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quarta-feira, 16 de abril de 2014

GLORIA CONTRA O MUNDO...

★★★★★★★★
Título: Gloria
Ano: 2013
Gênero: Drama
Classificação: 16 anos
Direção: Sebastian Lelio
Elenco: Paulina Garcia, Sergio Hernandez
País: Chile, Espanha
Duração: 110 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre uma mulher idependente e solitária de meia idade e as dificuldades vividas com os relacionamentos e a vida na sua idade.

O QUE TENHO A DIZER...
Gloria é um filme chileno dirigido por Sebastian Lelio, o roteiro também é de sua autoria em parceria com Gonzalo Maza. Foi muito bem recebido pela crítica, vencendo alguns dos principais prêmios que inclui o Urso de Ouro em Berlim para a atriz Paulina Garcia, que interpreta a personagem principal. Também foi indicado a Melhor Filme Estrangeiro no Independent Spirit Awards e venceu esta mesma categoria no National Board Of Review, além de também ter sido o filme escolhido para representar o Chile no Oscar 2014, porém não foi indicado. Uma pena, pois é um filme bastante incomum na forma como mostra a realidade de uma mulher moderna e idependente na meia idade.

A história começa com Gloria, uma mulher de 58 anos, no meio de uma festa frequentada por pessoas de aproximadamente sua idade. Ela é desquitada, com dois filhos já adultos, mora sozinha, trabalha em uma empresa e tem uma vida independente, na qual ela gosta de passar seu tempo sozinha em festas para solteiros e bares para, certamente, tentar preencher o vazio da solidão natural oferecida pelos anos que avançam, mas essas noites boemias frequentemente a levam a repetidos desapontamentos e a constancia desse vazio que parece nunca ser preenchido. Tudo parece mudar quando conhece Rodolfo em uma das festas, um ex-fuzileiro naval, por quem ela se apaixona e tenta construir uma relação que é constantemente interrompida pela ex-mulher e suas duas filhas.

A verdade desse filme é que ele realmente é um ponto de vista verdadeiro e muito relevante sobre um tipo de personagem que é constantemente negligenciado por Hollywood, e só somos capazes de encontrar em filmes fora de circuito comercial, os chamados art house. Seu conteúdo bastante simbólico e não convencional faz parte desse nicho e é apreciado por aqueles que gostam de fugir de histórias comuns e fórmulas prontas de se fazer cinema. Claro que não há nada de muito diferente e excepcional, mas a honestidade com que a personagem e seus atuais desafios são mostrados chega a despi-la por completo frente ao espectador. Não é à toa que as cenas de sexo ou nudez da personagem existem sem nenhum pudor, pois essa independência e sentimento de liberdade sentido por ela é tão grande que não há mais espaço para vergonha ou recato, em um sentimento de quem não tem absolutamente nada a provar para ninguém.

A melancolia que ela carrega em si é compreensível quando a mesma busca de forma até incansável a companhia, independente de quem seja, para dançar, para lhe acompanhar em uma bebida, ou simplesmente para o sexo e a satisfação de seu prazer. Uma vida na qual seus principais objetivos já foram cumpridos, como criar seus dois filhos e soltá-los para o mundo e para a independência, seguida da separação de um marido ausente que provavelmente era mais um peso morto do que um parceiro, e agora, depois de tudo, o tempo existe finalmente para ela. Não vemos arrependimentos em Gloria, apenas a nostalgia pela liberdade da juventude que teve de ser abandonada por outras prioridades e que agora ela tenta compensar o tempo perdido. E como ela compensa!

Quando Rodolfo aparece em sua vida, há uma centelha de esperança de que alguém ainda foi feito para ela, pois ele leva uma vida de diversões e anseios similares, porém não possui a mesma liberdade e coragem, mantendo-o preso a correntes familiares que ele não consegue se libertar. Essa felicidade cai por terra quando Gloria percebe que, por mais que tente, este novo relacionamento sempre ficará estagnado, e Rodolfo nunca a aceitará como ela realmente quer, ao ponto dele sempre omitir às outras pessoas com quem ele está, principalmente à sua família, colocando-a e fazendo-a se sentir em uma situação semelhante a de uma amante, uma mulher oculta destinada a apenas satisfazer as vontades e os prazeres de alguém incapaz de encarar a realidade. E é assim que ele se demonstra, um homem covarde e impotente frente a vida.

A grandiosidade da personagem cresce no filme quando a necessidade da liberdade explode dentro dela em um grito até feminista, e por mais que seja uma decisão dura e difícil, ela sabe que não é obrigada a passar por isso. Nada mais emocionante que vê-la pronta para outra depois de dias de melancolia e depressão, seguidos da atitude tempestiva que ela tem na sequência em que está dentro do carro observando a casa de Rodolfo, um ritual necessário para continuar sua vida sem a necessidade de sofrer calada, tudo dentro uma metáfora de extrema relevância para enterrar de vez por todas uma situação que nada lhe agregaria. Duvido que ninguém ousou um dia imaginar-se fazendo o mesmo que ela, uma sequencia até engraçada dentro de seu surrealismo justificado que nem ela mesma consegue evitar posteriores gargalhadas. Gargalhadas libertadoras, por excelência.

O filme é dela e para ela, tanto que os demais personagens são secundários e pouco aprofundados, mas isso em nada atrapalha, já que Gloria não é uma personagem apaixonante ou sentimental e muito menos cativante, mas seu individualismo e independência são tão grandes que ela é inspiradora por ser assim, única e livre, sem vergonha alguma de ser o que é e fazer o que quiser. 

CONCLUSÃO...
Com uma abordagem até bem similar em algums momentos, o filme consegue até ser uma versão para a meia idade de Lola Contra O Mundo (Lola Versus, 2012), mas claro que de uma forma muito mais verdadeira e despida de qualquer vergonha. Gloria poderá não agradar muita gente, mas quem se interessar por ela e conseguir chegar ao final do filme ao menos irá compreender e concordar sobre a grandiosidade dessa personagem, um grande exemplo.

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