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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

"I CAN'T BREATH..."

★★★★★★★★★
Título: Gravidade (Gravity)
Ano: 2013
Gênero: Ficção Científica, Suspense, Drama
Classificação: 12 anos
Direção: Alfonso Cuarón
Elenco: Sandra Bullock, George Clooney
País: Estados Unidos
Duração: 91 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Dois astronautas devem confiar um no outro para sobreviverem no espaço após sua nave ser atingida por destroços de um satélite russo que fora destruído.

O QUE TENHO A DIZER...
Em produção desde 2009, o filme foi apenas anunciado em 2010. É dirigido, produzido e escrito por Alfonso Cuarón (o roteiro em parceria com seu filho, Jonas Cuarón), e causou grande expectativa principalmente depois que seu teaser foi lançado no meio do primeiro semestre de 2013 e após a excelente receptividade pelo YouTube a distribuidora encontrou alí um forte caminho para o marketing, lançado logo em seguida o trailer e mais alguns vignettes, que foram imediatamente assistidos em massa. O grande diretor Mexicano e amigo pessoal de James Cameron (o qual também se considera um grande fã de Cuarón), conseguiu esta grande e rara oportunidade após dirigir os bem elogiados Harry Potter E O Prisioneiro de Azkaban (Harry Potter And The Prisioner Of Azkaban, 2004) - considerado pelos críticos o melhor da série - além da também bem elogiada ficção Filhos da Esperança (Children Of Men, 2006).

Mas o excelente currículo do diretor não é válido apenas por esses dois filmes. Sua grande estréia foi com o lúdico e emocionante A Princesinha (A Little Princess, 1995), que embora infantil, foi muito bem apreciado principalmente pelos mais velhos. Depois dele veio a refilmagem do clássico de Charles Dickens, Grandes Esperanças (Great Expectations, 1998), seguido por E Sua Mãe Também (Y Tu Mamá También, 2001), filmado em terras natais no qual ele concorreu ao Oscar de Melhor Roteiro Original. Portanto, Cuarón é atualmente um nome estrangeiro forte no cenário cinematográfico nos EUA, se estabelecendo em uma lista de diretores naquilo que vem sendo uma discreta mudança de paradigmas em Hollywood, principalmente na última década, em expandir suas fronteiras com talentos estrangeiros que não a descaracterize totalmente.

Cuarón aparentemente escolhe a dedos seus projetos ao invés de simplesmente sair fazendo filmes para que seu nome seja reconhecido pela quantidade, por isso acaba surpreendendo mais do que o esperado, pois seu nome não é alarmante como é, por exemplo, como o do seu amigo Cameron, portanto o elemento surpresa é sempre mais impactante, e por isso Gravidade supera ou, no mínimo, corresponde qualquer expectativa.

Há muito o que se falar sobre o filme, mas pouco que deve ser dito para não estragar qualquer experiência, pois sem dúvida é um dos melhores dentro do gênero de ficção espacial realizado nas duas ou três últimas décadas, e isso não é exagero. Temos uma lista de grandes títulos de odisséias que em hipótese alguma devem ser ignorados, que claramente tem seu início com o pai de todos, chamado 2001 (1968), de  Stanely Kubrick. A lista de referências segue com Solaris (1974), do russo Andrei Tarkovsky e Alien/Aliens (1979/1986), respectivamente de Ridley Scott e James Cameron. Há outros, com certeza, mas é notório que filmes relevantes neste tema são raros. Poucos atualmente conseguem ter uma originalidade relevante, mesmo que concebidos através de outras referências (principalmente de Kubrick), como ocorre com os excelentes e ignorados Sunshine (2007), de Danny Boyle e Lunar (Moon, 2009), de Duncan Jones. A maioria são tentativas frustradas e pretenciosas fadadas a caírem na mesmice e no cliché de reproduções mal feitas que não acrescentam nada, como o atual e até ridículo Oblivion (2013). Felizmente temos a felicidade de, vez ou outra, sermos agraciados com jóias raras como é o filme de Cuarón. Mas o melhor de seu filme é exatamente se abster dessas referências e criar - na medida do possível - uma narrativa própria e que, por isso, o anula de qualquer comparação, mesmo que o enredo seja simples. O que o difere dos anteriores é a idéia única e principal do diretor em manter toda a situação bem próxima do nível de realidade daquilo que hipoteticamente seria uma verdadeira tentativa de sobrevivencia em uma cadeia de situações catastróficas no espaço, colocando até cenas em primeira pessoa para causar um impacto mais subjetivo em determinadas situações. Metaforicamente, segundo o próprio diretor, seria o renascimento depois de uma diversidade de fatos desastrosos vividos dentro das leis da vida e da sobrevivência. Tanto é assim que o filme se desenvolve em referências à geração, à gestação e ao nascimento, demonstrados claramente em cenas chaves.

