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sábado, 21 de julho de 2012

DRAMINHA FAMILIAR À MODA ANTIGA...

★★★★★★★
Título: Crimes do Coração (Crimes Of The Heart)
Ano: 1986
Gênero: Drama, Comédia
Classificação: 14 anos
Direção: Bruce Baresford
Elenco: Diane Keaton, Jessica Lange, Sissy Spacek, Tess Harper, Sam Shepard
País: Estados Unidos
Duração: 105 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Uma jovem tenta matar o próprio marido e está respondendo em liberdade por um crime que ela insiste em não revelar as razões até mesmo para suas duas irmãs que se unem a ela para apoiá-la neste momento difícil. Mas o momento difícil não é apenas para uma delas, mas para todas, e assim os atritos irão surgir, mas a união ficará mais forte.

O QUE TENHO A DIZER...
Como eu nasci nos anos 80, tem muita coisa dessa época para trás que perdi, e resgatar, reviver ou relembrar esses filmes é às vezes difícil porque se eu mal consigo acompanhar os atuais, imagina os antigos? Assisto o que posso e consigo, e às vezes fico curioso por algum título e esse foi um deles.

Este filme é uma adaptação da peça homônima de Beth Henley, que embora tenha sido escrita em 1978, só foi fazer tremendo sucesso na Broadway em 1981, totalizando mais de 530 apresentações. O roteiro do filme também é assinado inteiramente pela própria autora, a qual concorreu ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado daquele ano, juntamente com o de Melhor Atriz para Sissy Spacek e Melhor Atriz Coadjuvante para Tess Harper, que faz a prima espetaculosa das irmãs Magrath.

Eu gosto dos draminhas familiares norte-americanos, principalmente os da década de 80, porque foi uma época em que filmes do estilo "comédia trágica" e os de ação absurdos faziam muito sucesso. As mulheres iam ao cinema para assistir filmes como esse, Laços de Ternura (1983) ou Flores de Aço (Steel Magnolias, 1989), enquanto os homens iam ao cinema para assistir Indiana Jones, Rambo ou Chuck Norris.

Esses gêneros são melodramáticos demais. Há sempre um momento apelativo que nos obriga às lágrimas e é inevitável, mas o mais importante é que esses momentos ainda eram méritos dos próprios atores. Não era como agora é o cinema mais atual (lá pela metade dos anos 90 em diante), em que a tecnologia favoreceu demais a produção mais barata e de massa sem deixar de ser classuda, e sempre há alguma trucagem por trás de uma interpretação como uma iluminação mais condensada, uma maquiagem mais apelativa, ou uma trilha sonora invasiva que abusa do choroso violino, mexendo de forma subliminar com nossas sensações ao invés de nos convencer de que aquilo é uma verdade. Antigamente as coisas não eram tão elaboradas assim pra uma produção simples, e para um ator ou uma atriz ser a estrela principal de um filme ele(a) até podia ser bonito(a), simpático(a) e único(a), mas principalmente tinha que ter talento suficiente pra carregar uma história toda nas costas e fazer aquilo ser bom, mesmo se não fosse. O mesmo quando havia reunião de grandes atores, como é o caso deste título. Esta também era a apelação da época, fazer com que as pessoas entrassem no cinema e saíssem discutindo quem ofereceu a melhor atuação.

A história, um tanto quanto simplista perto dos dramas atuais, acaba não convencendo muito para quem está mais acostumado com o formato dramático de hoje, mas o roteiro de Beth Henley desenvolve a história sem se perder, dando espaço suficiente para cada personagem sem favorecer mais uma do que outra, revelando e conectando os acontecimentos nos momentos certos e sem pressa. Além disso, há também as discussões bastante rápidas, discretas e implícitas sobre posicionamentos políticos, ou questões sociais a respeito da tolerância ao racismo e infidelidade. Há até pequenas introduções ao feminismo, no sentido do crescimento da independência feminina e do controle de suas próprias decisões, e também da pedofilia, numa época em que abordar o sexo com menores de idade era tratado como algo comum, já que nunca era discutido pelo ponto de vista polêmico, pois era um grande tabu, por isso sempre mostrado como uma relação arranjada ou como um sentimento puro e inocente.

As irmãs Magrath são vividas por Diane Keaton (Lenny), Jessica Lange (Meg) e Sissy Spacek (Babe). Lenny é a irmã do meio, mas age como se fosse a mais velha. Eu, particularmente, nunca gostei de Diane Keaton. Tem gente que a considera uma grande estrela e atriz. Pode até ser. Mas ela tem uns vícios de interpretação e uma mania de sempre enfiar um ataque histérico e caricato nas personagens de forma irritante. Sempre a vi como uma atriz velha, até mesmo nos filmes de quando era bem nova, como se ela tivesse feito questão de ser uma anti-estrela com sua imagem de mulher deslocada, ora com suas gravatas, ora com as roupas de vovó, como se quisesse competir, chamando atenção igual criança, e no meio de interpretações muitas vezes sutis como as de Jessica Lange e Sissy Spacek, óbvio que Diane tenderia ao bizarro vestindo seus cardigans e atuando com os costumeiros chiliques e chacoalhadas de cabelo de sempre, beirando a insanidade chata e caricata de uma personagem atormentada por ter perdido boa parte da vida cuidando de um avô doente e nunca ter tido um grande amor. Mas felizmente temos Meg, a irmã mais velha e ousada, independente, livre, sexy e espontânea, atormentada com os excessos do avô machista no passado. A própria figura de Jessica Lange já é um atrativo, ela é naturalmente imponente, um rosto belíssimo e de traços fortes, elegante, uma estrela de fato, atuando com uma ironia perfeita. Por outro lado há Babe, a irmã caçula que ficou bastante perturbada com o suicídio da mãe, com atitudes um tanto tolas e infantis por conta disso e que vem a prejudicar não apenas ela mesma, mas todas as irmãs.

Embora tenha a tendência de ser um filme apelativo com a história de uma família tão perturbada e cheia de problemas, o uso de todos esses elementos acaba não pecando pelo excesso. Há sempre uma coerência sincera e um equilíbrio agradável que coloca a relação familiar, o apoio e a necessidade desses laços acima de qualquer coisa, e que os crimes do coração são as nossas próprias anulações.

CONCLUSÃO...
Um bom melodrama familiar típico dos anos 80 que, ao invés de ser apelativo, é sincero e equilibrado com grandes interpretações e seqüencias memoráveis.

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