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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

PSEUDO-FILOSOFIA...

★★★★★★
Título: Prometheus
Ano: 2012
Gênero: Ficção Científica, Drama, Ação
Classificação: 14 anos
Direção: Ridley Scott
Elenco: Noomi Rapace, Michael Fassbender, Charlize Theron, Logan Marshall-Green, Idris Elba, Guy Pearce
País: Estados Unidos, Reino Unido
Duração: 124 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
A tripulação da nave Prometheus finalmente chega a um planeta desconhecido depois de 2 anos e meio de viagem para uma exploração intencionada a descobrir as origens da raça humana.

O QUE TENHO A DIZER...
Não é novidade para quem gosta de cinema que Ridley Scott não é mais o mesmo de antigamente. Por ser dono de três importantes títulos como Alien (1979), Blade Runner (1982) e Thelma & Louise (1991), a impressão que tenho é que o mito ficou maior do que a verdade, e esse tão falado "visionarismo" do diretor nada mais foi do que uma mera "ousadia" no tempo certo. Alien, o cult classic favorito dos amantes da ficção científica, foi um sucesso. Teve um custo de US$11 milhões na época, e arrecadou mais de US$185 milhões no mundo, sem falar de seus relançamentos em DVD e versões extendidas, remasterizadas e em alta definição no cinema ao longo dos anos e que contribuiram para o aumento desses números.

Agora, uma curiosidade é que, ao contrário do que parece, Blade Runner não foi o sucesso que a mídia reporta. Foi um filme praticamente fadado ao fracasso, que ficou conhecido apenas no circuito alternativo e demorou anos para ser assimilado pelo público mais popular, tanto que o filme original sofreu várias mudanças até chegar no formato que conhecemos. Com um custo de aproximadamente US$28 milhões, arrecadou suados US$32 milhões só nos EUA. Ou seja, o sucesso de Blade Runner é mais boato do que fato. Seu sucesso comercial foi acontecer apenas ao longo dos anos e da insistência com os constantes relançamentos em home vídeo e diferentes versões no cinema. Óbvio que isso não diminui a qualidade do filme e do seu poder de referência, mas quebra bastante o paradigma de que Ridley Scott é dono de dezenas de sucessos. Alguns poucos sucessos subsequentes, incluindo o de Thelma & Louise, só foram conquistados em cima desse falso marketing.

A última grande investida do diretor foi em Gladiador (Gladiator, 2000), novamente muito mais uma aposta de sorte do que de visionarismo, e que trouxe de volta um estilo que não deu muito certo nas mãos de outros diretores, incluindo dele mesmo, quando tentou repetir esse sucesso com Cruzada (Kingdom Of Heaven, 2005), um grande fracasso comercial.

A história de um quinto filme da série Alien surgiu como um boato ainda no começo de 2000, quando Ridley Scott e James Cameron, juntamente com Sigourney Weaver, demonstraram interesse em voltar para mais um filme da franquia. Mas enquanto o roteiro estava sendo desenvolvido, o estúdio deu sinal verde para o lançamento do terrível crossover Alien Vs. Predador (2004). Alegando que este lançamento teria repercurssão negativa para a série, James Cameron desistiu do projeto e ninguém mais voltou a falar sobre o assunto.

Em 2009, a nova onda dos reboots por conta do sucesso da série Batman, de Christopher Nolan, trouxe novas possibilidades e a Fox resolveu fazer o mesmo com a série Alien e uma pré-sequencia havia sido confirmada desde que Ridley Scott retornasse para a direção. A pré-produção sofreu diversas mudanças criativas e de desenvolvimento e no fim das contas Ridley Scott afirmou que, embora a idéia do filme tenha sido inspirada na série Alien e que a história se passe no mesmo universo, o processo criativo desenvolveu uma nova idéia, em um filme completamente diferente que se basearia na mitologia e na criação do universo.

De fato, a história até puxa algumas referências que explicam - dentre várias coisas que explicam ou deixam sem explicar - a origem da espécie humana e alienígena, mas o filme parte de um princípio completamente diferente da série Alien, e que realmente o classifica como uma história única, e não uma pré-continuação.

Prometeus é o nome de um titã da Mitologia Grega que roubou o fogo dos deuses para que os homens pudessem usar para seu progresso e civilização. Por conta disso ele foi condenado ao sofrimento, sendo amarrado em uma rocha onde todas as manhãs uma águia comeria o seu fígado, que regeneraria para ser novamente devorado no dia seguinte, e assim por toda a eternidade.

