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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

SULISMO GÓTICO EM SEU MELHOR EXEMPLO...

★★★★★★★★
Título: Matador de Aluguel (Killer Joe)
Ano: 2011
Gênero: Comédia, Crime, Ação, Suspense
Classificação: 16 anos
Direção: William Friedkin
Elenco: Emile Hirsch, Juno Temple, Matthew McConaughey, Thomas Haden Church, Gina Gershon
País: Estados Unidos
Duração: 102 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre um jovem endividado que resolve contratar um profissional para matar a mãe odiada por todos da família e finalmente salvar seu pescoço de uma dívida com o seguro de vida na qual a beneficiada será sua irmã.
O QUE TENHO A DIZER...
Filme dirigido por William Friedkin, o mesmo de O Exorcista (The Exorcist, 1973), diretor que não lança filmes com muita regularidade, mas que conseguiu o importante feito de, com o passar dos anos, se desvincular do seu filme de maior sucesso porque senão soaria como se ele tivesse feito apenas um filme relevante em toda a carreira, o que não é verdade. Friedkin sempre foi um grande diretor excêntrico, que adora temas malucos e bem estruturados, e nunca se importou em fazer filmes que fogem do público comum. E particularmente, ultimamente tenho admirado muito seus últimos filmes.
Desta vez ele trabalha novamente com o roteirista Tracy Letts, com o qual ele havia trabalhado no seu filme anterior, Possuídos (Bug, 2006), e ambos são baseados em peças teatrais homônimas do próprio autor.
Conta a história de Joe Cooper (Matthew McConaughey), um detetive que também trabalha como assassino particular. Ele é contratado por Chris Smith (Emile Hirsch), que está devendo uma grande quantia a traficantes por conta de sua mãe maluca que todos odeiam, a qual ele descobre ter uma apólice de seguros no valor de US$50 mil dólares. Ele convence seu pai, Ansel (Thomas Haden Church) a contratar Joe, que recusa a proposta porque só realiza o trabalho com pagamento antecipado, dinheiro que nenhum deles possui. Joe, então, resolve fazer um trato, realizar o serviço desde que Dottie (Juno Temple), irmã de Chris, seja uma garantia que ele possa usufruir até o seguro ser liberado e o pagamento feito. Mas as coisas não dão os resultados que eles esperavam, e muito menos saem da meneira como eles queriam.
Saber que o filme é baseado numa peça teatral é algo relevante porque raramente uma adaptação consegue oferecer um resultado satisfatório, já que os diretores geralmente ou tentam manter a mesma estrutura teatral ou tentam modificar tudo para que se encaixe melhor na película. Mas nesse filme os resultados são muito bons, e embora não pareça muitas vezes, a construção do roteiro e das cenas realmente mantém as estruturas de uma peça teatral com cada personagem tendo seu momento em diálogos bem pausados, cada ator entrando e saindo das cenas em seu tempo correto, e tudo funcionando de forma muito organizada e fluida. Friedkin já havia experimentado isso em Possuídos, o que funcionou de forma bastante impressionante. Se não fosse seu pulso firme e o pleno conhecimento do que fazer e como fazer as coisas, o filme teria sido uma bagunça.
Além de um roteiro matador, as atuações são excepcionais. É empolgante ver Gina Gershon de volta em um filme relevante, num tipo vulgar do qual ela nunca se desvinculou porque sempre conseguiu imprimir uma característica única, e que nesse filme vale até usar uma peruca pubiana. Thomas Haden Church, sempre em um humor sério e recalcado que consegue tirar risada até mesmo em momentos inoportunos. Juno Temple está bem diferente dos papéis anteriores e provando mais uma vez que é capaz de se tornar uma das grandes estrelas atuais. Claro que, querendo ou não, quem rouba a cena é Matthew McConaughey, com toda a sua panca de galã numa sexualidade rústica que não surpreenderia caso ele não desse o tom perverso e sacana a um personagem que apenas cresce, ao ponto de se torna assustador. Tanto é que o ator já recebeu sua primeira indicação como Melhor Ator ao Independent Spirit Awards na temporada 2013 de premiações (ao mesmo tempo também foi indicado na categoria Coadjuvante por Magic Mike).
Aliás, tirar risada em momentos inoportunos não é um privilégio só de Haden Church, mas de muitas partes desse filme que, ao mesmo tempo que é chocante, tem um tempo cômico incomum, pois é de um humor cruel que excede o sarcasmo e a ironia, sendo de uma brutalidade primitiva, absurda e espontânea por demais. E embora muitas comparações acabam sendo feitas,  não há nada a ser comparado com o estilo de Tarantino. Enquanto Tarantino se utiliza do extremo sarcasmo e ironia, para não dizer muitas vezes do cinismo e do constante uso do absurdo, a construção de toda a história de Killer Joe é baseada nas caracterísitcas de um subgênero específico da literatura norte-americana conhecido como Sulismo Gótico, ou Gótico Sulista.

Neste estilo as histórias devem se passar exclusivamente no Sul do País, incluindo sempre personagens estranhos, confusos ou desorientados, em locais abandonados ou decadentes, situações grotescas e qualquer outro evento sinistro relacionado ou vindo da pobreza, alienação, racismo, crime ou violência. Enquanto o estilo Gótico se utiliza de todas essas ferramentas para intensificar o suspense e o medo, o Gótico Sulista se utiliza delas para explorar problemas sociais e revelar o caráter cultural dos sulistas norte-americanos numa realidade distorcida e cômica. Por isso que quanto mais os personagens estão sujos, machucados e desorientados, e quanto mais as situações se tornam violentas, estúpidas e pervertidas, mais o tom dessa comédia absurda se acentua. Um grande exemplo de todo o contexto desse humor gótico é a cena entre Matthew McConaughey e Gina Gershon. Sem dúvida uma das mais estranhas, absurdas e engraçadas cenas que  lembro de ter visto.
Tudo só me faz concluir que a parceria entre William Friedkin e Tracy Letts resultou novamente em um filme fantástico, recheado de referências sólidas, que foge do padrão fantasioso para se tornar obra de um conteúdo psicológico e sociocultural fortíssimos, sendo melhor apreciado depois de estudado e compreendida as referências utilizadas para a construção da história e de personagens fortes, extremamente bem desenvolvidos e caracterizados.
Com um atraso de quase um ano para seu lançamento por conta de divergências entre a censura norte-americana e sua distribuidora, parece que o filme sofreu várias edições até chegar ao seu formato final. A outra parte infeliz de tudo isso é que novamente o diretor e os atores, tanto quanto o roteirista e o filme em si, poderão não ser tão ignorados na temporada 2013 de premiações tal qual aconteceu com Possuídos e a interpretação viceral de Ashley Judd em 2007, mas também não chegarão a receber os merecidos reconhecimentos.
CONCLUSÃO...
A parceria entre Friedkin e Letts repetiu o mesmo resultado surpreendente de Possuídos. Mas ao contrário do filme anterior, Killer Joe pode soar confuso a princípio, mas o roteiro, juntamente com todas as qualidades citadas, chega a ser até extremamente didático no seu clímax, tão didático que seria vergonhoso esclarecer qualquer detalhe. O fato é que Friedkin novamente não fez um filme se importando com o público comum, mas para um público mais sofisticado, que gosta de sair de sua zona de conforto e que vai fundo, onde quer que seja, para compreender toda sua concepção. Violento, sangrento e chocante, não agradará muita gente, mas a quem agradar irá se divertir com esse misto de sensações e absurdez.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A VIDA É UMA SUCESSÃO DE SUCESSÕES...

