hernandez
País: Chile, Espanha
Duração: 110 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre uma mulher idependente e solitária de meia idade e as dificuldades vividas com os relacionamentos e a vida na sua idade.

O QUE TENHO A DIZER...
Gloria é um filme chileno dirigido por Sebastian Lelio, o roteiro também é de sua autoria em parceria com Gonzalo Maza. Foi muito bem recebido pela crítica, vencendo alguns dos principais prêmios que inclui o Urso de Ouro em Berlim para a atriz Paulina Garcia, que interpreta a personagem principal. Também foi indicado a Melhor Filme Estrangeiro no Independent Spirit Awards e venceu esta mesma categoria no National Board Of Review, além de também ter sido o filme escolhido para representar o Chile no Oscar 2014, porém não foi indicado. Uma pena, pois é um filme bastante incomum na forma como mostra a realidade de uma mulher moderna e idependente na meia idade.

A história começa com Gloria, uma mulher de 58 anos, no meio de uma festa frequentada por pessoas de aproximadamente sua idade. Ela é desquitada, com dois filhos já adultos, mora sozinha, trabalha em uma empresa e tem uma vida independente, na qual ela gosta de passar seu tempo sozinha em festas para solteiros e bares para, certamente, tentar preencher o vazio da solidão natural oferecida pelos anos que avançam, mas essas noites boemias frequentemente a levam a repetidos desapontamentos e a constancia desse vazio que parece nunca ser preenchido. Tudo parece mudar quando conhece Rodolfo em uma das festas, um ex-fuzileiro naval, por quem ela se apaixona e tenta construir uma relação que é constantemente interrompida pela ex-mulher e suas duas filhas.

A verdade desse filme é que ele realmente é um ponto de vista verdadeiro e muito relevante sobre um tipo de personagem que é constantemente negligenciado por Hollywood, e só somos capazes de encontrar em filmes fora de circuito comercial, os chamados art house. Seu conteúdo bastante simbólico e não convencional faz parte desse nicho e é apreciado por aqueles que gostam de fugir de histórias comuns e fórmulas prontas de se fazer cinema. Claro que não há nada de muito diferente e excepcional, mas a honestidade com que a personagem e seus atuais desafios são mostrados chega a despi-la por completo frente ao espectador. Não é à toa que as cenas de sexo ou nudez da personagem existem sem nenhum pudor, pois essa independência e sentimento de liberdade sentido por ela é tão grande que não há mais espaço para vergonha ou recato, em um sentimento de quem não tem absolutamente nada a provar para ninguém.

A melancolia que ela carrega em si é compreensível quando a mesma busca de forma até incansável a companhia, independente de quem seja, para dançar, para lhe acompanhar em uma bebida, ou simplesmente para o sexo e a satisfação de seu prazer. Uma vida na qual seus principais objetivos já foram cumpridos, como criar seus dois filhos e soltá-los para o mundo e para a independência, seguida da separação de um marido ausente que provavelmente era mais um peso morto do que um parceiro, e agora, depois de tudo, o tempo existe finalmente para ela. Não vemos arrependimentos em Gloria, apenas a nostalgia pela liberdade da juventude que teve de ser abandonada por outras prioridades e que agora ela tenta compensar o tempo perdido. E como ela compensa!

Quando Rodolfo aparece em sua vida, há uma centelha de esperança de que alguém ainda foi feito para ela, pois ele leva uma vida de diversões e anseios similares, porém não possui a mesma liberdade e coragem, mantendo-o preso a correntes familiares que ele não consegue se libertar. Essa felicidade cai por terra quando Gloria percebe que, por mais que tente, este novo relacionamento sempre ficará estagnado, e Rodolfo nunca a aceitará como ela realmente quer, ao ponto dele sempre omitir às outras pessoas com quem ele está, principalmente à sua família, colocando-a e fazendo-a se sentir em uma situação semelhante a de uma amante, uma mulher oculta destinada a apenas satisfazer as vontades e os prazeres de alguém incapaz de encarar a realidade. E é assim que ele se demonstra, um homem covarde e impotente frente a vida.

A grandiosidade da personagem cresce no filme quando a necessidade da liberdade explode dentro dela em um grito até feminista, e por mais que seja uma decisão dura e difícil, ela sabe que não é obrigada a passar por isso. Nada mais emocionante que vê-la pronta para outra depois de dias de melancolia e depressão, seguidos da atitude tempestiva que ela tem na sequência em que está dentro do carro observando a casa de Rodolfo, um ritual necessário para continuar sua vida sem a necessidade de sofrer calada, tudo dentro uma metáfora de extrema relevância para enterrar de vez por todas uma situação que nada lhe agregaria. Duvido que ninguém ousou um dia imaginar-se fazendo o mesmo que ela, uma sequencia até engraçada dentro de seu surrealismo justificado que nem ela mesma consegue evitar posteriores gargalhadas. Gargalhadas libertadoras, por excelência.

