Translate

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

ESQUECÍVEL...

★★★★
Título: 360
Ano: 2011
Gênero: Drama
Classificação: 14 anos
Direção: Fernando Meirelles
Elenco: Lucia Siposova, Gabriela Marcinkova, Johannes Krisch, Rachel Weisz, Jude Law, Juliano Cazarre, Maria Flor, Anthony Hopkins, Ben Foster
País: Áustria, Brasil, França, Reino Unido
Duração: 110 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre várias pessoas, de várias nacionalidades, espalhadas por aí, que não se conhecem, mas partilham de uma coisa em comum: da dificuldade de fazer a melhor escolha em suas vidas.

O QUE TENHO A DIZER...
Fernando Meirelles é aquele diretor que ficou famoso e internacionalmente conhecido por Cidade de Deus (2002) e que se tornou um diretor renomado e requisitado ao novamente levar para o Oscar seu filme seguinte, O Jardineiro Fiel (The Constant Gardener, 2005). Depois disso ele adaptou Ensaio Sobre a Cegueira (2008), que pouca gente gostou e foi mal interpretado por muitos, mas nada disso importa quando o próprio autor da obra, José Saramago em pessoa, aprovou a adaptação.

Por ter se despontado internacionalmente, Meirelles virou uma figura poderosa no Brasil, um au concour, daquelas que as pessoas admiram o trabalho mesmo muitas vezes sem saber do que se trata ou entendendo nada, numa atitude falsamente cult e venerável, coisa que brasileiro sabe fazer muito bem. Não que ele não tenha motivos para isso, porque ele tem, mas sabemos que isso abstrai as pessoas de senso crítico.

Bom, não é o que acontece comigo.

360 está sendo promovido enganosamente por aí como um suspense ou algo do tipo, colocando o nome de Meirelles em letras garrafais juntamente com alguns nomes importantes do elenco como Rachel Weisz, Jude Law e Anthony Hopkins. Isso é observado pelo próprio poster, com fotos do elenco em surpresa e apreensão. Mas a verdade é que o filme é um drama chato, o pior dos filmes de Meirelles, e os atores famosos são, na realidade, elenco de apoio, pois o filme mesmo é carregado nas costas pela outra parte do elenco desconhecido e que nem ao menos leva os créditos. Talvez a distribuidora saiba o péssimo filme que tem em mãos, e agora vão tentar fazer das tripas coração para vendê-lo de alguma forma, já que o fracasso é iminente.

O roteiro é assinado por Peter Morgan, roteirista bastante competente e que já assinou outros filmes interessantes com temáticas que a Academia de Hollywood sempre adora como: O Último Rei da Escócia (The Last King Of Scotland, 2006), A Rainha (The Queen, 2006), A Outra (The Other Boleyn Girl, 2008), Frost/Nixon (2008) e Outra Vida (Hereafter, 2010).

No meio de tantas pérolas que Morgan escreveu provavelmente estava 360, de escanteio, acumulando pó e ficando com as páginas amarelas de velhice, que só não foi filmado antes OU porque todos os diretores anteriores acharam que este filme seria só mais um OU porque realmente era a última opção. Qualquer que seja a razão, o fato é que ele é mais um e também seria a última opção, pois a história segue a mesma e velha premissa da ultra-conexão puxada por Robert Altman e seu Short Cuts - Cenas da Vida (Short Cuts, 1993), ou seja, aquela narrativa onde vários personagens com histórias distintas se interconectam no final. Esse estilo narrativo foi utilizado incansavel e exaustivamente como em Magnolia (1999) e Crash (2004), só pra citar os mais conhecidos porque a lista é interminável, filmes os quais 360 se identifica o tempo todo, mas que é aquele irmão bastardo, renegado e desprezado pela madrasta má.

Essa narrativa, mesmo exausta, ainda consegue surpreender e envolver de alguma forma, por isso que as pessoas gostam tanto. Mas não é o caso desse filme que é exatamente como o título se refere, uma volta inútil para a chegada ser o ponto de partida, tanto que ele termina do jeito como começa, e isso não é estragar a surpresa porque logo no começo do filme já é possível prever tudo isso.

O roteiro parte da metáfora de que em uma estrada devemos sempre ir onde a bifurcação está,, mas cabe a nós e a mais ninguém escolher qual lado dela seguir. Sabemos muito bem que essa decisão é difícil quando nos deparamos em situações como essa, e Meirelles tenta dar tantos exemplos que ele se perde no caminho, não conseguindo se aprofundar em nenhum. Ao invés de nos dar pontos de vista relevantes e seguros sobre a vida e suas decisões, acaba virando mais um filme sobre dramas amorosos e traição, quando estes são os temas que menos esperaríamos de um filme assim, deixando de lado assuntos mais relevantes e exemplos menos óbvios.

Só pra ter uma idéia, três casais na história estão em uma relação amorosa falida, ou seja, seria seis pontos de vista distintos sobre a mesma história. O grande problema é que esses pontos de vista não mudam muito de um personagem para o outro, dando a impressão que estamos vendo sempre a mesma coisa e que esse grande número de personagens é, na verdade, desnecessário, quando era muito mais simples fazer apenas uma história bem feita.

É um filme entediante que só é salvo do completo fracasso por alguns pequenos detalhes como: a edição bem feita e que consegue vagar entre os episódios com certa naturalidade, sem mudanças muito bruscas ou rápidas demais com conexões entre cenas que chegam a ser até interessantes; as atuações que, embora desperdiçadas, funcionam dentro dos esquetes; a direção de Meirelles, embora esteja comum e simples nesse filme, é efetiva e vale ser observada pelo cuidado que ele tem por pouco, como os ângulos de câmera, posicionamentos e até pela ousadia de ter lidado com um elenco de mais de 12 atores principais.

Mas falta profundidade porque nunca uma história é observada de perto o bastante, nunca sabemos o motivo de algo, como se um livro tivesse sido vendido só com a metade final, virando muito mais uma união de crônicas semelhantes e pobres de argumento do que exemplos relevantes. Tudo é muito superficial e o filme nunca nos mergulha em alguma das histórias ou realmente nos dá alguma importante filosofia ou conclusão. É fato que quando algo acontece nunca sabemos as razões de imediato, talvez essa tenha sido a intenção do filme, mas essa distância entre quem age e quem sofre, mas nesse caso entre quem age e quem assiste, não funcionou dessa vez.

CONCLUSÃO...
É esquecível. Qualquer outro filme com narrativa similar consegue ser melhor, até mesmo o mais recente O Exótico Hotel Marigold (The Exotic Marigold Hotel, 2011), que também parte da idéia da ultra-conexão, consegue ser melhor em vários aspectos. É uma pena, já que Meirelles é um homem de poucos e bons filmes, mas errou a mão e a dose dessa vez.

Nenhum comentário:

Add to Flipboard Magazine.