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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

ESPECIAL: WEEDS

★★★★★★★
Nota:
Título: Weeds
Ano: 2007-2012
Gênero: Comédia, Drama
Classificação: 16 anos
Direção: Vários
Elenco principal: Mary Louise Parker, Hunter Parish, Alexander Gould, Kevin Nealon, Justin Kirk, Elizabeth Perkins
País: Estados Unidos
Duração: 25 min.

SOBRE O QUE É O SERIADO?
Sobre uma recém viúva que resolve investir no mercado ilegal de maconha no pequeno subúrbio onde mora para pagar as dívidas de casa e sustentar os dois filhos, travando uma batalha com toda a hipocrisia ao seu redor.

O QUE TENHO A DIZER...
Weeds é um seriado que serviu para muitas coisas, principalmente para quebrar determinados paradigmas na televisão, numa época que as pessoas parecem cada vez mais caminhar para a involução, além de ainda morrerem de medo e vergonha de falar de temas considerados "ultrajantes" e que fujam de tabus sociais. Por anos o seriado foi o grande assunto da mídia especializada e de premiações importantes. Todo mundo comentava, e essa grande atenção dada é compreensível. O humor de Weeds sempre foi o ponto alto e o responsável pela aceitação do público sem preconceitos, já que tudo com humor é melhor absorvido do que sem ele. Esse foi o grande trunfo de Jenji Kohan, a criadora da série, e até mesmo do canal Showtime, que depois do sucesso de crítica e público, elevou mais ainda o nível de suas produções, investindo em seriados mais críticos e realistas, em um patamar comparável às produções originais da HBO.

O seriado começou contando a história de Nancy Botwin (Mary Louise Parker), recém viúva e com dois filhos adolescentes que estava afogada em dívidas. Por acaso ela descobre que a pequena cidade onde mora esconde muito mais do que aparenta, existindo por baixo de toda uma falsa moral um comércio e consumo exacerbado de drogas ilícitas por todos os lados e por pessoas que ela nunca imaginava, variando entre pais entediados, mães estressadas, filhos rebeldes, políticos corruptos e falsos religiosos, ou seja, todos os patamares, mas tudo de forma muito discreta e disfarçada. Sem vergonha alguma ela se infiltra por todos eles e passa a negociar maconha, sempre da melhor qualidade, e conforme suas vendas aumentam ela descobre o que cada um dos moradores do pequeno subúrbio esconde embaixo dos panos, conquistando dessa forma diversos amigos e aliados, mas ao mesmo tempo muitas inimizades, já que ela atentava contra a moral e também pisava em território inimigo ao tirar a clientela de outros comerciantes e traficantes. Tudo isso ela conseguiu de maneira limpa e ética, apenas na simpatia, no humor sarcástico e no seu dom persuasivo, se safando de ameaças e chantagens usando a seu favor a hipocrisia das pessoas contra elas mesmas. Foi ganhando força e poder no decorrer das temporadas e de uma simples viúva mal falada e que era pouco ouvida nos desprezíveis eventos sociais da cidade, virou uma mulher poderosa e que tinha todos na mão, mas sempre agindo com integridade e fiel a sua ética pessoal. Ao mesmo tempo tinha que lidar com seu filho caçula problemático, seu filho mais velho adolescente, a vizinha invejosa, seu cunhado ninfomaníaco e sem onde morar, seu amigo que está sempre entorpecido e outras pessoas que acabavam procurando sua ajuda ou atropelando seu caminho, construindo uma rede de confiança e de interesses necessários para a sobrevivência de sua família e dos negócios.