★★★★★★★★
Título: Bullhead (Rundskop)
Ano: 2011
Gênero: Drama
Classificação: 16 anos
Direção: Michael Roskan
Elenco: Matthias Schoenaerts, Jeroen Perceval, Jeanne Dandoy, Barbara Sarafian, Robin Valvekens
País: Bélgica
Duração: 124 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Um criador de gado de corte é abordado por um veterinário para que ele entre em um negócio circular bastante lucrativo com um negociador de carnes. O problema é que durante essas negociações uma parte importante de seu passado volta a tona, sendo a primeira peça de um efeito dominó que afetará não apenas ele, mas todos que estiverem relacionados a ele, direta ou indiretamente.

O QUE TENHO A DIZER...
Bullhead é um filme belga escrito e dirigido por Michael Roskam, sendo este seu primeiro longa metragem. O filme foi uma das surpresas do Oscar 2012 ao concorrer na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, perdendo para o iraniano A Separação (Jodaeiye Nader Az Simin, 2011).

Conta a história do criador de gado de corte Jacky Vanmarsenille (Matthias Schoenaerts) que é abordado por um veterinário que tenta convencê-lo a fechar um negócio circular e lucrativo com um grande negociador de carne. Porém, durante as negociações, Jacky se reencontra com uma peça fundamental de seu perturbado passado, o qual ele não vê há 20 anos. Seu amigo, Diederik (Jeroen Perceval), trabalha para o importante negociador, mas o que ninguém sabe é que ele na realidade é um informante da polícia infiltrado para tentar descobrir quem é o grande chefe do tráfico de hormônios, utilizados ilegalmente para acelerar o crescimento de rebanhos. Nesse meio tempo, um policial é morto durante uma operação, e Jacky acaba se tornando um dos suspeitos. O grande problema é que Diederik tenta tirar Jacky das suspeitas da polícia, afirmando que tudo é uma mera coincidência, mas para a polícia nada é fato do acaso. Ao mesmo tempo, o passado misterioso e intocável de Jacky acaba vindo à tona, numa sequência interminável de situações que levam a um inevitável final trágico.

A frase: "a vida é uma sucessão de sucessões que se sucedem sucessivamente sem suceder ao sucesso" nunca foi tão clara após assitir esse filme. O niilismo presente nele é o grande destaque, já que o efeito dominó interminável sobre os fatos acaba levando todas as situações a uma resolução trágica, sacudindo todos os pedaços que sobraram de verdades, sonhos e conquistas perdidas, traçando um caminho tortuoso e determinado a nunca encontrar uma saída, não apenas para o personagem principal, mas a todos aqueles que direta ou indiretamente estão relacionados a ele.

Esse ponto de vista trágico e negativista do filme se assemelha bastante a um outro filme puramente negativista dos irmãos Cohen, Onde Os Fracos Não Tem Vez (No Country For Old Man, 2007), no qual o personagem principal traça uma mesma tragetória desastrosa não apenas a ele mesmo como a todos que cruzam seu caminho. Talvez seja por isso que sua presença no Oscar tenha causado surpresa, já que a Academia também adora filmes com abordagens filosóficas como esse.

Não apenas filosóficas, como também psicológicas, o filme é de uma carga dramática forte e pesada. Jacky não apenas cria o gado como também se assemelha muito a esses animais em seu porte, comportamento, atitudes e até no tratamento hormonal pelo qual ele se submete. Tudo isso por conta de uma violência brutal sofrida quando era criança e que lhe trouxe consequências trágicas, físicas e psicológicas, e que ele carregará para o resto da vida. Portanto, o ambiente de trabalho de Jacky é uma alusão de que o personagem também é parte daquilo que vive, numa filosofia similar a de Lord Byron de que "não vivo em mim, torno-me parte daquilo que me rodeia".

O ator Matthias Schoenaerts desenvolve um papel brilhante. O seu olhar sempre cabisbaixo flameja em dor e angústia, além de conter todos os seus demais sofrimentos, tal qual como um boi quando olha para seu abatedor, na certeza de saber qual o seu fim. O seu jeito truculento e desajeitado, sua falta de delicadeza e destreza, são apenas reflexos de uma vida não vivida, sem experiências, buscando apenas algo que desafie sua força e novamente bloqueie seu caminho para que ele derrube com a própria cabeça. A fotografia do filme, o excesso de tomadas fechadas focalizando apenas a face do personagem ou seu isolamento, deixa mais explícito ainda o sentimento de prisão em que ele vive, de um homem sem futuro, introspectivo, de pouca fala e que reage sempre em atitudes brutas e estúpidas, preso em um passado que o atormenta todos os dias, arisco e esquivo a tudo. O excesso de angulos que acentuam a silhueta do ator em semelhança com um boi deixa clara que sua situação no filme é exatamente como o do gado em um curral, e quanto mais o filme se aproxima ao fim, mais acuado e irracional ele fica, como um bicho, como é dito a ele em um determinado momento. O grande problema é que ele não é um bicho, ele é uma pessoa incompreendida. E mesmo que alguém passe pelo mesmo que ele, ela nunca saberá como é andar sobre seus pés. As pessoas passam a ser somente aquilo que absorvemos facilmente, e ignoramos diariamente e a todo momento de que elas são consequência da história que vivem.

O filme também aborda sutilmente sobre alguns outros assuntos conforme os personagens se desenvolvem de maneira bastante eficiente e que coloca cada um em sua condição de sofrimento particular, tal qual a do protagonista. Também aproveita o paralelo sobre o tráfico de hormônios para também fazer uma crítica ao abuso dessa substância e as consequências desastrosas e imprevisíveis dela.

Não é um filme de fácil absorção e que pode decepcionar alguns que esperam um desfecho comum e redentor. Mas pensando bem, sim, ele também pode ser redentor caso tenhamos um ponto de vista positivo que se sobressaia sobre todas essas situações negativas. E é essa a intenção do filme, aprimorar nossa capacidade de visão positiva e negativa sobre as coisas.

CONCLUSÃO...
Como sempre, os filmes do norte europeu surpreendem em narrativas desconstruídas que se desenvolvem aos poucos. Bullhead não será o filme que muita gente espera. É pesado, negativo e drástico, mas que nos mostra algo que nós bastante ignoramos, de que o comportamento das pessoas é consequência de sua própria história.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

ONDE AS ROSAS SELVAGENS DE NICK CAVE NASCEM...

