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terça-feira, 26 de novembro de 2013

QUEM É ELENA?

★★★★★★★★★☆
Título: Elena
Ano: 2011
Gênero: Drama, Suspense
Classificação: 14 anos
Direção: Andrey Zvyagintsev
Elenco: Nadezhda Markina, Andrey Smirnov, Elena Lyadova, Aleksey Rozin
País: Rússia
Duração: 109 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Elena é uma enfermeira aposentada que há dez anos se transformou em uma dona de casa dedicada e oprimida, mas agora deverá tomar decisões inadiáveis e necessárias para o seu futuro e o de sua família.

O QUE TENHO A DIZER...
Elena é um filme russo dirigo por Andrey Zvyagintsev que obviamente é desconhecido pelo ocidente, mas chamou a atenção com este filme delicado e ao mesmo tempo denso que muito carrega da própria cultura socio política da Rússia e suas consistentes mudanças no decorrer dos tempos. Foi um dos grandes vencedores no Festival de Cannes de 2011 e de outros prêmios independentes pelo mundo (não confundir com o brasileiro Elena (2012), igualmente bem recebido pela crítica e público).

A construção do filme é lenta e gradativamente se aprofunda na história e na vida da personagem principal e dos demais que estão relacionados a ela que, embora seja até previsível em algumas situações, consegue fornecer uma narrativa surpreendente. O que é válido dizer é que Elena é uma enfermeira aposentada, e hoje uma dona de casa oprimida, de origem pobre e proletária que teve a sorte de cuidar e conhecer alguém que pode oferecer a ela uma melhor qualidade de vida. Talvez ela seja feliz em uma relação que hoje se resume em uma situação arranjada, funcional e codependente, cômoda na rotina e em regras determinadas até mesmo para o sexo em uma vida submissa e subalterna. Porém, a personagem agora se encontra em uma fase de decisões necessárias e inadiáveis, importantes para uma mudança de posições a seu futuro e ao de seu filho casado, que ainda mora em condições precárias no subúrbio e tem como profissão receber mensalmente a aposentadoria que sua mãe religiosamente entrega em suas mãos para alimentar seus dois filhos e a total dependência parasitária de sua família. Elena talvez pouco dê atenção a isso ou se importe, já que acredite estar fazendo bem e contribuindo principalmente para o futuro de seus dois netos, além de ter em si o instinto materno do cuidado e do amor incondicional, ou simplemente sentir-se na obrigação de agir assim.

Os "talvez" dessa história não são em vão, pois o trabalho da atriz se vale principalmente na sutileza e na discrição de uma performance complexa e enigmática de uma personagem que nunca deixa transparecer o que acha ou pensa além do necessário e que precisa estar ao alcance dos outros. Em algumas situações ela deixa transparecer tais dúvida, mas os momentos são tão raros e momentâneos que podem passar despercebidos em um piscar de olhos. Essa maestria da atriz e da direção em tecnicmanete ter total controle sobre a personagem, carregando o espectador em uma constante dualidade de conflitos contidos onde nunca sabemos até que ponto suas ações são calculadas ou espontâneas, não apenas são os pontos altos de todo o filme como a grande razão de se apreciar esta pequena e sólida obra. Como dito pelo crítico Peter Bradshaw para o The Guardian, a cena em que o diretor foca uma foto de Elena, provavelmente tirada dez anos antes e pela própria pessoa com quem ela dividiu esses dez anos, é o momento chave em que nos perguntamos quem é ela? O que ela realmente quer? Quem ela ama?

Mas os detalhes não param por aí, a relação entre Elena e sua familia metaforicamente representam as diferença de classes que agora os dividem, retratando uma imagem brutal e contemporânea da sociedade russa que se dividiu brutalmente com a queda do socialismo e se prendeu em uma estrutura familiar um tanto feudal, onde o direito e o respeito deve ser dado ao patriarca que provê nada além do necessário, estando ele no direito de cobrar pelo ofertado e decidir por aqueles que dependem de seus favores ou auxílios, e isso também se estende a seus descendentes. Mas Elena também existe para metaforicamente atuar como um agente modificador dessa estrutura.

