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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

TÉCNICA NÃO TEM PREÇO...

★★★★★★★★
Título: Absentia
Ano: 2011
Gênero: Drama, Suspense, Terror
Classificação: 14 anos
Direção: Mike Flanagan
Elenco: Courtney Bell, Katie Parker, Dave Levine, Justin Gordon, Morgan Peter Brown
País: Estados Unidos
Duração: 87 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Depois de 7 anos a procura de seu marido desaparecido, com a ajuda de sua irmã recém chegada na cidade, uma mulher decide simplesmente aceitar o fato de que seu marido morreu e dar andamento na sua vida e no filho que espera. Mas sua irmã passa a se deparar com fatos que mostrarão que o desaparecimento de seu marido não é apenas um fato isolado como também é similar ao de muitas pessoas.

O QUE TENHO A DIZER...
Ainda inédito no Brasil, achei esse filme por acaso em um site (é fácil achá-lo), fiquei curioso com a sinopse e fui pesquisar a respeito no IMDb. A nota oferecida pelos avaliadores é baixa, com uma média de 5,7, mas em compensação os comentários foram bastante favoráveis e percebi que esse era mais um daqueles filmes que muitas pessoas assistem e acabam subjulgando o produto porque não oferece aquilo que esperam, porque ele não é um filme de horror como a expectativa de muitos pode achar.

Este filme faz parte dessa nova safra de filmes de um subgênero que poucas pessoas estão dando atenção, o suspense dramático ou horror dramático, filmes que abusam de um enredo dramático familiar ou pessoal, e se desenvolvem como um filme desse gênero, mas que acaba tendo reviravoltas ou conclusões com características do suspense ou terror. Uma atmosfera similar a de filmes como Os Outros (The Others, 2001), O Orfanato (El Orfanato, 2007), Os Olhos de Julia (Los Ojos de Julia, 2010), e os mais recentes O Despertar (The Awakening, 2011), e o sem título nacional definido, The Tall Man (2012). Este último filme com uma temática até bastante similar, mas ao invés de falar de adultos, fala do desaparecimento de crianças.

É um estilo que notei ser mais comum em filmes europeus e particularmente assisti mais filmes espanhóis assim, talvez porque o público norte-americano goste de coisas fáceis e definidas, porque não me lembro de ter assistido alguma produção americana desse gênero que tivesse feito sucesso, com excessão de Os Outros, mas que é um filme que nem segue muito as características que definem esse estilo. Confesso que esperava um filme insosso e tedioso, mas quando acabou me encontrei tenso, com respiração curta e ao mesmo tempo lágrimas nos olhos.

O filme é dirigido, escrito, editado e produzido pelo desconhecido Mike Flanagan, e o mesmo pode ser dito sobre os atores, também pouco conhecidos e com poucos trabalhos relevantes no currículo, mas o talento de todos é evidente. Filme independente, custou apenas a bagatela de US$70 mil, uma produção muito barata pelas qualidades que ele oferece, mesmo com alguns defeitos como imagem granulada pela baixa qualidade da câmera, mas que combinam perfeitamente com o enredo do filme. Mike Flanagan participou e ganhou diversos festivais de cinema de horror espalhados pelos EUA com este filme, o que demonstra a boa aceitação e que existe um público cansado do gênero cru e comum de suspense ou terror. As pessoas não estão mais interessadas em levar apenas sustos, elas querem uma história apreensiva e que surpreenda pelo misto de sensações.

A história tenta dar razões para o sumiço de Daniel (Morgan Peter Brown), marido de Tricia (Courtney Bell), que está desaparecido há 7 anos e sem deixar qualquer pista. O clima criado pelo diretor é de solidão, confusão e distanciamento até mesmo quando Callie (Katie Parker), a irmã mais nova, chega na cidade depois de anos viajando, para ajudar Tricia com mudanças que acontecerão por conta da sua gravidez.

As coisas começam a mudar quando Callie encontra um homem estranho em um túnel que liga o bairro à cidade, e ao voltar para dar comida ao estranho, ele desapareceu. Posteriormente a isso, objetos estranhos começam a aparecer, como em um jogo de trocas, chamando a atenção de Callie para outros fatos que vem a acontecer.

Não estragaria muitas surpresas se eu contasse mais sobre o filme, porque ele não tem grandes mistérios, mas mesmo assim acho bom mantê-los de lado por conta das surpresas dramáticas, que é o grande atrativo do filme junto com o clima de suspense mantido na expectativa que criamos frente aos acontecimentos de cada uma das personagens. As atuações são bastante convincentes e a direção consegue deixar a tensão suspensa o tempo todo, desde a forma como o roteiro e os atores são conduzidos durante o processo, realizando cenas certas nas horas certas, até o uso de diferentes estilos de filmagens em momentos adequados, em sequencias subjetivas e objetivas, câmeras livres e enquadramentos fechadas, opacos, claustrofóbicos. Mike Flanagam também abusa de diferentes lentes de filmagem, principalmente em momentos de tensão, objetivando a sensação de foco e atenção. São truques manjados, mas que quando usados de maneira correta e em momentos certos é quase imperceptível, ao mesmo tempo que consegue causar o impacto pretendido em quem assiste. Portanto, para tirar do espectador sensações e sentimentos, basta saber utilizar as técnicas. E técnica não tem preço, muito menos boas idéias.

Absentia tenta dar explicações sobrenaturais para os acontecimentos, mas ao mesmo tempo o roteiro não desvia da realidade ao dar outras breves alternativas e deduções mais plausíveis, o que dá a livre escolha a quem assiste de acreditar mais em um ponto de vista do que outro, ou apenas aceitar os dois lados.

CONCLUSÃO...
Uma das grandes surpresas que assisti esse ano e que recomento àqueles que desejam sair um pouco do óbvio e do susto encomendado. Como disse antes, o filme tem um teor muito mais dramático, e o clima de horror e suspense são criados exatamente por explorar diferentes pontos de vista dramáticos que raramente costumamos ver. Definitivamente merece ser assistido por quem quer mais do que susto gratuito e procura uma história simples, porém densa e que se desenvolve por vários lados.

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