O filme é dela e para ela, tanto que os demais personagens são secundários e pouco aprofundados, mas isso em nada atrapalha, já que Gloria não é uma personagem apaixonante ou sentimental e muito menos cativante, mas seu individualismo e independência são tão grandes que ela é inspiradora por ser assim, única e livre, sem vergonha alguma de ser o que é e fazer o que quiser. 

CONCLUSÃO...
Com uma abordagem até bem similar em algums momentos, o filme consegue até ser uma versão para a meia idade de Lola Contra O Mundo (Lola Versus, 2012), mas claro que de uma forma muito mais verdadeira e despida de qualquer vergonha. Gloria poderá não agradar muita gente, mas quem se interessar por ela e conseguir chegar ao final do filme ao menos irá compreender e concordar sobre a grandiosidade dessa personagem, um grande exemplo.

BEM VINDA MATURIDADE...

★★★★★★★★
Gênero: Drama, Romance, ComédiaTítulo: O Espetacular Agora (The Spectacular Now)
Ano: 2013
Classificação: 12 anos
Direção: James Ponsoldt
Elenco: Miles Teller, Shailene Woodley, Brie Larson, Kyle Chandler, Jennifer Jason Leigh
País: Estados Unidos
Duração: 95 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre um rapaz de 18 anos que entra em choque com sua própria realidade quando conhece uma garota prestes a entrar em choque com várias realidades.

O QUE TENHO A DIZER...
O Espetacular Agora é o terceiro filme do diretor James Ponsoldt, com roteiro dos mesmos escritores de (500) Dias Com Ela (500 Days Of Summer, 2009) e é baseado no livro homônimo de Tim Tharp. Teve estréia no Festival de Sundance de 2013, o qual foi bem recebido e, em geral, recebeu comentários bastante positivos da crítica mundial.

Mas ao contrário da espetacular comédia romântica (500) Dias Com Ela, esta não é uma comédia, e muito menos romântica, muito embora tenha alguns esparsos momentos cômicos e românticos, sendo assim que o filme tem sido divulgado, quando na verdade é um drama romântico adolescente incomum, que surpreende por ter uma abordagem madura o suficiente para servir até como uma metáfora, ou mais precisamente, uma indireta aos mais velhos que o assistirem, pois consegue ser sério e adulto em sua mais pura essência, mesmo que atuado por jovens cujos conflitos giram em torno deles.

Sutter (Miles Teller) é um garoto aparentemente comum como qualquer outro de sua idade, ele não é muito atraente e muito menos faz parte do time de futebol do colégio, mas mesmo assim é um grande conquistador e mulherengo por ser inteligente, engraçado, extrovertido e bastante seguro de si, mas incapaz de levar qualquer coisa a sério como deveria. Sutter vive o agora, e o alimento de sua felicidade é consumir o prazer momentâneo a todo instante, o que o faz ser, com apenas 18 anos, um alcólatra. É em um desses momentos que, na tentativa de esquecer sua ex-namorada, ele é encontrado em coma alcólico no jardim da casa de Aimee (Shailene Woodley), uma garota simples que estuda no mesmo colégio, mas que ele nunca notou. Aimee é completamente diferente de Sutter, mas na intenção de conhecer uma nova garota para esquecer a anterior e usá-la para alimentar suas felicidades e prazeres, ele tenta conquistá-la. Entre vários encontros e longas conversas ele descobre que Aimee é mais do que simples e comum, é uma garota com um intenso potencial adormecido e reprimido por uma vida sem graça e uma mãe codependente, e por isso ele se sente tentado a libertá-la disso de alguma forma enquanto ela vê nele a descoberta de experiências que ela nunca teve e o primeiro passo para caminhar em um mundo de satisfações e desgostos que até o momento desconhecia.

O personagem acredita ser, por excelência, auto suficiente e um tanto arrogante na sua forma, com uma visão muito branda e superficial sobre as coisas e sobre ele mesmo. A princípio Sutter consegue ser bastante antipático e inconveniente, principalmente na primeira meia hora, mas toda essa superficialidade que ele demonstra esconde problemas muito mais sérios e que ele não consegue lidar, como a ausência paterna desde seus 8 anos de idade, o distanciamento de sua mãe e irmã mais velha, a cobrança de seus professores sobre seu baixo rendimento escolar, a impressão subestimada e maldosa que seus colegas tem sobre ele pelas costas, além do abandono de sua ex-namorada que, para ele, foi por ela simplesmente ter se apaixonado pelo chefe do time do colégio. Ele age como se não ligasse para nada disso porque, já que sua filosofia de vida é viver o momento e não pensar no futuro porque isso o assombra e demanda responsabilidades que ele não sabe se é capaz de cumprir, então qualquer responsabilidade que ele tenha é tratada com bastante descaso.

