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quarta-feira, 16 de abril de 2014

BEM VINDA MATURIDADE...

★★★★★★★★
Gênero: Drama, Romance, ComédiaTítulo: O Espetacular Agora (The Spectacular Now)
Ano: 2013
Classificação: 12 anos
Direção: James Ponsoldt
Elenco: Miles Teller, Shailene Woodley, Brie Larson, Kyle Chandler, Jennifer Jason Leigh
País: Estados Unidos
Duração: 95 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre um rapaz de 18 anos que entra em choque com sua própria realidade quando conhece uma garota prestes a entrar em choque com várias realidades.

O QUE TENHO A DIZER...
O Espetacular Agora é o terceiro filme do diretor James Ponsoldt, com roteiro dos mesmos escritores de (500) Dias Com Ela (500 Days Of Summer, 2009) e é baseado no livro homônimo de Tim Tharp. Teve estréia no Festival de Sundance de 2013, o qual foi bem recebido e, em geral, recebeu comentários bastante positivos da crítica mundial.

Mas ao contrário da espetacular comédia romântica (500) Dias Com Ela, esta não é uma comédia, e muito menos romântica, muito embora tenha alguns esparsos momentos cômicos e românticos, sendo assim que o filme tem sido divulgado, quando na verdade é um drama romântico adolescente incomum, que surpreende por ter uma abordagem madura o suficiente para servir até como uma metáfora, ou mais precisamente, uma indireta aos mais velhos que o assistirem, pois consegue ser sério e adulto em sua mais pura essência, mesmo que atuado por jovens cujos conflitos giram em torno deles.

Sutter (Miles Teller) é um garoto aparentemente comum como qualquer outro de sua idade, ele não é muito atraente e muito menos faz parte do time de futebol do colégio, mas mesmo assim é um grande conquistador e mulherengo por ser inteligente, engraçado, extrovertido e bastante seguro de si, mas incapaz de levar qualquer coisa a sério como deveria. Sutter vive o agora, e o alimento de sua felicidade é consumir o prazer momentâneo a todo instante, o que o faz ser, com apenas 18 anos, um alcólatra. É em um desses momentos que, na tentativa de esquecer sua ex-namorada, ele é encontrado em coma alcólico no jardim da casa de Aimee (Shailene Woodley), uma garota simples que estuda no mesmo colégio, mas que ele nunca notou. Aimee é completamente diferente de Sutter, mas na intenção de conhecer uma nova garota para esquecer a anterior e usá-la para alimentar suas felicidades e prazeres, ele tenta conquistá-la. Entre vários encontros e longas conversas ele descobre que Aimee é mais do que simples e comum, é uma garota com um intenso potencial adormecido e reprimido por uma vida sem graça e uma mãe codependente, e por isso ele se sente tentado a libertá-la disso de alguma forma enquanto ela vê nele a descoberta de experiências que ela nunca teve e o primeiro passo para caminhar em um mundo de satisfações e desgostos que até o momento desconhecia.

O personagem acredita ser, por excelência, auto suficiente e um tanto arrogante na sua forma, com uma visão muito branda e superficial sobre as coisas e sobre ele mesmo. A princípio Sutter consegue ser bastante antipático e inconveniente, principalmente na primeira meia hora, mas toda essa superficialidade que ele demonstra esconde problemas muito mais sérios e que ele não consegue lidar, como a ausência paterna desde seus 8 anos de idade, o distanciamento de sua mãe e irmã mais velha, a cobrança de seus professores sobre seu baixo rendimento escolar, a impressão subestimada e maldosa que seus colegas tem sobre ele pelas costas, além do abandono de sua ex-namorada que, para ele, foi por ela simplesmente ter se apaixonado pelo chefe do time do colégio. Ele age como se não ligasse para nada disso porque, já que sua filosofia de vida é viver o momento e não pensar no futuro porque isso o assombra e demanda responsabilidades que ele não sabe se é capaz de cumprir, então qualquer responsabilidade que ele tenha é tratada com bastante descaso.

O filme desenvolve todas essas características do personagem às avessas, começa mostrando-o como um garoto chato e inconsequente, sendo tortuoso pensar em aturar esse comportamento arrogante por todo o filme ao ponto de não acreditarmos em suas atitudes, mesmo quando estas são as mais sinceras possíveis, pois apesar de tudo ele é honesto com as pessoas sobre suas vontades e sua forma de pensar. Mas aos poucos o roteiro quebra a casca em que ele vive, ou melhor, tira tijolo por tijolo da muralha que ele construiu à sua volta. E então todas suas camadas aparecem, e lentamente toda a confusão emocional e sentimental que ele vive se revelam, momento quando finalmente o espectador se sensibiliza, a empatia acontece, Sutter se transforma em um jovem incompreendido que a todo momento luta contra ele mesmo e  (ufa!) o filme finalmente toma sua forma.

Com certeza é um dos personagens mais complexos a ter sido adaptado no cinema norteamericano nos últimos anos, e de uma forma tão simbólica e relevante que é difícil definí-lo por inteiro, pois ele representa várias situações e fases da vida, sendo a própria adolescência uma pequena fração dela. Pode ser que no livro o personagem não seja tão complexo dessa forma, mas a construção dada nele pelos roteiristas é, e seu desenvolvimento na história ficou brilhante.

Ao contrário dele, Aimee é a verdadeira representação da pureza e ingenuidade prestes a serem corrompidas quando o choque com a realidade acontecer e todas as coisas que um dia pareciam tão belas, se tornarem sujas. Ela é a única personagem com uma atitude mais equivalente com sua idade, e muito embora sabemos desde o início que ela irá sofrer, também sabemos que este sofrimento é necessário para seu crescimento e fortalecimento psicológico e emocional típicos de quem passa por certas dificuldades pela primeira vez.

O roteiro até consegue nos pegar de surpresa quando, confrontado por sua mãe (Jennifer Jason Leigh), o personagem finalmente tem um insight de que o problema não são as coisas ou pessoas a sua volta, mas suas próprias atitudes sugestionadas pela descrença que ele tem por ele mesmo e seu precoce alcolismo que só piora conforme ele se confronta mais e mais com seus problemas. Essa cena dura e emocionante é uma das várias que acontecem, e que mostram por si só que o filme não é um passeio pelo parque, mas uma grande e difícil tarefa de encararmos as dificuldades e aceitar as responsabilidades.

A seriedade até poética com que o filme trata uma fase tão complicada da vida de descobertas, conflitos e desapontamentos se assemelha muito com As Vantagens de Ser Invisível (The Perks Of Being a Wallflower, 2012) no sentido de não subestimar nenhum público e muito menos exagerar em cliches na tentativa de criar uma identificação fácil com um tipo específico, mas enquanto este outro filme trata do tema com adolescentes vivendo suas felicidades e infortúnios típicos da idade e da busca pela maturidade dentro de uma linguagem bastante expressiva e relevante, neste filme essa referência de idade só existe para, talvez, intensificar todos os conflitos dramáticos tratados, que em realidade são universais, atemporais e sem classificação etária.

CONCLUSÃO...
Um drama romântico incomum, que mostra um personagem que sofre com as dificuldades de aceitar as responsabilidades por pontos de vistas tão sérios e conflitantes que, ao contrário do que se supõe, chega a não ser um filme agradável para aqueles que esperam um belo casal romântico no final, mas um filme que conquista aos poucos, e aos poucos revela que há um pouco de Sutter em todos nós.

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