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sábado, 20 de outubro de 2018

PRATO CHEIO PRA QUEM GOSTA...

★★★★★★★★☆
Título: Deadpool 2
Ano: 2018
Gênero: Ação, Comédia, Super Herói
Classificação: 16 anos
Direção: David Leitch
Elenco: Ryan Reynolds, Morena Baccarin, Josh Brolin, Julian Dennison, Zazie Beetz
País: Estados Unidos
Duração: 119 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Deadpool agora se engaja em montar sua própria equipe para proteger um garoto poderoso de um exterminador do futuro.

O QUE TENHO A DIZER...
Deadpool é a paródia e a sátira, o chulo e o escracho. Por esses motivos, consegue ser uma das adaptações de quadrinhos mais fiéis, com os personagens mais fiéis, porque tem a liberdade de ser exagerado na tela sem a necessidade daquela releitura mais realista e humanizada que a linguagem do cinema muitas vezes pede para não soar absurda, por mais absurda que possa ser. Esse é, indiscutivelmente, o maior mérito tanto deste filme, como do anterior.

Desde o primeiro filme, a produção evita ser séria demais e perder suas características, ou ser leve demais e perder todo o teor politicamente incorreto que é a razão de sua existência. Muito questiona-se a necessidade da linguagem chula ou do excesso de violência, mas isso acontece porque Deadpool é, em sua essência, a voz dentro desse universo daqueles que não gostam do estilo, ao mesmo tempo que também expressa o lado pseudo-crítico daqueles que gostam. A metacrítica propriamente dita. Por isso a paródia, o desdém, a sátira e a incredulidade tão presentes.

Mas é possivel sentir nesta continuação que, embora o primeiro filme tenha sido um sucesso inesperado, garantindo esta sequência, não foi possível evitar um banhinho de sutileza.

Quando comparado com o primeiro filme, a boca era muito mais suja, a violência era muito mais explícita e sanguinolenta e absolutamente nada era sério o bastante. Dessa vez, mesmo tendo tudo isso, o volume diminuído. Bem pouco, mas foi. É como dizer: podemos ouvir alto, mas não precisamos ficar surdos.

Para quem esperava mais do mesmo excesso do primeiro, poderá ter alguma decepção. Mas acredito que se a sequência tivesse mantido elevado os mesmos elementos, seria como uma piada contada mil vezes, ao contrário de uma renovação da fórmula que deu certo, que é o que ocorre aqui, pegando o espectador de surpresa muitas vezes.

Reynolds novamente produz, mas agora é creditado como roteirista, coisa que ele não foi no primeiro, mesmo tendo sido peça fundamental. Apesar de pouca coisa ter mudado no comportamento do anti-herói, ele nunca é descaracterizado, e esse é outro mérito.

Não se pode falar muito sobre a história porque qualquer coisa a ser falada é estragar as surpresas mesmo já tendo um bom tempo que o filme foi lançado porque Reynolds fez um trabalho novamente cheio de piadas com referencias diretas e indiretas, seja dentro do universo Marvel, seja no DC, ou da cultura popular em geral. É impossível não achar interessante as referências feitas pois, além de serem bem colocadas, mostram como a própria cultura (util ou inútil) é sempre vulnerável ao humor, algo que até então parecia um tabu em filmes que não fossem estruturalmente uma sátira. Sim, como falei no princípio, Deadpool também é uma sátira, mas ele sobreviveria sem isso, o que não aconteceria com filmes desse gênero, como a série Todo Mundo Em Pânico, Top Gangue, ou a clássica Corra Que a Policia Vem Aí.

O filme perde um pouco do tom em sua primeira parte, pois cria um quase-drama justificável na vida do personagem. Não estraga a história ou a experiência, mas definitivamente a mudança de direção do primeiro para o segundo filme impactaram na dinâmica de algumas coisas.

A princípio poderá parecer que não estamos assistindo a mesma coisa, mas é na segunda metade que o festival recomeça. As sequências de ação crescem, o humor fica mais universal e os personagens apresentados são tão bem feitos nesse sentido que dispensam desenvolvimento ou profundidade, como é o caso de Cable e Domino. O incômodo é que Colossus não precisava ser um personagem digital o tempo todo. O que salva é sua dublagem e o humor carrancudo do seu texto. Sem isso ele podia ser dispensável. 