O filme desenvolve todas essas características do personagem às avessas, começa mostrando-o como um garoto chato e inconsequente, sendo tortuoso pensar em aturar esse comportamento arrogante por todo o filme ao ponto de não acreditarmos em suas atitudes, mesmo quando estas são as mais sinceras possíveis, pois apesar de tudo ele é honesto com as pessoas sobre suas vontades e sua forma de pensar. Mas aos poucos o roteiro quebra a casca em que ele vive, ou melhor, tira tijolo por tijolo da muralha que ele construiu à sua volta. E então todas suas camadas aparecem, e lentamente toda a confusão emocional e sentimental que ele vive se revelam, momento quando finalmente o espectador se sensibiliza, a empatia acontece, Sutter se transforma em um jovem incompreendido que a todo momento luta contra ele mesmo e  (ufa!) o filme finalmente toma sua forma.

Com certeza é um dos personagens mais complexos a ter sido adaptado no cinema norteamericano nos últimos anos, e de uma forma tão simbólica e relevante que é difícil definí-lo por inteiro, pois ele representa várias situações e fases da vida, sendo a própria adolescência uma pequena fração dela. Pode ser que no livro o personagem não seja tão complexo dessa forma, mas a construção dada nele pelos roteiristas é, e seu desenvolvimento na história ficou brilhante.

Ao contrário dele, Aimee é a verdadeira representação da pureza e ingenuidade prestes a serem corrompidas quando o choque com a realidade acontecer e todas as coisas que um dia pareciam tão belas, se tornarem sujas. Ela é a única personagem com uma atitude mais equivalente com sua idade, e muito embora sabemos desde o início que ela irá sofrer, também sabemos que este sofrimento é necessário para seu crescimento e fortalecimento psicológico e emocional típicos de quem passa por certas dificuldades pela primeira vez.

O roteiro até consegue nos pegar de surpresa quando, confrontado por sua mãe (Jennifer Jason Leigh), o personagem finalmente tem um insight de que o problema não são as coisas ou pessoas a sua volta, mas suas próprias atitudes sugestionadas pela descrença que ele tem por ele mesmo e seu precoce alcolismo que só piora conforme ele se confronta mais e mais com seus problemas. Essa cena dura e emocionante é uma das várias que acontecem, e que mostram por si só que o filme não é um passeio pelo parque, mas uma grande e difícil tarefa de encararmos as dificuldades e aceitar as responsabilidades.

A seriedade até poética com que o filme trata uma fase tão complicada da vida de descobertas, conflitos e desapontamentos se assemelha muito com As Vantagens de Ser Invisível (The Perks Of Being a Wallflower, 2012) no sentido de não subestimar nenhum público e muito menos exagerar em cliches na tentativa de criar uma identificação fácil com um tipo específico, mas enquanto este outro filme trata do tema com adolescentes vivendo suas felicidades e infortúnios típicos da idade e da busca pela maturidade dentro de uma linguagem bastante expressiva e relevante, neste filme essa referência de idade só existe para, talvez, intensificar todos os conflitos dramáticos tratados, que em realidade são universais, atemporais e sem classificação etária.

CONCLUSÃO...
Um drama romântico incomum, que mostra um personagem que sofre com as dificuldades de aceitar as responsabilidades por pontos de vistas tão sérios e conflitantes que, ao contrário do que se supõe, chega a não ser um filme agradável para aqueles que esperam um belo casal romântico no final, mas um filme que conquista aos poucos, e aos poucos revela que há um pouco de Sutter em todos nós.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

CINEMA TAMBÉM FAZ MÁGICA...

★★★★★★★
Título: Truque de Mestre (Now You See Me)
Ano: 2013
Gênero: Ação, Fantasia, Comédia
Classificação: Livre
Direção: Louis Leterrier
Elenco: Jesse Eisenberg, Mark Ruffalo, Woody Harrelson, Melanie Laurent, Isla Fisher, Dave Franco, Michael Cane, Morgan Freeman
País: Estados Unidos
Duração: 115 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Quatro mágicos são reunidos por um quinto elemento chamado de O Olho para cumprir uma missão de realizar o maior truque de mágica de suas vidas, a ser testemunhado por todo o mundo.

O QUE TENHO A DIZER...
O filme é diridigo pelo francês Louis Leterrier, o mesmo de filmes de ação como o inferior Carga Explosiva 2 (The Transporter 2, 2005), o precoce e fracassado remake de O Incrível Hulk (The Incredible Hulk, 2008) e o péssimo Fúria de Titãs (Clash Of The Titans, 2010), filmes que pecam na qualidade e no roteiro (com alguma excessão em Hulk), mas que de alguma forma fizeram algum sucesso nas bilheterias, o que garantiu ao diretor continuar sua carreira entre um tropeço e outro até conseguir finalmente acertar com esse filme que nada tinha para ser um grande sucesso.

