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sexta-feira, 17 de agosto de 2012

UMA TERRÍVEL BOBAGEM...

★★★
Título: O Segredo da Cabana (The Cabin In The Woods)
Ano: 2011
Gênero: Horror, Comédia, Ficção
Classificação: 14 anos
Direção: Drew Goddard
Elenco: Kristen Conlly, Chris Hemsworth, Anna Hutchison, Fran Kranz, Jesse Williams, Richard Jenkins, Bradley Whitford
País: Estados Unidos
Duração: 95 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Cinco amigos vão passar um final de semana em uma cabana no meio da floresta, ao chegarem lá descobrem que a cabana esconde coisas sobre um passado misterioso e que poderão acordar seres que apenas trarão destruição.

O QUE TENHO A DIZER...
É o primeiro filme dirigido por Drew Goddard, que anteriormente havia trabalhado como roteirista e produtor de seriados como Buffy e Angel (ambos criados por Joss Wedon), Alias e Lost (ambos criados por J.J. Abrams). Ele também foi roteirista do inesperado sucesso Cloverfield (2008), e tem mais dois roteiros prontos e já em fase de pré-produção: o próximo filme do lendário Steven Spielberg, Robopocalypse, e a também há-muito-tempo-anunciada seqüência de Cloverfield.

Só por este breve currículo do roteirista e diretor já é possível perceber que o cara é bem influenciado na indústria, tendo braços fortes como Joss Wedon (que também assina o roteiro e é atualmente responsável pela terceira maior bilheteria do mundo por Os Vingadores), J.J. Abrams (famoso criador de séries que agora se tornou um poderoso diretor e produtor de Hollywood), e também caiu nas graças de ninguém mais que Steven Spielberg (que "por acaso", junto com Abrams, também foi produtor de Cloverfield e Super 8). Ou seja, Drew Goddard pode não ser excelente, mas está bem engrenado e cheio de oportunidades.

Confesso que tentei gostar de O Segredo da Cabana porque, apesar dos defeitos, ele tem elementos e idéias boas, mas os defeitos são ruins mesmo. O filme é uma baderna e uma bagunça que eu não me lembro de ter visto anteriormente em nenhuma época.

Imagine todos os filmes de horror, terror adolescente, fantasia e ficção científica que você já assistiu, bata tudo no liquidificador. Aquilo que você jogar no copo é o filme. E se você não quiser saber mais, então pare de ler aqui, porque eu não vou falar do filme em metáforas só pra não "estragar" surpresas, porque isso não vai amenizar o fato do filme ser desagradável.

Usa como referência direta o filme de Clive Barker, Hellraiser (1987) (tanto que o cartaz do filme é uma referência ao cubo do filme de Barker), e também os filmes da trilogia de Sam Raimi, Uma Noite Alucinante (The Evil Dead, 1981/1987/1992). Com essas referências básicas ele tenta ser um horror diferenciado, misturando os sustos e a direção clássica de Raimi com os seres bizarros e o medo maniqueísta de Barker, de que tudo que é do mal vem do inferno, é esquisito, causa dor, sofrimento e angústia. Pavores natos do ser humano.

Ele tenta dar uma explicação boba para a existência de todos os fenômenos e seres paranormais, místicos, surreais, infernais, lendários, bizarros e fantasiosos sem foco algum, para dar a falsa sensação a quem assiste de que essa confusão toda é algo muito original, pois é isso que fazia os filmes de horror clássico terem se tornado cults no gênero. Infelizmente o público acreditou nisso, e o filme atingiu um pico de 7.8 no IMDb e 79% de aceitação no Rotten Tomatoes. Mas naquela época pouco ainda havia sido explorado e tudo realmente parecia novidade, e o público adolescente atual pouco conhece as referências que movimentavam legiões na década de 80, com reuniões nerds e cosplayers para assistirem e discutirem sobre nada.

Chris Hemsworth ainda nem pensava em virar Thor quando o filme foi filmado, ainda em 2009. O filme foi lançado apenas este ano, e esse atraso de quase 3 anos quase o engavetou. Depois do lançamento de Thor, o estúdio achou que seria uma boa repensar no lançamento do filme, e através de uma campanha maciça de uma "revolução no gênero", como tentaram promover, o boca a boca atingiu proporções mundiais. O filme foi lançado e resultou numa bilheteria favorável por conta dessa expectativa, arrecadando (até o momento) mais de US$65 milhões no mundo, um pouco mais do dobro do que custou. Ainda continua inédito no Brasil, mas é fácil assistí-lo.

Diferente de Hellraiser (onde um cubo místico seria capaz de abrir as portas do inferno e a história giraria em torno do imaginário comum do ser humano de que o mundo das trevas é habitado por seres bizarros e mutilados cuja única função é torturar a carne e transformar a vida numa eterna dor), ou até mesmo de Uma Noite Alucinante (que um livro de ocultimo seria capaz de abrir um portal capaz de trazer os demônios para a terra), O Segredo da Cabana tenta usar uma fajuta justificativa de que os seres humanos são marionetes comandadas por uma "organização secreta" existente para saciar a vontade de "deuses" sádicos (chamados de anciãos). Esses tais "anciões" assistem televisão e gostam de reality shows, e para deixarem o mundo continuar rodando como deve, eles precisam constantemente se alimentar do sofrimento humano, sendo obrigação dessas organizações manter uma gigantesca estrutura tecnológica e virtual para esta finalidade. Essa estrutura ainda conta com uma coleção de todas as criaturas sobrenaturais já vistas ou imaginadas em caixas que se organizam automaticamente numa ordem infinita, como no cult de ficção e horror de Vincenzo Natali, Cubo (Cube, 1997). Se esses deuses não forem agradados como devem, eles ficam nervosinhos e resolvem destruir tudo e fazer tudo de novo. Uma bobagem sem tamanho.

Li muita gente considerando o filme uma sátira bem feita do gênero, mesclando horror moderno com clássico. Mas não é. Sátiras já foram feitas aos montes, e geralmente elas sempre caem no ridículo, ao invés de ser inteligente. O grande defeito é sempre a prepotência de fazer um filme ser bom em mais de um gênero e, no fim, não conseguir ser nem uma coisa, nem outra. Os personagens são clichés logo de cara, em situações clichés, para depois repetir o que outros filmes já fizeram dentro desse argumento absurdo de um ritual pra lá de tecnológico que vira e mexe entra em pane. Essa absurdez não convence nem dentro do argumento do filme. Não é nada agradável ver esses personagens tentarem convencer que a situação é assustadora e depois tirarem sarro disso. Isso é chamar a audiência de imbecil.

Se tudo é pra ser uma piada, então porque inventar tanto? Essa é a pergunta.

A idéia básica do filme é muito boa, mas apenas se a história tivesse sido levada para um caminho mais sobrenatural, ocultista e sério, sem esses elementos futurísticos que não acrescentam em nada. Mas se isso tivesse acontecido o público ignorante não teria apreciado.

CONCLUSÃO...
Uma grande besteira. Uma hora e meia de pura bobagem. Nem mesmo os monstros que aparecem chegam a convencer. Mais um filme para os adolescentes do fundamental que querem fazer um programinha "pra galera" no final de semana ou para aqueles sem um pingo de senso crítico e que adoram tudo que vira moda. E só esse público pra gostar mesmo. Quem gosta de filme de horror de verdade, ou de uma sátira bem feita, ou de uma comédia realmente engraçada, ou de uma ficção científica bem construída, não vai achar nesse filme nada, mesmo ele tentando ser tudo isso.

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