★★★★★★★
Título: Os Infratores (Lawless)
Ano: 2012
Gênero: Drama, Ação, Suspense, Policial
Classificação: 16 anos
Direção: John Hillcoat
Elenco: Tom Hardy, Shia LaBeouf, Jason Clarke, Guy Pearce, Jessica Chastain, Mia Wasikowska, Dane DeHaan, Gary Oldman
País: Estados Unidos
Duração: 116 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Na terceira década do século 20, durante a "Lei Seca" nos Estados Unidos, uma cidade no sul da Virgínia se transformou em um dos maiores centros de produção e comercialização ilegal de bebida alcólica, onde a lei deixou de existir para dar lugar à máfia do álcool. Nessa cidade vive a família Bondurant, conhecida por sua austeridade, pela qualidade de seu whisk branco, e outras lendas urbanas que os rodeiam. Tudo era um caos controlado, até a chegada de um Agente Especial enviado pelo Promotor do Estado, que irá a todo custo ignorar a falta das leis para impor as suas próprias e derrubar a qualquer custo a família mais dura da cidade, os Bondurant.

O QUE TENHO A DIZER...
Dirigido por John Hillcoat, o mesmo dos ótimos A Estrada (The Road, 2009) e A Proposta (The Proposition, 2005). Ele ficou conhecido dirigindo vídeos de música para importantes artistas do rock como Nick Cave, Siouxie & The Banshees, Deepeche Mode, Manic Street Preachers, Placebo, Muse, dentre outros, antes do reconhecimento ganho com filmes bem recepcionados pela crítica. Amigo pessoal de Nick Cave, a amizade rendeu bons trabalhos ao longo de sua carreira como diretor de longas metragens, sendo este filme o terceiro na parceria do diretor com o multitalentoso artista australiano que assina o roteiro.
Cantor, músico, compositor, escritor, roteirista e eventualmente ator, Nick Cave é mais conhecido por trabalhos às vezes obscuros, densos ou cruéis, mas sempre mantendo uma linha poética e refinada que aliviam essas características em seus trabalhos.
Por isso este é um daqueles poucos filmes que conseguem realmente surpreender e impressionar não apenas por ter qualidades ímpares e que funcionam com coerência, mas também por ser, de certa forma, baseado em um material histórico que pouca gente tem conhecimento a respeito: a máfia do álcool que tomou conta dos Estados Unidos durante praticamente uma década (1919-1933) com a Lei Seca instaurada em todos os estados do país.
A Lei Seca foi uma ação apoiada fortemente por Protestantes e mulheres, instaurada ainda durante a Primeira Guerra. Dentre as razões dos movimento sociais a favor da proibição da venda de bebidas alcólicas (não podiam ser vendidas bebidas com mais de 2,5% de álcool) estavam: destruir a corrupção existente nos Saloons; acabar com a política dominante de indústria cervejeira alemã; a diminuição da violência doméstica; e aumentar a estocagem de grãos e cereais para o consumo na guerra. Não adiantou muito, já que o consumo do álcool aumentou significantemente em alguns locais específicos, assim como a criminalidade relacionada à sua produção e distribuição, principalmente nos estados da Califórnia e Virgínia.
Por ter se tornado um produto ilegal, obviamente houve o surgimento e crescimento da máfia e guerra entre gangues produtoras e distribuidoras para o domínio do comércio ilegal. Por mais de dez anos os Estados Unidos viveu sob a sombra da emenda proibitiva, e com o passar dos anos, principalmente durante a Grande Depressão, a Lei Seca se tornou impopular, criticada e um exemplo da hipocrisia e da destruição do país e de suas liberdades.

A anti-proibição foi liderada por uma das mulheres que, a princípio, apoiavam a Proibição. Pauline Sabin passou a discursar contra e apoiar uma grande reforma, afirmando que a derrubada da Lei não apenas poderia favorecer o governo com a cobrança de taxas e impostos às produtoras, que seriam muito importantes para o país, como também diminuiria consideravelmente a violência e a "terra de ninguém" que alguns lugares haviam se transformado. O discurso coerente de Pauline foi apoiado principalmente por Franklin Roosevelt, que ao se tornar presidente dos EUA em 1933, assinou a derrocada da proibição no país, deixando a cargo dos estados decidirem suas leis sobre isso.
No meio desse "breve" e pouco conhecido quiprocó (ao menos por aqui) na história norte-americana estava a família dos irmãos John, Howard e Forrest Bondurant, destiladores clandestinos que moravam no Condado de Franklin, no sul da Virgínia, conhecida como "a capital mundial do whisk branco", ou moonshine, como a bebida é popularmente conhecida por lá. Esse termo deriva de sua forma de produção ilegal, já que as destilarias clandestinas funcionavam durante a noite e madrugada (sob a "moon shine", ou seja, o "brilho da lua"). Esses destiladores utilizavam um processo usando radiadores de carro para a condensação do produto. O chumbo, bem como a ferrugem, presente nos ligamentos tubulares, e também o metanol, por conta da fermentação dos grãos ou cereais utilizados na produção, comumente estavam presentes. Embora não em quantidades letais, com excessão de destiladores inescrupulosos que aumentavam a quantidade de metanol barato para enganosamente fortificar o produto, as substâncias tóxicas ainda eram presentes devido a precariedade de algumas produções.
Havia um teste popular feito para descobrir a pureza e a procedência, ao encher uma colher e atear fogo. O destilado confiável deveria queimar uma chama azul, enquanto o adulterado queimaria amarelo. Se houvesse a presença de óleos tóxicos dos radiadores, a chama queimaria em um tom avermelhado, sendo então descartado por sua alta toxidade. Era um método popular seguro, mas que não evitava descobrir a presença do metanol, já que sua chama é invisível.
E assim a família Bondurant sobrevivia e, de certa forma, comandava o condado, alimentando a sede da população com destilados de qualidade ao mesmo tempo que a austeridade, dureza e frieza dos irmãos Forrest e Howard se transformaram em lenda, dando a eles a fama de "invencíveis" não apenas no condado, como nos arredores, o que evitava a aproximação de homens da lei e intimidava inimigos que evitavam inimizades ou confrontos a qualquer custo.
Tudo muda quando, no auge da Lei Seca, o promotor do estado envia para o Condado o agente especial Charlie Rakes (Guy Pearce), com a finalidade de por fim ao tráfico de bebida e destruir todas as destilarias clandestinas existentes, bem como qualquer gangue que dominasse o local. Rakes invade o território dos Bondurant e não apenas os ameaça diretamente como espanca o irmão mais novo, Jack (Shia LaBeouf), como um aviso a Forrest e Howard de que desistam da tentativa de obstruir a lei. O episódio não apenas revolta os irmãos como também é o ponto de partida para uma guerra que dividirá o condado entre aqueles que acreditam em um país livre e aqueles que acreditam nas incoerentes punições da lei.
Sem dúvida o roteiro de Nick Cave e a direção de  John Hillcoat se sobressaem não apenas por estabelecer sucintamente todos os fatos históricos descritos acima, como também pincela as biografias do trio de irmãos baseadas no livro The Wettest County In The World (2008), de Matt Bondurant, decendente direto da família, já que ele é neto de Jack Bondurant, o mais novo dos irmãos. Violento do início ao fim, foi geralmente bem recebido pela crítica especializada e em grande maioria pela leiga, mas muita gente tem saído do cinema um tanto chocada com a crueldade de algumas cenas, que de fato são extremamente impactantes pelo diretor não esconder a brutalidade e o medo coletivo pelo qual aquela população passou. É também de um suspense angustiante, mesmo quando alivia. O psicológico de quem assiste está tão afetado que continua em estado de alerta, apreensivo por alguma coisa que possa acontecer, mesmo que não aconteça.
O elenco sem dúvida alguma é estelar. Shia LeBeouf finalmente perdeu aquela cara de garoto atrapalhado e consegue convencer como o caçula que se sente inferior por não ter o sangue frio e a determinação dos outros irmãos, numa evolução de garoto frágil e apaixonado que deve passar pelos tortuosos caminhos que seus irmãos já passaram para finalmente encontrar em si aquilo que ele acreditava não existir. Jessica Chastain, que ficou reconhecida e roubou a cena com uma interpretação pra lá de cativante em Vidas Cruzadas (The Help, 2011), impressiona mais uma vez como uma ex-dançarina de cabaré que foge para o interior da Virgínia para tentar escapar da brutalidade machista de Chicago. Tom Hardy, que agora está conseguindo alguma ascenção e reconhecimento em Hollywood graças a sua participação como o vilão Bane em O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, 2012), pode ser muito expressivo em toda sua truculência, mas tal qual o vilão Bane, parece que ele está deixando de lado a sutileza que ele tinha antes da fama e entrando numa atuação caricata e viciada, num misto exagerado de Dirty Harry e Duke Mantee, rosnando com uma frequência irritante e desencessária para construir um personagem que naturalmente dispensa exageros. Uma pena, já que esses exageros são os únicos pontos que, quando acontecem, estragam o filme como um arranhado na vitrola durante um tango. Mas quem rouba a cena é Guy Pearce, como o agente de sexualidade duvidosa, em um vilanismo e crueldade fria, cheia de um sórdido requinte tal qual o nazista interpretado por Christopher Waltz em Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds, 2009).