Zvyagintsev é preciso, criando um cenário constante, magnificamente filmado e dirigido em tomadas propositalmente óbvias àqueles que observam e assistem atentamente. Também não podemos deixar de notar um certo estilo hitchcockiano em técnicas cinematográficas clássicas e o abuso do voyerismo que constrói um ambiente igualmente tenso e misterioso tal qual os filmes do clássico diretor. Mas neste filme a câmera atua mais que uma ferramenta de imagem, mas como um narrador vivo, mudo e expressivo que compensa a (talvez) apática vida da personagem principal. Enquanto em ambiente de classe alta, suas tomadas são amplas, longas, frias, distantes e lentas; quando em classe média baixa, as tomadas são curtas, editadas, sem movimentos, inconvenientes e invasivas. O único meio termo encontrado é quando Elena vaga livremente de uma zona da cidade para outra, onde temos apenas um leve esboço de sua real natureza.

CONCLUSÃO...
Um filme magnificamente dirigido e que não peca no excesso de perfeição tecnica, com uma história simples e carregada de simbolismos sociais, políticos e familiares fortes, por vezes surpreendente na frieza e profundidade com que toda a história é silenciosamente narrada.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

CADÊ GODZILLA?

★★★★
Título: Círculo de Fogo (Pacific Rim)
Ano: 2013
Gênero: Ação
Classificação: 12 anos
Direção: Guillermo Del Toro
Elenco: Charlie Hunnan, Rinko Kikuchi, Idris Elba
País: Estados Unidos
Duração: 131 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Uma raça alienígena e parasita migra de planeta em planeta de tempos em tempos, e agora tentam invadir a Terra enviando Kaijus através de um portal em uma fenda tectônica para destruirem os humanos. Cansados de serem constantemente atacados, as nações se unem na construção dos Jaegers, robôs capazes de irem a combate para lutarem e destruirem os monstros.

O QUE TENHO A DIZER...
Dirigido pelo mexicano Guillermo Del Toro, o mesmo de Hellboy (2004/2008) e O Labirinto do Fauno (Pan's Labyrinth, 2006), sendo sua volta como diretor depois de cinco anos (nos últimos anos atuou mais como produtor) e também a tentativa da Warner de pegar carona com a franquia Transformers, iniciada em 2007, e lançar seu próprio filme (ou sua própria franquia) de robôs gigantes. Talvez possa dar certo, talvez não, pois o filme custou US$190 milhões e foi um fracasso nos Estados Unidos, arrecadando custosamente um pouco mais de US$100 milhões. Mas curiosamente o filme arrecadou mais de US$300 milhões no resto do mundo, o que garantiu a ele a possibilidade de uma sequencia e talvez, segundo o próprio Del Toro, de uma trilogia.

Conta a história de monstros alienígenas gigantescos que invadem a Terra pelo mar ao atravessarem uma fenda tectônica que é também um portal entre os dois mundos. Chamados de Kaiju (termo japonês dado a monstros desconhecidos), destruiram boa parte das grandes cidades numa sequência de ataques que já duram sete anos, o que fez as nações se unirem para criar os Jaegers, robôs igualmente gigantescos capazes de enfrentá-los de forma equivalente e evitar novas invasões e catástrofes.