Sem dúvida as características mais importantes do seriado nunca foram as drogas, nem mesmo o clã Botwin viver um novo inferno a cada dia, e muito menos os erros cometidos por cada um dos personagens a cada novo episódio, mas sim os problemas sociais que ele apontava, enfiando o dedo na ferida e torcendo, ao mesmo tempo que assoprava e fazia cócegas. Para compreender melhor o seriado, nada melhor do que conhecer uma cidade pequena e suburbana como a imaginária Agrestic/Majestic/Regrestic (a cidade mudou de nome três vezes por razões explicadas durante as temporadas), pois só assim para saber como é sobreviver em um lugar no qual algumas pessoas sejam rodeadas por uma grande maioria ignorante movida por uma aparência inexistente, e todos agindo iguais. A crítica começa logo na abertura do seriado, que foi a mesma durante as três primeiras temporadas, mostrando pessoas iguais, agindo iguais e de forma repetida, como se todos fossem produtos de uma mesma maquininha, tudo ao som da clássica canção "Little Boxes", sátira política de Malvina Reynolds, gravada originalmente em 1962 e que, cinco décadas depois, é mais atual do que nunca.

Essa posição determinista de que o ambiente é o grande fator condicionante nunca foi tão real, sendo obviamente revoltante para um pequeno número que se contrapõe a esta situação, querendo, de propósito e a todo tempo, fazer coisas apenas para provocar a ignorância alheia e brincar com a abstração de realidade sofrida pela maioria. Era isso que Nancy Botwin fazia, e foi isso que o seriado mostrou de maneira brilhante e inteligente, de forma que o espectador se sente conectado a tudo isso, seja se indentificando com a minoria reacionária, ou na hipocrisia da maioria. Portanto as primeiras 4 temporadas do seriado significaram muito mais do que um seriado que falava de drogas e sexo, mas uma forte crítica sobre a hipocrisia e ignorância suburbana.

Além de toda essa crítica social disfarçada em comédia absurda e por algumas vezes surreal, como uma viagem de THC, também havia a interpretação dos atores. Mary Louise Parker encarnou perfeitamente o papel de mãe moderna e reacionária, e é difícil imaginar qualquer outra atriz desempenhando o mesmo papel, tanto que ela foi indicada ao Emmy por quatro anos consecutivos e outras três ao Globo de Ouro (vencendo uma vez, em 2007). Elizabeth Perkins, no papel da vizinha invejosa Celia Hodes, foi uma das personagens mais memoráveis que o seriado teve por ser exatamente o retrato de todos os defeitos de uma sociedade ignorante, preconceituosa, racista, arrogante e psicótica, que sofria de uma depressão profunda, sempre mergulhada em um mau humor corrosivo que até os raros sorrisos eram duros igual uma pedra. As atitudes da personagem foram sendo justificadas ao longo das temporadas, e a compaixão por ela muitas vezes acaba sendo inevitável, por isso que ela se tornou a bruxa que todos adoram. Perkins também concorreu diversas vezes ao Emmy e ao Globo de Ouro, mas injustamente foi ignorada todas as vezes. A eterna rivalidade entre ambas e a relação de amor e ódio que foi desenvolvido durante as quatro primeiras temporadas podia ser vista como uma metáfora da guerra perpétua entre a tolerância e a ignorância.

Mas a partir da 4ª temporada as coisas começaram a tomar um rumo diferente no seriado. A criadora da série e também cabeça da equipe de roteiristas, tentando dar uma chacoalhada nas idéias e na falta de novos argumentos, resolveu tirar o clã Botwin do subúrbio para jogá-lo no mundo, mudando drasticamente o formato do show. Numa jornada que parecia infinita, os Botwin foram para todos os cantos possíveis, e de um seriado satírico e de humor negro sobre a vida suburbana, se transformou em uma comédia-pastelão-dramática-familiar onde todos deixaram de ter um papel importante para virarem apenas adornos de um roteiro pobre e sem rumo. Era notável que o destino dos personagens estava incerto, o público não aderiu muito bem as mudanças e o seriado começou a sofrer diversas críticas.

A criadora, juntamente com os roteiristas, pressionados pelos comentários e o desgosto dos fãs, tentaram por várias vezes resgatar a fórmula das primeiras temporadas, mudando as situações de forma brusca, tentando a todo custo criar ambientes similares ao suburbano em que viviam, como por exemplo, ao situá-los em Nova York, na sétima temporada.

