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sábado, 21 de julho de 2012

"NÃO É ASSIM QUE AS COISAS FUNCIONAM..."

★★★★★★★★
Título: O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida (The Lorax)
Ano: 2012
Gênero: Animação, Fantasia, Comédia
Classificação: Livre
Direção: Chris Renaud e Kyle Balda
Dublagem original: Zac Effron, Taylor Swift, Danny DeVito, Ed Helms, Betty White, Rob Riggle, Jenny Slate
País: Estados Unidos
Duração: 86 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre um guardião da floresta, a voz das árvores, que aparece quando a natureza está ameaçada na tentativa de defendê-la através do diálogo e da mudança de consciência, ou seja, a batalha e o caminho mais difícil.

O QUE TENHO A DIZER...
Para quem não sabe (assim como eu também não sabia até pesquisar), O Lorax é um personagem bastante antigo criado nos anos 70 por Dr. Seuss, ou Theodor Seuss Geisel, um escritor, poeta e cartunista mais conhecido pelos seus livros e personagens infatis como O Grinch e O Gato, personagens e histórias que também já viraram filmes, sendo o primeiro interpretado por Jim Carrey em 2000 e que fez muito sucesso, e o segundo por Mike Myers em 2003 e que foi um fracasso em todos os sentidos. Por isso que demorou alguns anos até suas histórias voltarem a ser produzidas, mas agora, definitivamente como animações, como Horton e o Mundo dos Quem! (Horton Hears a Who!, 2008) e O Lorax.

Os livros infantis de Dr. Seuss eram fábulas escritas especificamente para orientar, educar e conscientizar crianças durante a fase de desenvolvimento e aprendizagem, tanto é que a linguagem que o autor utilizava era sempre muito fácil e acessível com vocabulário limitado e distinto para cada determinada fase infantil, tanto que os livros continham palavras básicas e comuns e eram estritamente limitados a elas. Houve livro que ele se limitou a utilizar apenas 50 palavras e em outro apenas 250 palavras porque a intenção dele não era fazer do livro um instrumento da língua, mas como uma comunicação eficiente de educação.

É dessa forma O Lorax surgiu, com a intenção de educar de maneira eficiente, bem humorada e fantasiosa de que o meio ambiente deve ser conservado e sustentado, e não destruído, pois é ele que nos oferece tudo o que precisamos para consumo imediato ou como matéria-prima, não havendo necessidade de destruí-lo para ter o que queremos, porque caso isso aconteça, perdemos tudo, como o filme mostra.

E é assim como o filme desenvolve, chamando a atenção das crianças pelas cores, pelos personagens carismáticos e alguns números musicais que não são jogados à toa, mas para complementar a história e sua moral que gira em torno da busca de uma árvore de verdade, chamada de Trúfula, que foi extinta devido à sua exploração desenfreada.

Tem como diretores Chris Renaud, cujo primeiro longa de animação foi o bonitinho Meu Vilão Favorito (Despicable Me, 2010), e Kyle Balda, mais experiente com curtas de animação. Os roteiristas Ken Daurio e Cinco Paul também são os mesmos de Meu Vilão Favorito. De certa forma lembra um pouco Wall-E (2008), já que as críticas e a moral são praticamente as mesas. Mas enquanto no filme do robô simpático e expressivo havia pouquíssimos diálogos e fez dele instantaneamente um clássico moderno da animação, neste filme há diálogos demais e muito rápidos, o que talvez não dê tempo para o público infantil absorver tanto as idéias como deveria e dar valor às belas coisas mostradas nele. Não será tão relembrado como Wall-E, mas com certeza será um dos favoritos nas premiações do ano que vem.

O público adulto também vai gostar e se divertir, até porque tudo que é posto em discussão no filme de maneira emblemática, serve para todos. Mesmo não sendo o personagem principal, o Lorax é naturalmente, sem dúvida, o mais expressivo pela maneira como ele batalha na defesa da natureza usando apenas o diálogo e o bom senso para promover a consciência e não a força bruta, já que "não é assim que as coisas funcionam", como ele diz. Isso já é o suficiente para podermos nos espelhar em um personagem quando temos poucos exemplos humanos para isso.

CONCLUSÃO...
Bela animação com seqüencias até deslumbrantes de tanta cor e personagens e uma excelente aula infantil de conscientização e sustentabilidade, assuntos tão atuais hoje em dia. Mas não apenas para as crianças, é também um tapa na cara de muitos adultos que não se importam muito com o assunto.

DRAMINHA FAMILIAR À MODA ANTIGA...

★★★★★★★
Título: Crimes do Coração (Crimes Of The Heart)
Ano: 1986
Gênero: Drama, Comédia
Classificação: 14 anos
Direção: Bruce Baresford
Elenco: Diane Keaton, Jessica Lange, Sissy Spacek, Tess Harper, Sam Shepard
País: Estados Unidos
Duração: 105 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Uma jovem tenta matar o próprio marido e está respondendo em liberdade por um crime que ela insiste em não revelar as razões até mesmo para suas duas irmãs que se unem a ela para apoiá-la neste momento difícil. Mas o momento difícil não é apenas para uma delas, mas para todas, e assim os atritos irão surgir, mas a união ficará mais forte.

O QUE TENHO A DIZER...
Como eu nasci nos anos 80, tem muita coisa dessa época para trás que perdi, e resgatar, reviver ou relembrar esses filmes é às vezes difícil porque se eu mal consigo acompanhar os atuais, imagina os antigos? Assisto o que posso e consigo, e às vezes fico curioso por algum título e esse foi um deles.

Este filme é uma adaptação da peça homônima de Beth Henley, que embora tenha sido escrita em 1978, só foi fazer tremendo sucesso na Broadway em 1981, totalizando mais de 530 apresentações. O roteiro do filme também é assinado inteiramente pela própria autora, a qual concorreu ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado daquele ano, juntamente com o de Melhor Atriz para Sissy Spacek e Melhor Atriz Coadjuvante para Tess Harper, que faz a prima espetaculosa das irmãs Magrath.

Eu gosto dos draminhas familiares norte-americanos, principalmente os da década de 80, porque foi uma época em que filmes do estilo "comédia trágica" e os de ação absurdos faziam muito sucesso. As mulheres iam ao cinema para assistir filmes como esse, Laços de Ternura (1983) ou Flores de Aço (Steel Magnolias, 1989), enquanto os homens iam ao cinema para assistir Indiana Jones, Rambo ou Chuck Norris.

Esses gêneros são melodramáticos demais. Há sempre um momento apelativo que nos obriga às lágrimas e é inevitável, mas o mais importante é que esses momentos ainda eram méritos dos próprios atores. Não era como agora é o cinema mais atual (lá pela metade dos anos 90 em diante), em que a tecnologia favoreceu demais a produção mais barata e de massa sem deixar de ser classuda, e sempre há alguma trucagem por trás de uma interpretação como uma iluminação mais condensada, uma maquiagem mais apelativa, ou uma trilha sonora invasiva que abusa do choroso violino, mexendo de forma subliminar com nossas sensações ao invés de nos convencer de que aquilo é uma verdade. Antigamente as coisas não eram tão elaboradas assim pra uma produção simples, e para um ator ou uma atriz ser a estrela principal de um filme ele(a) até podia ser bonito(a), simpático(a) e único(a), mas principalmente tinha que ter talento suficiente pra carregar uma história toda nas costas e fazer aquilo ser bom, mesmo se não fosse. O mesmo quando havia reunião de grandes atores, como é o caso deste título. Esta também era a apelação da época, fazer com que as pessoas entrassem no cinema e saíssem discutindo quem ofereceu a melhor atuação.

