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terça-feira, 1 de abril de 2014

COMO UM ROMANCE AMERICANO...

★★★★★★★★
Título: Yossi
Ano: 2012
Gênero: Drama
Classificação: 14 anos
Direção: Eytan Fox
Elenco: Ohad Knoller, Oz Zehavi
País: Israel
Duração: 84 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Dez anos se passaram desde quando Yossi perdeu seu grande amor, muita coisa mudou, mas outras se mantiveram as mesmas, como alguns traumas, dificuldades e decisões.

O QUE TENHO A DIZER...
Dirigido pelo mesmo diretor do primeiro filme, Eytan Fox, esta continuação se passa exatamente dez anos depois dos incidentes do primeiro filme. O personagem principal, vivido novamente por Ohad Knoller, abandonou o exército e agora é um cardiologista conceituado, mas que vive, respira e se alimenta de sua profissão, preso em uma frustração de nunca ter se libertado de um passado traumatizante traçado por decisões erradas e uma tragédia que o marcou emocional e psicologicamente por nunca ter tido a certeza de seu companheiro ter ouvido sua primeira e única declaração de amor enquanto morria em seus braços.

Esta continuação é bastante interessante porque além de se abster de todos os defeitos que haviam no primeiro filme, o roteiro se aprofunda em demasia nas dores e frustrações do personagem de forma tão crua que é impossível o espectador não sentir todas as sensações de impotência, angústia, complexos e traumas de uma vida interrompida e solitária tal qual se transformou a vida de Yossi.

Dez anos é um espaço de tempo muito grande na vida de uma pessoa, mas que passa rápido o bastante para que não seja notada as mudanças que ocorrem à sua volta, ou em como problemas que não foram superados se enraizam e se transformam em partes de nós mesmos, como um casco, ou tão fechado quanto a concha de uma ostra. Toda essa percepção no filme é muito nítida quando o ator principal aparece em cena pela primeira vez, carregado em marcas de expressão, fora de forma, ausente de qualquer humor ou sentimento além da frustração. É um choque, mas ao mesmo tempo um sentimento de total compreensão das razões e motivos dele ainda cultivar essas dores.

O mérito desta continuação foi ter usado toda a situação criada pelo primeiro filme e desenvolvê-la de forma verdadeira e emocional em uma densidade que o primeiro filme nunca alcança. Os momentos de introspecção e de solidão do personagem e até mesmo nas suas poucas tentativas de superar as dificuldades e sair do casulo que ele contruiu são tão íntimos e pessoais que chegam a parecer verídicos, como se ele fosse alguém que realmente conhecêssemos há dez anos.

A história vai exatamente contar o final dessa trajetória de dez anos de depressão e sofrimento do personagem, mas nem por isso vai evitar de mostrar situações duras e constrangedoras em diversos momentos de grande verossimilhança, como quando Yossi resolve encontrar uma pessoa que conheceu virtualmente. A situação parece exagerada e uma ficção, mas muito comum e verdadeira entre pessoas que já passaram por situaçõe semelhantes desde quando a internet passou a ser uma oportunidade para os solitários, independente das orientações sexuais.

A maturidade da produção é equivalente ao tempo entre um filme e outro. Se esta continuação tivesse sido realizada dois ou cinco anos depois, talvez ela não tivesse o mesmo impacto ou a mesma densidade e refinamento como a apresentada agora pelo diretor e pelo ator, que embora mantenha a mesma imagem sisuda do começo ao fim, já está experiente e domina a técnica o suficiente para conseguir trasmitir muito com o pouco em momentos sublimes, como quando ele está assistindo a um show e a dor da solidão e de todas as dores que ele sente transcendem com a música, ou na sequencia final e seu visível misto de desconforto e vergonha com o desejo e a vontade de libertação.

A continuação recebeu grandes críticas positivas, mesmo não tendo tido a mesma presença em festivais e premiações como o primeiro. Nem por isso deixa de ser um filme de um apelo emocional profundo para qualquer pessoa. Embora o tema seja sobre as dificuldades comuns vividas pelas diversidades sexuais, ele é, acima de tudo, um filme mais humano do que temático, no qual participamos da vida do personagem de forma tão sincera que torcemos por essa libertação e redenção, e esse momento acontece, mesmo que de forma cliché, mas coerente com toda a trajetória mostrada nas duas produções, necessário e merecido ao personagem, como em um romance americano, assim como Jagger imaginou para Yossi no primeiro filme.

CONCLUSÃO...
Uma excelente continuação que de tão refinada se transforma em um filme único, um drama humano verdadeiro e coerente com uma realidade que ignoramos, mas que está mais próxima de todos nós do que imaginamos.

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