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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

"NOBODY LIKES A DIRTY GIRL!"

★★★★★★★★
Título: Dirty Girl
Ano: 2010
Gênero: Comédia, Drama
Classificação: 14 anos
Direção: Abe Sylvia
Elenco: Juno Temple, Jeremy Dozier, Milla Jovovich, Mary Steenburgen
País: Estados Unidos
Duração: 90 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre uma adolescente rebelde que, junto com seu mais novo amigo gay que fugiu de casa por seus pais terem descoberto sua orientação sexual, resolve ir atrás de seu pai que ela não conhece.

O QUE TENHO A DIZER...
É o primeiro e (por enquanto) único longa metragem escrito e dirigido pelo promissor Abe Sylvia, que demorou sete anos para tirar o projeto do papel. O roteiro já estava pronto, mas ele não conseguia financiamento até que uma produtora independente, a Killer Film, aceitou financiar o projeto. Com ele pronto, o filme foi lançado no Festival de Toronto em 2010, e alguns dias depois a Weinstein Company, dos famosos irmãos Weinstein (fundadores da antiga Miramax), adquiriram os direitos, e apenas em 2011 ele foi lançado em pequeno circuito nos cinemas. Segundo Abe, o roteiro foi escrito na sala de aula, quando ele ainda cursava Cinema, sendo a personagem de Daniele (Juno Temple) baseada numa colega de sala que ele teve ainda no ensino médio, e o personagem Clark (Jeremy Dozier), baseado nele mesmo.

Além dos méritos já existentes Dirty Girl também conta com o figurino assinado por Mary Claire Hannan, a mesma dos filmes de Tarantino, Cães de Aluguel (Reservoir Dogs, 1992), Pulp Fiction (1994) e Jackie Brown (1997). O figurino, junto com a direção de arte e a fotografia reproduzem com bastante similaridade o final dos anos 80 sem dar a sensação, em momento algum, de que o filme é uma produção pequena e independente. Mas a nostalgia também atinge a trilha sonora, importantíssima em filmes que retratam épocas como os anos 80 justamente pelo cenário musical ter sido tão influente na moda e na vida das pessoas de maneira tão distinta e característica. Quando falamos dessa época automaticamente lembramos de Cyndi Lauper, Madonna e Michael Jackson, os nomes top of mind da época. Tentando manter essa obviedade de lado, Abe Sylvia escolheu a dedo as canções. Fugindo do cliché, o repertório se baseia em músicas que provavelmente muita gente já vai ter esquecido, mas no momento que ouvir será imediatamente transportado para algum momento daquela época em que a música estava tocando.

Felizmente, vez ou outra somos agraciados com filmes adultos sobre adolescentes, traumas de infância ou disputas de sala, como o humor negro e depressivo de Bem-Vindo À Casa de Bonecas (Welcome To The Dollhouse, 1995), o inesquecível O Casamento de Muriel (Muriel's Weddin, 1994), o escrachado e oitentista Romy & Michele (1997), ou até mesmo o moderno e inteligente Meninas Malvadas (Mean Girls, 2007). Dirty Girl com certeza complementa esta pequena lista de bons filmes sobre a adolescência rebelde com causa(s) justificada(s).

Juno Temple, considerada umas das novas estrelas em ascenção da atualidade, ainda era uma jovem atriz britânica pouco conhecida quando fez esse filme. Independente disso, o talento dela é inegável. Ela consegue dar a personagem Danielle um misto de rebeldia punk e futilidade adolescente de maneira impressionante. Ela não é uma aluna qualquer do colégio e muito menos uma adolescente que se importa em ser a rainha do baile, ela quer é ser notada e demonstrar poder e independência a todo custo. Inteligente, afiada, boca suja e sarcástica, cria inimizades e é falada por onde passa por extravasar ao invés agir como a maioria das outras garotas de sua idade: conter. Tudo isso por conta da ausência de um pai que ela não conheceu e por uma mãe submissa que outrora também era transviada e motivo de fofoca da boca pequena, mas agora, adulta e solitária, é preocupada com a imagem social e vive sob a sombra do medo de não encontrar um marido e constituir uma família que ela, nem sua filha, tiveram. Com isso Danielle constrói uma imagem e postura impositora e provocativa como forma de se proteger da hostilidade alheia.

Como antagonista temos o adolescente tímido, incompreendido e que, por ser gay, sofre constantemente abusos físicos tanto na escola quanto do pai que não aceita a orientação do filho. Mas ao contrário de Danielle, ele é introspectivo e tímido, pois tem medo de expressar seus gostos e vontades no medo de ser julgado pelos outros e principalmente por seu pai, que o ameaça e constantemente o coage a ser algo que ele nunca será. E ao contrário de Danielle, a presença paterna em sua família é forte, mas ignorante, e o que falta é a materna, já que a mãe é igualmente submissa e teme as repreensões e a personalidade estúpida do marido. A interpretação de Jeremy Dozier é bastante delicada, transpondo dramas e dúvidas típicos e bastante comuns em jovens que se encontram na mesma situação que ele.

É o típico Complexo de Édipo: por um lado Danielle maltrata e despreza a mãe na ilusão de que é com o pai que ela ficará assim que encontrá-lo. Do outro lado Clark gostaria que o pai não existisse para que ele possa ser feliz apenas com sua mãe. Durante a tragetória desses dois exemplos do cotidiano, eles acabam descobrindo que nem sempre as coisas são como imaginadas e que a realidade muitas vezes é mais dura do que poderia parecer.

Danielle e Clark, aos trancos e barrancos, se tornam amigos por identificarem um no outro suas próprias dores e angústias, além de completarem suas faltas. A química dos dois atores é um dos outros raros momentos que esquecemos que estamos assistindo a um filme e somos convencidos de que aquela amizade e conexão são reais, e não uma interpretação. Por também ser um road movie, a dupla facilmente seria Thelma & Louise aos 17 anos.

A construção dos personagens e de suas personalidades é bastante definida com todos e não há deslizes em nenhum momento, dando espaço para os acontecimentos e uma história que a cada minuto que passa apenas cresce e se desenvolve com momentos muito engraçados e outros que é impossível não chorar, chegando a um final óbvio e intencionalmente cafona, mas motivante e sincero. É impossível não se identificar e comover não apenas com a dupla principal, mas com os demais personagens que sofrem, como as mães interpretadas por Mary Steenburgen (fantástica como sempre) e Milla Jovovich, que me pegou de surpresa (eu não sabia que ela estava no filme) e que pela primeira vez a vejo sendo bem dirigida e atuando decentemente, o que já demonstra bastante que, para conseguir isso, o filme é realmente bom.

CONCLUSÃO...
Sincero e delicado, acho que são as duas palavras mais honestas pra descrever esse pequeno filme, porém grandioso nas qualidades.

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