A grande diferença dos já mencionado Transformers é que o filme de Del Toro, o qual também trabalhou no roteiro e produção, bebe até em exagero da cultura japonesa e seu fascínio por monstros gigantes de destruição em massa que andam pelas cidades como em um jardim. Enquanto Transformers lida com a guerra entre robôs de diferentes raças, Círculo de Fogo lida com a guerra direta entre humanos e monstros. Por conta disso, não é difícil associar o filme a antigos seriados como Jaspion, Changemam e Flashman por conta de uma equipe de heróis responsável por comandar robôs que irão a campo de batalha contra monstros destruidores. Também é impossível não associar àquele que foi e é a referência maior de todos eles, chamado Godzilla. Há também referências aos mangás e animes japoneses que tratam do mesmo tema, ou até a série de jogos eletrônicos Final Fantasy, já que grande parte dos monstros do filme tem visuais bastante similares aos monstros chamados Weapons nesses jogos.

Uma pena que as grandes e importantes referências utilizadas parem por aí e necessariamente não façam do filme algo tão bom como poderia, porque Del Toro não consegue evitar o uso exacerbado do fator Hollywoodiano, ou seja, do excesso do desnecessário. Da mesma forma que o diretor também não consegue manter a mesma linearidade e aquela mistura mágica e aceitável de ficção, fantasia e realidade que ele já conseguiu com sucesso em títulos anteriores, tanto que ele ficou conhecido justamente pela facilidade em articular esses gêneros como se fosse um só.

Círculo erra naquilo que a maioria dos blockbusters fazem. Exacerba nos diálogos bobos, vazios e cheios de frases heróicas de efeito; atores inexpressivos ou que se expressam caricatamente como feito, por exemplo, por Idris Elba na sua leitura repetitiva e já cansada de chefe áustero e mecânico ou do herói durão feito por Charlie Hunnam; os personagens cômicos e irritantes para cobrir buracos; e um argumento comum para justificar tanta destruição; ou a famosa tensão sexual existente entre o herói e a heroína irritante.

O roteiro é cheio de buracos e situações que não se encaixam ou justificam as razões das coisas existirem e acontecerem, como o fato de serem capazes de criar robôs gigantes cheios de aparatos tecnológicos inimagináveis, mas não de um míssel ou bombas avassaladoras contra eles. Sem contar que, no decorrer da história, supõe-se que os monstros ficariam maiores e mais difíceis, mas o último deles, o temido CLASSE 5, que pode acabar com qualquer coisa a sua frente, é morto numa facilidade como se fosse o primeiro. Aliás, como eles saberiam que é um  Classe 5 se nunca tinham visto antes? Há também o fato dos robôs existirem para evitar a invasão e destruição das cidades, mas durante batalha eles são permitidos destruir mais que os próprios monstros. Então, assim como o intragável O Homem de Aço, me pergunto para que a existência de heróis se eles matam e destróem mais do que os vilões e os monstros?

Portanto, se torna incoerente e sem sentido, desatento a tudo que é mostrado e falado, e uma via única e fácil para produzirem um blockbuster oco para o aumento do consumo de pipoca. Nem podemos dizer que possui efeitos especiais deslumbrantes, pois a maioria do que acontece é no escuro ou na chuva porque é mais fácil esconder os defeitos da produção corrida, ou também dizer que há cenas de ação realmente boas ou de tirar o fôlego, porque todas parecem ser iguais.

Então, novamente é fraco tanto quanto Transformers, e não algo mais polido, articulado e adulto quanto se supunha, deixando aquele gosto de desperdício no ar e da constante carência de cabeças mais amadurecidas por filmes de ação que não necessariamente precisam tacar em nossa cara tanto absurdo de uma vez só e chamar isso de cinema.

E se preparem porque nada vai parar por aí, há também o reboot de Gozdilla chegando ano que vem, como se o absurdo de Roland Emmerich (1997) não tivesse sido suficiente.

CONCLUSÃO...
Prato cheio para aqueles que só querem ver efeitos grandiosos, explosões, batalhas entre monstros ou até mesmo ter apenas um gostinho de nostalgia sobre as referências utilizadas. Está longe de ser um filme bom, e mais ainda de ser memorável. Mas como um todo é um filme robusto na tentativa de impressionar, pesado no exagero e que demora pra entrar em um ritmo tal qual os próprios Jaegers.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

ASS KICKED...