A história, um tanto quanto simplista perto dos dramas atuais, acaba não convencendo muito para quem está mais acostumado com o formato dramático de hoje, mas o roteiro de Beth Henley desenvolve a história sem se perder, dando espaço suficiente para cada personagem sem favorecer mais uma do que outra, revelando e conectando os acontecimentos nos momentos certos e sem pressa. Além disso, há também as discussões bastante rápidas, discretas e implícitas sobre posicionamentos políticos, ou questões sociais a respeito da tolerância ao racismo e infidelidade. Há até pequenas introduções ao feminismo, no sentido do crescimento da independência feminina e do controle de suas próprias decisões, e também da pedofilia, numa época em que abordar o sexo com menores de idade era tratado como algo comum, já que nunca era discutido pelo ponto de vista polêmico, pois era um grande tabu, por isso sempre mostrado como uma relação arranjada ou como um sentimento puro e inocente.

As irmãs Magrath são vividas por Diane Keaton (Lenny), Jessica Lange (Meg) e Sissy Spacek (Babe). Lenny é a irmã do meio, mas age como se fosse a mais velha. Eu, particularmente, nunca gostei de Diane Keaton. Tem gente que a considera uma grande estrela e atriz. Pode até ser. Mas ela tem uns vícios de interpretação e uma mania de sempre enfiar um ataque histérico e caricato nas personagens de forma irritante. Sempre a vi como uma atriz velha, até mesmo nos filmes de quando era bem nova, como se ela tivesse feito questão de ser uma anti-estrela com sua imagem de mulher deslocada, ora com suas gravatas, ora com as roupas de vovó, como se quisesse competir, chamando atenção igual criança, e no meio de interpretações muitas vezes sutis como as de Jessica Lange e Sissy Spacek, óbvio que Diane tenderia ao bizarro vestindo seus cardigans e atuando com os costumeiros chiliques e chacoalhadas de cabelo de sempre, beirando a insanidade chata e caricata de uma personagem atormentada por ter perdido boa parte da vida cuidando de um avô doente e nunca ter tido um grande amor. Mas felizmente temos Meg, a irmã mais velha e ousada, independente, livre, sexy e espontânea, atormentada com os excessos do avô machista no passado. A própria figura de Jessica Lange já é um atrativo, ela é naturalmente imponente, um rosto belíssimo e de traços fortes, elegante, uma estrela de fato, atuando com uma ironia perfeita. Por outro lado há Babe, a irmã caçula que ficou bastante perturbada com o suicídio da mãe, com atitudes um tanto tolas e infantis por conta disso e que vem a prejudicar não apenas ela mesma, mas todas as irmãs.

Embora tenha a tendência de ser um filme apelativo com a história de uma família tão perturbada e cheia de problemas, o uso de todos esses elementos acaba não pecando pelo excesso. Há sempre uma coerência sincera e um equilíbrio agradável que coloca a relação familiar, o apoio e a necessidade desses laços acima de qualquer coisa, e que os crimes do coração são as nossas próprias anulações.

CONCLUSÃO...
Um bom melodrama familiar típico dos anos 80 que, ao invés de ser apelativo, é sincero e equilibrado com grandes interpretações e seqüencias memoráveis.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

VIDA DE EMPREGUETE...

★★★★★★★
Título: As Mulheres do Sexto Andar (Les Femmes Du 6ème Étage)
Ano: 2010
Gênero: Comédia, Romance
Classificação: 12 anos
Direção: Philippe Le Guay
Elenco: Fabrice Luchini, Sandrine Kiberlain, Natalia Verbeke, Carmem Maura, Lola Dueñas, Berta Ojea, Nuria Solé, Concha Galán
País: França
Duração: 104 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Durante a década de 60, enquanto Espanha ainda atravessava o período diatorial de Francisco Franco, milhares de imigrantes atravessaram a fronteira Francesa para trabalhar, dentre eles mulheres que foram viver em condições precárias para trabalhar de empregadas domésticas e ajudarem suas famílias na Espanha durante a crise. Em um prédio mora o dono do condomínio e sua mulher no quinto andar, e no sexto andar seis domésticas espanholas que irão transformar a vida deste homem completamente, abrindo o seus olhos para a vida e os pequenos prazeres que fazem dela algo tão valioso.

O QUE TENHO A DIZER...
Como é bom assistir um filme europeu, seja comédia, drama ou romance. Dificilmente caem nos clichés comuns, são pouco óbvios e gostam sempre de tratar de assuntos pouco rotineiros e de forma inteligente, construindo boas histórias sobre temas simples, recheados de bons argumentos. Mas até mesmo quando caem no cliché, como acontece algumas vezes nesse filme, pouca atenção é dada, pois o que importa é o que está sendo construído em volta dele, fazendo do cliché um coadjuvante de pouca relevância. Isso acontece graças ao diretor Philippe Le Guay, que também assina o roteiro um tanto autobiográfico, já que ele também era filho de um investidor e foi criado por uma empregada espanhola. Não recebeu atenção devida, chegando no Brasil até com bastante atraso.

Fui pego de surpesa pois nunca tinha ouvido falar dele antes, e o filme mais me interessou porque gosto desses temas que costumam juntar um grande elenco feminino. Não sei, acredito que as mulheres sempre tem muitas excelentes histórias pra contar, e não seria diferente em um filme em que a predominância é de atrizes espanholas (dentre elas, a querida de Almodóvar, Carmem Maura).

Obviamente o contraste é gritante entre o exagero espanhol e a panca do conservadorismo francês, e isso já é percebido logo no começo quando a faxineira do condomínio (que também faz as vezes de uma síndica), a Sra. Triboulet (Annie Mercier), comenta ao Sr. Joubert (Fabrice Luchini), o dono, que não aguenta mais tanta festa feita pelas espanholas. Porque os espanhóis são assim mesmo, enquanto os franceses são virados, enjoados e sempre num exagerado requinte. E sobre esse mote o filme se desenvolve junto com a contratação da bela espanhola Maria (Natalia Verbeke). Jean-Luis Joubert se encanta por Maria logo no primeiro dia, pois ela sabe fazer ovos quentes, algo que sua antiga empregada que trabalhou com sua família por vinte anos, nunca soube acertar o ponto.

Este é o cliché básico, a linha mestre de uma história que será tricotada entre uma ou outra citação importante e que tem íntima relação com todos os choques culturais e sociais entre esses dois grupos, como as crises econômicas na Espanha por conta da ditadura que levou Francisco Franco ao reinado; a segregação social francesa; o desconforto entre franceses e espanhóis, talvez pela falta de apoio francesa durante o periodo Franco (que boicotou a venda de produtos para os espanhóis durante a ditadura) e/ou pelo inchaço populacional por conta da imigração espanhola (e que posteriormente foi feita pela população portuguesa); e da falta de um sindicato de empregadas domésticas, o que as obrigavam a aceitar condições de assédio e maus tratos. Há também a exploração da mão de obra imigrante, como as péssimas condições de trabalho, habitacionais e de saneamento em que viviam aqueles que moravam no último andar, ou seja, os empregados. No filme tudo é representado de forma um pouco mais sutil, mas real.

Tudo isso é discutido de forma leve e com bom humor, principalmente nas poucas vezes em que a queixo-duro da espanhola Carmem (Lola Dueñas) solta frases revolucionárias ou tenta alertar as demais com suas desconfianças exageradas.

