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sábado, 10 de outubro de 2015

COMO ESCAPAR DA MESMICE...

★★★★★★
Título: How To Get Away With Murder
Ano: 2014
Gênero: Drama, Policial, Crime
Classificação: 14 anos
Direção: Vários
Elenco: Viola Davis, Billy Brown, Charlie Weber, Liza Weil, Alfred Enoch, Karla Souza, Jack Falahee, Aja Naomi King, Matt McGorry
País: Estados Unidos
Duração: 43 min.

SOBRE O QUE É O SERIADO?
Uma brilhante advogada criminalista recruta cinco estudantes de direito para trabalharem com ela. Porém um crime acontece, envolvendo todos em uma trama que irá mudar o curso de suas histórias e colocar em teste a confiança de cada um.

O QUE TENHO A DIZER...
Muito tem sido comentado a respeito deste seriado que teve estréia no final de 2014 e que já está em sua segunda temporada (estreou em Setembro). Percebe-se que a maioria dos comentários é a respeito da presença de Viola Davis no papel de Annalise Keating (pelo qual venceu o Emmy na categoria principal pelo papel neste ano) e também sobre a mirabolante trama envolvendo ela, seus cinco estagiários e outros personagens por aí.

O seriado foi criado por Peter Nowalk, e dentre os produtores temos a toda poderosa Shonda Rhimes, a mesma que criou o big hit Grey's Anatomy (2005) e o aclamado Scandal (2012). Peter, por sua vez, também foi o produtor de Shonda nesses dois shows. Então percebe-se que aqui, além de uma troca de favores, também é aquela velha máxima de que "time que vence não se mexe".

É um seriado com o formato típico daquilo que a rede ABC costuma produzir. Cada episódio tem uma história única, enquanto a trama principal se desenvolve de forma secundária. Assim o espectador esporádico consegue acompanha-lo sem se sentir perdido na história, o que evita a grande flutuação de audiência para a emissora. A edição é dinâmica e não há enrolação em cenas longas e profundas, mas há muito espaço para o cliché, frases de efeito e cenas prontas pra tentar quebrar a seriedade ou até distrair a audiência de absurdos e da superficialidade. A trilha sonora atual é para abraçar a audiência mais jovem e moderna. Enfim... há até um mix interessante de atores maduros e gabaritados (como a própria Viola Davis) com um elenco mais jovem, como Jack Falahee (que muito pode ser confundido com Milo Ventimiglia, do falecido Heroes), Karla Souza e Alfred Enoch.

Confesso que o episódio piloto chegou até a me causar certo constrangimento ou vergonha alheia, tamanha sua falta de ordem, o excesso dramático sem lógica e uma trilha sonora invasiva que não dá descanso. Padrões ABC que realmente incomodam. Muita gente pode ter achado legal Annalise entrar na sala de aula já esparramando sua personalidade autoritária, numa verborragia típica e desnecessária, escrevendo no quadro negro a forma como ela chama o Direito Criminal (e o qual dá o nome ao seriado). Mas é inverossímil, forçado, exagerado. E são cenas assim que recheiam todos os episódios. Elementos bem baratos quando comparados a outras produções de canais menores, como foi o caso de Damages (2007-2012), do FX (e que posteriormente foi para a DirecTV).

Aliás, Nowalk afirmou ter se inspirado em Damages, e ele realmente bebeu muito da fonte. Substitua a loiríssima Glen Close pela negra Viola Davis, porque o temperamento, o egocentrismo e a falta de escrúpulos é muito latente em ambas, a única diferença é que Annalise muitas vezes expressa sua humanidade pelas sombras, como no icônico quinto episódio em que ela retira sua maquiagem em frente ao espelho, literalmente despindo sua máscara para a audiência. Isso é algo que muito raramente víamos em Patty Hewes, que enganava não apenas a audiência como a si mesma. Desmembre a protégée Ellen Parsons (Rose Byrne) em cinco partes, e assim teremos os 5 estagiários de Annalise. Mantenha um crime como trama linear, alguns conflitos familiares nas subtramas para encher linguiça e a idéia principal de que tudo é mentira e ninguém é confiável, como Patty diz a Ellen logo nos primeiros episódios de Damages (e como Annalise também diz a seus estagiários). Até a arma do crime é a mesma de Damages: uma estátua. Sem contar na característica principal da trama se desenvolver através de flashbacks e flashfowards, ponto alto do desenvolvimento não linear de Damages, elogiadíssimo na época.