Não possuia um título atrativo, os trailers eram mornos, e o enredo, que gira em torno do mundo da mágica, não é algo que faz muito a cabeça das pessoas no cinema porque a mágica é facilmente manipulada por truques cinematográficos. Embora possua um elenco de primeira, a maioria são de atores reconhecidos, mas de pouco sucessos, com excessão dos mais antigos como Woody Harrelson, Michael Cane e Morgan Freeman, que finalmente deixou de lado aquele tom de deboche irritante que vem feito nos últimos filmes e parece se divertir aqui. Ou seja, o que é que o filme teria de interessante? Não muito, mas o suficiente bem utilizado.

A história começa com uma breve apresentação de cada um dos quatro personagens principais: Daniel Atlas (Jesse Eisenberg), um mágico ilusionista arrogante; Henley Reeves (Isla Fisher), igualmente ilusionista, mas de apelo mais teatral e espetaculoso, ex-ajudante de Daniel no começo da carreira; Merrit (Woody Harrelson), um mágico hipnotista que se diz sensitivo, mas que na verdade é um excelente dedutor pelo apurado senso de observação; Jack Wilder (Dave Franco), um mágico ruim, mas um mestre punguista, além do dom de despistar facilmente qualquer pessoa que o estiver observando. Todos tem em comum o fato de serem incrivelmente talentosos, mas não terem o devido reconhecimento. Tudo muda quando um quinto personagem indeterminado, chamado de O Olho, os reunem. Em um salto de tempo, os personagens são mostrados como os Quatro Cavaleiros, astros da TV que comandam um programa de grande sucesso. O problema começa quando realizam ao vivo um assalto a um banco francês utilizando apenas a mágica, o que chama a atenção do FBI e da Interpol, pois o assalto é bem sucedido, o dinheiro é jogado às pessoas da platéia, mas os suspeitos não podem ser presos pois não há nenhuma prova contundente, o que faz os agentes Dylan (Mark Ruffalo) e Alma (Melanie Laurent, a eterna Shosanna) ficarem na cola dos Cavaleiros por todo o filme. Há uma tentativa de modernizar a intenção de Robin Hood, mas é só uma humilde referência, nada muito relevante quando toda a trama se conclui.

A história na verdade faz pouco sentido. Não há profundidade na vida de nenhum personagem e pouco ficamos sabendo do passado de cada um além do que é brevemente explicado ou solto aleatoriamente entre um diálogo e outro. Também não sabemos qual o verdadeiro motivo de tudo acontecer ou estar acontecendo. Todos os truques mostrados até tentam ser explicados dentro da sua ficção, mas nada feito para convencer, só para mistificar as ações dos personagens e ter algum sentido no contexto, já que filmes em si são ficções, então ao invés do roteiro perder tempo em convencer o espectador de que tudo tem uma explicação lógica (com excessão da abertura do filme, em que o truque com as cartas realizado é verdadeiro e não criado digitalmente), o mérito fica em realmente fazer de tudo um grandioso espetáculo, como é o esperado por quem vai ao cinema para assistir um filme com esse tema. E mesmo com tanta superficialidade, tudo funciona exatamente por ter essa levada despretenciosa de que aparentemente tudo daria errado. Isso acontece porque o diretor e o roteiro levam à risca a intenção de fazer com que o espectador nunca observe tudo tão de perto (como o personagem Daniel tanto faz questão de dizer) e essa distância que o diretor fluidamente mantém entre a história e o espectador é o que entretém porque, mesmo comercial, consegue, desde o início, realizar essa pequena mágica do cinema de fazer com que o espectador simplesmente esqueça dos absurdos e mergulhe de cabeça em toda a fantasia com naturalidade e sem perceber, deixando a preocupação e a atenção nos mínimos detalhes completamente de lado.

Embora as façanhas realizadas pelos personagens sejam algumas vezes até banais e algumas sequencias até um tanto desnecessárias, como a perseguição de carro, há outras muito bem elaboradas como o breve conflito entre o ladrão Jack e o detetive Dylan, e a forma como ele consegue escapar como um sabonete de toda a situação. Os personagens também são carismáticos, não havendo conflitos banais entre eles para construção de tramas paralelas desnecessárias. O jeitão canastrão de Woody Harrelson, que embora seja sua marca registrada e recorrente, consegue dar o tom cômico exato nas situações, roubando e engrandecendo as cenas, bem como Isla Fisher com seu sexy appeal comportado.