Apresentar novos personagens fez outros serem deixados de lado, como é o caso de Negasonic Teenage Warhead (Brianna Hildebrand), que conquistou uma legião de fãs no primeiro filme, mas agora só aparece em uma cena ou outra apenas para dizer que está lá. E só não deixou muita gente desapontada porque Firefist (Julian Dennison) é espetacular e tem presença tal como Negasonic foi no primeiro.

Se tem uma coisa que Deadpool conseguiu fazer é revolucionar o gênero e criar infinitas possibilidades para a história se extender por anos e por sequências sem fim. Conseguiu, principalmente, corrigir erros do passado dentro de sua metacrítica, como na interessantíssima sequência pós-crédito, uma das mais hilárias para os fãs. Sem dúvida a cena que fez a sessão de cinema delirar nas auto-referências tão características do personagem e que Reinolds consegue fazer de maneira certeira.

Nos quadrinhos, o herói surgiu para quebrar a monotonia e tirar a indústria da zona de conforto de maneira desconfortável. Foi uma sacada de gênio dos criadores Fabian Nicieza (escritor) e Rob Liefeld (desenhista), e Reynolds conseguiu se apropriar dessa essência e levá-la com a mesma consistência para a tela.

Deadpool é a diversão do universo mutante que X-Men não foi quando adaptado. Não que os méritos de X-Men não existam. A época era diferente, os receios de adaptações como essa também. Mas não podemos ignorar que seria interessante se algum dia pudéssemos vê-los juntos a Deadpool dessa forma mais cartoonizada e despretenciosa.

Talvez aconteça.

terça-feira, 16 de outubro de 2018

VARIAÇÃO DAS VARIAÇÕES...

★★★★★☆
Título: Jurassic World: Reino Ameaçado (Jurassic World: Fallen Kingdom)
Ano: 2018
Gênero: Ação, Aventura, Fantasia
Classificação: 12 anos
Direção: J. A. Bayona
Elenco: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Rafe Spall, Justice Smith
País: Estados Unidos
Duração: 128 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Ameaçada por um vulcão adormecido, uma cientista é incumbida a voltar para a Ilha Nublar e resgatar o maior número de espécies que conseguir para que uma nova extinção seja evitada.

O QUE TENHO A DIZER...
De volta em 1993, era um tanto óbvio que Jurassic Park se tornaria uma franquia. Mas a primeira trilogia mostrou que, embora o universo seja cativante, não havia história suficiente para tanto. O terceiro filme sofreu enormes críticas negativas, e a promessa de uma quarta aventura foi enterrada junto com o falecimento do autor Michael Crichton, em 2008.

Somente em 2010 as coisas voltaram a ser discutidas, e o sinal verde foi dado depois do 20º aniversário do primeiro filme. Foi então que Jurassic World surgiu, trazendo uma mudança emblemática no nome, pois era tanto uma continuação direta da série, como também um reboot.

O sucesso foi além do imaginado, e o filme arrecadou mais de US$ 1,6 bilhões no mundo todo, superando as expectativas e fazendo tanto estúdio, quanto produtores, confirmarem uma continuação em menos de um mês de exibição.

A tão aguardada continuação se deu principalmente pelo sucesso e química dos protagonistas, interpretados por Chris Pratt e Bryce Dallas Howard. A história em si, que sofreu transformações interessantes, agora partia do princípio que o tão sonhado parque finalmente havia se tornado realidade, e dava um ar de frescor a tudo que já havia sido abordado até então.

O melhor de Jurassic World foi em conseguirem fazer tudo parecer novo mesmo tendo muitas idéias requentadas. As referências constantes, principalmente aos dois primeiros filmes, conseguiram fazê-lo parecer inédito aos olhos dessa geração, mas uma grande homenagem aos olhos da geração que assistiu ao primeiro filme nos cinemas e saiu de queixos caídos com o festival de efeitos especiais e práticos que mudaram para sempre a História do Cinema e de quem presenciou uma experiência que foi única.

A empolgação que cresceu nas pessoas assim que os créditos finais de Jurassic World rolaram, foi a mesma empolgação com a qual Reino Ameaçado foi aguardado ao longo dos três anos que separa um do outro. Mas quando ele foi lançado, muita gente pareceu não ter tido tanta expectativa correspondida como se esperava.