Tecnicamente o filme chega aos limites da perfeição em um espetáculo visual e sonoro impressionantes, o que é até paradoxal no último quesito, pois o filme se abstém do som, já que no espaço ele não existe e é dito logo na abertura - o contrário do que é mostrado no trailer, onde a sonosplastia foi utilizada apenas como um truque para causar maior impacto no espectador fácil, mas nem por isso o engana dentro de um resultado total. Preconceitos surgiram quando foi divulgado pelo boca a boca que o filme não teria sonoplastia, fazendo algumas pessoas acreditarem que seria algo tedioso, antiquado e ruim, ou seja, fora do exemplo comercial comumente esperado. Mas para driblar essa ausência, o diretor utilizou fortemente (e de forma bastante inteligente) uma trilha sonora que se encaixa perfeitamente nas situações, e embora o barulho de explosões e de ações em deriva espacial não exista (o pouco que se ouve é apenas o que os astronautas ouviriam dentro de suas roupas), a trilha sonora os substituem e impactam da mesma forma, pois obviamente Cuarón não teria sido tolo o suficiente de realizar um projeto desse porte da maneira mais alternativa que pudessem imaginar, por mais alternativo e até experimental que ele já naturalmente fosse, jogando pela janela US$100 milhões investidos. Isso tudo volta a seu favor, conseguindo unir a linguagem popular com a alternativa, levando para o público comum o moderno e fácil sem precisar se abster de detalhes óbvios que fizeram total diferença e agradam - até em excesso - o público tecnicamente mais exigente. 

A ousadia não para por aí. Cuarón fez questão de que as tomadas fossem longas. A sequencia inicial, por exemplo, tem mais de dez minutos sem cortes, e essa método pouco utilizado no cinema por conta de limitações técnicas e até mesmo falta de interesse dos diretores em explorar este estilo, é desenvolvido repetidamente durante todo o filme, dando uma sensação de continuidade fluida e realista, praticamente em tempo real. Sim, isso não é novidade. Diretores como Hitchcock, Kubrick, Brian DePalma, Woody Allen, Von Trier, Martin Scorcese e até Spielberg, são grandes fãs e realizadores desse método, mas a grande diferença é que neste filme não havia cenários, não havia elenco ensaiado e marcado, havia um espaço qualquer e um ator (ou dois) em cena contracenando em um chroma key que resultou naquilo já dito por outros críticos como interpretações que aparentam espontâneas, mas que foram exaustivamente ensaiadas e coreografadas em um verdadeiro balé espacial, que se mostra natural por conta do excesso de perfeição e treinamento. Realizar a junção perfeita de cenas inteiramente realizadas em computação gráfica juntamente com cenas e atores reais em sequencias longas e sem cortes como as que são vistas não apenas abraça o espectador para o momento como também faz dessa uma das melhores experiências em assistí-lo. Embora curto (apenas 90 minutos), as tomadas longas, toda a ação lenta e meticulosa e a total ausência de referências temporais e espaciais passa a sensação de ser um filme de duração maior, e de forma alguma tedioso ou cansativo.

O mérito também se vale nas atuações. Embora George Clooney ofereça aquele mesmo arquétipo do ator canastrão, que surge em cena apenas para aliviar as cargas dramáticas, Sandra Bullock novamente consegue carregar o filme com absoluta noção técnica e total coerência com os conflitos vividos pela personagem tal como vem demonstrando nos últimos anos nos poucos filmes mais dramáticos que participou. A maior preocupação da atriz foi em como representar as sensações e emoções da personagem com tão pouco. Ela se preparou fisicamente para o filme por seis meses enquanto revisava o roteiro com o diretor em minúcias. Eles chegaram então a um ponto crucial de como deveria ser a entonação e a frequencia respiratória da personagem em cada situação, já que seria a mesma respiração que ofegaria por conta do stress em alguns momentos e pela falta de oxigênio em outros, ou a respiração que oscilaria entre a euforia, o medo, angustia e sofrimento, já que boa parte do filme é apenas isso que se ouve da personagem Ryan Stone. Foram semanas ensaiando exaustivamente com o diretor em como realizar os momentos de forma precisa ao ponto dele mesmo comparar os ensaios como uma rotina de dança, que no fim resultou em puro realismo e emoção, tanto que James Cameron considerou a atuação da atriz mais impressionante do que qualquer tecnologia que suporta todo o filme.

