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sábado, 11 de agosto de 2012

LÁ VEM ELE COM SEU PANDEIRO...

★★★★★★
Título: Tão Forte e Tão Perto (Extremely Loud & Incredibly Close)
Ano: 2011
Gênero: Drama
Classificação: 12 anos
Direção: Stephen Daldry
Elenco: Thomas Horn, Tom Hanks, Sandra Bullock, Max Von Sydow, Viola Davis,
País: Estados Unidos
Duração: 120 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Um garoto de nove anos que sofre de um transtorno autista e com fortes inclinações políticas e sociais, encontra uma chave que pertencia ao seu pai, uma das vítimas dos atentados de 11 de Setembro de 2001. Acreditando que esta chave pode ter um sentido maior, ele desesperadamente sai em busca da fechadura que ela possa abrir e, talvez, manter a memória e a presença de seu pai.

O QUE TENHO A DIZER...
Este filme é uma adaptação do livro homônimo do escritor Jonathan Safran Foer, escritor que com apenas 35 anos já tem dois títulos de grande sucesso. Seu outro livro, Uma Vida Iluminada (Everything Is Illuminated), também ganhou uma excelente adaptação em 2005 e que infelizmente passou despercebido pelos cinemas (é fácil encontrá-lo em home video), filme que foi escrito, dirigido e produzido pelo ator Liev Schreiber, que se identificou com a história e a tragetória do personagem principal (que é até bastante similiar com a do personagem de Tão Forte e Tão Perto, mas em uma situação e em um conflito bastante diferente).

Dirigo por Stephen Daldry, mais conhecido por dramas como o delicado Billy Elliot (2000), por ter dado o papel que premiou Nicole Kidman por As Horas (The Hours, 2002), e por ter feito o mesmo com Kate Winslet por O Leitor (The Reader, 2008). Daldry chegou a concorrer na categoria de Melhor Direção por todos esses mesmos filmes, o que o faz encabeçar a lista não de melhores diretores atuais, mas dos respeitáveis, pois seus filmes costumam ser conduzidos com uma sutileza que poucos diretores conseguem em um gênero que é muito fácil pesar a mão e transformar em um dramalhão comum. Óbvio que, assim como Tão Perto e Tão Forte, todos seus filmes possuem seqüencias que chegam a ser apelativas às lágrimas, principalmente porque ele gosta de escolher mártirs, focalizando suas dores, ou isolando-os no cenário para transpor o sentimento de sofrimento e incompreensão. Tudo sempre muito regado a uma trilha sonora simples, com notas chorosas de piano e/ou violino. Apesar de tudo são cenas que funcionam no propósito e poderiam ser um desastre em mãos mais pesadas.

Demorei muito tempo para assistir o filme por puro preconceito mesmo, pois sendo uma adaptação de um livro que foi muito bem aceito pelo público, principalmente o norte-americano, o filme teve recepção muito mista tanto pela crítica especializada quanto pela leiga. Eu não li o livro, então não poderia traçar um paralelo bom entre ambos, mas por diversos materiais que li, cheguei à conclusão de que o grande defeito que encontrei no filme também é a grande insatisfação da maioria dos que leram o livro. Os críticos (especializados e leigos), em sua maioria alegam que, embora o filme tenha sequências bastante emocionantes, é difícil se sentir completamente conectado a elas, como se ouvesse um obstáculo o tempo todo.

O grande obstáculo entre a mensagem e o sentimento é, sem dúvida, o ator Thomas Horn, que interpreta o personagem principal de 9 anos e que sofre de um transtorno autista conhecido como Síndrome de Asperger. Por isso a dificuldade de socialização e comunicação, que são descritos logo no começo do filme, do comportamento ora atencioso e carinhoso, ora nervoso e agressivo, e da obsessão por tarefas metódicas e repetitivas até sua conclusão e o auto-flagelamento quando ele não consegue atingir seus objetivos da forma esperada.

