Translate

domingo, 23 de setembro de 2012

DRAMA DE NOVELA...

★★★★
Título: People Like Us
Ano: 2012
Gênero: Drama
Classificação: 14 anos
Direção: Alex Kurtzman
Elenco: Chris Pine, Elizabeth Banks, Olivia Wilde, Michelle Pfeiffer
País: Estados Unidos
Duração: 114 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sam (Chris Pine) recebe a notícia de sua namorada, Hannah (Olivia Wilde), que seu pai ausente e irresponsável morreu. Mesmo relutante, ele vai para a casa de sua mãe, Lillian (Michelle Pfeiffer). Lá descobre, por intermédio de um testamenteiro, que ele tem uma irmã e um sobrinho, do qual nunca ouviu falar, e agora ele terá que lidar com esses dois lados da família e suas escolhas.

O QUE TENHO A DIZER...
Esse filme é a estréia do roteirista e produtor Alex Kurtzman na direção, que teve êxito ao produzir alguns episódios de seriados como Xena - A Princesa Guerreira (1995-2001), Alias (2001-2006) e Fringe (2008), além de dois filmes que foram de enorme sucesso comercial para seu currículo como o reboot de Jornada Nas Estrelas (Star Trek, 2009) e a comédia romântica A Proposta (The Proposal, 2009). O roteiro é assinado por ele em colaboração com mais dois autores, Roberto Orci e Jody Lambert. Roberto Orci parece ser colaborador de longa data, já que ambos possuem vários trabalhos em comum, enquanto o outro roteirista deve ter sido um tipo de estagiário, já que não possui algo muito relevante.

Esse drama, ainda inédito no país, atraiu minha curiosidade por ter um elenco bastante forte que é encabeçado por Chris Pine, ator atualmente em ascenção. O filme começa com Sam, um negociador corporativo egoísta, ambicioso e mentiroso, tendo problemas em sua empresa depois de uma das suas negociações violar leis federais de troca de produtos. Seu chefe o obriga a contornar a situação subornando os agentes responsáveis pela investigação com seu próprio dinheiro, ou ele será responsabilizado por todas as irregularidades. Ao mesmo tempo, Sam volta para casa e recebe a notícia da morte de seu pai. Relutante, acaba voando para Los Angeles para visitar sua mãe, Lillian (Michelle Pfeiffer). Por intermédio de um testamenteiro, descobre que seu pai deixou uma quantia de US$150 mil para um garoto chamado Josh, de 11 anos. Determinado a ficar com o dinheiro e resolver os seus atuais problemas, ele acaba descobrindo que Josh é, na verdade, seu sobrinho, filho de uma meia-irmã paterna, Frankie (Elizabeth Banks), da qual ele nunca ouviu falar. Sam se aproxima de Frankie, mas não consegue contar a verdade em momento algum.

O enredo do filme é do típico drama que norte-americano adora, envolvendo a difícil relação familiar e da dificuldade de aceitação dos erros dos pais pelos filhos depois que eles já estão adultos. Começa com a redundante e desnecessária informação de que é baseado em fatos reais, talvez para aumentar o vínculo entre o público e o drama. A verdade é que o que o protagonista vive com sua família, mesmo não sendo comum, é bastante recorrente não apenas no cinema como também na vida real, pois sabemos que acontece e existe por aí. Ao mesmo tempo isso também não significa que o filme seja carregado desse apelo pessoal que nos identifique a todo o tempo com a realidade, pois embora o título do filme tenha essa intenção, a história não fala de pessoas como nós, nem no sentido de conexão com os personagens e nem no sentido de que os protagonistas do filme sejam pessoas tão comuns quanto a gente, e os roteiristas não conseguem em momento algum criar esse vínculo.

Há um momento no filme que Frankie diz que você identifica uma mentira quando a pessoa carrega os fatos em detalhes desnecessários. O exagero do filme em "carregar" a história com paralelos inúteis é o que transforma tudo em um drama fictício e inverossímel, contradizendo a informação dada no começo. Os problemas profissionais que Sam está passando não tem nenhuma finalidade no filme além de tentar dar profundidade à sua personalidade egocêntrica e covarde que já são exploradas bastante nas suas relações familiares, deixando essa trama paralela suspensa e sem resolução, aparecendo aleatoriamente durante o filme para criar momentos de indecisão forçadas e que não levam a nada. Demora para os personagens e a história encontrar seu tom, e isso só vai acontecer depois de uma hora de filme.

Esse desenvolvimento confuso do roteiro é o que estraga uma história que poderia ter sido mais sincera e realista se tivesse mantido o foco apenas na relação familiar e nas dificuldades de administrar descobertas que levam a escolhas importantes e definitivas para todos. As tramas e complexidades dispersas não dão oportunidade a personagens e atores crescerem, como acontece com Michelle Pfeiffer, que faz o papel da mãe, se tornando uma personagem esquecida tanto quanto a personagem de Olivia Wilde.

A cena de reencontro entre Lillian e Sam mostra que ambos tem uma relação de um passado aparentemente conturbado e difícil, mas que nunca é desenvolvido ou explicado, envolvendo até um tapa no rosto de Sam, sem muita lógica ou nexo. A própria atriz insistiu que essa cena fosse deletada, alegando que que seria difícil para o espectador compreender o motivo e posteriormente ter compaixão por ela. E realmente fica difícil compreender essa sequência, porque a relação entre ambos segue como se nada disso tivesse acontecido, ignorando um passado turbulento que exista entre eles.

O foco fica sempre na relação entre Sam e Frankie, sua meia-irmã, uma alcólatra em reabilitação que também tem dificuldades com seu filho adolescente e rebelde, personagem que só tem a intenção de acentuar o apelo dramático e de como sua personagem é uma mãe esforçada e trabalhadora, que além de ter tido uma infância traumática e uma adolescencia problemática, também tem que lidar com o filho que não se adapta na escola por conta da ausência de uma figura paterna. A relação construída nesse núcleo é um tanto forçada, já que Sam invade a vida de ambos sem pedir licença e Frankie aceita de bom grado sem nem ao menos questionar em qualquer momento suas origens ou intenções, como se nenhuma experiência de vida a tivesse ensinado alguma coisa, se extendendo até a uma tensão sexual desnecessária que ocorre no ápice da relação dos dois, momento que, aí sim, ela resolve questioná-lo sobre tudo.

A inexperiência do diretor e o roteiro vago esquecem que a inteção do filme é mostrar como é difícil para todos lidar com as diferenças da instituição familiar e como as escolhas são importantes para que esses laços sejam mantidos independente dos graus de proximidade e de diferenças, além da posição que devemos tomar para a manutenção desses vínculos. Por conta disso o filme nunca atinge esse vínculo pessoal com o espectador, que vai absorver muito pouco ou achar pouca coisa relevante para ser interpretada como uma grande moral ou lição a ser aprendida.

CONCLUSÃO...
Sem dúvida é um filme sofrível de ser assistido por conta do péssimo desenvolvimento e de uma direção perdida. O pouco êxito se dá por conta da experiência dos atores, que nem precisaram ser dirigidos pelo visto, e a grande intenção que tiveram de fazer tudo funcionar como deve. Mas o produto final não agrada, virando um filme com uma traminha aguada de novela.

Nenhum comentário:

Add to Flipboard Magazine.