Outro grande defeito do filme é não ter aproveitado mais o ator Gary Oldman. Sua participação é bastante pequena e seu personagem era interessante e podia ter tido um maior desenvolvimento na história do que algo tão breve, frente à grande apresentação que o personagem teve e que, posteriormente, parece ter sido esquecido.
Não dá pra ignorar o fato de que é um dos filmes mais expressivos do ano, uma história forte e duplamente real, tanto pelos fatos históricos quanto pelas biografias envolvidas. Segundo o próprio roteirista, Nick Cave, muitas das cenas mais violentas do livro tiveram que ficar de fora, mas que ele tentou ao máximo manter a atmosfera um tanto lírica do livro e que repentinamente é desconstruída numa violência brutal como um tapa na cara. E é exatamente dessa forma como o diretor faz o espectador se sentir. É também sobre uma máfia diferente, de gangues poderosas e de um mundo corrupto e sem leis, numa ironia estranha, mas verdadeira. Diferente de outros filmes e do certo niilismo presente nesse gênero, como os filmes de Scorcese e sua constante pregação determinista de que gângsters devem pagar pelos seus pecados ou serem punidos duramente por seus crimes, aqui a situação é inversa, e mostra que definitivamente muitas vezes os fins justificam os meios para a esperança ser mantida. 
Nick Cave também assina a trilha sonora juntamente com Warren Ellis, acrescentando sua identidade ao estilo bluegrass, deixando de lado a raiz norte-americana de realizá-lo e fazendo-o soar moderno e ousado, ao mesmo tempo que mantém as características básicas do estilo, em um poder sonoro com letras densas e poéticas, em total coerência com as cenas. Um trabalho tipicamente Nick Cave.

Também acredito que o fim poderia ter sido menos corrido, e perto de tanta perversidade mostrada, deveria ter sido algo mais elaborado e construído para a satisfazer a sede de vingança que o público alimenta por duas horas.
CONCLUSÃO...
Impressionante e tenso, ao mesmo tempo que pode surpreender em sequências inusitadamente delicadas e cômicas no meio de tanta violência brutal que sutilmente inspira uma esperança difícil, mas alcançável. Uma produção caprichada, cheia de atenção a pequenos detalhes historicos e biográficos. Uma pena que, embora uma história tipicamente norte-americana, o filme não foi feito da forma norte-americana esperada, e provavelmente será esquecido na temporada de premiações. Pra mim, os únicos defeitos que se destacam no filme é a atuação caricata e viciada de Tom Hardy, bem como não ter aproveitado melhor um elenco de apoio que podia ter sido melhor explorado. De qualquer forma, suas qualidades ofuscam os poucos defeitos, e o resultado é satisfatório e surpreendente. Uma história típica para um diretor como Scorcese, mas que Scorcese mesmo não teria dado uma identidade tão peculiar, mesmo com os defeitos que ele com certeza teria um cuidado fundamental.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

PATÉTICO...

Título: Quatro Amigas E Um Casamento (Bachelorette)
Ano: 2012
Gênero: Comédia
Classificação: 16 anos
Direção: Leslye Headland
Elenco: Kirsten Dunst, Isla Fisher, Lizzy Caplan, Rebel Wilson.
País: Estados Unidos
Duração: 87 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Uma garota desajustada vai se casar com um homem bonito e bem sucedido, e convida três de suas amigas para serem as madrinhas de casamento. O problema é que as três sempre zombaram dela na infância, e agora ela está casando primeiro do que todas.

O QUE TENHO A DIZER...
Quatro Amigas E Um Casamento tenta ser uma mistura e seguir a mesma fórmula de Se Beber Não Case (The Hangover, 2009) com Missão Madrinha de Casamento (Bridesmaids, 2011) e abocanhar aquele público que ultimamente tem adorado esses filmes de celebração cheio de desastres cômicos.

Mas a grande má notícia é que o filme não dá certo em momento algum, se transformando apenas em um irmão bastardo e renegado dos outros dois. Um genérico descartado por tanto defeito de fabricação.

Para quem olha para o elenco com Kirsten Dunst, Isla Fisher, Lizzy Caplan e Rebel Wilson, pode até julgar que "tudo bem se o roteiro for ruim, o elenco é bom", mas ao contrário de Missão Madrinha de Casamento, cuja grande parte de seu sucesso se deve pela experiência das atrizes principais e dos diálogos improvisados na maior parte do tempo, aqui o roteiro é fraco, forçado, com diálogos que beiram ao ridículo e promovem situações patéticas ao citar em excesso palavrões, sexo, genitálias e desperdiçar o tempo forçando em piadas sujas e sem graças. Além do que não há o princípal: a química entre as protagonistas.

Tudo é regado a muita cocaína, como se cheirar pó fosse algo super legal. E essa mania de filmes de comédia enfiarem cocaína como uma piada interna e uma referência aos anos 80 de que "tudo era bacana quando tinha pó", já ficou sem graça e decadente tanto quanto usá-la nos dias de hoje.
Além disso as atrizes re-interpretam papéis que já fizeram no passado: Kirsten Dunst sendo novamente a bem sucedida e mal amada de O Sorriso de Monalisa (Monalisa Smile, 2003); Isla Fisher a mesma avoada que representou no fraco Delírios de Consumo de Becky Bloom (Confessions Of A Shopaholic, 2009) - tanto que há uma leve referência a isso quando sua personagem afirma que "estourou 5 cartões de crédito"; Rebel Wilson no mesmo jeitão esquisito de Missão Madrinha de Casamento; Lizzy Caplan sendo, bom... a mesma personagem apática e sem carisma que ela interpreta em todo filme.