★★
Título: Kick-Ass 2
Ano: 2013
Gênero: Ação
Classificação: 16 anos
Direção: Jeff Wadlow
Elenco: Aaron Taylor-Johnson, Chloë Grace Moretz, Jim Carrey
País: Estados Unidos, Reino Unido
Duração: 103 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Kick Ass abandonou seu uniforme, mas o senso de justiça fala mais alto quando descobre que a vida é entediante sem ele.

O QUE TENHO A DIZER...
O primeiro Kick Ass (2010) foi dirigido por Matthew Vaughn, que conseguiu uma difícil junção de linguagem adulta com visual e sonoridades lúdicas para aliviar o peso de tanta violência embutida, conseguindo fazer do filme um cult instantâneo no gênero e um dos poucos absurdos relevantes no cinema nos últimos anos. Politicamente incorreto ao extremo, o filme sofreu para ser produzido ao ponto do diretor angariar fundos por conta própria e produzí-lo indepedentemente. Óbvio que, depois do sucesso de crítica e em home vídeo obtidos, os olhos dos estúdios cresceram e quiseram transforma-lo em uma franquia.

Vaughn saiu da direção e do roteiro e foi para a produção. No seu lugar entrou o pseudo-novato e desconhecido Jeff Wadlow. A mudança foi gritante e visível, e o segundo filme perdeu quase que totalmente a pequena mágica sarcástica que Vaughn conseguiu criar.

Ao invés de se manter dentro das propostas apresentadas no primeiro filme, Wadlow pegou os personagens Dave e Mindy e os colocou em um universo comum e sem graça, cheio de clichés que no primeiro filme pouco existiam ou tentavam ser abolidos. As cenas e seqüências parecem não fluir no meio de uma edição tão exagerada e cheia de cortes, e os dramas dos personagens viraram um grande besteirol que se encaixaria caso o filme de Vaughn não tivesse uma proposta tão incorreta como teve. É aquela velha história de que todo grande estúdio tende a destruir uma grande idéia original, e não foi diferente com essa sequência. Feita para atrair um maior público adolescente, não apenas a violência foi amenizada como a própria rebeldia contida nos personagens. Há uma jorrada de sangue aqui e outra ali apenas para dizer que o estilo do filme se manteve, mas a impressão que se passa é que quanto mais os personagens cresceram, menos ousados eles ficaram.

Talvez o mesmo a ser dito sobre os atores. Em 3 anos que separam um filme e outro, muita coisa mudou para eles. Embora Aaron Taylor-Johnson (Kick Ass) se mantenha no mesmo platô confortável e que não exigiria muito de qualquer ator amador ou não, Chloe Grace Moretz (Hit Girl) agora aparenta sofrer daquilo que outras atrizes mirins sofrem ao crescer, o da perda da espontaneidade e do aumento da atuação ensaiada, deixando a artificialidade tomar conta da naturalidade de antes.

Um filme longo e entediante, pois não tem o mesmo humor e a espontaneidade do primeiro, feito sobre um roteiro bagunçado que tenta se desenvolver em conflitos bobos e comuns como o vilão que quer cegamente vingar a morte do pai, ou a heroína que agora sofre assédio na escola pelas garotas populares e abandona o uniforme porque seu padrasto policial e bonzinho a colocou de castigo, ou o herói que esconde do pai sua identidade secreta (super original) e um mentor vivido por Jim Carrey (irreconhecível) apenas para ocupar o papel que tinha que ser ocupado por um ator mais velho e conhecido tal como fez Nicholas Cage no filme anterior. Como se isso tudo não fosse suficiente, há também os deja vus, com cenas que parecem ter sido simplesmente copiadas do primeiro filme ou a apelação para o exagero escatológico que não podia ser mais apelativo na tentativa do resgate do riso fácil no meio de uma hora e meia de pura chatice.

