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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A INCANSÁVEL BUSCA PELO REMORSO E A AUTO-REPARAÇÃO...

★★★★★★★★★☆
Título: Confissões (Kokuhaku)
Ano: 2010
Gênero: Drama, Suspense
Classificação: 16 anos
Direção: Tetsuya Nakashima
Elenco: Takako Matsu, Ai Hashimoto, Yukito Nishii, Kaoru Fujiwara, Yoshino Kimura,
País: Japção
Duração: 106 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
No último dia de aula antes das férias, e também o seu último dia de trabalho, a professora Yuko Moriguchi (Takako Matsu) resolve se desperdir de seus alunos dando uma aula diferente, contando a história de como sua filha de 4 anos foi assassinada por dois de seus alunos que se encontram na sala.

O QUE TENHO A DIZER...
Norte-americanos adoram um drama cliché, europeus adoram dramas realistas, e japoneses adoram o drama chocante. Eles tem essa tendência de serem visualmente exagerados, talvez como uma forma de exteriorizar sentimentos culturalmente contidos ao longo dos séculos. Os filmes de horror japoneses, por exemplo, abusam de todas as fórmulas do medo com o uso excessivo do sangue e do bizarro, mas nem por isso deixam de ser poéticos. O mesmo ocorre nesse drama com cargas psicológicas fortíssimas. O excesso de seqüencias em câmera lenta dá sutileza até mesmo quando há jorros de sangue nas cenas, dando um tom surrealista ao sofrimento, a dor e à confusão, conseguindo ser bonito até mesmo nos momentos mais brutos e chocantes por conta da fotografia apagada, numa perspectiva sempre muito horizontal e limitada, sem profundidade ou grandes perspectivas, tal qual as personagens. Mas essa sutileza e beleza não evita o clima pesado e depressivo, só alivia o impacto da violência.

Confissões é sem dúvida uma ode a todos os sentimentos e fatores negativos que transformam os humanos em seres psicóticos, obsessivos e perversos, seja em menor ou maior grau; seja da simples vontade até as duras conseqüências da realização. É um filme duro, pesado e bruto que nos mostra pontos bastante realistas que dão corda suficiente para muita reflexão do início de um efeito dominó até a sua última peça.

Leva esse título porque a história é contada por 5 pontos de vista de maneira bastante particular e honesta, como em um confessionário de fato. As narrativas (ou confissões) muitas vezes se intercalam para desenvolver a história linearmente, explicando no momento correto as razões ou motivos que cada um teve, e o espectador literalmente se transforma em um ouvinte, como se estivesse em uma mesa redonda com todos eles. Há também espaço para que as histórias individuais tomem forma e arestas para ter maior noção das razões de cada um ter pensamentos negativos da vida, e que os levaram às infelizes consequências. As imagens apenas ilustram o que muitas vezes já imaginamos conforme a história é narrada, e talvez essa função passiva do espectador não seja tão efetiva pelo filme ser falado em japonês, perdendo muito mais tempo lendo as legendas e assimiliando o que é mostrado do que simplesmente ouvir o que é contado e deixar a imaginação entrar em sintonia com as imagens, o que seria uma experiência muito mais impressionante.

O filme mostra de forma sutil que problemas e traumas pessoais se manifestam na sociedade e no convívio, do contato entre as pessoas e dos choques que essa necessidade traz ao querermos sempre responsabilizar alguém pelos nossos sofrimentos individuais. Mostra de forma clara a fixação que todos os humanos tem em comum por tudo aquilo que choca e causa sofrimento ao outro, como se isso aliviasse os nossos. O diretor, e também roteirista, Tetsuya Nakashima, mergulha por vários fatores sociopsicológicos para justificar esses comportamentos traumáticos. Ele varia desde os abusos e abandonos, do assédio moral, do sensacionalismo midiático, da intransigência jurídica, do uso abusivo do anonimato, da inconsequência das modernas redes sociais, da ignorância popular, até a vulnerabilidade das pessoas frente a todas essas armas que são utilizadas sem qualquer remorso pela personagem principal. A manipulação dos alunos feita por Moriguchi é uma crítica ao comportamento e ao pensamento limitado, e à fraqueza que os humanos demonstram ao se comportarem como uma massa, e não como indivíduos. É um filme fatalista, por isso os únicos personagens que agem e pensam diferente são exatamente aqueles que são punidos.

O maior conflito de Moriguchi, como professora e humanista, foi ter finalmente percebido que a crueldade não está apenas nos adultos, mas que ela surge naqueles que ela acreditava serem incorrompidos e inocentes, resultando em um esforço e futuro perdidos, causando a destruição de todos apenas puxando o fio da fraqueza de cada um, com o único objetivo de não apenas preencher sua perda com o remorso e o arrependimento de quem lhe inflingiu a dor, mas de ensinar que a crueldade dos humanos não leva a nada além da sua auto destruição.

CONCLUSÃO...
Um filme fantástico e impressionante do início ao fim. Uma ironia cruel e perversa da realidade e do lado sombrio do ser humano. A busca incessante da causa e da consequencia, do remorso e da auto-reparação.

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