O filme peca absurdamente na falta de simpatia, pois não há um personagem carismático. Isso realmente não seria um defeito se o roteiro fugisse do óbvio e não quisesse terminar feliz, de forma previsível e anti-natural como acontece. Mas a direção e o roteiro da novata Leslye Headland soam tão amadores e disconexos que dá até pena. Tanto que o filme passou despercebido, custando US$3 milhões e não arrecadando nem US$500 mil nos EUA.

CONCLUSÃO...
Enfim, uma perda de tempo, elenco e dinheiro. É esquecível, patético e nem sei porque assisti até o fim.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

ESPECIAL: HUNTED

★★★★★★
Título: Hunted
Ano: 2012
Gênero: Espionagem, Ação
Classificação: 14 anos
Direção: Vários
Elenco: Melissa George, Adam Rayner, Adewale Akinnouye-Agbaje, Lex Shrapnel, Morven Christie, Stephen Campbell Moore, Patrick Malahide
País: Reino Unido
Duração: 55 min.

SOBRE O QUE É O SERIADO?
Uma agente secreta de uma companhia de segurança privada é traída e quase morta durante uma missão. Um ano depois, em refúgio e recuperação, resolve voltar ao posto de trabalho com a finalidade de descobrir quem é o traidor e as razões que levaram a isso.
O QUE TENHO A DIZER...
Espionagem sempre foi um excelente prato para abocanhar a audiência porque todo mundo adora suspenses e mistérios, seja em filmes ou séries de televisão, mas existe uma grande diferença entre as produções de um para outro.
Em filmes há a possibilidade de se desenvolver uma história um pouco mais elaborada, já que eles costumam ter entre 90 a 120 minutos de duração, tempo suficiente para o espectador assimilar a idéia do início, a trama do meio e a resolução da reta final, deixando as aspas abertas ou não para continuações. Podem ter uma linearidade na história, como a excelente Trilogia Bourne (The Bourne Trilogy, 2002/2004/2007), ou uma série de filmes sem qualquer relação um com o outro, como o mediano Missão Impossível (Mission: Impossible, 1996/2000/2006/2011) e os 23 filmes do espião mais famoso do mundo, James Bond. O resultado nos filmes é imediato e não há espaço para qualidades desconexas, deve sempre haver uma simbiose entre a direção, o roteiro, uma edição apropriada e, lógico, atuações boas o bastante para serem convincentes.
Na televisão o assunto é mais complexo, pois os seriados britânicos ou norte-americanos costumam tratar de um mesmo tema por uma temporada completa (de 23 a 24 episódios, durando aproximadamente 6 meses), ou meia temporada (de 8 a 14 episódios, durando aproximadamente 3 meses). Para isso é necessário muita perspicácia e, sem dúvida, o quesito principal de qualidade deve estar no roteiro, que não precisa ser original, mas deve ter ganchos interessantes o suficiente que prenda a atenção do espectador em uma trama bem feita, que não seja simples o bastante para ser desinteressante e nem complexa demais para que o público se perca. E hoje em dia não há mais muito espaço para elucubrações e situações fantasiosas demais, o público atual prefere um fundo realista.
Pensando nisso, o criador e roteirista Frank Spotnitz (que no passado criou o cultuado Arquivo X) conseguiu levar ao ar Hunted, um seriado produzido pela BBC1 (promovido nos EUA pelo canal pago Cinemax) que contaria a história de Sam Hunter (Melissa George), uma agente secreta de uma companhia de segurança privada que sofreu uma tentativa de execução durante uma de suas missões. Sam levou um tiro mortal, mas conseguiu sobreviver e se refugiou até sua total recuperação. Por um ano foi dada como morta. Certa de que foi traída por algum de seus companheiros da equipe, ela retorna ao seu posto preparada até os dentes para descobrir quem foi o traidor, e quais foram as razões para isso.
Até então a sinopse e o enredo, embora interessantes, não pareciam muito originais, mas o diferencial que Spotnitz promoveu foi de que o seriado tentaria resgatar os tempos áureos do sujo reduto da espionagem política e empresarial de forma realista, sem aparatos tecnológicos ou absurdos já vistos em outros seriados e filmes de sucesso, e que tudo giraria em torno dos mistérios que levaram a personagem principal a ser traída e sua tentativa constante de sobreviver no meio de inimigos que querem sua cabeça a todo custo. Haveria foco em cenas de ação bem elaboradas, clima de tensão constante e locações reais.
O material promocional do seriado chamou a atenção da mídia principalmente porque Melissa George já havia tido experiência no mundo da espionagem interpretando a elogiada vilã Lauren Reed na terceira temporada de Alias (2001-2006), de J.J. Abrams (o mesmo que criou Lost), o que levou Hunted a até algumas comparações construtivas por isso e a empolgação da atriz de poder retomar um mundo que a interessa e que poderia exigir fisicamente tudo que ela gostaria de fazer.
Os primeiros 3 episódios levaram mais de 4,5 milhões de pessoas a sintonizarem no canal britânico, o que não é um grande número, mas o esperado para um seriado novo e pequeno (apenas 8 episódios), mas conforme os episódios foram chegando à sua reta final, ao invés da audiência ser mantida, ela caiu por mais da metadade, um desastre para um dos canais britânicos mais assistidos.
Descobriram então que o público não estava conseguindo acompanhar a complexa história de Sam Hunter, e o que a princípio aparentava ser um seriado de intensa perseguição e espionagem (como o próprio título propõe), a personagem principal se encontrou presa em uma mansão, disfarçada de tutora de um garoto, perdida numa trama que não faz sentido e que tenta a todo custo criar um mistério sobre um mistério que não existe em momento algum, e raramente uma cena ou outra de perseguição ou luta entre ela e alguém desconhecido acontece de forma aleatória, apenas para prender o pouco da atenção que ainda resta de quem assiste.
Alias pode ter ficado insosso em suas temporadas subsequentes, mas ficou no ar por 5 anos. Veronica Mars e até mesmo a sátira absurda She Spies tinham diferenciais da mesma forma como os atuais Burn Notice e Covert Affairs. O diferencial de Hunted foi desperdiçado. A atuação fria e calculista de Melissa George é o único ponto forte. Seu rosto de traços grosseiros e fora dos padrões, sua voz levemente grave e sua postura áustera e atlética sempre deram a ela versatilidade para aparentar ser uma moça romântica e ingênua ao mesmo tempo que pode se transformar em uma caçadora enraivecida pelo ódio e revolta. Para quem a conhece de outros papéis como nos filme Triângulo (Triangle, 2009) e o remake de Horror em Amityville (The Amityville Horror, 2005), ou até mesmo no já citado Alias e Em Terapia (In Treatment, 2008) - pelo qual ela recebeu uma merecida indicação ao Globo de Ouro - sabe que ela é uma atriz bastante competente e que há tempos merece um maior reconhecimento. Mas um seriado para a televisão com esta temática não sobrevive apenas de uma boa atuação, o roteiro ainda manda, e a falta de um foco principal na história levou a BBC1 a cancelar sem antes mesmo chegar ao seu fim.
De qualquer forma Hunted tem uma finesse britânica interessante, mesmo tendo uma história confusa e massante ele é bonito, bem filmado, dirigido e com uma edição pontual, que realmente tenta desenvolver as coisas sem pressa e criar tensão em situações simples e cotidianas, mas faltou de uma trama melhor construída e de fácil digestão. A trama principal é simples, mas sumiu devido às paralelas terem se tornado mais interessantes e Spotnitz não conseguir manter foco e linearidade.
CONCLUSÃO...
Uma pena que Hunted não vingou assim como Missing (2012), dois seriados que foram lançados esse ano e sem renovação, mas que teriam grandes oportunidades de crescer. A diferença entre os dois é que enquanto Missing tinha um bom roteiro em uma produção pobre e formatada, Hunted tem uma produção caprichada, mas um roteiro falho e complexo demais dentro de sua simplicidade. Ainda não vai ser dessa vez que Melissa George terá o sucesso que merece.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