Não há muito o que ser analisado, pois assim como o filme original nada mais foi do que uma idéia interessante e um produto diferenciado para entreter (algo que faz muito bem), a segunda parte virou apenas um produto qualquer que tenta entreter mas não consegue e se perde numa fórmula que tentaram criar, mas que nunca existiu. Tanto foi assim que o filme foi um naufrágio de crítica e público, e definitivamente não manteve o respeito alcançado com o primeiro, pelo contrário, o denegriu.

CONCLUSÃO...
Realmente o filme de Vaughn é difícil de ser engolido para os mais conservadores ou politicamente corretos, mas quem entende sua ironia e seu sarcasmo dentro de tanta violência absurda e fantasia distorcida, se diverte e vibra sem compromisso, pois o restultado de tudo é, de fato, apreciável. Mas nessa segunda parte dirigida por Wadlow, tudo foi juntado sem sentido ou coerência, resultando numa grande tentativa frustrada e mal planejada de continuar uma história que poderia ter parado onde parou, mas que agora teve uma extensão desnecessária.

UMA VERDADEIRA KRIPTONITA AO HERÓI...

★★★★
Título: O Homem de Aço (Man Of Steel)
Ano: 2013
Gênero: Ação
Classificação: Livre
Direção: Zack Snyder
Elenco: Henry Cavill, Amy Adams, Diane Lane, Russell Crowe, Kevin Costner
País: Estados Unidos
Duração: 143 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Novamente a história do homem alienígena que se fortaleceu e se transformou em um superherói na Terra.

O QUE TENHO A DIZER...
Embora seja um herói construído unicamente para a cultura norte americana na intenção de enaltece-la como um indestrutível poder político e bélico, além de promover ao mundo a grande filosofia do american way of life e sua garantia ilusória de vida feliz, não podemos negar o fato de que o herói é uma parte viva de uma cultura popular e muito lembrada principalmente no cinema.

Depois de mais de quase 20 anos no ostracismo desde o último filme da série que estrelava Christopher Reeve, responsável por marcar uma geração e ainda ser a referência mais sólida que temos do herói em carne e osso, a Warner resolveu entregar a responsabilidade de retomar a franquia nas mãos do diretor Bryan Singer. Isso aconteceu pelo fato de ter sido este diretor o responsável pelo grande marco divisório que ocorreu nos filmes de ação baseado em heróis de quadrinhos ao ousar adaptar - e também acertar em cheio - os heróis da Marvel conhecidos como X-Men, ainda em 2000.

O que Bryan Singer fez no início da década de 2000 em trabalhar fortemente na releitura dos quadrinhos de maneira acessível para a linguagem do cinema virou uma regra e uma fórmula contemporânea que há muito o cinema buscava, e que deu certo. A Marvel Comics tomou a frente, produzindo adaptações de sucesso, como Homem Aranha, além dos já citados X-Men. Posteriormente teve uma leva de outros heróis já conhecidos como Hulk, Homem de Ferro, Capitão América e Thor, culminando seu reinado na indústria ao pegar essa entourage e produzir o projeto mais ousado da história do cinema chamado Os Vingadores, que arrecadou quase US$2 bilhões no mundo. A DC Comics com a Warner, por outro lado, se mantiveram na zona de conforto, tendo apenas nas mangas os heróis Superman e Batman. Tentaram apresentar ao mercado o Lanterna Verde, que foi um fiasco de crítica e público.

O reboot do herói foi lançado em 2006 e levou o título de Superman - O Retorno (Superman Returns), em analogia às suas quase duas décadas desaparecido. Singer tentou brincar com esse "sumiço" do herói e, inclusive, justificá-lo no filme de forma bastante aceitável, além de tentar se manter fiel à imagem e mito que o herói se transformou. Mas O Retorno não foi o sucesso esperado, além de ter sido um filme mais nostálgico do que inovador, pois ele nada mais foi do que uma reprise do que já havia sido feito e abordado anteriormente quando estrelado por Christopher Reeve na década de oitenta, deixando o público dividido: enquanto os nostálgicos se sentiram satisfeitos logo na abertura com os rompantes da trilha sonora de John Ottman em sua releitura moderna e fiel a de John Williams, os mais conservadores ficaram decepcionados com os mesmos cliches e um grande grau de insatisfação por conta dos atores protagonistas.