A contratação da atriz para o papel foi praticamente por acidente, já que Angelina Jolie havia sido originalmente contratada, mas abandonou o projeto ainda em pré-produção. Natalie Portman era a segunda opção, mas desistiu logo depois de anunciar que estava grávida. Sandra foi escolhida depois de uma fila de outras atrizes gabaritadas serem testadas para o papel como Marion Cotillard, Carey Mulligan, Rachel Weisz e Naomi Watts. E não há dúvidas de que a sutileza de sua atuação e seu comprometimento no papel são impressionantes e dificilmente teria atingido um nível equivalente por alguma outra.

Novamente 2013 se repete como o ano da atriz, assim como foi em 2009, já que Gravidade foi uma produção que não havia pretensões em ser o sucesso de crítica e público que tem sido tal qual foi o drama Um Sonho Possível (The Blind Side, 2009), e que também foi lançado logo após outro filme feito para ser sucesso comercial e que ainda está nos cinemas, a comédia As Bem Armadas (The Heat, 2013), igualmente como ocorreu com A Proposta (The Proposal) em 2009. Até o momento, o filme já arrecadou mais de US$615 milhões no mundo, impressionante para um gênero que anda em baixa e está sofrendo pela falta de público nos últimos anos. No IMDb o filme já foi avaliado por mais de 168 mil usuáros (a avaliação não pode ser repetida por um mesma pessoa) e atingiu uma pontuação média de 8,5. Ou seja, estatísticamente a aprovação é quase unânime.

É um filme tenso do início ao fim, desesperador e até claustrofóbico, que atiça a curiosidade por ser imprevisível, além de visualmente deslumbrante. Vale ser visto em cópias 3D (o filme foi feito para essa tecnologia), para conseguir ter apenas o mínimo possível e imaginável da sensação de imensidão espacial e profundidade por nós, meros terráqueos. Claro que o roteiro sofre de poucos clichés hollywoodianos em frases heróicas de efeito, que poderiam ter sido evitadas, mas são tão poucas que se ofuscam frente a tanta perfeição tecnica e cuidado. Teria sido impossível realizar o longa em outra época, e dificilmente terá uma qualidade superada em um futuro próximo.

Atenção para a temporada de premiações que começará no final de Novembro, sem dúvida alguma Gravidade é o primeiro grande e forte candidato do ano, e um filme marcante que já é uma referência para filmes futuros.

CONCLUSÃO...
Finalmente uma grande odisséia espacial atual e que impressiona por tratar tudo da forma mais realista possível dentro do fantástico. A perfeição técnica da direção e pós produção, bem como da atuação ímpar da atriz fazem do filme um dos melhores do gênero, e muito possivelmente o melhor do gênero das últimas duas décadas.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

QUANTO MAIS FEIAS MELHOR...

★★★★★★★
Título: As Bem Armadas (The Heat)
Ano: 2013
Gênero: Comédia, Ação
Classificação: 14 anos
Direção: Paul Feig
Elenco: Sandra Bullock, Melissa McCarthy
País: Estados Unidos
Duração: 117 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sarah Ashburn é uma agente do FBI arrogante e metódica que não consegue trabalhar em grupo já que ninguém segue e trabalha dentro dos mesmos procedimentos que ela. Ela é então transferida para investigar um crime em Boston, onde conhece a durona e egoísta agente do departamento local Shannon Mullins.

O QUE TENHO A DIZER...
Obviamente o filme foi realizado com intenções de ser sucesso de alguma forma, já que conta com a direção e produção de Paul Feig, que havia dirigido anteriormente Missão Madrinha de Casamento (Bridesmaids, 2011). Também tem aquela antiga fórmula de comédias que juntam uma dupla de atores famosos em situações absurdas para gerar o riso fácil dentro dos clichés. Mesmo atualmente essas comédias abraçarem um confortável "politicamente incorreto" com o uso exagerado de palavrões, piadas escatológicas e/ou sexualizadas, e personagens exageradamente estranhos e caricatos, isso também já se transformou em uma fórmula que raramente surpreende.

