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quinta-feira, 15 de novembro de 2012

VALENTE NA INTENÇÃO, MAS COVARDE NO PROPÓSITO

★★★★★★
Título: Valente (Brave)
Ano: 2012
Gênero: Animação, Fantasia, Ação, Comédia
Classificação: Livre
Direção: Mark Andrews, Brenda Chapman, Steve Purcell
Elenco (vozes): Kelly Macdonald, Billy Conolly, Emma Thompson, Julie Waters
País: Estados Unidos
Duração: 93 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Uma princesa resolve seguir suas próprias vontades e decisões, desafiando os padrões de seu reino e que mudará o destino de todos, tendo que usar sua bravura e seus dons para desfazer uma maldição pela qual ela foi responsável.
O QUE TENHO A DIZER...
Valente é uma animação da Disney/Pixar dirigido por três pessoas... Sim. Três! Mark Andrews, Brenda Chapman e Steve Purcell. É a primeira direção de Andrews e Purcell. Andrews trabalhou mais como roteirista, sendo seu último trabalho no maior fracasso do cinema depois de Waterworld (1995), o confuso e já desconhecido John Carter (2012). Brenda Chapman já havia trabalhado na direção com outra animação da Disney, O Príncipe do Egito (The Prince Of Egypt, 1998), mas agora ela também assina o roteiro, seu primeiro.
No meio de tanta gente com alguma experiência nos bastidores de animação, mas sem muita experiência nos quesitos principais, já seria esperado que o filme fosse, como dizem os norte-americanos, "FLAT"... que para nós seria aquilo que chamaos de "MEIA BOCA".
Valente fez um sucesso estrondoso, arrecadando mais de US$534 milhões no mundo, sendo que metade foi apenas nos EUA. Mesmo com esse sucesso, o público mais adulto saiu do cinema um tanto desapontado, porque sua promoção começou dois anos antes de seu lançamento com um teaser (um pequeno trecho menor que o trailer, apenas para apresentar algum novo filme) que vendia uma história densa e um tanto obscura, mas sutil e emocionante dentro de toda a fantasia dos filmes da Pixar e do mundo Disney. Mas o restultado é um peixe completamente diferente do que o filme resultou no final.
A Disney tem se esforçado para a todo custo retomar uma era de contos de fadas que não se encaixa no atual tempo e circunstâncias, mudando a passos curtos as características históricas de suas heroínas, fazendo-as deixarem de ser protagonistas sofredoras e submissas para aquelas com personalidades mais determinadas e dominadoras. Por décadas a Disney foi responsável por doutrinar uma cultura e determinar solidamente na sociedade feminina desde a infância toda a fantasia que conhecemos sobre o amor e a felicidade eterna. Agora ela briga com ela mesma, se contradizendo e tentando impor às novas gerações, e às pessoas que cresceram acreditando didaticamente em seus contos de fada, de que tudo agora é diferente e que as princesas precisam ir atrás de seu destino e de seu amor, e não mais esperá-los bater na porta de casa em um cavalo branco. É interessante, mas que ainda não encontrou um tom certo, ou uma fórmula que funcione e que as façam ser lembradas no futuro e estrangulem exemplos culturais tão sólido como são Branca de Neve e Cinderela.
Por conta disso, tanto os teasers quanto os trailers mostravam uma animação deslumbrante que giraria em torno apenas de uma princesa guerreira celta, numa cultura onde as mulheres são mais importante que os homens, algo incomum nas histórias da Disney. Merida é uma arqueira fora dos padrões de beleza, que não é perfeita e que tem cabelos ruivos e bagunçados, que escala montanhas de vestido e que com seu arco e flecha faz tudo aquilo que princesa alguma poderia fazer, como diz sua mãe. E assim ela mudaria os padrões de sua época numa história que não teria príncipes e nem romance, apenas a determinação e a bravura de uma garota criada e educada livremente nas florestas mágicas da Escócia por uma família real pacífica, humana e comum. Ou seja, um mundo perfeito que tem apenas como grande vilão o demoníaco urso Mor'du, com o qual seu pai, o rei Fergus, travou uma batalha quando Merida ainda era pequena, e que se tornou lenda no reino.
Tudo muda quando a mãe de Merida, a rainha Elinor, resolve escolher um pretendente para sua primogênita. Merida não se sente preparada para casar, e não concorda com o fato de não poder descobrir o amor sozinha e casar com quem queira. Cansada de tantas regras e imposições da sua mãe, ela foge do reino e encontra uma bruxa, comprando um feitiço para que sua mãe mude. A bruxa concede seu desejo dizendo que o feitiço não apenas mudará sua mãe como também o destino de sua vida.
A sinopse até chega a ser interessante, mas o desenvolvimento da história é bobo em uma das animações menos inspiradas da Disney/Pixar tal qual Enrolados (Tangled, 2011), que também aparentava ser um grande retorno da Disney à magia dos contos de fada como era antigamente, mas que no fim não foi nada mais do que uma animação bonita de se assistir. E no meio de tantas características incomuns para um conto de fadas novo, ele na verdade é mais uma fábula comum como qualquer outra.
O cuidado visual obviamente é o destaque, já que a graça de se assistir uma animação é justamente se deslumbrar com o fantástico, mas os cabelos de Merida chamam mais atenção do que qualquer outra coisa. Grande parte do público saiu dos cinemas reclamando ser mais uma história de princesa comum, e não valente e destemida como a promoção do filme sugeriu. Poderia realmente ter sido muito bom se sua história tivesse sido mais elaborada e fugisse de algo tão óbvio como as animações da Pixar costumam ser, como o fantástico Wall-E (2008) e o favorito dos últimos anos, Up (2009), animações que mantiveram as características da produtora até mesmo depois do grande controle da Disney, que a comprou em 2006.
Não há nada de muito interessante, nem mesmo uma grande moral educativa para o público infantil. Para o público mais adulto, a maioria dos personagens são chatos e a protagonista chega a ser muitas vezes irritante, e as situações engraçadas e absurdas só encontram um tom satisfatório mais no final, depois de quase uma hora de um conto fraco e bobo, com situações pastiches que agradarão apenas o senso de humor mais ingênuo.
Essa tentativa da Disney de mudar o curso da sólida cultura que ela mesma criou tem dificultado o desenvolvimento das suas histórias para que ela não destrua o sonho que ela mesma construiu e finalmente concorde que tudo era uma grande farsa e mentira. Há um longo caminho ainda para ser percorrido e esse filme poderia ter sido um grande divisor de águas nessa mudança, mas que teve suas rédeas encurtadas para não comprometer  diretamente todo seu próprio legado.
CONCLUSÃO...
Sem dúvida o sucesso do filme não justifica sua qualidade, sendo um dos filmes mais belos mas, ao mesmo tempo, um dos mais fracos da era Disney/Pixar. O público infantil vai adorar mais pelo visual do que pela história, mas o público mais adulto irá ficar decepcionado já que o filme não tem aquele apelo que vaga e satisfaz esses dois públicos como os filmes anteriores da produtora, e que se tornaram sua grande marca registrada.

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