Weeds ficou cansativo, com entrada e saída de personagens sem razões ou explicações, repetindo argumentos e tramas. Celia Hodes, que antes era uma personagem crucial no desenvolvimento dos episódios, foi perdendo espaço a cada nova temporada até se transformar em algo patético, vergonhoso e sem força, uma heresia para uma personagem que outrora fora tão forte. Sem saberem o que fazer ou que desenvolvimento dar a ela, Elizabeth Perkins se desligou do seriado em definitivo e na sétima temporada todos estranharam seu sumiço e sua falta foi sentida até o último episódio do seriado.

Nacy Botwin casou, teve filho, separou, fugiu, foi presa, foi solta sob condicional, foi ameaçada, brigou com os filhos, com o cunhado, transou a torto e a direita, conquistou seu espaço, perdeu seu espaço, perdeu a guarda do filho, ficou rica, comprou uma casa, ganhou a guarda do filho, levou um tiro na cabeça, entrou em coma, acordou desejando a paz mundial num dia e no dia seguinte voltou a ser como era antigamente, como se nada antes disso tivesse acontecido. Não havia mais linearidade. O nível de indecisão das tramas foi tão grande que a oitava e última temporada foi uma das mais absurdas e confusas, talvez a pior de todo o seriado, começando com um salto de 4 anos, além da entrada e saída de personagens e o cancelamento de histórias tão logo quanto começavam. E "cancelamento" é o termo mais apropriado, já que muitas delas acabavam sem mesmo uma razão melhor fundamentada.

As mudanças bruscas de direcionamento e roteiro, o retorno e a saída sem explicação de Jill (Jennifer Jason Leigh); o casamento sem sentido de Andy (Justin Kirk) com uma desconhecida; as atitudes cada vez mais absurdas e desnecessárias de Doug Wilson (Kevin Nealon); a rebeldia agora já sem sentido de Shane Botwin (Alexander Gould). Tudo isso são exemplos de uma encheção de linguiça feita para completar 13 episódios, sem nenhuma lógica ou sequência coerente.

Os dois últimos episódios foram apresentados juntos com a inédita duração de 50 minutos de última hora, talvez porque o canal não via a hora de acabar com o seriado tanto quanto os fãs não viam a hora de um ponto final naquilo que virou um circo de absurdos. Como se não bastasse o carnaval que se transformou, o último episódio teve outro salto de 10 anos no tempo, em um futuro no qual o iPhone é transparente, a maconha foi legalizada e Nacy Botwin se tornou uma empresária milhonária da droga, dona de 50 lojas por todo o país, das quais a Starbucks está interessada em comprar por uma quantia suficiente para "todos viverem em abudância para o resto da vida". A pobre surrealidade deste último episódio atingiu níveis ultrajantes, terminando em uma sequência de 2 minutos com todos os personagens em silêncio, fumando um cigarro de maconha na porta de casa. O simbolismo dessa cena foi bem menos do que aparenta, e significou apenas a falta do que ser dito e de que nada mais havia para ser dito depois de uma jornada que se tornou incoerente e com tão pouco a ser falado. Uma tragetória triste e um episódio final frustrante para um seriado que começou com temporadas brilhantes, mas ao longo dos anos se tornou insosso e cansativo (para não dizer patétitco). Mais uma prova de que alguns seriados não precisam ter essa longevidade toda.

CONCLUSÃO...
Vale e deve ser visto pelo menos por suas quatro primeiras temporadas, que são brilhantes e, mesmo tendo a maconha como um dos temas principais, não falam sobre apologia a drogas ou qualquer coisa parecida, mas foi uma fórmula certeira de lidar com as críticas suburbanas e a hipocrisia social em um humor negro que infelizmente foi perdendo seu tom ao longo dos anos e se transformando em um seriado sem sentido, com acontecimentos apenas para justificar a existência dele e entreter por entreter simplesmente.

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