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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

ESPECIAL: DAMAGES

★★★★★★★
Título: Damages
Ano: 2007-2012
Gênero: Suspense, Drama, Crime
Classificação: 16 anos
Direção: Vários
Elenco principal: Glenn Close, Rose Byrne
País: Estados Unidos
Duração: 60 min.

SOBRE O QUE É O SERIADO?
Sobre uma recém-formada em direito contratada para trabalhar junto com uma das mais poderosas e influentes advogadas de Nova York, que vê na jovem uma oportunidade de transformá-la em sua pupila e ter a possibilidade de deixar o seu legado para alguém ambicioso o suficiente para isso. Mergulhando em jogos de intrigas pelo poder e ambição, tanto pessoais quanto de seus clientes, ambas farão de tudo para alcançar o que querem, resultando em perdas e danos irreparáveis e que nenhuma delas ousou imaginar.

O QUE TENHO A DIZER...
Nessas cinco temporadas de Damages foi possível observar de tudo, desde como um seriado consegue um sucesso praticamente imediato, sua força de persuasão e atuações incríveis, até seu declínio e a facilidade de um show de TV perder a conexão com a sua audiência tão rapidamente como conquistou. Tudo isso foram fatores importantes para perceber que, sim, ainda é complicado manter um seriado na televisão, e ao mesmo tempo que o público busca algo diferente, ele necessita de informações fáceis e clichés que os conectem a algo, o que os criadores de Damages não conseguiram muito bem ao longo dos anos.

Mas sem dúvida que Damages foi um dos melhores seriados a ter estreiado em 2007, não pela sua história que é bastante fictícia - mesmo cada uma das temporadas terem sido baseadas em importantes casos jurídicos nos Estados Unidos - mas pela forma como elas foram contadas em paralelo à trama principal, e principalmente pelas atuações e a química tensa e sincronizada das protagonistas.

Glenn Close dispensa qualquer comentário. Sempre foi e será magnífica em qualquer papel. Neste show em particular ela é fabulosamente assustadora, com uma personagem sem escrúpulos e que sofre de um narcisismo compulsivo e psicótico. Concordo que seja um desperdício de talento ver uma atriz da sua categoria trabalhando em um seriado de televisão, mas ao mesmo tempo é um imenso privilégio ter essa possibilidade.

Rose Byrne também foi uma grande surpresa e o seriado foi responsável pela sua grande estréia ao tirá-la do patamar de atriz desconhecida e colocá-la em um status de uma das novas atrizes mais requisitadas atualmente tanto na televisão quando no cinema. Australiana, já havia estrelado alguns filmes pequenos e que chamaram a atenção da mídia e da crítica, como no filme Extermínio 2 (28 Weeks Later, 2007), continuação do filme de terror dirigido por Danny Boyle em 2002, de grande sucesso e que conquistou uma legião de fãs pelo mundo. Rose atualmente atravessa por uma fase de ascenção em Hollywood depois do enorme sucesso de Missão Madrinha de Casamento (Bridesmaids, 2011) e pela grande aceitação que teve como Dra. Moira MacTaggert em X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, 2011).

Durante o quinto episódio da primeira temporada, Patty Hewes (Gleen Close) diz a Ellen Parsons (Rose Byrne) para não confiar em ninguém. O seriado inteiro se desenvolve em torno deste aviso porque tudo é um segredo, ninguém é de confiança e nada é o que parece ser. Todos os elementos de um bom enredo de crime e suspense estão lá. Alguns clichés existem, mas são importantes para o desenvolvimento e o interesse de quem assiste.

A primeira temporada, baseada no escândalo da Companhia Enron, que levou centenas de pessoas à falência nos EUA, foi de enorme sucesso de crítica e público, com todos os melhores elementos que seriados de televisão como este deveriam ter. Seu episódio final foi surpreendente o bastante para que todos esperassem pela segunda temporada com grande entusiasmo. Os criadores da série não acreditavam que teria a repercurssão que teve e imediatamente o canal FX aprovou a produção da segunda e terceira temporada.

Com quase um ano e meio de atraso, a segunda temporada estreiou, sendo baseada na crise de energia na Califórnia. Os mesmos elementos de flashback e flashforward que caracterizaram o seriado voltaram à tona, apresentando um enredo novo, indefinido e que parecia surpreendente tanto quanto fora a temporada anterior. Mas conforme os episódios foram passando as coisas se mostraram muito mais confusas do que um interessante quebra-cabeças. O espectador deixou de ser uma parte ativa no desenvolvimento, e sua função de descobrir junto com os personagens os mistérios e segredos, havia sumido. A audiência ficou passiva, desafiada o tempo todo com mudanças bruscas na trama, pistas falsas inconclusivas e absurdas que não serviam para nada além de enganar sem motivo. Houve a participação de atores de forte calibre como William Hurt e Marcia Gay Harden, esta última, em um papel esquecível e que não aproveitou de seus potenciais em nenhum momento, tanto para acréscimo do seriado, quanto para o enredo, com uma personagem que tinha tudo para oferecer muito mais do que havia sido proposto. O fim foi uma resolução banal e sem continuidade ou qualquer fundamento, perdendo os elementos e características que fizeram a primeira temporada algo especial e um tanto inovadora no gênero. A desconexão e o desinteresse do público começou aí. Aos poucos as pessoas deixaram de assistir o seriado por acharem a temporada confusa e inferior.