Isso fez a Warner novamente engavetar o herói e pensar no que fazer com ele no futuro, acreditando que a safra de filmes baseado em quadrinhos estava perdendo o fôlego (ledo engano), aguardando para analisar o mercado e observar qual seria a tendência nos anos seguintes. A tendência foi óbvia, e com o reboot de Batman, levando o personagem para dentro de um mundo muito mais obscuro e realista, mas sem deixar de ser igualmente fantástico, fez o gênero tomar um ar fresco e que novamente mudou a forma narrativa de se "brincar" com os quadrinhos na tela. O teor mais humano criado por Cristopher Nolan para o homem morcego foi o que a Warner acreditou ser o que faltava no herói da capa vermelha. Correndo contra o tempo para aproveitar o público que ficou carente com o final da Trilogia Batman, Zack Snyder foi contratado para tocar a produção e o sinal verde para O Homem de Aço foi dado.

Snyder ficou conhecido por fazer filmes que ficaram famosos pelo visual que vaga entre os quadrinhos, mangas e vídeo game, como acontece em 300 (2006), Watchmen (2009) e até com exagero em Sucker Punch (2011), portanto ele aparentava ser uma escolha certeira, tanto que o filme foi um dos mais esperados nos dois últimos anos e boa parte da bilheteria foi arrecadada apenas na primeira semana.

O uso de filtros de imagem, característicos do estilo do diretor, embora usados de forma mais sutil dessa vez, estão presentes tal qual em todos seus filmes anteriores, mas ele definitivamente pesa a mão e não consegue oferecer a mesma fluidez como, por exemplo, em 300, seu único filme mais famoso e criticamente bem aceito. Snyder custosamente tenta dar ao filme uma linguagem mais adulta do que a suportada de forma forçada, e a narrativa desconstruída do roteiro que pinga entre o presente e o passado com flash backs desnecessários para quebrar aquela rotineira história de como um bebê alienígena descobriu seus poderes na Terra, desmotiva e chega a até quebrar o clima em momentos chaves, demorando uma eternidade para chegar aos finalmente de apresentar o homem como um Herói. As mais de duas horas de filme se resumem em apenas uma meia hora quiçá interessante e que nem é possível lembrar qual seja frente a tantos acidentes de percurso.

Talvez a grande ganância tenha definitivamente sido a tentativa de seguir os mesmos passos de Christopher Nolan ao dar um tom sombrio a um personagem que não comporta esta abordagem em sua personalidade. Essa tentativa de reprodução é tão forte que igualmente apostaram no sucesso de abolir o nome do herói do título do filme tal qual foi feito com o de Batman em O Cavaleiro das Trevas. Não satisfeitos com isso, acreditaram que criar uma história completamente nova em cima das mesmas fundações seria interessante. A história do herói é novamente e basicamente contada da mesma maneira, mas características e detalhes icônicos que são partes de sua figura tanto quanto sua capa vermelha foram abolidos ou modificados sem coesão. A Kriptonita não existe mais, Kripton deixou de ser um planeta de cristal, Louis Lane agora é loira, a trilha sonora praticamente nem é ouvida e nada carrega do clássico de Williams e o poder do herói agora existe por causa da atmosfera terrestre. Ou seja, nada que valesse realmente a pena ser modificado, mas mesmo assim foi, apenas para dar um ar enganoso de novidade e consumir tempo - e haja tempo - ao ter que, mais uma vez, explicar a razão de tudo ser como é agora.