E dessa forma o filme entretém e segura o espectador em basicamente três atos que conseguem superar um ao outro sucessivamente dentro de um limite de nunca querer ser realista, mas também nunca exceder o limite do absurdo, e ao mesmo tempo nunca subestimar o espectador independente da idade, pois também consegue ser um filme leve e familiar.

Uma pena ele não ter sido tão lembrado ou comentado, mesmo tendo feito um grande e silencioso sucesso, arrecadando mais de US$234 milhões no mundo, o que garantiu ao diretor uma continuação, mas que não garante a mesma despretenção, qualidade e entretenimento que esse inesperadamente oferece com muito prazer.

CONCLUSÃO...
É um filme divertido, um dos poucos atuais que mesclam ação e fantasia sem deixar o espectador entediado ou preocupado com tanta idéia mirabolante e desnecessária. Claro que as pistas falsas para enganar o espectador existem, e para aqueles que já estão acostumados com reviravoltas finais, poderá não ficar muito convencido com o final, mas também em nenhum momento o filme tem pretensões de ser levado a sério. 

quarta-feira, 9 de abril de 2014

APAIXONANTE E INSPIRADORA...

★★★★★★★★★☆
Título: Philomena
Ano: 2013
Gênero: Drama
Classificação: 14 anos
Direção: Stephen Frears
Elenco: Judi Dench, Steve Coogan
País: Reino Unido, França, Estados Unidos
Duração: 98 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre uma mulher que, cinquenta anos depois, com a ajuda de um jornalista, resolve ir atrás de seu filho dado para adoção aos 3 anos de idade.

O QUE TENHO A DIZER...
Dirigido por Stephen Frears, aclamado diretor de títulos como Ligações Perigosas (Dangerous Liaisons, 1988), Os Imorais (The Grifters, 1990), Herói Por Acidente (Accidental Hero, 1992), A Rainha (The Queen, 2006) e outros títulos menos ou mais conhecidos, menos ou mais apreciados, com pouco ou grande sucesso.

Independente disso, o estilo do diretor em explorar figuras únicas, martirizadas ou marcadas por grandes situações da vida, ou até mesmo pela relação com tipos oportunistas sórdidos, cruéis e maldosos, bem como a forma como tudo isso é superado, está sempre nos seus filmes, sejam eles com cargas dramáticas mais acentuadas, ou atenuadas por uma leve ironia cômica. Este é o caso de Philomena, que embora conte um drama real e devastador, consegue ser construído de forma muitas vezes motivadora, nunca esquecendo do drama pessoal da personagem de fato, o que também aconteceu em seus filmes anteriores mais recentes como O Retorno de Tamara (Tamara Drewe, 2010) e Chéri (2009).

Curiosamente o filme é baseado na história real de Philomena Lee, uma irlandesa que, na década de 50 e aos 18 anos, engravidou acidentalmente por consequência daquilo que para ela foi apenas um beijo e uma demonstração de afeto, quando, na verdade, foi uma relação sexual casual que ela não se atentou por desconhecimento e inocência. Sem saber que filhos eram feitos assim, a barriga cresceu e, por recomendação do próprio médico da família, seu pai a mandou para a Abadia de Sean Ross, pois naquela época era um insulto e uma vergonha para a família e para os católicos romanos uma mulher solteira engravidar, já que provava um ato sexual consumado antes do casamento e a perda da pureza cristã. Por isso, mulheres como ela eram colocadas longe da sociedade, e assim Philomena foi enclausurada na Abadia juntamente com outras jovens na mesma situação, onde teve seu filho Anthony e sofreu com a severa educação das Freiras do Sagrado Coração de Jesus e Maria. Depois que seu filho nasceu, ela teve direito a visitá-lo uma vez ao dia por apenas uma hora, e quando ele completou três anos, as freiras o entregaram para adoção a uma família norte-americana sem o conhecimento ou consentimento da mãe. O "engraçado" é que Philomena aceitou todo este sofrimento por realmente acreditar que aquilo era uma penitência necessária para o perdão de seus pecados, por ter descoberto o prazer sexual e ter tido um filho, muito embora o prazer sexual ela categoricamente afirma ter sido a maior e melhor descoberta de sua vida. Posteriormente a isso e aproveitando de sua religiosidade, as freiras aterrorizaram Philomena de arder no fogo do inferno caso ela não assinasse um documento que renunciava seu filho e a proibia, para o resto da vida, de procurar seu paradeiro. Como a personagem diz no próprio filme, ela não foi coagida, ela assinou por vontade própria, pois era naquilo que acreditava. Quase dez anos depois, ela saiu da Abadia, casou e mais quarenta anos se passaram para finalmente quebrar o voto de silêncio e aceitar o fato de que nada daquilo foi pecado. Ela contou a verdade para sua filha, que se engajou em descobrir o paradeiro de seu irmão. Na vida real ela afirma que também contou ao seu marido anos antes de revelar a sua filha, mas o mesmo apenas disse que o que está no passado é do passado, e nunca mais comentou sobre isso.

