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terça-feira, 4 de setembro de 2012

"I WANT AN iPHONE!"

★★★★★★★
Título: God Bless America
Ano: 2011
Gênero: Comédia, Ação
Classificação: 16 anos
Direção: Bobcat Goldthwait
Elenco: Joel Murray, Tara Lynne Barr, Melinda Page Hamilton
País: Estados Unidos
Duração: 105 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Frank sofre de enxaqueca e insônia, não aguenta mais seus vizinhos da casa germinada onde mora, tudo na televisão é estúpido, no seu trabalho todos só falam do que está na moda e ainda conseguiu ficar desempregado e descobrir um tumor no cérebro. Ele conhece Roxy, uma adolescente madura para sua idade, porém com pensamentos homicidas, que consegue convencê-lo a sair por aí eliminando maus elementos da sociedade, aqueles responsáveis por deixar as pessoas mais estúpidas e ignorantes.

O QUE TENHO A DIZER...
Sim, o mundo está ficando ignorante, a população está emburrecendo e somos todos nós os responsáveis por isso. Se alguém ainda tem duvida disso não vai precisar de muito pra descobrir a verdade e nem mesmo uma citação importante do Facebook para aumentar a credibilidade desse texto. É só olhar à sua volta, com muita atenção.

"As pessoas não conversam mais além de simplesmente reproduzir o que vêem na TV, lêem nas revistas de fofoca ou ouvem nas rádios", é o que Frank (Joel Murray) diz, enquanto seus colegas de trabalho assistem seu discurso assustados, como se ele estivesse louco. Logo em seguida ele é demitido, pois é assim como as coisas sempre foram com todos aqueles que questionam a ignorância e a atitude da massa. Quanto mais pessoas pensarem igual, mais fácil é das coisas serem controladas. Em outros exemplos, é a exploração do ponto fraco de um grupo, de uma sociedade, ou população, como o filme deixa bem claro. Se é uma população amedrontada, venderemos armas e serviços de segurança. Se é um grupo ignorante, daremos informações erradas. Se é uma população xenofóbica, promoveremos o nacionalismo.

Há uma parte em que o personagem Frank também diz que alguns poucos anos atrás sentíamos nojo ao ver alguém comendo carne crua em reality shows, e hoje isso não faz nem cócegas. Essa afirmação é tão interessante por resumir o ponto em que a sociedade e sua cultura chegou, porque eu lembro bem a primeira vez que vi uma pessoa comer um testículo de bode ao vivo na televisão, e lembro porque aquilo foi chocante naquela época. Hoje não é, não porque nos acostumamos, mas porque a banalidade se supera cada vez mais, fazendo muitas das coisas perderem seus sentidos e valores.

Foi interessante assistir este filme logo depois de ter assistido Confissões (Kokuhaku, 2010), pois os dois filmes se complementam muito bem de alguma forma. God Bless America é um alerta ao excesso do cultivo da ignorância, e Confissões é sobre os resultados e as conseqüencias da constante alienação e da insistência das pessoas em ignorarem os problemas. Um filme é norte-americano, o outro é japonês, apenas para se ter uma noção de que não existem barreiras ou distância que impeça problemas comuns de existirem e que dizem respeito a todos nós.

Também se assemelha bastante a filmes como Um Dia De Fúria (Falling Down, 1993), Assassinos Por Natureza (Natural Born Killers, 1994) ou até mesmo ao mais recente Tiranossauro (Tyrannosaur, 2011), mas ao contrário desses filmes, God Bless America é uma comédia de um humor negro, pois é esse tom que faz a idéia ser assimilada. O acesso da mensagem por esse caminho é sempre mais fácil e menos chocante.

O filme foi escrito e dirigo por Bob Goldthwait, que logo no começo oferece uma sequencia extremamente violenta, não poupando nem um bebê, mas tudo é feito de forma tão satírica que o choque pode até acontecer, mas a gargalhada será inevitável. É importante entender que toda essa violência do filme não passa de uma metáfora, e todos os personagens são alegóricos, represantando os elementos intolerantes e repulsivos aos quais Frank e Roxy (Tara Lynne Barr) saem à caça, limpando os lugares de doenças sociais e exemplos negativos. Compreender isso é essencial para a mensagem ser válida.

Mesmo assim o filme não foge de alguns problemas de desenvolvimento. A força narrativa e a ousadia mostrada no início vão perdendo um pouco o fôlego, mas nada disso impede o objetivo principal da história, a de criticar o consumismo vazio, a superficialidade de idéias e o excesso do inútil. Goldthwaith foi certeiro na pontuação dos fatores intolerantes, pois são comuns à maioria das pessoas. Foram citados tantos exemplos que é impossível alguém não se identificar em nenhum momento, da mesma forma como ninguém vai terminar o filme sem pensar em outros. As semelhanças do que é mostrado ou citado com a realidade é tão grande que chega a ser assustador. Sim, é assustador pensar que qualquer pessoa do mundo possa se identificar com esse filme, pois só assim para termos noção da proporção gigantesca que as coisas estão tomando, e como tudo está igual em todo lugar, e porque tudo estão tão difícil, e porque a impressão que temos é que o mundo está acabando, e porque as pessoas estão pirando, e porque ninguém consegue mudar nada.

O caos é o limite, mas não há limite para o caos. O fim é previsível porque é assim como ele tinha que ser, pois é o fim de tudo que questiona ou tenta mudar o pensamento comum. A típica situação que é trágica se não for engraçada.

CONCLUSÃO...
Excelente discussão sobre os rumos que o pensamento comum tem dado às pessoas, e a desvalorização intelectual que está atingindo níveis inaceitáveis e intolerantes. Um filme que não deve ser ignorado e deveria ser obrigatório até mesmo em currículos escolares.

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