O problema é que a qualidade de produção do falecido seriado do FX era muito mais refinada, praticamente cinematográfica quando comparada com o barateio de custos que se percebe em Murder. A trama da primeira temporada de Damages foi absolutamente intrigante e bem desenvolvida em um roteiro enxuto, maduro e ousado, enquando aqui a vontade de continuar assistindo é simplesmente na curiosidade de saber o que aconteceu, e não porque o espectador está imerso na história, conquistado e direcionado a desvendar os mistérios e de se encontrar em situações constantes de dúvida ao montar o difícil quebra-cabeça junto com os protagonistas. É difícil pontuar exatamente os elementos que fazem o seriado muitas vezes parecer cafona, exagerado, como um novelão norte-americano. Talvez seja realmente esse excesso de elementos para chamar a atenção ao inútil, distraindo as pessoas dos pormenores e da falta de um roteiro mais denso e consistente. Essa é a enlatada impressão que se tem porque, na realidade, é disso que a audiência popular gosta, já que ABC é um canal aberto nos EUA.

Uma pena, pois ele não é ruim, só é barato e popularizado demais, quando poderia ter sido mais peneirado para valorizar seu bom elenco e uma trama linear que é até interessante, cheia de reviravoltas e surpresas, mas que se apaga com as histórias individuais de cada episódio, não havendo um crescente realmente empolgante e apreensivo, como foi na primeira e última temporada de Damages. Nada chega a surpreender realmente, por conta do tom um tanto colegial com que tudo é levado. Isso fica ruim para a protagonista, que embora tenha um nome de peso e eleve a qualidade de tudo sempre que aparece, por vezes soa um tanto deslocada e fora do tom porque o resto não consegue ser equivalente ao seu nível. O que, obviamente, não a impediu de conquistar a crítica, porque realmente Viola faz um trabalho interessantíssimo, principalmente nos momentos em que há mudanças sentimentais ou de humor muito brucas nas cenas. As transições são expressivas com pouco, e são nessas horas que ela brilha e até esquecemos dos defeitos a sua volta.

A dúvida que fica é se as temporadas seguintes terão gás suficiente para se manterem tão interessantes quanto a primeira temporada demonstrou, ou se cairá na mesma confusão de Damages que, com excessão da primeira e última temporadas, complicaram tanto as tramas para dar a falsa impressão de serem mais intrigantes, mas que no fim das contas apenas subestimaram a inteligência do espectador e causaram frustração. Isso é comum em seriados que restringem suas histórias a um grupo de pessoas ou a um acontecimento grandioso (como em Murder), e os roteiristas terão de sambar para não surgirem repetição de situações. Veremos como vai ser.

CONCLUSÃO...
Seriado que não apenas foi inspirado em Damages, mas basicamente copiado e colado com fontes e cores diferentes. A sensação de deja vu é grande, mas a qualidade da produção deixa a desejar com excessos de elementos e técnicas de filmagem e edição para distrair o espectador de detalhes que o seriado carece. O que não deixa de ser um entretenimento para aqueles que só querem um produto para se distrair. Mas já que a "inspiração" em Damages foi bastante grande, poderiam também ter colocado na lista do que fazer o refinamento e a qualidade, deixando de lado o apelo populesco e de linguagem fácil, extremamente acessível que Murder carrega.
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