O filme novamente sofre por um público dividido que não sabe se gosta ou se despreza, e a crítica especializada definitivamente detestou as infames mudanças ocorridas, e fez tanta questão de desprezá-lo que apenas teceu elogios ao porte físico do ator que insistiu unicamente em um rigoroso treino e descartou qualquer hipóstese de ser colocado dentro de um padrão de beleza com uso de anabolizantes ou sessões de depilação. Ou seja... irrelevante.

É um filme que se torna banal e desnecessário, que justifica sua existência apenas com intermináveis destruições que deixam os filmes arrasa-quarteirões de Michael Bay no chinelo. Considerado o pai e o chefe de todos os super heróis justamente por ter um enorme senso de justiça, humanidade e de perda por conta da educação exemplar tida pelos pais adotivos, chega até ser assustador que em momento algum ele tenha se preocupado em derrubar todo e qualquer prédio que aparecesse em sua frente como um Godzilla, e junto matando milhares de civis. Isso tudo deixa no ar essa incoerência de que, para salvar o planeta, ele agora pode destruir cidades inteiras, algo que o herói sempre evitou, seja nos quadrinhos, seja nas telas (incluindo no filme anterior de Bryan Singer).

O vilão Zod até chega a roubar a cena algumas vezes, mas isso também não espanta porque o nível das atuações, em um todo, chega a ser vergonhoso. Até mesmo Diane Lane (Martha Kent) ou Amy Adams (Louis Lane) não seguram as pontas como conseguiriam normalmente. Louis e Martha estão totalmente perdidas, aparecendo em cena sem motivo algum, apenas para serem lembradas de que fazem parte de algum ponto da história. O pior dos momentos sempre sobra para Amy Adams, que na maioria das vezes entra correndo em cena como que atrasada na gravação, e sai andando pra trás à francesa como se fosse excesso de contingência porque nem diálogo que valha a pena ela tem. Enquanto isso Diane Lane só aparece para resmungar de alguma coisa, como a bagunça que a casa ficou depois de ser destruída, ou a panca de mãe durona ao peitar um homem alienígena que ela encara louvavelmente e sem borrar as calças como se fosse um vizinho qualquer. Como se não bastasse ter Russell Crowe, ainda houve espaço para Kevin Costner. Ou seja... está tudo errado. Um elenco que não funciona em uma história pra lá de furada com uma direção que não sabe para onde atirar. Novamente Superman não teve um filme que fizesse jus ao peso de seu nome.

A versão de Bryan Singer pode não ter sido a das melhores, mas os ícones e todo o universo que caracterizam o herói foram mantidos. Não apenas isso, Singer tem uma grande habilidade de conseguir trazer à tona questões e questionamentos humanos em personagens heróicos e fictícios, coisa que em momento algum Snyder consegue fazer. Pelo contrário, Snyder causou uma enorme revolução para, no fim, enfiar um par de óculos no personagem e ainda insistir em chamar aquilo de disfarce. Ele fez a mesma coisa com seu filme anterior, Sucker Puch, promovendo-o sob um enorme barulho para, no fim, ser decepcionante na mesma medida. Snyder está se mostrando um diretor perdido, ruim e sem foco, que começou a carreira utilizando todos seus cartuchos, e hoje em dia não tem uma bala sequer para acertar ao menos uma vez.

Com um orçamento de mais de US$220 milhões, arrecadou mundialmente um pouco mais de US$370 milhões, nada muito surpreendente perto do tanto que foi gasto, mas foi o suficiente para Warner dar sinal verde para uma continuação já entitulada Superman vs. Batman. Ou seja...

CONCLUSÃO...
Fraco, sem foco, perdido e uma verdadeira Kriptonita ao herói. Consegue ser o pior de todos e dificilmente conseguirá se recuperar no futuro. Filme para impressionar aqueles que não conhecem o herói ou para aqueles que simplesmente adoram uma grandiosa destruição sem sentido na tela.
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