"AS LOIRAS SÃO AS MELHORES VÍTIMAS"

★★★★★
Título: The Girl
Ano: 2012
Gênero: Biografia, Drama
Classificação: 14 anos
Direção: Julian Jarrold
Elenco: Toby Jones, Sienna Miller, Imelda Staunton, Penelope Wilton
País: Reino Unido
Duração: 90 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Conta a história da relação obsessiva que Hitchcock desenvolveu com e a atriz Tippi Hedren, sua última garota loira.
O QUE TENHO A DIZER...
Por alguma razão 2012 é o ano de Alfred Hitchcock, já que dois filmes sobre o famoso mestre do suspense foram produzidos: The Girl e Hitchcock.

The Girl conta a história da relação obsessiva que Hitchcock desenvolveu com Tippi Hedren, protagonista de Os Pássaros (The Birds, 1963) e Marnie, Confissões de Uma Ladra (Marnie, 1964).

Hitchcock será lançado em dezembro nos cinemas e contará a história dos bastidores de um de seus maiores e mais relembrados clássicos, Psicose (Psycho, 1960).
Mas The Girl é um daqueles filmes que perdem uma grande oportunidade de ter um roteiro melhor desenvolvido e uma produção mais caprichada para ser lançado nos cinemas e, por isso, são lançados diretamente para a TV, pois a excentricidade de Hitchcock deixou de ser uma grande lenda para se tornar um fato real que ainda espera oportunidade para ser dignamente adaptada.
A história do filme é baseada no livro Spellbound by Beauty: Alfred Hitchcock and His Leading Ladies (2008), do biógrafo Donald Spoto, em que o autor conta a importância das mulheres loiras nos filmes do diretor e suas relações com ela ao longo de sua carreira. Atrizes que desempenharam muito mais do que papéis de protagonistas de seus filmes, mas de heroínas complexas e fatais que se tornaram musas do cinema em suas mãos, tal qual foram Ingrid Berman, Grace Kelly, Kim Novak, Janet Leigh e Tippi Hedren, apenas para citar algumas, e que Hitchcock nunca escondeu sua paixão por elas e de que foi ele o responsável pelo ícone que elas se tornaram.
Para quem conhece apenas as obras desse grande diretor e pouco (ou nada) sobre sua vida, ficará um tanto surpreso ao ver nesse filme que por trás daquela imagem icônica podia existir um homem perturbado em suas obsessões sádicas e misóginas, segundo os relatos de Tippi. "Um gênio incomum, mal e desviante, quase ao ponto perigoso por causa do efeito que ele poderia ter sobre as pessoas", como ela mesma afirmou esse ano em uma entrevista, e que, mesmo aos 82 anos, ainda acusa o falecido diretor de assédio sexual (algo que ela veio a fazer apenas há alguns anos, depois que qualquer provável testemunha já havia falecido).
O filme começa com a frase clássica de Hitch: "As loiras são as melhores vítimas. Elas são como pegadas de sangue reveladas na neve virgem", e logo na cena seguinte percebe-se que o filme será salvo de qualquer desgraça pela interpretação de Toby Jones. E infelizmente o ator mais uma vez perde a oportunidade de ter seu talento reconhecido como se deve. Em 2006 sua performance no filme Confidencial (Infamous) no papel do escritor Trumpan Capote foi praticamente ignorada por conta do filme ter sido lançado posteriormente ao ovacionado Capote (2005), produção que tratava do mesmo tema e pelo qual Philip Seymour Hoffman ganhou o Oscar de Melhor Ator, além de inúmeros outros prêmios, enquanto Toby nem ao menos fora citado em resenhas (eu, particularmente, considero Confidencial muito mais interessante). Novamente Toby Jones cai na mesma armadilha, interpretando brilhantemente Hitchcock, mas que será ignorado por ser um filme barato e feito para a televisão, enquanto Anthony Hopkins com certeza colherá os louros por sua interpretação no filme a ser lançado em dezembro nos cinemas.
Irreconhecível por conta de uma maquiagem forçada, mas compensada por uma caracterização sólida, Jones não apenas convence ao ponto de esquecermos que é uma atuação, mas também transpõe de forma bastante eficiente todos os maneirismos e excentricidades da figura manipuladora, pequena e forte de Hitchcock e que posteriormente se transformou na caricatura que hoje conhecemos. Tudo é válido, já que Toby é uma figura pequena, franzina e frágil na vida real. Sienna Miller também desempenha um papel importante na qualidade do filme, já que a biografia da atriz também se assemelha bastante com a de Tippi Hedren, da modelo que se tornou atriz e conseguiu provar o contrário do que o esteriótipo pré concede. Não que ambas sejam excelentes, mas funcionam quando bem dirigidas. O fato aqui é que não houve boa direção, e o pouco que funciona é por responsabilidade dos próprios atores.

Mesmo reproduzindo algumas cenas clássicas de Os Pássaros e Marnie por um ponto de vista de bastidores, o filme peca na falta de uma fotografia ou uma produção de arte caprichada e que nos transportasse realmente para a década de 60, em um excesso de tomadas internas e que limitam os cenários para poupar o filme de detalhes. Ele também não entra muito em questões que justifiquem o comportamento obsessivo de Hitch além de justificá-lo subliminarmente como um amor mal correspondido ou uma tentativa de sutilmente vitimizá-lo como um homem inteligente, mas não atraente.
Esse lado mais obscuro do diretor inglês é um assunto recente bastante contraditório e polêmico. Muita gente tem dificuldade em aceitar pela falta de testemunhos e por conta de inúmeros documentários que apenas o retrataram como um homem de humor negro e um gênio do cinema esnobado pela Academia de Hollywood, e por isso os defeitos do filme surgem quando a história adentra na obsessão psicológica e sexual do diretor por Tippi. Se há verossimilhança ou não, a pequena polêmica que esse filme gerou foi de comentários que expressam o fato de que Tippi nunca perdoou Hitchcock por ter "destruído" sua carreira de atriz como retaliação por ela recusar seus assédios, já que o diretor era bastante influente na indústria e, posteriormente a Marnie, Tippi foi praticamente esquecida. No filme há um momento em que o diálogo de Hitchcock a ela é exatamente sobre o fato de que ele foi o responsável pelo sucesso e reconhecimento que ela alcançou, e  por isso ela deveria ser conivente com qualquer situação. O que acho perverso é que, nos comentários leigos sobre o filme, as pessoas têm usado isso como justificativa, como se isso desse razão a qualquer abuso que ela tenha ou não sofrido, o que pra mim é um verdadeiro absurdo tal qual tentar convencer que uma mulher consente um estupro.
Portanto, certamente o filme falta de uma pesquisa mais sólida, já que a própria atriz Tippi Hedren afirmou que em nenhum momento foi consultada pelo diretor Julian Jarrold durante a produção do filme, e que toda a pesquisa sobre sua pessoa foi feita espontanemanete pela atriz Sienna Miller. Além disso também há a relação pouco explorada entre Hitch e sua mulher, Alma, que foi uma figura bastante importante na carreira do diretor. Inclusive, a participação das excelentes atrizes Imelda Staunton e Penelope Wilton é completamente ignorada em personagens que nem deveriam ter existido se fossem pra ser mal colocadas como nesse roteiro bastante esburacado.