Só que vamos ser verdadeiros e aceitar que já era esperado que, com tanta reciclagem de situações ao longo da série, era inevitável cair nas mesmas fórmulas e nos mesmos clichés que a própria série criou ao longo dos filmes. Aquela impressão de novidade que se teve no filme anterior, agora deu lugar a uma recorrência de deja vus que mais transformaram este segundo filme em uma refilmagem do que qualquer outra coisa.

A repetição de situações, cenas e idéias é tão grande quanto criar uma nova ilha quando a idéia acaba (como eles propõem aqui), ou destruir uma ilha com algum desastre natural para ter um novo ponto de partida na história (como fazem com o vulcão na Ilha Nublar agora, ou como já fizeram com o furacão na Ilha Sorna).

Aquela química interessante que existia entre os protagonistas se foi no momento que Bryce Dallas abandonou os saltos por um par de coturnos. O que acontece entre eles agora é uma tensão sexual infantil e absolutamente sem graça porque o número de personagens é tão grande quanto o número de situações paralelas para, assim, a impressão de dinamismo e ritmo acelerado da história seja mantido mesmo que não se tenha conteúdo suficiente para isso.

Sem falar dos diálogos óbvios na maior parte do tempo, como se o espectador fosse uma pessoa completamente demente e incapaz de assistir um filme sozinho, sem que seja carregado pela mão o tempo todo. Momentos onde muitas vezes só falta um saco de risadas no fundo para sinalizar a hora do espectador achar a situação engraçada, de tão sem graça que era.

Os dinossauros agora também são muito mais simpáticos e não mais répteis de comportamento primitivo. Tem cenas cômicas com dinossauros, cenas fofas com dinossauros, cenas tristes com dinossauros, cenas dramáticas e até uma lágrima de dinossauro que escorre. Dinossauros agora fazem graça, se comunicam com a câmera como se estivessem em um stand up, fingem que estão dormindo e desdenham de suas prezas com um sorriso maroto. Um verdadeiro festival de propagandas clássicas de como enfofar esses animais e fazer as pessoas morrerem de vontade de correr no pet shop mais próximo de casa para comprar um assim que o filme acabar.

Uma ridícula gourmetização para espremer emoção do espectador, risos fáceis daqueles que gostam de humor tonto e assim termos a idéia de que os bichos não são tão ruins assim. Eleva-se o tom cômico e fantasioso e ameniza-se o lado aterrorizante dos dois primeiros filmes originais, e dessa forma cria-se uma fantasia familiar inerte e desinspirada.

Existem momentos intragáveis por conta deste excesso de açúcar. Tudo isso acontece porque, no decorrer da série, os animais passaram a ser tratados como vilões, e não como espécies que simplesmente reagem ao se sentirem ameaçados. E assim como vilões, eles agora precisam de momentos de redenção, como agora ser de praxe o T-Rex sempre salvar o protagonista do perigo (resultando na manjada cena do "rugido do rei"), ou quando o Velociraptor adestrado resolve ficar "do lado do bem" e combater o "dinossauro do mau".

Esse maniqueísmo foi o que definitivamente estragou a série, sua narrativa e várias propostas interessantes que pudessem surgir. Algo que não ofendeu diretamente o que o primeiro Jurassic World apresentou, mas que aqui ofende porque é usado como saída fácil, e não como uma alternativa, um elemento de dispersão raro.

Os verdadeiros vilões da história, que são os humanos, aqui são tratados como cientistas malucos, inescrupulosos, dominados pela ira da ambição capitalista. Exagerados na caricatura, quase memes deles mesmos para serem mais engraçados do que vilões de fato.

Para quem resolver assistir ao menos os dois primeiros filmes originais para relembrar de como foram bons, irão perceber as inúmeras cenas similares que existem entre eles. Na época que foi lançado, o segundo filme já havia sido taxado como uma variação do primeiro, pois tanto seu desenvolvimento quanto diversas cenas eram muito similares. Mas aqui não existe vergonha nisso, sequer na composição do elenco, sempre tendo crianças para darem trabalho, sempre tendo aqueles que ficam pra trás, sempre tendo aqueles que ferem a perna, e (quase) sempre tendo apenas um ator negro para dizer que existe diversidade.