Sua história é realmente impressionante, pois é uma daquelas situações que acreditamos ser parte apenas de um drama fictício exagerado. Obviamente que o filme não é verdadeiramente fiel a história real, como o fato de ter sido Jane, sua filha, quem descobriu o paradeiro de Anthony - que agora se chama Michael Hess - e não o jornalista Martin Sixmith, bem como algumas outras situações mostradas, como a sequência final, que também é apenas uma fictícia interpretação para que o conflito final e esperado da personagem possa ser consumado e o ciclo dramático completado, tal qual expressado por ela mesma em um dos diálogos com o jornalista antes do grand finale.

A importância de Sixmith na biografia é ter sido ele o grande responsável em traçar toda a trajetória de Michael desde sua adoção, e por ter levado a história a conhecimento público com o livro The Lost Child Of Philomena Lee, publicado em 2009, no qual o filme é baseado. Sixmith também afirmou que a forma como ele é interpretado no filme é parcialmente correta, sendo verdadeira a maneira como ele é intolerante com as injustiças, mas que ele não é uma pessoa tão raivosa e grosseira como o filme mostra.

Mas ao comparar o desenvolvimento do filme com a biografia de Philomena, que pode ser encontrada de forma suscinta ou extensa pela internet em diversas versões e websites, o roteiro realmente consegue abraçar todos os principais fatos vividos por ela e encaixá-los na história de maneira simbólica e verdadeira, mesmo que em situações fictícias. Ou seja, embora os roteiristas (que inclui o próprio ator principal) tenham feito algumas livres e anacrônicas interpretações para o bem do desenvolvimento da adaptação, a história de Philomena está na tela o tempo todo e em seus 98 minutos, seja em fatos ou na sua personalidade otimista e marcante.

Como em grande parte dos filmes de Frears, este segue linear e sem pressa, mas o grande diferencial é a pontualidade dos fatos e a forma objetiva com que ele trata o roteiro, utilizando alguns flash backs (sendo muitos deles verdadeiros) apenas para complementar o passado da personagem em um filme com uma duração satisfatória, que carrega o espectador de forma envolvente sem subestimá-lo e comover sem ser piegas ou tendencioso, numa trajetória contada numa narrativa delicada e honesta. Também não é uma comédia, como pressupõe-se pelo marketing, mas emocionante em sua mais pura forma, que realmente levará alguns às lágrimas mais pela pureza e grandiosidade da personagem em lidar com situações tão difíceis do que pela grande tragédia da personagem em si. É um dos melhores filmes do diretor em anos, e que também mantém a mesma situação de dúvida que em A Rainha, por também não ser tendencioso a uma determinada idéia. Neste filme anterior o diretor manteve uma certe imparcialidade de julgamento sobre a culpa ou não da família real na morte de Diana, da mesma forma essa imparcialidade é mantida neste filme em não julgar a igreja católica ou as decisões de seus seguidores. Ele mostra os dois lados da moeda, o lado de uma mulher fiel e o lado do homem ateu e científico, há o conflito de ambos a todo instante, mas é decisão do espectador em escolher o lado.

Mais impressionante ainda é ver Judy Dench oferecer uma das interpretações mais leves, carismáticas e emocionantes em uma carreira cheia de personagens tipicamente londrinos e sisudos. A personagem, que se alto denomina "uma caipira", não é dotada de tanta malícia e sarcasmo como o personagem de Martin Sixmith (Steve Coogan), mas sua pureza e ingenuidade natas conseguem dar outras dimensões a coisas comuns e banais, como no momento em que ela narra empolgadamente para Sixmith um livro de ficção romântica barata, mas que para ela é parte de uma magnífica fantasia inesperada e que se torna bela e incomum pela forma como ela a interpreta. Seu desconhecimento frente a outras coisas também não a transforma em alguém ignorante, mas em uma pessoa com maravilhosos e surpreendentes pontos de vista constantemente adquiridos pela observação e curiosidade pela vida, mesmo que limitados, mas simples, com um olhar até infantil e singelo. A inspiração oferecida pela personagem é vasta, como a sua total incapacidade de vingança, de cultivar a mágoa ou manifestar a raiva até mesmo por pessoas que foram responsáveis por grandes momentos de dor em sua vida. Essa filosofia tão nobre e particular demonstrada por ela é o verdadeiro conceito sobre a crença divina e a busca pela paz espiritual, transcendendo qualquer linha religiosa ou dogmas. Philomena poderia ser uma pessoa amargurada e rancorosa, mas acredita no poder do perdão não porque isso seja fácil ou porque é isso que ela espera das pessoas em troca, mas porque é isso que lhe dá forças para viver, pois como ela mesma diz, a raiva deve ser exaustante.