Unido a tudo isso há o casamento falido entre o Sr. e a Sra. Joubert, regado a uma rotina desinteressante em que o marido sabe de cor os deveres de cada dia de sua mulher. Sem outros grandes interesses na vida, ele passa a prestar mais atenção nas empregadas do andar de cima, despertando interesse por suas histórias e se sentindo útil e querido por ajudar cada uma delas, algo que não sentia há muito tempo com sua própria esposa. Claro que tudo isso fora despertado pelo sentimento que constantemente cresce entre ele e Maria, mas que se torna bastante relevante em sua vida quando a união das espanholas se mostra receptiva e amigável de uma forma que ele nunca imaginou, ou melhor, nunca se preocupou em imaginar.

Há dois acontecimentos no filme que não ajudam muito, como a compra de ações na Bolsa de Valores realizada pelas empregadas (nada mais sobre isso é dito) e a noite de amor entre Maria e Jean-Louis, que poderia ter sido dispensada e substituída por qualquer outra coisa. Mas não atrapalha em nada o resultado agradável que ele proporciona.

CONCLUSÃO...
É um filme extremamente prazeroso de se assistir e de certa forma ingênuo dentro de tantos fatos e acontecimentos turbulentos, sem contar que a década de 60 é representada com figurinos e cenários simples mas estilosos, dando muito mais densidade na história contada. Claro que o filme termina em um final feliz e esperado de Cinderela, mas no cinema europeu o filme geralmente acaba antes do açúcar derreter.

terça-feira, 17 de julho de 2012

DELICADO...

★★★★★★★★
Título: Tomboy (Tomboy)
Ano: 2011
Gênero: Drama
Classificação: 14 anos
Direção: Céline Sciamma
Elenco: Zoé Heran, Malonn Lévana, Jeanne Disson, Sophie Cattani, Mathieu Demy
País: França
Duração: 82 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre uma menina de 10 anos de idade que, pouco tempo depois de mudar para uma nova vizinhança, passa a se apresentar como um menino e a partir daí uma decisão é feita e que poderá afetar toda sua vida.

O QUE TENHO A DIZER...
Este é o segundo filme dirigido pela diretora e roteirista Céline Sciamma e, assim como o seu filme anterior, o pouco conhecido Lírios D'Agua (Naissance des Pieuvres, 2007), a temática fica num período que é bastante definitivo em muitas coisas na vida do ser humano, a adolescência.

Tomboy é o termo que se refere a meninas que agem, se vestem, praticam atividades e possuem características de meninos e, embora exista uma relação com o lesbianismo, nem sempre uma característica leva à orientação sexual e/ou vice-versa.

Como anualmente é de praxe, sempre surge um filme para ser a referência desse gênero naquele ano, e esse foi o principal deles em 2011, também encabeçando a lista dos filmes importantes nas temáticas de discussões sexuais envolvendo a trangeneridade e as orientações. Um prato cheio pra quem é militante de causas ou simplesmente gosta de discutir a complexidade sexual. Não é à toa que foi um filme elogiadíssimo em todos festivais da diversidade em que foi apresentado, recebendo também alguns prêmios importantes não pelo gênero, mas como obra cinematográfica.

Eu particularmente não gosto muito dessa coisa de pegar uma obra e datá-la, taxá-la ou rotulá-la como um exemplo da comunidade sexualmente diversa. Arte é arte, ela não tem nome, não tem sexo, não tem idade e é absorvida de maneira diferente para cada um, em maior ou menor intensidade.

É um filme delicadíssimo, mas que possui uma carga psicológica muito maior do que aparenta, principalmente para as pessoas que conseguem identificar e compreender as dificuldades, os temores e se colocar inteiramente no lugar da personagem principal, Laurie (Zoé Héran), uma pré-adolescente de dez anos de idade que naturalmente apresenta características trangêneras, ou seja, embora seja do sexo feminino, apresenta características que não se enquadram nas atribuições de gênero dadas pela sociedade. Juntamente da mesma forma como sua orientação sexual passa a ser descoberta juntamente a isso.

Essa atribuição de gênero é demonstrada logo no começo do filme quando, na rua, ela é confundida com um menino. Essa cena é extremamente importante para todo o filme porque tem um impacto muito grande ao colocar a personagem em dúvida com ela mesma, acendendo os questionamentos sexuais inerentes de seu período de vida, época em que não existem muitas diferenças físicas entre meninos e meninas além do sexo. Essa dificuldade de diferenciar um do outro é constantemente abordada, deixando claro que todo pré-adolescente está enquadrado em uma transgeneridade natural, e o que os diferem na sociedade são seus comportamentos sociais.

O comportamento social de gênero impõe que os meninos ajam como meninos: joguem bola, andem sem camisa, cuspam na rua, briguem. Enquanto as meninas devem agir como meninas: serem delicadas, comportadas e brincarem de boneca. Laurie não se enquadra nesse comportamento dividido, ela prefere muito mais sair para jogar bola do que brincadeiras mais caseiras com sua irmã mais nova, que no filme é o exemplo da menina social; prefere os cabelos curtos, porque são mais práticos; prefere as bermudas e regatas porque são mais confortáveis; não gosta de maquiagem porque não está acostumada.

Pelo receio de ser rejeitada entre os meninos, ela resgata a idéia de poder ser confundida com um, se apresentando a todos do bairro como Mickael, e como o aspecto visual a caracteriza como um, ela então é aceita.

O filme se transforma numa montanha russa a partir do momento que Mickael se envolve em uma briga com outro garoto e sua mãe descobre que Mickael, na verdade, é sua filha. A partir daí o conflito social e psicológico se chocam frente a frente, num drama real entre como se posicionar socialmente e como solucionar sem ser traumatizante o suficiente para trazer consequencias desastrozas durante o amadurecimento físico e psicológico da personagem.

A partir daí é possível traçar várias discussões, desde o posicionamento da mãe, se teria sido melhor ou pior agir justificavelmente como ela fez, até o posicionamento das outras pessoas e do assédio que Laurie sofre depois que é revelado o segredo que ela escondia. Também é possível discutir se a orientação sexual da personagem simplesmente se aflorou com as decisões ou foi direcionado por conta das decisões. Para mim, o fato da personagem ser uma pré-adolescente facilita a absorção do sofrimento e das angústias que ela passa por partilharmos da inocência e da naturalidade que a idade carrega, o que seria diferente se fosse um filme tratando da mesma abordagem com personagens adultos, o que é mais um ponto positivo para a roteirista e diretora em como carregar o público com leveza em cima de um assunto bastante polêmico.

A direção e o roteiro são bastante sutis e respeitam os limites de todos os personagens. Um filme lento, mas que nos insere na vida de Laurie, que é apenas uma mero exemplo de experiências e fatos comuns entre muitos, sejam homens ou mulheres. O elenco juvenil é outro ponto forte e em nenhum momento sentimos que estamos no meio de atores amadores, embora muitos deles sejam.

CONCLUSÃO...
Mesmo sendo delicado, há momentos difíceis e angustiantes, pois mostra os limites da tolerância e os constrangimentos que as pessoas tem que passar, muitas vezes ainda na infância, simplesmente para justificar para a sociedade comportamentos que fogem das regras que ela mesma impõe na dicotomia homem/mulher e nada mais, como se o ser humano fosse simples dessa forma.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

NÃO É DESSA VEZ, IRMÃOS FARRELLY...

★★★
Título: Os Três Patetas (The Three Stooges)
Ano: 2012
Gênero: Comédia
Classificação: 14 anos
Direção: Peter & Bobby Farrelly
Elenco: Sean Hayes, Will Sasso, Chris Diamantopoulus, Jane Lynch, Sophia Vergara, Jennifer Hudson
País: Estados Unidos
Duração: 92 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Vamos dizer que o filme conta o início de tudo. Os três recém nascidos são deixados na porta de um orfanato que, depois que crescem, está ameaçado de fechar por conta de dívidas. Intecionados a resgatar aquilo que para eles é uma grande memória de infância, eles acabam se envolvendo em um crime enquanto se transformam em estrelas de um reality show.