A questão é que não há uma pessoa viva para contestar ou afirmar que a história de Tippi seja verdadeira, e o filme se transforma em um boato mal feito, o que é uma pena, já que ele conta com excelentes atuações, mas é vago e bastante superficial perto de situações complexas pelas quais Hitchcock aparentava submeter ou manipular as pessoas ao seu redor.
CONCLUSÃO...
Se não fosse pelas atuações, além de um filme para a televisão, também seria esquecível. Mesmo assim é um material interessante como uma introdução à complexidade de idéias e sensações que era Alfred Hitchcock, surpreendendo sem chocar, sendo talvez essa a inteção, mas que resulta em tom superficial e subaproveitado que ao invés de convencer soa como uma mentira mal contada.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

VALENTE NA INTENÇÃO, MAS COVARDE NO PROPÓSITO

★★★★★★
Título: Valente (Brave)
Ano: 2012
Gênero: Animação, Fantasia, Ação, Comédia
Classificação: Livre
Direção: Mark Andrews, Brenda Chapman, Steve Purcell
Elenco (vozes): Kelly Macdonald, Billy Conolly, Emma Thompson, Julie Waters
País: Estados Unidos
Duração: 93 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Uma princesa resolve seguir suas próprias vontades e decisões, desafiando os padrões de seu reino e que mudará o destino de todos, tendo que usar sua bravura e seus dons para desfazer uma maldição pela qual ela foi responsável.
O QUE TENHO A DIZER...
Valente é uma animação da Disney/Pixar dirigido por três pessoas... Sim. Três! Mark Andrews, Brenda Chapman e Steve Purcell. É a primeira direção de Andrews e Purcell. Andrews trabalhou mais como roteirista, sendo seu último trabalho no maior fracasso do cinema depois de Waterworld (1995), o confuso e já desconhecido John Carter (2012). Brenda Chapman já havia trabalhado na direção com outra animação da Disney, O Príncipe do Egito (The Prince Of Egypt, 1998), mas agora ela também assina o roteiro, seu primeiro.
No meio de tanta gente com alguma experiência nos bastidores de animação, mas sem muita experiência nos quesitos principais, já seria esperado que o filme fosse, como dizem os norte-americanos, "FLAT"... que para nós seria aquilo que chamaos de "MEIA BOCA".
Valente fez um sucesso estrondoso, arrecadando mais de US$534 milhões no mundo, sendo que metade foi apenas nos EUA. Mesmo com esse sucesso, o público mais adulto saiu do cinema um tanto desapontado, porque sua promoção começou dois anos antes de seu lançamento com um teaser (um pequeno trecho menor que o trailer, apenas para apresentar algum novo filme) que vendia uma história densa e um tanto obscura, mas sutil e emocionante dentro de toda a fantasia dos filmes da Pixar e do mundo Disney. Mas o restultado é um peixe completamente diferente do que o filme resultou no final.
A Disney tem se esforçado para a todo custo retomar uma era de contos de fadas que não se encaixa no atual tempo e circunstâncias, mudando a passos curtos as características históricas de suas heroínas, fazendo-as deixarem de ser protagonistas sofredoras e submissas para aquelas com personalidades mais determinadas e dominadoras. Por décadas a Disney foi responsável por doutrinar uma cultura e determinar solidamente na sociedade feminina desde a infância toda a fantasia que conhecemos sobre o amor e a felicidade eterna. Agora ela briga com ela mesma, se contradizendo e tentando impor às novas gerações, e às pessoas que cresceram acreditando didaticamente em seus contos de fada, de que tudo agora é diferente e que as princesas precisam ir atrás de seu destino e de seu amor, e não mais esperá-los bater na porta de casa em um cavalo branco. É interessante, mas que ainda não encontrou um tom certo, ou uma fórmula que funcione e que as façam ser lembradas no futuro e estrangulem exemplos culturais tão sólido como são Branca de Neve e Cinderela.
Por conta disso, tanto os teasers quanto os trailers mostravam uma animação deslumbrante que giraria em torno apenas de uma princesa guerreira celta, numa cultura onde as mulheres são mais importante que os homens, algo incomum nas histórias da Disney. Merida é uma arqueira fora dos padrões de beleza, que não é perfeita e que tem cabelos ruivos e bagunçados, que escala montanhas de vestido e que com seu arco e flecha faz tudo aquilo que princesa alguma poderia fazer, como diz sua mãe. E assim ela mudaria os padrões de sua época numa história que não teria príncipes e nem romance, apenas a determinação e a bravura de uma garota criada e educada livremente nas florestas mágicas da Escócia por uma família real pacífica, humana e comum. Ou seja, um mundo perfeito que tem apenas como grande vilão o demoníaco urso Mor'du, com o qual seu pai, o rei Fergus, travou uma batalha quando Merida ainda era pequena, e que se tornou lenda no reino.
Tudo muda quando a mãe de Merida, a rainha Elinor, resolve escolher um pretendente para sua primogênita. Merida não se sente preparada para casar, e não concorda com o fato de não poder descobrir o amor sozinha e casar com quem queira. Cansada de tantas regras e imposições da sua mãe, ela foge do reino e encontra uma bruxa, comprando um feitiço para que sua mãe mude. A bruxa concede seu desejo dizendo que o feitiço não apenas mudará sua mãe como também o destino de sua vida.
A sinopse até chega a ser interessante, mas o desenvolvimento da história é bobo em uma das animações menos inspiradas da Disney/Pixar tal qual Enrolados (Tangled, 2011), que também aparentava ser um grande retorno da Disney à magia dos contos de fada como era antigamente, mas que no fim não foi nada mais do que uma animação bonita de se assistir. E no meio de tantas características incomuns para um conto de fadas novo, ele na verdade é mais uma fábula comum como qualquer outra.
O cuidado visual obviamente é o destaque, já que a graça de se assistir uma animação é justamente se deslumbrar com o fantástico, mas os cabelos de Merida chamam mais atenção do que qualquer outra coisa. Grande parte do público saiu dos cinemas reclamando ser mais uma história de princesa comum, e não valente e destemida como a promoção do filme sugeriu. Poderia realmente ter sido muito bom se sua história tivesse sido mais elaborada e fugisse de algo tão óbvio como as animações da Pixar costumam ser, como o fantástico Wall-E (2008) e o favorito dos últimos anos, Up (2009), animações que mantiveram as características da produtora até mesmo depois do grande controle da Disney, que a comprou em 2006.
Não há nada de muito interessante, nem mesmo uma grande moral educativa para o público infantil. Para o público mais adulto, a maioria dos personagens são chatos e a protagonista chega a ser muitas vezes irritante, e as situações engraçadas e absurdas só encontram um tom satisfatório mais no final, depois de quase uma hora de um conto fraco e bobo, com situações pastiches que agradarão apenas o senso de humor mais ingênuo.
Essa tentativa da Disney de mudar o curso da sólida cultura que ela mesma criou tem dificultado o desenvolvimento das suas histórias para que ela não destrua o sonho que ela mesma construiu e finalmente concorde que tudo era uma grande farsa e mentira. Há um longo caminho ainda para ser percorrido e esse filme poderia ter sido um grande divisor de águas nessa mudança, mas que teve suas rédeas encurtadas para não comprometer  diretamente todo seu próprio legado.
CONCLUSÃO...
Sem dúvida o sucesso do filme não justifica sua qualidade, sendo um dos filmes mais belos mas, ao mesmo tempo, um dos mais fracos da era Disney/Pixar. O público infantil vai adorar mais pelo visual do que pela história, mas o público mais adulto irá ficar decepcionado já que o filme não tem aquele apelo que vaga e satisfaz esses dois públicos como os filmes anteriores da produtora, e que se tornaram sua grande marca registrada.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

