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quarta-feira, 18 de julho de 2012

VIDA DE EMPREGUETE...

★★★★★★★
Título: As Mulheres do Sexto Andar (Les Femmes Du 6ème Étage)
Ano: 2010
Gênero: Comédia, Romance
Classificação: 12 anos
Direção: Philippe Le Guay
Elenco: Fabrice Luchini, Sandrine Kiberlain, Natalia Verbeke, Carmem Maura, Lola Dueñas, Berta Ojea, Nuria Solé, Concha Galán
País: França
Duração: 104 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Durante a década de 60, enquanto Espanha ainda atravessava o período diatorial de Francisco Franco, milhares de imigrantes atravessaram a fronteira Francesa para trabalhar, dentre eles mulheres que foram viver em condições precárias para trabalhar de empregadas domésticas e ajudarem suas famílias na Espanha durante a crise. Em um prédio mora o dono do condomínio e sua mulher no quinto andar, e no sexto andar seis domésticas espanholas que irão transformar a vida deste homem completamente, abrindo o seus olhos para a vida e os pequenos prazeres que fazem dela algo tão valioso.

O QUE TENHO A DIZER...
Como é bom assistir um filme europeu, seja comédia, drama ou romance. Dificilmente caem nos clichés comuns, são pouco óbvios e gostam sempre de tratar de assuntos pouco rotineiros e de forma inteligente, construindo boas histórias sobre temas simples, recheados de bons argumentos. Mas até mesmo quando caem no cliché, como acontece algumas vezes nesse filme, pouca atenção é dada, pois o que importa é o que está sendo construído em volta dele, fazendo do cliché um coadjuvante de pouca relevância. Isso acontece graças ao diretor Philippe Le Guay, que também assina o roteiro um tanto autobiográfico, já que ele também era filho de um investidor e foi criado por uma empregada espanhola. Não recebeu atenção devida, chegando no Brasil até com bastante atraso.

Fui pego de surpesa pois nunca tinha ouvido falar dele antes, e o filme mais me interessou porque gosto desses temas que costumam juntar um grande elenco feminino. Não sei, acredito que as mulheres sempre tem muitas excelentes histórias pra contar, e não seria diferente em um filme em que a predominância é de atrizes espanholas (dentre elas, a querida de Almodóvar, Carmem Maura).

Obviamente o contraste é gritante entre o exagero espanhol e a panca do conservadorismo francês, e isso já é percebido logo no começo quando a faxineira do condomínio (que também faz as vezes de uma síndica), a Sra. Triboulet (Annie Mercier), comenta ao Sr. Joubert (Fabrice Luchini), o dono, que não aguenta mais tanta festa feita pelas espanholas. Porque os espanhóis são assim mesmo, enquanto os franceses são virados, enjoados e sempre num exagerado requinte. E sobre esse mote o filme se desenvolve junto com a contratação da bela espanhola Maria (Natalia Verbeke). Jean-Luis Joubert se encanta por Maria logo no primeiro dia, pois ela sabe fazer ovos quentes, algo que sua antiga empregada que trabalhou com sua família por vinte anos, nunca soube acertar o ponto.

Este é o cliché básico, a linha mestre de uma história que será tricotada entre uma ou outra citação importante e que tem íntima relação com todos os choques culturais e sociais entre esses dois grupos, como as crises econômicas na Espanha por conta da ditadura que levou Francisco Franco ao reinado; a segregação social francesa; o desconforto entre franceses e espanhóis, talvez pela falta de apoio francesa durante o periodo Franco (que boicotou a venda de produtos para os espanhóis durante a ditadura) e/ou pelo inchaço populacional por conta da imigração espanhola (e que posteriormente foi feita pela população portuguesa); e da falta de um sindicato de empregadas domésticas, o que as obrigavam a aceitar condições de assédio e maus tratos. Há também a exploração da mão de obra imigrante, como as péssimas condições de trabalho, habitacionais e de saneamento em que viviam aqueles que moravam no último andar, ou seja, os empregados. No filme tudo é representado de forma um pouco mais sutil, mas real.

Tudo isso é discutido de forma leve e com bom humor, principalmente nas poucas vezes em que a queixo-duro da espanhola Carmem (Lola Dueñas) solta frases revolucionárias ou tenta alertar as demais com suas desconfianças exageradas.

Unido a tudo isso há o casamento falido entre o Sr. e a Sra. Joubert, regado a uma rotina desinteressante em que o marido sabe de cor os deveres de cada dia de sua mulher. Sem outros grandes interesses na vida, ele passa a prestar mais atenção nas empregadas do andar de cima, despertando interesse por suas histórias e se sentindo útil e querido por ajudar cada uma delas, algo que não sentia há muito tempo com sua própria esposa. Claro que tudo isso fora despertado pelo sentimento que constantemente cresce entre ele e Maria, mas que se torna bastante relevante em sua vida quando a união das espanholas se mostra receptiva e amigável de uma forma que ele nunca imaginou, ou melhor, nunca se preocupou em imaginar.

Há dois acontecimentos no filme que não ajudam muito, como a compra de ações na Bolsa de Valores realizada pelas empregadas (nada mais sobre isso é dito) e a noite de amor entre Maria e Jean-Louis, que poderia ter sido dispensada e substituída por qualquer outra coisa. Mas não atrapalha em nada o resultado agradável que ele proporciona.

CONCLUSÃO...
É um filme extremamente prazeroso de se assistir e de certa forma ingênuo dentro de tantos fatos e acontecimentos turbulentos, sem contar que a década de 60 é representada com figurinos e cenários simples mas estilosos, dando muito mais densidade na história contada. Claro que o filme termina em um final feliz e esperado de Cinderela, mas no cinema europeu o filme geralmente acaba antes do açúcar derreter.

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