O QUE TENHO A DIZER...
Não há muito o que se esperar de mais um filme dirigido, escrito e produzido pelos irmãos Farrelly, que ficaram famosos no passado ao trazer de volta o estilo "comédia pastelão", mas com pitadas mais grosseiras, como nos filmes Debi & Lóide (Dumb & Dumber, 1994) e Quem Vai Ficar Com Mary? (There's Something About Mary, 1998). Mas a grosseria dos irmãos Farrelly nunca gerou antipatia porque as situações eram sempre muito ingênuas como as pataquadas dos irmãos mentalmente limitados Debi e Lóide, ou até mesmo o "gel de cabelo" de Mary. Mas com o passar dos anos parece que os diretores perderam um pouco o ritmo e tentaram se superar cada vez mais nas piadas prontas e em personagens cada vez mais estranhos, investindo em tipos esquisitos que se tornaram muito mais em figuras bizarras do que simplesmente excêntricas, como o personagem com múltiplas personalidades de Jim Carrey em Eu, Eu Mesmo e Irene (Me, Myself & Irene, 2000), a obesa mórbida de Gwyneth Paltrow em O Amor É Cego (Shallow Hall, 2001), ou os gêmeos siameses de Matt Damon e Gregg Kinear em Grudado Em Você (Stuck On You, 2003), filmes que não tiravam mais do que algumas risada às vezes forçada do público e que foi distanciando as pessoas cada vez mais. E eles nunca mais repetiram o mesmo sucesso que foram os seus dois primeiros filmes, e as pessoas hoje em dia raramente lembram quem são os irmãos Farrelly. Isso é irônico, porque eles caíram exatamente no clichê de quem faz humor, e em um dia faz muito sucesso e todos gargalham, e no outro há poucas pessoas dando algumas risadas.

Faz tempo que os irmãos Farrelly estão tentando reconquistar um público perdido, e encontaram em Os Três Patetas tudo aquilo que, em uma época passada, tinha muito a ver com eles: a comédia pastelão e absurda. O filme não rendeu muita coisa e embora tenha custado US$17 milhões, não arrecadou mais do que US$44 milhões, até porque ele ainda não foi lançado em muitos países. É uma quantidade decepcionante para um filme que projetaram para ser sucesso e o grande retorno desses diretores, mas parece que não agradou muita gente.

Também, pudera, não é mesmo? Para quem já chegou a assistir Os Três Patetas original, sabe que o timing de comédia desses grandes humoristas e comediantes norte-americanos era de uma pontualidade e um sincronismo incomum, incomparável e irreprodutível. Atores que ficaram por mais de três décadas arrancando gargalhadas e se transformaram em ícones e referências ao gênero e a tudo que seja considerado escrachado juntamente a demais grandiosos atores como Charles Chaplin ou Jerry Lewis.

Nessa história dos irmãos Farrelly, há uma tentativa de trazer para a atualidade os três personagens que surgiram em 1934 (reparem que na porta do orfanato há uma inscrição dizendo "FOUNDED 1934") naquele sempre erro hollywoodiano de buscar a conexão rápida e fácil com o público. Então colocaram os três patetas em um ambiente mais atual, e assim o público se sente mais agradado e confortável do que se tivessem situado a história nos anos 40 ou 50 e filmado em preto e branco.

Os três atores se esforçam bastante na caracterização e até rendem algumas risadas em momentos onde é nítido que a interação entre eles está melhor do que em outras partes que, talvez, foram as primeiras a serem filmadas. Uma outra coisa bastante interessante é que os três atores realizaram a maioria de seus trabalhos anteriores na televisão e não no cinema, e essa linguagem que eles também conhecem muito bem talvez é o que tenha facilitado o processo. A única coisa que tenta se manter um pouco fiel é realmente a caracterização, o sincronismo entre eles e algumas outras situações notoriamente forçadas e que não conseguem de forma alguma reproduzir o mesmo tempo de comédia e a mágica que fazia os originais serem tão naturalmente engraçados.

O filme termina com dois atores se passando pelos irmãos Farrelly em uma seqüência explicativa para o público infantil, já que na época em que o seriado original passava, muitas crianças imitavam os chamados pokes (como as dedadas no olho) que os personagens faziam, o que gerou muito problema na época. Então, numa época em que tudo nos Estados Unidos é motivo para aumentar a faixa etária da censura, essa explicação soou mais do que obrigatória. A única coisa que não compreendi é a razão de terem colocado dois atores que mais parecem galãs de filme pornô para fazerem isso.

CONCLUSÃO...
Vai agradar muita gente, talvez pelo público infantil que adora uma comédia pastel ou o público mais velho que não assiste muitos filmes. Poderia ser uma excelente homenagem caso não tivesse havido essa grande intenção de fazer tudo meticulosamente perfeito para ser um sucesso, e o resultado é simplesmente mais um produto descartável e esquecível dos irmãos Farrelly, e para o público mais nostálgico e saudosista esse filme soará mais como uma aberração.

sábado, 14 de julho de 2012

BOM E BARATO...

★★★★★★
Título: Sequestro no Espaço (Lockout)
Ano: 2012
Gênero: Ação
Classificação: 14 anos
Direção: James Mather e Stephen St. Leger
Elenco: Guy Pierce, Maggie Grace
País: França
Duração: 95 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre um agente de segurança que se encontra no meio de uma conspiração, é preso e condenado a passar sua sentença em um coma induzido, mas tem a oportunidade de reverter a situação ao receber a missão de resgatar a filha do Presidente dos EUA que virou refém de uma rebelião de uma prisão de segurança máxima no espaço.

O QUE TENHO A DIZER...
É filme de estréia dos diretores James Mather e Stephen Saint Leger e tem alguns fatos interessantes como ser um filme Francês, falado inteiramente em inglês e feito com um orçamento de aproximadamente US$20 milhões, o que é uma quantidade risória para um filme de ação/ficção futurista e espacial. Usa como referência os filmes de ação/ficção futuristas dos anos 80 e 90, como os de James Cameron ou Paul Verhoven e estrelados por Arnold Schwarzenegger, em que o herói é politicamente incorreto, com personalidade muitas vezes irredutível (até o último instante) e que adora soltar frases irônicas e de efeito, recheado de seqüencias de ação absurdas e vilões caricaturados. Em resumo: o uso de muitos clichés, sem vergonha alguma.

Isso é feito com tanto entusiasmo que chega a ser um pouco irritante. A história começa sem muitos problemas, e a sequencia inicial com o interrogatório do personagem chega a ser engraçada e suficiente para sabermos como é a personalidade dele e como costuma reagir às situações. Depois disso o filme segue nos clichés já citados, desenvolvendo a história num presídio de segurança máxima no espaço. É ação do começo ao fim, não tem tempo pra muito diálogo, então quem gosta disso, vai se divertir bastante. O fim acaba fazendo revelações em uma seqüencia já vista em outros filmes, mas que foi construida de maneira bem legal e que acaba elevando um pouco o nível.

Por ter tido um orçamento tão baixo, chega a ser vergonhoso algumas seqüencias com efeitos visuais bem precários, principalmente no início, mas que vai melhorando no decorrer dos minutos e, realmente, o mérito dos diretores foi ter feito muito com tão pouco, o que não faz do filme um grande exemplo além de ser bom e barato. Mais vale ser visto pelo sempre ótimo Guy Pearce, no auge dos seus 45 anos, que deveria ser mais aproveitado em filmes de ação e de melhor qualidade (ele vai estar em Homem de Ferro 3), mas que acaba perdendo o tom toda vez que a chatinha, aguada e sem postura Maggie Grace entra (aquela que fazia Lost). O filme não é ruim, mas não foge do roteiro batido e perde um pouco o ritmo quando a personagem de Maggie começa a ter maior participação.