A história e a moral desenvolvida no filme segue particularmente a linha mais romântica de Prometeus, a do herói titã que se transformou em símbolo da bravura humana e do conhecimento, mas que também significou o risco de ultrapassar os limites até suas últimas consequências, já que seus esforços em incentivar o progresso e a melhoria dos homens também resultou na sua própria tragédia. Em resumo significaria o homem brincar de deus, e ao criar algo que possa favorecê-lo, também cria algo que volta-se contra ele mesmo.

Ao contrário do que parece ser, Prometeus não é um filme de horror científico tal qual é a série Alien. É muito mais um drama científico do que qualquer outra coisa. Lento e com basicamente apenas três grandes sequências de ação durante suas mais de duas horas, pode fazer muitas pessoas ficarem um pouco desapontadas ou frustradas.

A verdade é que Ridley Scott, juntamente com os roteiristas Jon Spaihts e Damon Lindelof, tentaram fazer desse filme uma obra pós-moderna de ficção científica tal qual Alien ou Blade Runner significaram em seu tempo. O uso da mitologia grega ou suméria (e até de outras culturas similares na sua construção) para justificar a busca pela origem humana, é bastante evidente, o que não caracterizaria o material como algo original, embora ele também apresente alguns poucos elementos próprios. A história também tenta afirmar que a religião que é baseada na ciência, e não o contrário, como muita gente acredita. Mas a aproximação dessas duas linhas de pensamento tão distintas e de como isso é feito chega a ser muitas vezes até subliminar, talvez para evitar polêmicas ou conflitos desnecessários. Tanto é assim que a personagem principal, a cientista Elizabeth Shaw (Noomi Rapace), se mostra uma cristã devota principalmente em uma das sequencias finais, quando ela pede perdão por ter ido tão longe, convergindo para o princípio religioso do abuso do poder dado aos homens e as duras consequências colhidas por seus atos de grandeza.

Obviamente que a grande característica do filme, e que o encaixa como um material dentro do universo proposto (ou "DNA Alien", como disse Ridley Scott), é o visual obscuro, metalizado e biomecânico resgatado do primeiro Alien, legado do diretor de arte Roger Christian e do artista plástico surrealista H. R. Giger. Os cenários grandiosos e o uso do 3D para ampliar a sensação de profundidade é o que mais tem chamado a atenção, mais do que a própria história. Isso acontece porque ela em si se mostra um tanto redundante, andando em círculos e esclarecendo quase nada. O espectador não consegue respostas para muitas das situações que são jogadas na sua frente sem qualquer relevância. Não dá pra entender muito bem qual a função de algumas determinadas coisas, como a da substância negra, que ao mesmo tempo que destrói também desenvolve (ou muta). Além disso, há um número desnecessário de atores no elenco. Muitos deles estão lá apenas para desvirtuarem propósitos ou darem falsas pistas gratuitamente, novamente sem relevância alguma para o desenvolvimento da história.

Achei essa inutilidade de personagens talvez o mais revoltante de todo o filme, pois não há como o espectador evitar de prestar atenção nesses detalhes e no fim se sentirem enganados para nada. São elementos que foram utilizados até a exaustão na série Alien e demais filmes de ação espacial, mas que hoje em dia se transformaram em clichés previsíveis e que não funcionam, gerando mais revolta do que expectativa. Não dá para entender, por exemplo, o motivo de Guy Pearce atuar como o velho Peter Weyland e aquela tenebrosa maquiagem visivelmente falsa, ou qual é exatamente a função de Charlize Theron como Meredith Vickers além de uma revelação tipicamente Guerra-Nas-Estrelas-de-ser.

A verdade é que muita gente não vai conseguir engolir muito bem essa pseudo-filosofia existencialista que o filme tenta propor. É um filme confuso, pois mesmo sua moral sendo bastante interessante e baseada em alguns fundamentos religiosos e míticos fortes, a ficção e o exagero de elementos desnecessários para forçar um clima de suspense e medo acabam não tendo a eficiência que deveriam justamente pelo excesso de intenção. Ridley Scott definitivamente tem se mostrado um diretor comum, que carrega em si apenas o peso do nome e da importância de alguns poucos títulos na história do cinema.

CONCLUSÃO...
Prometheus poderia ter sido um grande retorno e um filme tão grandioso quanto seus cenários, mas resultou num produto banal, inconclusivo, com um elenco grandioso e que muitos deles estão lá apenas para atrair público, não acrescentando qualquer coisa que seja, tanto para aqueles que esperavam algo original, quanto àqueles que assistiram como uma pré-continuação da série Alien. Uma continuação já foi anunciada, e se for seguir a tradição da série Alien, em que Aliens (continuação de 1986, dirigido por James Cameron) é considerado melhor que o original de Ridley Scott, então talvez isso não soe tão mal assim.

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