É o primeiro filme de Sandra Bullock em um hiato de dois anos depois de redescobrir o sucesso com o seu Oscar pelo filme Um Sonho Possível (The Blind Side, 2009), e o quinto filme de Melissa McCarthy em apenas dois anos depois do sucesso alcançado por Missão Madrinha.

Quando o trailer do filme foi lançado, comparações com Miss Simpatia/Miss Simpatia 2 (Miss Congeniality/Miss Cogeniality 2, 2000/2005), foram inevitáveis, e muita gente chegou a considerá-lo uma terceira continuação não autorizada, já que aparentemente Sandra reprisaria um mesmo tipo de papel e McCarthy seria a coadjuvante durona tal qual Regina King fez no segundo filme. A verdade é que essas pessoas não estão erradas, pois grossamente nenhuma das duas atrizes fazem algo diferente do que já foi feito na franquia mencionada, e nenhuma das atrizes também criaram personagens muito diferentes das que já fizeram antes.

O roteiro bobo e furado, e a direção que só leva um nome pois tecnicamente não foge do trivial, são todos compensados unicamente pelas atrizes principais, em situações e diálogos hilários trocado entre ambas como chumbo. Geralmente filmes que unem dois grandes nomes estão fadados a cair no pastiche e no bocejo, mas o mérito (ou demérito) nesses casos são muito mais pelos próprios atores do que de qualquer outro elemento técnico. Todos já sabem que Sandra Bullock é talentosa, talento que ela teve que provar a duras penas numa trajetória com tantos altos e baixos, enquanto Melissa foi ter o talento reconhecido há apenas dois anos atrás, sendo finalmente reconhecida mundialmente como uma atriz e persona naturalmente cômica depois de tantos anos no mercado. Sandra também é uma atriz de comédias, e as faz muito bem, mas aqui ela realmente mostra que seu status de estrela não é em vão, pois ela brilha e oferece situções hilárias com pouco, além de se manter respeitosamente em seu lugar sem qualquer pretensão de roubar a cena ou ofuscar o show particular de McCarthy, que brilha dentro de sua espontaneidade exagerada e bem explorada também sem invadir o espaço da colega. E é exatamente isso que faz o filme funcionar e ter um nível elevado, pois a parceria de ambas gera uma química convincente e equilibrada, e não funcionaria mais com uma do que com outra, tanto que desde a primeira cena juntas, elas não se separam mais nem mesmo nos créditos finais. O interessante é que, embora o filme queira ter uma alto teor feminista, ele não é encarado como um filme de gênero, atraindo tanto o público masculino quanto o feminino em igual medida e agradando ambos por também ter esse equilíbrio entre os dois gêneros tanto na personalidade das personagens quanto pelas situações que elas se encontram.

Como dito, foi um filme feito para ter sucesso comercial por utilizar elementos manjados para conquistar o objetivo de forma fácil. E conseguiu. O filme arrecadou mundialmente US$226 milhões (US$150 mi só nos Estados Unidos, já que é uma comédia tipicamente norte-americana), mas apesar do sucesso e do grande desempenho das atrizes, não chega a ser um filme marcante por não ter um enredo que se destaque, e por ter personagens que soam reprisados, mesmo que bem construídos. Ele nem bem havia sido lançado e uma continuação já foi anunciada. Se Sandra Bullock aprendeu com a experiência, ela saberá que por mais tentador que possa ser, isso não soa uma boa idéia.

CONCLUSÃO...
Uma reunião bem realizada entre Bullock e McCarthy, mas não chega a ser um filme marcante e memorável justamente por se manter dentro de uma fórmula segura de se produzir um sucesso. Um tanto longo nas suas mais de duas horas, um exagero em um filme desse gênero. Os pontos altos da comédia são nas piadas espontâneas e internas que obviamente puderam ser aproveitadas e que fogem do óbvio, e também quando as personagens fazem piadas de si próprias ou são chacotadas pelos outros, como quando no momento em que é dito que a cada vez que elas aparecem, elas estão mais feias. O que é verdade, e talvez um dos poucos elemento mais originais de toda e qualquer piada do longa, que deve ser visto e apreciado pelo talento do elenco.

KICKING ASSES POR AÍ...