CONCLUSÃO...
Não tem muito o que se falar sobre ele, pra quem gosta de filme de ação vai encontrar aqui um prato cheio. E vou dizer que é melhor que muito filme de ação com orçamentos exorbitantes.

MEIO NAS COXAS...

★★★★
Título: Hotel da Morte (The Innkeepers)
Ano: 2011
Gênero: Suspense, Fantasia
Classificação: 14 anos
Direção: Ti West
Elenco: Sara Paxton, Pat Healy, Kelly McGillis
País: Estados Unidos
Duração: 101 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre um hotel tradicional de uma cidade que funcionou por décadas, mas agora, com alguns esparsos hóspedes, ele vai ser fechado, o que faz com que os dois recepcionistas que lá trabalham comecem a investigar fatos misteriosos que aconteceram no passado e que transformaram o hotel em uma lenda fantasmagórica.

O QUE TENHO A DIZER...
Dirigido por Ti West, conhecido por alguns filmes de horror pouco conhecidos no Brasil como o mais recente e ainda inédito no país V/H/S (2012), ou The House Of The Devil (2009), pelo qual ele ficou mais conhecido. Mas são filmes que, digamos, são cultuados mais pelos amantes do gênero, o que criou muita especulação sobre este título que foi promovido erroneamente com trailers, teasers e pôsters como um filme de horror do estilo "mansão mal assombrada", mas que não é, e deixou muita gentre frustrada depois, considerando o filme muito ruim. São nessas horas que eu sou a favor de pedir meu dinheiro de volta porque, embora haja morte no filme e os mistérios sobre o hotel giram em torno disso, o filme não é o que o título e muito menos a imagem macabra do pôster representam.

O filme não é muito ruim, ele só gera uma expectativa diferente, e frustra por oferecer outra. A narrativa é dividida em atos, como se fosse uma peça, o que não tem muito significado no desenvolvimento da história, mas ajuda bastante a dividir o filme em duas partes.

A primeira metade do filme mostra mais a vida rotineira e entediante dos recepcionistas do hotel Claire (Sara Paxton) e Luke (Pat Healy), deixando familiar pra quem assiste como é a rotina de trabalho de cada, a relação de amizade entre eles (com uma leve tensão sentimental), os poucos e irritantes hóspedes que aparecem, a atitude invasiva da balconista do café ao lado que se julga íntima para desabafar seus problemas só porque eles regularmente frequentam o estabelecimento, e até mesmo o esforço de Luke em trazer turistas para o hotel e evitar o seu fechamento publicando um blog sobre os acontecimentos sobrenaturais que ocorrem lá dentro, o que fica evidente no filme que não existe, mas o facínio do recepcionista em comprovar a existência de fenômenos paranormais é tão grande que ele até tem alguns equipamentos de gravação que podem registrar os chamados "sons espectrais". Essa obessão acaba influenciando e despertando o interesse de Claire que, para driblar o tédio de noites sem hóspedes, encostada no balcão, e ocupar a cabeça vazia, resolve utilizar esse tempo livre para ajudar o colega na pesquisa e ir mais a fundo nos mistérios que lá rodeiam e essa fixação acaba fazendo com que ela ouça e veja coisas.
Essa primeira parte pode ser entediante para muitos, mas eu particularmente achei a mais interessante, porque dá tempo de conhecer bastante cada um dos personagens e mostrar um cotidiano sem pressa. O tom é muito mais de comédia por conta da ironia de Luke e do humor corroído pelo tédio de Claire, rendendo até alguns diálogos engraçadinhos.

A segunda parte já entra mais nos mistérios do hotel que envolve uma antiga moradora que havia se matado. Quando uma nova hóspede, a atriz de televisão Leanne Rease-Jones (Kelly McGillis, aquela que fez Top Gun, com Tom Cruise, em 1986), revela que está na cidade para um encontro mediúnico, Claire pede sua ajuda. É nessa parte que a imaginação de Claire começa a tomar conta da realidade e Leanne lhe dá um conselho que crescerá na cabeça da personagem e será chave para o final do filme.

Sem dúvida o filme tem diversos buracos no roteiro e pistas falsas que, no fim das contas, não servem para nada, o que faz muita gente não chegar a uma conclusão definitiva, se perdendo nessa segunda parte sem propósito, numa dúvida evidente entre manter o tom engraçadinho ou o suspense.

Culmina em situações previsíveis e um fim que poderia ser melhor, mas que só não é de todo ruim porque levanta a dúvida de tudo ter realmente acontecido ou ter sido apenas projeções da imaginação fértil e esvaziada de Claire por conta da sua inutilidade no trabalho. E só isso que falei já vai ajudar muita coisa.

O diretor Ti West deu uma entrevista dizendo que o roteiro deste filme foi escrito muito rápido e logo em seguida já foi filmado. Isso explica muita coisa.

CONCLUSÃO...
É fraco e que desaponta mais pela expectativa que ele gera, mas ao mesmo tempo tem uma idéia interessante e vale muito mais ser visto como um suspense fantasioso. A perspectiva muda quando o filme é visto como uma vida rotineira e o que uma cabeça vazia é capaz de fazer pelo subuso.

VAMOS PASSEAR EM CHERNOBYL, ENQUANTO OS MUTANTES SE APRONTAM...

Título: Chernobyl (Chernobyl Diaries)
Ano: 2012
Gênero: Horror
Classificação: 14 anos
Direção: Bradley Parker
Elenco: Dimitri Diatchenko, Ingrid Bolso Berdal, Olivia Dudley, Devin Kelley, Jesse McCartney, Nathan Phillips, Jonathan Sadowski
País: Estados Unidos
Duração: 86 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Seis turistas americanos viajam para o norte da Ucrânia e aceitam o convite de um deles de, com o auxílio de um guia turístico ilegal, irem até a cidade abandonada de Pripyat, local onde moravam os trabalhadores da usina de Chernobyl. Quando a noite cai, descobrem que a cidade esconde muito mais do que imaginavam.

O QUE TENHO A DIZER...
Filme de estréia do diretor Bradley Parker, sendo um filme triste de tão fraco que é. E é inacreditavel que o seu roteiro de péssima qualidade tenha sido escrito por 3 pessoas: os irmãos Carey e Shane Van Dyke, e Oren Peli. Oren também é, por sinal, criador e roteirista de toda a série Atividade Paranormal (Paranormal Activity, 2007/2010/2011/2012).

O filme tenta pegar um gancho do clássico de Wes Craven, Quadrilha de Sádicos (The Hills Have Eyes, 1977), que teve uma boa refilmagem em 2006, contando a história de uma família que viaja de Cleveland/Ohio, para San Diego/Califórnia, e após um incidente são obrigados a fazer uma pausa na viagem. Sem saber, acabam parando em uma região habitada por mutantes resultantes da radioatividade de uma antiga vila de testes nucleares, similar às famosas Cidades Teste no deserto de Nevada, nos EUA.

Com este mote, eles tentam contar uma história parecida, mas ao invés de se passar em algum lugar desconhecido, resolvem pegar a cidade abandonada de Pripyat, na Ucrânia, para desenvolver a "história", cidade onde houve o maior acidente nuclear da história por conta da Usina de Chernobyl. Mas ao contrário do filme de horror Wes Craven, que é um clássico e também uma referência do estilo gore por ser violento, sanguinário, assustador e chocante, O Diário Chernobyl é nada.