A terceira temporada, baseado nos esquemas fraudulentos do empresário Bernie Madoff, seguiu a mesma tragetória. Sendo talvez a pior temporada, mesmo com um elenco novamente estelar que incluia a veterana e desperdiçada Lily Tomlin, que foi escalada para o papel por ter expressado a um dos criadores e roteiristas que era uma grande fã do seriado. Ao longo da temporada parecia que os roteiristas não sabiam mais o que estavam fazendo ou que direcionamento dar aos personagens, chegando até mesmo a matar um dos principais, Tom Shayes (Tate Donovan), um personagem que tinha grandes oportunidades para crescer e desempenhar outros papéis nas tramas, mas que nunca foi desenvolvido.

A audiência despencou porque o público de Damages era diferenciado, de pessoas que estão acostumadas e procuram produtos mais elaborados. Os fãs não gostaram dos rumos inferiores nos argumentos e histórias muito mal desenvolvidas. O preço dos episódios ficou muito caro (apenas o salário de Glenn Close era de aproximadamente US$200 mil/episódio, considerado alto para os padrões de canais fechados). O canal FX ficou em dúvida entre cancelar ou não o seriado porque, embora a audiência fosse ruim, o seriado era uma boa publicidade para o canal devido a suas participações em premiações importantes como Emmy e Globo de Ouro. Glenn Close chegou a ser premiada com um Globo de Ouro em 2008 e dois Emmy (um em 2008 e o outro em 2009). Rose Byrne também foi indicada algumas vezes tanto para o Emmy quanto para o Globo de Ouro. Por fim, a DirecTV demonstrou interesse em salvar o show de um fim repentino, pegando carona no poder publicitário que ele tinha. A companhia passou a produzí-lo, alegando que a audiência fiel atingia o número esperado para o canal e que o seriado ainda tinha muito a oferecer. O contrato estipulado era para a produção de mais duas temporadas de apenas 10 episódios cada, ao invés de 13, o que acabou compactando muito mais as histórias e amenizando o número de tramas paralelas dispensáveis.

A quarta temporada estreiou no canal Audience Network, sendo levemente baseado na companhia militar privada norte-americana, a Blackwater. As mudanças foram nítidas e o seriado voltou ao seu clima de mistérios e crimes envolvendo personagens de alto escalão político em um roteiro que novamente resgatou as características da primeira temporada. Diferente das duas temporadas anteriores, não houve reviravoltas enganosas ou absurdas que pudessem chamar o espectador de tolo, não havia pegadinhas, havia um enredo desconstruído e que se encaixava conforme os episódios eram apresentados, exatamente como foi na primeira temporada. A impressão que se tem é que fizeram questão de esquecer que a segunda e terceira temporada existiram, pois elas não são citadas em momento algum. Mesmo assim a audiência não subiu, e a quinta temporada foi decisiva para que o seriado colocasse um fim à épica rivalidade entre Patty Hewes e Ellen Parsons.

A temporada 2012, dessa vez baseada nos escândalos que envolveram Julian Assange, seu Wikileaks e algumas acusações de abuso sexual, fechou de forma satisfatória o ciclo das duas protagonistas, tendo íntima relação com os acontecimentos da primeira temporada. As temporadas anteriores são citadas por vários momento, seja em referências diretas ou não, mas nada muito importante ou que precise realmente ser revisto porque, além de serem desinteressantes, não acrescentam nada à conclusão da trama. Sem dúvida foi uma temporada para satisfazer o público fiel, finalmente respondendo questões que pairavam no ar há muito tempo. Os interesses de Patty e Ellen ficaram muito mais evidentes, bem como a personalidade de cada uma chegou ao limite para ambas. Por um lado temos Patty Hewes que durante as temporadas mostrou ter cada vez mais poder e influência ao ponto de ser indestrutível. Por outro temos Ellen Parsons que de uma mera protegida se transformou em uma mulher cada vez mais confiante e poderosa, que entrou no jogo com unhas e dentes para ganhar, custe o que custar.

O seriado foi concluído sem um grande conflito entre as protagonistas, tudo muito pacífico e limpo, como Ellen mesmo afirma no último episódio. Isso pode ser um pouco frustrante para quem esperava uma atitude mais impensada e impulsiva, mas por outro ponto de vista também é interessante e de alto nível por parte do roteiro que não ignorou a evolução de Ellen Parsons durante as temporadas, personagem que deixou sua impulsividade de lado ao longo do seriado, se tornou cada vez mais contida, enigmática e calculista, até sua postura e imagem ficaram mais confiantes ao longo dos anos. Enquanto isso Patty Hewes apenas a observava sem o menor esforço, vendo sua discípula amadurecer a cada novo passo, como uma criança, se gabando e prevendo cada estratégia, porque ela mesma já passou pelas mesmas experiências de Ellen.

A temporada conclusiva conseguiu ser surpreendente por diversas vezes, obrigando-nos a manter nossa atenção até o último episódio tal qual aconteceu na primeira temporada, balanceando as pistas e seqüências aleatórias entre conclusões simples e completamente diferentes do que a audiência poderia suspeitar, com outras mais dramáticas e inesperadas. O cliché aparece o tempo todo, mas como dito anteriormente, importantes para o desenvolvimento e a conclusão da busca e da espera de cada uma, das perdas e dos danos, e o preço que cada uma delas teve de pagar para conquistar o que queria. O diálogo final entre ambas é breve, discreto, e ao mesmo tempo um deja vu sombrio e determinista que termina em um silêncio seco e engasgado. Não foi um final aparentemente feliz, mas tenso e satisfatório.

CONCLUSÃO...
Damages pode ter tido muitas falhas, principalmente na segunda e terceira temporada, que são esquecíveis e dispensáveis, mas o seriado todo ofereceu uma qualidade cinematográfica de atuação e desenvolvimento de trama raramente vista na televisão, tal qual a química entre duas grandiosas atrizes: uma veterana que já atingiu a perfeição de sua técnica, e uma novata que conseguiu se manter à altura. Um paradoxo até que bastante interessante entre suas personagens.

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