Mas outras referências boas também são perceptíveis, como Indiana Jones e o Templo da Perdição, (o momento em que estão escondidos, assistindo o leilão do alto, assim como vários acontecimentos posteriores, são muito parecidos com a cena em que Indiana assiste ao sacrifício no Templo). Talvez esta seja a referência mais (propositalmente ou não) óbvia delas porque o próprio personagem de Chris Pratt é uma releitura do Professor Jones. Também não pude evitar encontrar similaridades até mesmo nos jogos Resident Evil/Dino Crisis, por levar a situação de sobrevivência para dentro de uma mansão com laboratórios e outras instalações subterrâneas, como acontece nesses jogos, o que deixou a situação interessante.

Como um todo, é o mais fraco filme da franquia. Ainda consegue ser um evento grandioso como sempre é, cheio de espetáculos visuais e assim divertir como pode. Mas tal qual os anos, conseguiu também se distanciar do misto sutil entre ação e fantasia que os primeiros conseguiram ser, ao mesmo tempo que nenhuma, ou qualquer sagacidade deles foi mantida. Tudo poderia ter sido melhor, ou mais palatável, se não tivesse uma linguagem verbal e visual tão infantilizada e didática, elementos que sempre empobrecem filmes que tem o objetivo de atingir o maior número de pessoas possível.

É complicado quando é nítido que algo foi feito em cima de idéias esgotadas e de uma forma que tenta forçar uma conexão com o público que em nenhum momento consegue desenvolver naturalmente, porque todo o encanto se quebra, e a expectativa se afoga. Isso só fortaleceu a idéia de que Michael Crichton deixou um legado importante na ficção científica, mas que não consegue ser longevo.

O terceiro filme desta nova trilogia já foi anunciado, e agora resta saber o que de novo eles podem apresentar, ou se será apenas mais um festival de variação das variações.

domingo, 14 de outubro de 2018

DESPERDÍCIO DE TUDO...

★★★★☆
Título: Oito Mulheres e Um Segredo (Ocean's Eight)
Ano: 2018
Gênero: Ação, Comédia
Classificação: 14 anos
Direção: Gary Ross
Elenco: Sandra Bullock, Cate Blanchett, Helena Bonham Carter, Anne Hathaway
País: Estados Unidos
Duração: 110 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Após receber liberdade condicional, uma ladra profissional resolve dar continuidade ao talento familiar quando planeja o furto de um colar de US$150 milhões durante um dos eventos de moda mais conhecidos do mundo.

O QUE TENHO A DIZER...
Steven Soderbergh pode ter se dado muito bem ao fazer o remake de Onze Homens e Um Segredo (Ocean's Eleven, 2001), transformando-o numa franquia de sucesso. Embora Doze Homens (Ocean's Twelve, 2004) tenha sido lançado naquele momento em que o diretor se sentia o rei de Hollywood, fazendo do filme uma reunião particular de amigos, cheio de piadas internas e nada, absolutamente nada interessante para o resto dos espectadores do mundo, ele conseguiu se redimir disso com 13 Homens (Ocean's Thirteen, 2007), que foi exatamente naquela época em que Hollywood começava a dar as costas a ele, mostrando que aquela coroazinha que ele tanto achou que tinha não era mais que um adorno de chocolate que foi bom enquanto não derreteu.

Tanto que hoje Soderbergh é apenas uma mera lembrança de Hollywood. Tentou armar um griteiro em 2014 dizendo que iria se aposentar porque o cinema norte-americano não tinha mais nada a lhe oferecer, ou algo do tipo. Mas voltou atrás ao novamente trabalhar com Channing Tatum em Logan Lucky (2017), e depois com Sharon Stone na fracassada série para a HBO, Mosaic (2017).

Entregando a direção a Gary Ross, ele agora só assina a produção dessa continuação direta de sua franquia, ao mesmo tempo que também é um reboot feminino da série, antes composta em sua maioria por homens famosos e engravatados como George Clooney, Brad Pitt e Matt Damon.

Produzir o filme também não garante as qualidades que Soderbergh tem, pelo contrário, é nítido que seu nome apenas aparece nos créditos para tentar dar ao filme todos os créditos que nele faltam.

A princípio tudo parecia interessante. A proposta do filme com um elenco principal predominantemente feminino, liderado por Sandra Bullock no papel de Debbie Ocean, irmã de Danny Ocean (George Clooney nos filmes anteriores) vinha a calhar numa época em que o movimento feminista no cinema estava a todo vapor.