Ao contrário do que se imagina pelo trailer, que seria um filme documentado tal qual tantos outros anteriores iniciados com A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project, 1997), não há documentário algum. A câmera em primeira pessoa é feita por um observador oculto e onipresente só pra ter um tonzinho de realismo e de que tudo lá é de verdade. Não há nada de novo, nem o susto ou o suspense tem algo genuíno, e essa história de superhumanos que atacam pessoas que invadem seu habitat é uma situação que já virou um novo cliché do gênero. Nem os diálogos salvam, com frases reduntantes como "precisamos sair daqui", "ele precisa de um médico", "nós vamos morrer", e coisas do tipo, são usadas incansávelmente e insistentemente. Sem contar que acredito que os roteiristas estavam um pouco desatualizados, já que não é necessário mais entrar ilegalmente na cidade abandonada, já que há uma grande zona que não apresenta mais níveis de perigo radioativo para esse fim, desde que sejam apresentados documentos (que são fáceis de serem retirados) e haja o acompanhamento de um guia credenciado.

O filme é tão ruim que a distribuidora não fez a pré-apresentação para críticos. A sorte é que dura apenas 82 minutos, mas é tempo suficiente para dar uns bons bocejos e umas pescadas grandes, e acordar com os personagens correndo no mesmo lugar, gritando as mesmas coisas, mas cada vez em um número menor, já que vai morrendo um por um, para nossa alegria.

CONCLUSÃO...
Mas nem ao menos quem gosta do gênero pode chegar a gostar desse filme, já que ele é basicamente pro público adolescente e alienado, aqueles que vão ao cinema uma vez ao ano pra comer pipoca de balde e saem de lá dizendo que o filme é o máximo e comentando as melhores partes, dizendo que deu muito medo. Ahn-ham...

quinta-feira, 12 de julho de 2012

PODE RIR, SAM RAIMI...

★★★★★
Título: O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-Man)
Ano: 2012
Gênero: Ação
Classificação: Livre
Direção: Marc Webb
Elenco: Andrew Garfield, Emma Stone, Rhys Ifans, Sally Field, Denis Leary, Martin Sheen
País: Estados Unidos
Duração: 136 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Conta novamente a mesma história de como um simples estudante que vive solitário, ignorado e zombado por todos, se transforma em um híbrido entre homem e aranha, passando a usar suas novas habilidades para ajudar a combater os crimes e os vilões da cidade.

O QUE TENHO A DIZER...
É difícil começar a escrever sobre esse reboot da série porque o tempo no cinema corre muito mais devagar do que na vida real. O primeiro filme da trilogia de Sam Raimi tem apenas 10 anos de idade, e o terceiro e último episódio tem apenas 5 anos. São raros os filmes que são considerados clássicos praticamente de maneira instantânea, mas, geralmente, além de ser obrigatório a qualidade e alguma certa originalidade em vários quesitos, o tempo também ajuda, já que os clássicos também costumam ser difíceis de ser superados e o público é exigente nesse aspecto.

Ultimamente o cinema hollywoodiano tem sofrido de uma falta de criatividade e ousadia, já que o público que hoje frequenta os cinemas é diferente, tem interesse por pouco e se dispersa muito rápido. A velocidade da informação foi fundamental para as mudanças, e para chamar esse novo público ao cinema foi necessário mudar os padrões, transformando qualquer tema comum em uma grande catástrofe, encontrando nos super-heróis a saída perfeita para conseguir dinheiro fácil já que eles oferecem muita ação recheada por boas histórias, quando antigamente era o contrário. Além disso, voltamos a era das continuações infinitas e também inauguramos uma outra era, a era dos chamados reboots, termo que, traduzido literalmente, significa "reiniciar".

Algumas séries de filmes tiveram razões para ter um reinício como, por exemplo, a série Batman, que foi destruída pela falta de visionarismo do diretor Joel Schumacher, que não soube manter o legado deixado pelas duas primeiras adaptações de Tim Burton, e que são hoje consideradas clássicas. O diretor Christopher Nolan surgiu com uma idéia fantástica de manter o tom obscuro de Tim Burton, deixando-o mais denso e pesado, mas em um tom mais realista e menos fantasioso. Essa repaginada deu mais humanidade aos personagens, o que funcionou muito bem na nova trilogia que termina neste ano. O reboot de Batman teve uma razão e sentido muito fortes, já que Nolan quis recomeçar do zero e fazer das continuações não o carnaval que havia se transformado antes, mas uma história única em três partes que foi baseado fortemente na mini-série de quadrinhos O Cavaleiro das Sombras.

Essa mesma tentativa está sendo feita com Homem-Aranha, mas não parece ter sido muito inteligente, pois é como se quisessem apagar da memória das pessoas que houve uma série anterior e de superior qualidade em todos os aspectos, além de deixar evidente que esse reboot nada mais é do que um caça níqueis sem freios.

Os dois primeiros filmes da trilogia de Sam Raimi também já são considerados clássicos, pois o diretor, que também era fã do personagem e dos quadrinhos, tentou ser o mais fiel possível. Algumas mudanças foram feitas, mas necessárias para uma melhor aproximação não apenas do personagem para os cinemas, mas também para o nível de aproveitamento de detalhes que haviam nos quadrinhos para a realidade. Tanto que essas poucas mudanças posteriormente foram incorporadas nas novas versões dos quadrinhos.

Na adaptação de Sam Raimi, a construção do personagem e o desenvolvimento de sua história, desde quando Peter Parker era apenas um estudante até sua transformação em um super-herói, foi gradual, coerente e sem tropeços. Quando Peter é picado pela aranha, desde a forma como isso aconteceu, sua transformação, até as descoberta de suas habilidades, foi tudo justificado e realista. Este foi o grande mérito do experiente roteirista David Koepp que, unido à forma como Raimi contou a história, era como se estivéssemos lendo os quadrinhos, havendo sempre um leve suspense no ar sobre o que é que iria acontecer em seguida. No segundo filme, mas com roteiro de Alvin Sargent, Peter estava em dúvidas entre ser um super-herói ou ter uma vida normal com sua tão amada Mary Jane. Novamente os méritos do diretor e do roteirista se destacam quando pudemos sentir o sofrimento do personagem por não conseguir encontrar um meio termo entre seus dois grandes objetivos. O terceiro filme da série, como Sam Raimi mesmo já chegou a afirmar, foi um grande erro, pois foi feito muito mais pela pressão do estúdio e dos fãs do que por sua própria vontade. Houve a troca de vários profissionais, o tempo entre a pré-produção e o lançamento do filme foi extremamente curto e a queda da qualidade foi nítida, mas nem por isso podemos desmerecer as qualidades dos dois primeiros filmes.

Nesse novo início da série, que agora incorpora o ESPETACULAR no nome, mas de espetacular há nada. O diretor Marc Webb demonstrou não haver experiência suficiente para conduzir um filme que ousou ser melhor que o de Sam Raimi, até mesmo porque ele possui apenas um filme em seu currículo, o delicioso, realista e sutil 500 Dias Com Ela (500 Days Of Summer, 2009), mas realismo e sutileza não se enquadram aqui. O roteiro foi desenvolvido a seis mãos por James Vanderbilt, Alvin Sargent e Steve Kloves. Os mais conhecidos são Steve Kloves e Alvin Sargent, o primeiro escreveu o roteiro de vários filmes da série Harry Potter, e o segundo foi o roteirista dos dois últimos filmes da série de Sam Raimi.