Não há como não se apaixonar ou se emocionar por uma personagem e uma mulher tão grandiosa como Philomena Lee. Inspiradora e motivadora, uma grande lição de vida, daquilo que chamamos de fé e perdão, mas que raramente sabemos qual o seu verdadeiro significado.

CONCLUSÃO...
Não há dúvidas de que este longa seja um dos grandes destaques e também um dos melhores títulos de 2013, justamente por conta da sua história e da interpretação de Judi Dench ao ponto de, na lista dos melhores, todos os outros demais títulos serem até ser bons, mas Philomena será o único a ficar na memória de quem assistir, e não por ser chocante, pois não é, mas por ser, dentro de toda sua tristeza e tragédia, uma belíssima e inspiradora história de perseverança, amor, perdão e fé.

terça-feira, 1 de abril de 2014

COMO UM ROMANCE AMERICANO...

★★★★★★★★
Título: Yossi
Ano: 2012
Gênero: Drama
Classificação: 14 anos
Direção: Eytan Fox
Elenco: Ohad Knoller, Oz Zehavi
País: Israel
Duração: 84 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Dez anos se passaram desde quando Yossi perdeu seu grande amor, muita coisa mudou, mas outras se mantiveram as mesmas, como alguns traumas, dificuldades e decisões.

O QUE TENHO A DIZER...
Dirigido pelo mesmo diretor do primeiro filme, Eytan Fox, esta continuação se passa exatamente dez anos depois dos incidentes do primeiro filme. O personagem principal, vivido novamente por Ohad Knoller, abandonou o exército e agora é um cardiologista conceituado, mas que vive, respira e se alimenta de sua profissão, preso em uma frustração de nunca ter se libertado de um passado traumatizante traçado por decisões erradas e uma tragédia que o marcou emocional e psicologicamente por nunca ter tido a certeza de seu companheiro ter ouvido sua primeira e única declaração de amor enquanto morria em seus braços.

Esta continuação é bastante interessante porque além de se abster de todos os defeitos que haviam no primeiro filme, o roteiro se aprofunda em demasia nas dores e frustrações do personagem de forma tão crua que é impossível o espectador não sentir todas as sensações de impotência, angústia, complexos e traumas de uma vida interrompida e solitária tal qual se transformou a vida de Yossi.

Dez anos é um espaço de tempo muito grande na vida de uma pessoa, mas que passa rápido o bastante para que não seja notada as mudanças que ocorrem à sua volta, ou em como problemas que não foram superados se enraizam e se transformam em partes de nós mesmos, como um casco, ou tão fechado quanto a concha de uma ostra. Toda essa percepção no filme é muito nítida quando o ator principal aparece em cena pela primeira vez, carregado em marcas de expressão, fora de forma, ausente de qualquer humor ou sentimento além da frustração. É um choque, mas ao mesmo tempo um sentimento de total compreensão das razões e motivos dele ainda cultivar essas dores.

O mérito desta continuação foi ter usado toda a situação criada pelo primeiro filme e desenvolvê-la de forma verdadeira e emocional em uma densidade que o primeiro filme nunca alcança. Os momentos de introspecção e de solidão do personagem e até mesmo nas suas poucas tentativas de superar as dificuldades e sair do casulo que ele contruiu são tão íntimos e pessoais que chegam a parecer verídicos, como se ele fosse alguém que realmente conhecêssemos há dez anos.

A história vai exatamente contar o final dessa trajetória de dez anos de depressão e sofrimento do personagem, mas nem por isso vai evitar de mostrar situações duras e constrangedoras em diversos momentos de grande verossimilhança, como quando Yossi resolve encontrar uma pessoa que conheceu virtualmente. A situação parece exagerada e uma ficção, mas muito comum e verdadeira entre pessoas que já passaram por situaçõe semelhantes desde quando a internet passou a ser uma oportunidade para os solitários, independente das orientações sexuais.

A maturidade da produção é equivalente ao tempo entre um filme e outro. Se esta continuação tivesse sido realizada dois ou cinco anos depois, talvez ela não tivesse o mesmo impacto ou a mesma densidade e refinamento como a apresentada agora pelo diretor e pelo ator, que embora mantenha a mesma imagem sisuda do começo ao fim, já está experiente e domina a técnica o suficiente para conseguir trasmitir muito com o pouco em momentos sublimes, como quando ele está assistindo a um show e a dor da solidão e de todas as dores que ele sente transcendem com a música, ou na sequencia final e seu visível misto de desconforto e vergonha com o desejo e a vontade de libertação.