MELHOR DO QUE PARECE...

★★★★★★
Título: O Vingador do Futuro (Total Recall)
Ano: 2012
Gênero: Ação, Ficção
Classificação: 14 anos
Direção: Len Wiseman
Elenco: Colin Farrell, Kate Beckinsale, Jessica Biel, Bryan Cranston, Bill Nighy
País: Estados Unidos, Canadá
Duração: 118 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Um ex-agente é vítima de uma conspiração do governo para que as informações que ele contém e que podem ser cruciais para várias mudanças políticas sejam contidas, dando-lhe uma nova identidade e uma nova vida sem que ele saiba.

O QUE TENHO A DIZER...
Vamos dizer que este filme não é um remake do clássico de ficção do diretor Paul Verhoven, de 1990, estrelado por Arnold Schwarzenegger e Sharon Stone, mas uma outra adaptação baseada no conto do escritor de ficção científica, Phillip K. Dick, o mesmo de histórias nas quais os filmes Blade Runner (1982) e Minority Report (2002) foram baseados, por isso que há algumas similaridades na narrativa e até mesmo nas referências entre esse filme e os anteriores. Mas elas param por aí. A intenção dos produtores foi fazer um produto completamente diferente e que não batesse de frente com o clássico já conhecido, tendo seus méritos próprios tanto quanto o de Verhoven.

Essa nova versão é dirigida por Len Wiseman, o mesmo dos dois primeiros filmes da série Anjos da Noite (Underworld, 2003/2006), também estrelados pela sua esposa Kate Beckinsale. O roteiro é assinado por Kurt Wimmer e Mark Bomback. Wimmer é um cara até bastante talentoso que escreveu o remake de enorme sucesso Thomas Chrown, A Arte do Crime (The Thomas Crown Affair, 1999) e também escreveu e dirigiu o, hoje um tanto cult, Equilibrium (2002). Mas ele vem desperdiçando talento em títulos tontos como Ultravioleta (Ultraviolet, 2006) e Salt (2010).

Claro que algumas similaridades entre os dois filmes existirão por serem baseados na mesma fonte e até mesmo em respeito ao filme de Verhoven, mas há grandes diferenças entre os dois, principalmente no desenvolvimento. A maior delas começa com Colin Farrell agora fazendo o papel que outrora foi de Schwarznegger. Schwarzie não se importava em atuar, até porque seu talento nunca foi esse, o talento do ator era chocar sua aparência robusta e truculenta transformando seus defeitos em piada, dando uma interpretação caricata e com um humor típico que marcou seu estilo e seus personagens de ação, como se ele tirasse sarro dele mesmo, e os diretores sabiam aproveitar disso. Por isso seus filmes eram exemplos de entretenimento, pois definiram uma época no cinema que filmes desse gênero conseguiam ser sérios, absurdos e ao mesmo tempo com um humor pastelão sem que o público perdesse o interesse.

Já a interpretação de Farrell é mais contida, e sua imagem sisuda não é aliviada com frases de efeito ou piadinhas forçando alguma gargalhada. Esse interesse do ator em sempre levar seus papéis muito a sério acabam diminuindo sua empatia com o público e talvez seja por isso que as pessoas não são tão receptivas com seus filmes. Pessoalmente o considero excelente em boa parte dos papéis que escolhe porque ele sempre consegue dar uma característica única para cada um deles em detalhes sutis que fazem a diferença. Nessa adaptação seu estilo funciona perfeitamente porque, se fosse uma interpretação meia-boca de um novato qualquer, essa confusão de realidade sofrida pelo personagem não seria convincente e alguns exageros do roteiro e das situações tomariam um destaque muito maior, o que não acontece justamente por conta dos atores principais. Sem dúvida Kate Beckinsale e Jessica Biel deram grandes acréscimos numa história interessante, mas que parece ser desenvolvida meio às pressas.

Para aqueles que lembram vagamente do original de 1990 ou nunca viu, com certeza irá assistir como se fosse algo realmente novo, até por conta da fotografia que é mais monocromática. Particularmente achei o filme um espetáculo visual com as cidades futurísticas e sua aglomeração favelada, num misto entre o deslumbrante e decadente nos bairros suspensos cheios de tecnologia visual. Uma das primeiras sequencias de perseguição entre Lori e Quaid é uma das melhores, onde Quaid corre, pula e se adentra por esses bairros suspenso tal qual Jason Bourne nos telhados de Marrocos. O visual soturno e poluído remete bastante o de Blade Runner, mas outras sequências farão muita gente também lembrar de forma nostálgica de Guerra nas Estrelas, por conta dos soldados, robôs e alguns cenários. Claro que ele não deixaria de beber da fonte de grandes clássicos, mas funciona sem ofender e não aparenta algo simplesmente copiado e colado.

Ultimamente o público norte-americano não tem apreciado muito as ficções-científicas mais do que os demais países. Mesmo tendo uma produção caprichada e um elenco elevado, o filme foi um total fracasso nos Estados Unidos, mas conseguiu se salvar pelo mundo arrecadando um total de mais de US$196 milhões, salvando-o daquilo que poderia ter sido um dos maiores fracassos comerciais do ano.

CONCLUSÃO...
Mesmo bastante diferente da versão de 1990, é impossível evitar comparações, e ao contrário do filme de Verhoven, que conseguiu ter sequências bastante memoráveis como a máscara que se abre ou quando Schwarzzie atravessa uma máquina de Raio-X, essa versão não consegue fazer o mesmo em nenhum momento, o que a transforma num produto descartável e que dificilmente será lembrado no futuro. Mesmo assim consegue ser digno e um excelente filme do gênero, mas uma decepção para aqueles que assistirem esperando um remake com reprodução de cenas clássicas.
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