Eu sempre digo que é necessário desconfiar de roteiros que são escritos por mais de uma pessoa. Quando isso acontece geralmente o restuldado não é bom, pois costuma significar que o roteiro não tinha qualidade suficiente, tendo que sofrer várias transformações até o produto final. A regra é clássica e cai como uma luva aqui. A construção do personagem é perdida e a coerência dos acontecimentos não existe. Tudo acontece de forma precipitada e falsa. Tudo bem que já conhecíamos a história, já que ela é a mesma do primeiro filme da trilogia anterior (só muda alguns elementos), mas não era necessário tratar tudo com tanta superficialidade para dar mais atenção às cenas de ação.

Peter Parker, que antes era um jovem bitolado que usava óculos, camisa de cores lisas e engomadas, apaixonado pela vizinha, por fotografias e com os hormônios explodindo pela pele, agora se transformou em um adolescente um pouco rebelde, que passou a usar jaquetas e calça rasgada, trocou os óculos por lentes de contato, sua paixão por skate agora é maior do que pela fotografia, adora internet e pouco demonstra seus sentimentos pela colega de sala que se derrete toda vez que o vê. E o Homem-Aranha... bom, o Homem-Aranha agora pratica pakur com mochila nas costas.

Só nessa construção já observamos muito bem que há nisso uma tentativa de acesso ao público adolescente mais atual e que não enxergava na caracterização de Tobey Maguire um exemplo. Um grande erro, já que a personalidade e as características de Peter Parker nos quadrinhos clássicos é a mais próxima e fiel feita na primeira trilogia. Por isso que a escolha de Tobey foi certeira, porque ele não precisava vestir uma roupa social para mostrar que não se enquadrava entre seus colegas, isso era visível só de olhar para a feição de garoto ingênuo e bonzinho do ator, da mesma forma que só de olhar para os cabelos de Andrew Garfield percebemos que ele faz parte da geração punk-pop.

Portanto, o approach do filme é especificamente para o público adolescente e que agora acompanha as novas aventuras do herói nos quadrinhos e na televisão, e não mais para todos os públicos, como foi na versão de Sam Raimi, havendo uma desconstrução de tudo para o bem do lucro. O que nunca se mostrou necessário, já que a primeira trilogia arrecadou mais de 2,5 bilhões de dólares pelo mundo.

O mesmo pode ser dito para as cenas de ação e aos efeitos especiais. Nenhuma cena de ação supera às dos filmes de Raimi, que souberam fazer jus à geração pós-Matrix e misturar malabarismos e câmera lenta num balé de efeitos que dá prazer aos olhos, mostrando os detalhes das acrobacias do herói e que não eram apenas as teias o grande motivo dele ser considerado um homem aranha. Nesta versão de Marc Webb, não há nada prazeroso ou espetacular além do estiligue humano, coisa que já havia sido mostrada antes. Nem mesmo os malabarismos em primeira pessoa foram usados com tanta intensidade como foi proposto no trailer, o que é bastante frustrante para quem esperava muito por isso, como eu, me sentindo enganado quando o filme acabou.

Os fãs sempre quiseram o Lagarto para ser um dos vilões na época em que Sam Raimi era responsável pela franquia. Ele mesmo chegou a declarar que embora Lagarto fizesse parte da lista dos grandes vilões clássicos do herói, ele não seria interessante na adaptação para o cinema pois não teria a grandiosidade que merecia devido a dificuldade da construção de sua história e da sua caracterização. Raimi estava certo. A construção da história do personagem até sua transformação como vilão é banal, sendo desenvolvida como se fosse apenas uma angústia adolescente de fazer o que não deve de pirraça por conta da castração de uma vontade. A caracterização feita inteiramente por computação gráfica é estranha, parecendo um boneco de plástico tal qual aconteceu com Hulk, com uma feição mais parecida com a de uma múmia mascarada do que de um lagarto assustador e nojento, como era nos quadrinhos. Sem contar que qualquer semelhança entre o desenvolvimento das histórias dele e do Duente Verde no primeiro filme de Raimi é mera coincidência (!).

E na boa, nenhum vilão pode ser levado a sério quando sua primeira frase de impacto é: "você me deteve uma vez, mas não vai me deter de novo", como é a primeira frase do Lagarto ao estar cara a cara com o herói.

Sem contar das várias situações de deja vu. Como a inspiração da máscara, ou as frases: "você terá muitos inimigos", "pegue sua máscara, você precisará dela" e "a cidade precisa de você".

A única sequencia que achei genuinamente interessante é quando Stan Lee faz uma aparição com fones de ouvido, ouvindo uma música clássica. Sem dúvida a melhor das aparições que ele já fez nos filmes. Para quem não sabe, Stan Lee é o criador dos grandes heróis da Marvel, e é sempre o velhinho que aparece rapidamente nos filmes que tenham seus super-heróis.

Mas as atuações valem o filme. Embora Andrew Garfield mostre uma faceta mais atual, ele é convincente como um adolescente incompreendido e traumatizado. Emma Stone, como Gwen Stacy, o primeiro grande amor de Peter Parker, é a verdadeira mocinha, e mesmo Emma sendo uma das novas estrelas em ascenção por ser boa atriz e não ter uma beleza padrão, ela não se sobrepõe sobre os demais quando aparece. Claro que Sally Field, como a Tia May, dispensa comentários, mesmo Tia May tendo 20 anos a menos nessa versão, o que Raimi provou que idade não limita nada quando Dr. Octopus sequestra a velhinha no seu segundo filme.

Marvel e Sony já declararam que haverá mais duas continuações, mas acho que já ficou muito claro que a minha preferência não é pela trilogia anterior, mas pelos dois primeiros filmes de Raimi, já que, além de ter sido uma excelente adaptação bastante fiel em sua essência, também foi dirigido por um grande diretor que conhecia a fonte, sabia desde o princípio como tudo deveria ser feito, para quais públicos direcionar e soube conduzir com maestria cenas e seqüencias que dificilmente serão superadas.

CONCLUSÃO...
Para os fãs ou aqueles que tem conhecimento dos quadrinhos clássicos e se sentiu satisfeito pelo menos com algum dos filmes da trilogia anterior, essa nova versão da mesma história é fraca e insossa, deixando de lado um personagem com características incomuns de lado para dar e chamar atenção de um público novato e que desconhece suas origens em uma história vazia e com a cenas de ação que não impressionam tanto quanto muita gente imaginou. Além do fato evidente de que esse reboot é só para gerar mais alguns milhões de dólares e nada mais.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

AMIGOS COM SEXO...

★★★
Título: Solteiros Com Filhos (Friends With Kids)
Ano: 2011
Gênero: Comédia, Drama
Classificação: 14 anos
Direção: Jennifer Westfeld
Elenco: Jennifer Westfeldt, Adam Scott, Kristen Wiig, Jon Hamm, Maya Rudolph e Chris O'Dowd, Megan Fox
País: Estados Unidos
Duração: 107 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre um casal de amigos que resolvem ter um filho, mas sem as obrigações conjugais que estragariam suas relações.

O QUE TENHO A DIZER...
Está virando regra que todo filme que tenha "FRIENDS WITH" no título original seja ruim. Hollywood ainda insiste nessa idéia de criar a comédia romântica e misturar relações e sentimentos em cima de melhores amigos, quando na realidade a gente sabe que as coisas são diferentes.

Há um determinado ponto no filme em que os dois melhores amigos resolvem fazer o filho, se beijam, e ela diz: "É como beijar um irmão". Pois é, a sensação é realmente essa, agora imagine fazer sexo com seu melhor amigo quando há outras formas conceptivas sem a necessidade do método arcaico e ultrajante para os dois, mas que precisava existir, senão o filme não seria uma comédia, e muito menos romântica.