O filme desmonstra os transtornos do personagem muito bem, mas pouco explica sobre isso (porque obviamente não é o tema central da história). Para quem não conhece a doença ou pouco deu atenção nos raros momentos em que ela foi citada no filme, acabarão encontrando em Oskar um personagem chato, mimado e irritante, mas por demérito do próprio ator. Ele não consegue atingir um ponto de transição convincente entre o comportamento infantil e os repentes do transtorno que o personagem sofre, simplesmente tentando imitar uma atuação adulta conforme o roteiro indicava. Isso é justificável pelo fato de Thomas ser um ator novato e o filme ter sido seu primeiro trabalho em atuação. Portanto, sua interpretação é crua e baseada naquilo que ele acreditava ser uma atuação e não no que ele acreditava que o personagem estivesse passando e sentindo, oferecendo uma presença petulante e inconveniente em várias situações, chamando mais a atenção de quem assiste pelo tom arrogante que ele impõe do que pela tragetória de adaptação e superação de traumas que o personagem está passando. Para piorar, o personagem anda o filme todo com um pandeiro barulhento e irritante, que ajuda mais ainda na antipatia pelo ator, que poderia ter usado o instrumento apenas em situações simbólicas e não durante as duas horas de filme.

De qualquer forma, o filme tenta ser sutil na abordagem dos atentados de 11/09 para não usar os fatos de forma abusiva e apelativa, já que ainda é um assunto delicado para muitos norte-americanos e sempre impactante para muitas pessoas. Os curtos momentos em que há a relação direta dos personagens com o fato são suficientes para ter apenas um traço do sentimento de impotência, desespero e fragilidade das pessoas que vivenciaram isso. A condição traumática de Oskar e de sua mãe, e a relação difícil que ambos desenvolveram após o incidente, são apenas um exemplo da confusão e reação psicológica que inflingiu milhares de famílias.

As demais atuações são brilhantes. Sandra Bullock se mantém em um nível seguro e comedido, e sua presença é sempre forte o bastante com pouco. Para quem não assistiu seu filme anterior pelo qual ela ganhou o Oscar de Melhor Atriz, Um Sonho Possível (The Blind Side, 2009), ou até mesmo seus outros poucos papéis dramáticos como em Confidencial (Infamous, 2006) ou Crash (2004), pode ficar um pouco surpreso caso esteja acostumado com as comédias românticas pelas quais ela ficou estereotipada, mas quem já assistiu sabe que sua atuação dramática é sutil, e nesse filme, mesmo se escondendo em uma cabeleira mal cuidada ou com as mãos no medo da personagem expressar suas fraquezas, confesso que o filme encontra o tom exato que buscou o tempo todo apenas próximo ao fim, quando sua personagem entra efetivamente na história e conta a sua perspectiva sobre o que estava acontecendo. Max Von Sydow, que faz um velho mudo e rabugento, tem presença bastante coadjuvante e todas suas cenas juntas não somam 20 minutos, mas ele é genial e com certeza subutilizado em uma adaptação em que ele poderia ter tido uma participação maior. Mas nem por isso isso o diminui e suas poucas cenas são gratificantes e emocionantes, naquele balanço entre a sutileza, o drama e a sinceridade típicos de experientes atores como ele. O mesmo pode ser dito sobre Viola Davis, que em apenas 10 minutos de cena eleva o filme de maneira que o ator principal nunca consegue. E o show do filme são mesmo os coadjuvantes e suas histórias paralelas, algumas poucas surpresas e o desfecho que parece decepcionante no propósito egoísta do personagem, mas que agrada com a excelente moral.

CONCLUSÃO...
É um filme que mostra uma jornada que poderia ter sido muito mais gratificante se o personagem principal tivesse sido interpretado de forma mais delicada e complacente. Mas quem não prestar atenção nisso vai conseguir ver uma história emocionante, simples e com muitos significados numa perspectiva dentro de um tema delicado como é os atentados de 11/09 em Nova York. A maioria dos comentários por aí de pessoas que leram o livro dizem que a experiência literária é melhor, mas como disse antes, os atores coadjuvantes e suas pequenas participações elevam o nível de um filme que por muitas vezes é difícil de encontrar uma conexão por conta da falta de simpatia não do personagem principal, mas da forma como ele é interpretado.

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