A continuação recebeu grandes críticas positivas, mesmo não tendo tido a mesma presença em festivais e premiações como o primeiro. Nem por isso deixa de ser um filme de um apelo emocional profundo para qualquer pessoa. Embora o tema seja sobre as dificuldades comuns vividas pelas diversidades sexuais, ele é, acima de tudo, um filme mais humano do que temático, no qual participamos da vida do personagem de forma tão sincera que torcemos por essa libertação e redenção, e esse momento acontece, mesmo que de forma cliché, mas coerente com toda a trajetória mostrada nas duas produções, necessário e merecido ao personagem, como em um romance americano, assim como Jagger imaginou para Yossi no primeiro filme.

CONCLUSÃO...
Uma excelente continuação que de tão refinada se transforma em um filme único, um drama humano verdadeiro e coerente com uma realidade que ignoramos, mas que está mais próxima de todos nós do que imaginamos.

TENTA SER UM ROMANCE AMERICANO...

★★★★★★
Título: Delicada Relação (Yossi & Jagger)
Ano: 2002
Gênero: Drama
Classificação: 14 anos
Direção: Eytan Fox
Elenco: Ohad Knoller, Yehuda Levi, Ays Steinovitz, Hani Furstenberg
País: Israel
Duração: 65 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre dois soldados que trabalham na fronteira entre Israel e Líbano que mantém uma relação secreta motivada pela solidão e carência da rotina diária de guerra.

O QUE TENHO A DIZER...
O filme israelense é dirigido por Eytan Fox, e não conta uma história excepcionalmente diferente sobre a relação amorosa de dois jovens, a não ser o fato de serem dois soldados israelenses que convivem diariamente com seus colegas na faixa de guerra na fronteira entre Israel e Líbano.

Essa dificuldade de aceitação e de diferença de ideais já foi explorada diversas vezes e por diferentes maneiras em filmes com temáticas sobre diversidades sexuais nos últimos 20 anos, principalmente em países Europeus. Mas este filme em particular abraça a ideologia e a cultura de um país que se destacou por ser o mais progressista do meio leste asiático (e também no mundo) ao legalizar e a considerar legalmente a união estável homossexual em 1988 (e ainda permanecer como o único país asiático a reconhecer isso), a proibir a discriminação em 1992, a legalmente aceitar adoção de crianças por casais homossexuais em 2008, além da preservação legal de homossexuais poderem servir ao exército livre e abertamente.

A história pega gancho nessas liberdades oferecidas, porém mostra a dificuldade do personagem principal, Yossi (Ohad Knoller), em lidar com essa situação, bem como também suas contradições pessoais quando Jagger (Yehuda Levi) o pressiona para que a relação de ambos seja mais definida para ele e para os outros, para que possam viver sem limitações em um ambiente já naturalmente limitante como é o campo de guerra.

Fora isso, a história mantém o que já é previsto, como a rotina militar, alguns sonhos e vontades de uma juventude abandonada para que a carreira militar possa ser seguida, a dúvida de alguns companheiros e a certeza de outros sobre a relação dos personagens principais e o amor platônico de uma das mulheres por Jagger.

Embora o filme seja de 2002, a relação dos personagens principais ainda é algo muito atual e corriqueiro na sociedade, o que faz com que muitas pessoas que já tiveram ou ainda tem relações similares possam se identificar com eles. A crítica sobre esta hipócrita atitude é clara, mesmo que cliché, quando é demonstrado que a vida é muito curta para que as pessoas vivam sob falsas aparências e indecisões.

Não é um filme melodramático ou que pese no tema para agradar um público homossexual, pelo contrário, é um filme simples e curto (até bastante), e que trata desses problemas sociais de forma muito clara e objetiva, sem rodeios, metáforas ou muita profundidade porque a situação vivida por todos já é clara por si só. Por vezes a produção barata, a inexperiência de atores e até mesmo a direção um tanto amadora do diretor fazem o filme ter enquadramentos e focos que é impossível não associar com as produções de filmes pornográficos, tanto que a princípio achei que, talvez, a experiência do diretor pudesse ter saído dessas produções, o que não é verdade segundo seu currículo, mas infelizmente essa sensação pode ser sentida pelos mais atentos.

Independente de qualquer defeito, a baixa produção até consegue realizar um filme sensível e verdadeiro que tenta criar um romance americano, como diz um dos personagens, mas que não consegue porque a história não vive na mesma ilusão. E é esse seu destaque, tanto que a produção ganhou vários prêmios e foi um dos grandes destaques do Festival de Tribeca de 2003.

CONCLUSÃO...
Uma baixa produção que é sensível e realista, que mostra os problemas ainda enfrentados por casais homossexuais na sociedade de forma verdadeira e objetiva, sem mais ou menos.
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