Escrito, dirigido, produzido e atuado por Jennifer Westfeldt, que vem de uma geração de comediantes da mesma de Kristen Wiig - que atuou e escreveu o engraçado Missão Madrinha de Casamento (Bridesmaids, 2011). Aliás, boa parte dos atores principais de Missão também estão neste filme, como: Maya Rudolph, Jon Hamm, Chris O'Dowd, além da própria Kristen Wiig.

Há conversinhas sobre casais, filhos, sexo no casamento, sexo fora do casamento, quantidade de sexo antes e depois do casamento, formas de se fazer sexo, como chachoalhar uma criança quando ela chora, gente que sai de cena chorando, gente que sai da mesa jogando o guardanapo pra dar tom mais teatral e dramático, mais sexo, gente que volta pra mesa, sexo, intervalinho pra dizer que a comida estava ótima, crises de paixonite aguda, mais sexo... e assim vai.

Enfim, o tema central da história só firma mais a idéia de que um filho muitas vezes é uma decisão um tanto egoísta, como os personagens deixam evidente. A decisão foi tomada porque de certa forma houve uma pressão social ao verem todos os melhores amigos casados e com filhos, aí surgiu a decisão da mulher porque ela estava ficando velha e com a necessidade fisiológica aflorando e o homem acreditava que já estava na hora de deixar um legado. Não foi irresponsável, mas egoísta, como costuma ser.

Essa questão de amigos terem filhos é real, eu mesmo já tive essa discussões, mas o filme poderia ter sido melhor se tivesse tratado do assunto com mais verossimilhança e não numa tentativa forçada de ser um bate-papo sexual bem humorado sobre isso e, no fundo, levando a lugar algum.

Ele se perde em seqüências que não servem para nada, dando a falsa impressão de que o filme é mais longo do que seus 102 minutos cansativos e bocejantes. Nem mesmo as atuações ajudam muito com uma Jennifer Westfeldt com sua sempre cara de garota complacente e compreensiva, Adam Scott no clichê de garotão esperto e garanhão que sabe ser brincalhão com as crianças, Maya Rudolph nos seus ataques de histeria e Kristen Wiig se esforçando pra não soltar uma piada. Se por acaso tivesse sido um curta-metragem com os primeiros 15 minutos e os 10 minutos de discussão na mesa de Ano Novo, talvez teria sido melhor, pois o que estraga é justamente o tempo que se perde levando a nada.

Obviamente que o casal de amigo também se desgasta, e se apaixona e o filho faz nascer o amor, fazendo o filme terminar... em sexo.

CONCLUSÃO...
O filme é muito mais sobre amigos e sexo do que amigos e filhos. Ou seja, faça muito sexo, até mesmo com seu melhor amigo, que uma hora um filho aparece e, quem sabe, o amor também.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

BEM VINDOS AO EXÓTICO HOTEL MARIGOLD...

★★★★★★
Título: O Exótico Hotel Marigold (The Best Exotic Marigold Hotel)
Ano: 2011
Gênero: Drama, Comédia
Classificação: 12 anos
Direção: John Madden
Elenco: Judi Dench, Tom Wilkinson, Bill Nighy, Penelope Wilton, Maggie Smith, Ronald Pickup, Celie Imrie
País: Reino Unido
Duração: 124 min

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre sete pessoas já na terceira idade que, por razões específicas e individuais, resolvem ir para a Índia passar uma temporada no chamado "The Best Exotic Marigold Hotel" e ao chegar lá descobrem que o hotel não era aquilo que esperavam, mas que irá ser responsável por significativas mudanças em suas vidas.

O QUE TENHO A DIZER...
Este é um daqueles filmes feitos raramente para agradar um público que é pouco agradado no cinema, o das pessoas já vividas e experientes. Não digo que seja um filme apenas para a terceira idade, porque até mesmo eu gosto de dramas/comédias como esses, sobre a busca da felicidade, do amor, do auto conhecimento, da redescoberta e de uma razão de existência por um ponto de vista mais superficial e realista de discussão. Filmes deste gênero costumam ser bons, pois reúnem um elenco de atores mais velhos e subutilizados na indústria cinematográfica e, muitas vezes, mesmo o roteiro ou seu desenvolvimento sendo fracos, a vontade desses atores de fazerem tudo dar certo é tão grande que o resultado acaba sendo extremamente agradável.

O filme, baseado no livro homônimo de Deborah Moggach, é dirigido por John Madden, aquele responsável pelo bontinho e esquecível, embora referência do cliché moderno, Shakespeare Apaixonado (Shakespeare In Love, 1998). Lembra deste filme? Aquele que através de um maciço marketing conseguiu levar sete estatuetas no Oscar, incluindo a de melhor atriz para Gwyneth Paltrow, que venceu as concorrentes Cate Blanchett, Fernanda Montenegro, Meryl Streep e Emily Watson. Pois é... Hoje sabemos que, na dúvida de quem deveria ter levado o prêmio, resolveram entregar para a pior. Porém, mágoas passadas.

O Exótico Hotel Marigold não supreende, mas é extremamente agradável e sincero. A história começa como um Short Cuts - Cenas da Vida (Short Cuts, 1993) às avessas. Short Cuts foi um filme dirigido pelo antológico Robert Altman que foi responsável por dividir algumas águas no cinema norte-americano, naquela narrativa onde é contada a história de vários personagens distintos que se cruzam em uma situação comum no final, fómula de surpresa que foi insistentemente utilizada em filmes posteriores como Magnolia (1999), Crash (2004) e Babel (2006), apenas citando alguns dos mais conhecidos já que a lista é extremamente extensa após o filme de Altman. Logo, neste filme tudo começa com essa premissa. Todos os personagens distintos já são colocados em uma situação que os une para só depois as histórias individuais serem desenroladas.

É um filme que começa meio confuso, um tanto perdido entre não saber entre que tom da comédia ou do drama levar, com algumas piadinhas britânicas que chegam ao pé da cafonice e da obviedade colocando cada personagem em situações triviais e pouco relevantes. Mas conforme os minutos vão passando, as coisas vão se equilibrando, nos levando a uma viagem bastante pessoal à Índia por sete pontos de vista distintos. Demora algum tempo para que seja possível se identificar com eles e praticamente impossível se identificar apenas com um, já que os dramas vividos por cada personagem é bastante comum no dia a dia das pessoas como um todo. Quando o filme engata, ele é prazeroso, triste e divertido.

São duas as narrativas utilizadas, a narrativa objetiva e a subjetiva pelo ponto de vista da personagem Evelyn Greenslade (vivida por Judi Dench), já que ela mantém atualizado diariamente um blog no qual ela relata as experiências que está vivendo durante sua temporada na Índia. Às vezes a edição um tanto quanto rápida e com cortes muito bruscos entre uma seqüência e outra podem acabar deixando confuso aqueles que se distraírem por alguns segundos. No geral não parece um filme feito para o cinema, mas um longo episódio de um seriado familiar da ABC, com uma trilha sonora de Thomas Newman (mestre na orquestração dramática) que não chega a ser invasiva, mas que se alguém chorar pode ter certeza que é por causa dela.

Obviamente o filme termina com lições aprendidas e o encontro de tudo aquilo que passaram a vida procurando, mas só foram encontrar durante uma viagem distante. Mas sem dúvida, mesmo com erros ou defeitos, tudo passa batido com a presença de grandes atores e citar apenas um é ser injusto com os demais.

CONCLUSÃO...
Deve ser apreciado porque não é sobre um filme qualquer, mas um daqueles com um elenco que realmente tem uma história pra contar e deve ser assistido não apenas pelo grupo de idosos do SESC, mas também pelos netos e bisnetos para que estes já cresçam sabendo que envelhecer é muito mais do que acrescentar números na idade, mas história e conhecimento.
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