★★★★★★★★
Título: Kick Ass - Quebrando Tudo (Kick Ass)
Ano: 2010
Gênero: Ação, Comédia
Classificação: 16 anos
Direção: Matthew Vaughn
Elenco: Aaron Taylor-Johnson, Chloë Grace Moretz, Nicholas Cage, Mark Strong
País: Reino Unido, Estados Unidos
Duração: 117 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Dave Lizewski é um adolescente comum, que gosta de histórias em quadrinhos, apaixonado por sua colega de escola, que passa seu tempo com os amigos ou vendo pornografia na internet. Inconformado com a falta de senso de justiça das pessoas, ele resolve sair por aí combatendo a justiça com as próprias mãos impulsionado pelos seus heróis.


O QUE TENHO A DIZER...
Foi o terceiro filme do diretor Matthew Vaughn, que já havia feito uma adaptação de quadrinhos com o bem elogiado Stardust (2007). Basicamente o filme não foi um estrondoso sucesso (custou US$30mi e arrecadou um pouco mais de US$45 apenas nos EUA), mas se tornou um cult mundial entre os adolescentes tal qual Scott Pilgrim (ambos de 2010).

O filme não apenas alavancou a carreira do diretor como também revelou a atriz Chloë Grace Moretz (que na época tinha apenas 13 anos), e hoje é uma das grandes apostas da nova geração de talentos de Hollywood.

Não há como negar que o filme é um bombardeio de elementos politicamente incorretos (e até mesmo chocantes para os mais conservadores), principalmente nos Estados Unidos. Também não é à toa que a produção do filme foi rejeitada por todos os grandes estúdios, levando o diretor a arrecadar fundos e produzi-lo de forma independente. Apenas depois de pronto o filme conseguiu ser vendido para a Universal por mais do que o diretor havia originalmente solicitado para produzir.

É puramente para entreter. Não tem uma história fabulosa e também não ergue questões fundamentais, existencialistas ou políticas com uso de metáforas. Na verdade é um filme simples, com uma proposta simples e que funciona em todos os aspectos, desde os técnicos até os mais abstratos dentro de linguagens visuais e sonoplastias lúdicas (até quase infantis) para contrabalancear, quebrar e aliviar a seriedade e a violência, que são bastante fortes muitas vezes, principalmente em situações como a de uma menina de apenas 13 anos de idade, que prefere armas do que bonecas, cometer múltiplos homicídios em apenas um piscar de olhos.

A junção de todos esses elementos torna tudo tão absurdo e surreal que é impossível qualquer pessoa leva-lo a sério. Se tem uma coisa que esse filme prova é que o cinema não é e não deve ser culpado pelo aumento da violência, ou ser taxado pela mídia como fonte influenciadora, pois embora a censura seja 16 anos (até 18/19 anos em alguns países), a maioria dos fãs tem menos do que isso, e nem por isso sairam pelas ruas com roupa colorida gritando "eu tenho a força", porque assim como filme mostra, isso tudo soa muito ridículo e até patético, e o público compreendeu essa idéia muito bem.

Para não exagerar na afirmação de que o filme não ergue questões importantes, ele até consegue pontuar uma vista interessante exatamente sobre a falta do senso de justiça, da passividade e da observação inútil e calada de grande parte das pessoas frente a qualquer tipo de crime, sendo este o crime maior e mais grave que qualquer outro, pois deixa claro que a sociedade, em um ponto de vista generalizado, é doente com tanta maldade e oportunismo.

Sem dúvida o grande trunfo do filme é o roteiro, que conseguiu uma rara junção de linguagem adulta dentro de elementos característicos da cultura infanto-juvenil como histórias em quadrinhos e desenhos animados (como no momento em que é contada a história de Bid Daddy), vídeo game (a cena em primeira pessoa de Hit Girl é uma clara referência a jogos do gênero) e uma reconstrução básica do dia a dia comum de todos eles. E para isso nem foi necessário grandes efeitos especiais ou tratamentos de imagem, simplesmente uma boa idéia maturada e bem construída.

CONCLUSÃO...
Como um todo, o filme do inglês Matthew Vaughn pode figurar facilmente na lista dos melhores filmes de ação dos últimos anos, principalmente por ser inesperado e brincar com absurdos que raramente Hollywood teria ousadia de naturalmente fazer. A segunda parte do filme, dirigida por Jeff Wadlow, teve estréia em 2013. Foi praticamente ignorado nos cinemas, mas embora a direção seja diferente, a produção ainda é de Matthew Vaughn.
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