O problema principal do filme, assim como de sua intenção, é se perder nas situações familiares e politicamente corretas. Isso o fez cair na mesmice de sempre, e tudo aquilo que poderia ser um excelente filme de ação e roubo (o gênero chamado heist), tal qual foram 11 e 13 Homens, se tornou um filme monótono dentro de um cenário feminino comum e batido.

Oras, se dentre várias revindicações femininas, uma delas era o protagonismo de filmes que outrora seriam protagonizados por homens, o filme falha quando novamente as insere em situações típicas da cultura social feminina e do senso comum até machista de que mulheres são movidas por futilidades.

Maquiagens, roupas caras, cabelos estilizados e impecáveis. Marcas famosas e andar de passarela. Escrito por Gary Ross e Olivia Milch, essa é a visão que os roteiristas tem sobre as 8 heroínas da história. A impressão é que assistimos uma versão turbinada de Sex And The City, onde Carrie Bradshaw armaria um grande esquema de vingança contra Mr. Big por tê-la traído.

Mas como se não bastasse tanta esnobação e glamour, o enredo principal, no qual qual Debbie planeja roubar o colar mais caro do mundo do pescoço de uma das mais famosas atrizes durante o Met Gala, aquele famoso evento anual fashionista e beneficente criado por Anna Wintour, a tão temida editora chefe da revista Vogue, se torna apenas uma ironia daquilo que as próprias mulheres tem tanto lutado para se desvincular: a de que os diamantes são sempre seus melhores amigos.

Ok, o cenário e o comportamento comum poderiam não importar caso todo o resto funcionasse. Mas não é o caso. Ao contrário do que aconteceu na franquia de Soderbergh, aqui não existe uma química convincente entre o elenco. As atrizes falham todo instante ao tentar mostrar uma intimidade que não existe, e o roteiro tropeça admiravelmente ao dar uma resolução sentimental, baseada numa vingança amorosa, além de diálogos monossilábicos e onomatopéicos apenas para justificar a presença irrelevante de alguns nomes famosos, como é o caso de Rihanna (péssima como sempre), ou Helena Bonham Carter, que aqui repete o papel da típica esquisitona que costuma ser na vida real, dando a sensação que mais aceitou o papel para pagar as contas do que por verdadeiro engajamento. E essa situação um tanto desconfortável que vemos na tela cria, sem querer, uma competitividade entre as atrizes que não cabe.

As situações desconexas não convencem que aquele bando de personagens desajustadas conseguiriam dar conta de realizar um dos maiores golpes em meio a um evento tão conhecido e segurado por tecnologia de ponta e equipes altamente treinadas. Tudo bem que pouco importaria o plano, ou pouco importaria a forma de realizá-lo, ou que ignorar os absurdos é quase uma obrigação na série, mas enquanto Soderbergh conseguia distrair o espectador dos defeitos dando ênfase no charme natural do elenco, na química entre eles e no bom humor quase que improvisado, aqui Gary Ross se importa apenas na ênfase da beleza maquiada, acentuando a monotonia e abolindo qualquer resquício de graça ou irreverência que qualquer atriz pudesse ter.

Embora Bullock e Cate Blanchett sempre roubem as cenas por, sem dúvida, serem os maiores nomes do elenco e terem uma presença naturalmente imponente frente as câmeras, é impossível deixar de acreditar que seja o filme mais fraco da carreira de ambas quando os créditos finais aparecem. Estão visualmente desinspiradas, um tanto decepcionadas entre aquilo que parecia uma excelente proposta com aquilo que se tornou o filme de fato, mas que tiveram que seguir até o fim por questões contratuais.

Se ao menos a edição fosse um pouco mais dinâmica, como são os filmes de Soderbergh, se o mesmo formato narrativo com sobreposição e recortes de imagem tivesse sido usado, e o tempo do filme não fosse tão errado, talvez nada soasse tão arrastado ou uma mera tentativa de alguma coisa como ele é.

É aquela sensação de sabotagem que vez ou outra temos, uma impressão de que algo propositalmente errado sempre é feito no meio daquilo que poderia dar muito certo para que o filme seja vendável, mas não se torne memorável para não fortalecer uma idéia.

No caso, a idéia de que um elenco feminino poderia ter feito algo definitivamente melhor.
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