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domingo, 18 de janeiro de 2015

FERIDA QUE DÓI E NÃO SE SENTE...

★★★★★★★
Título: Dois Lados do Amor (The Disappearance Of Eleanor Rigby)
Ano: 2014
Gênero: Drama
Classificação: 14 anos
Direção: Ned Benson
Elenco: Jessica Chastain, James McAvoy, William Hurt, Isabelle Hupert, Viola Davis
País: Estados Unidos
Duração: 123

SOBRE O QUE É O FILME?
A história de um casal que tenta retomar a vida e o amor que um dia tiveram juntando os pedaços de um passado que pode ter ido embora há muito tempo.

O QUE TENHO A DIZER...
O Desaparecimento de Eleanor Rigby seria o nome do filme se traduzido literalmente em português, o que teria sido um título muito melhor do que o atual dado por aquelas pessoas que a gente não sabe quem são. Um título tendencioso, que remete a uma comédia romântica fajuta qualquer, quando este não é o propósito do filme, e está muito longe de qualquer coisa parecida.

O desaparecimento de Eleanor que se fala é apenas um sentido figurado, já que a personagem está presente o tempo todo. A ausência é de sua essência, daquilo que a deixava viva e autêntica, pois hoje Eleanor nada mais é do que uma carcaça ambulante, apática, que sofre de uma culpa que não se sabe de onde vem e de um vazio que não há conteúdo que o preencha.

Dirigido e escrito por Ned Benson, é também sua estréia com longas metragens. A princípio o filme foi lançado em duas partes, a parte Ele, contada pela perspectiva de Conor (James McAvoy), e a parte Ela, contada pela perspectiva de Eleanor (Jessica Chastain). As duas partes foram lançadas no Festival de Cannes e posteriormente o diretor fez uma terceira edição entitulada Eles, que é a edição final distribuida em maior circuito pela Weinstein Company.

Dois Lados do Amor mostra de forma muito realista e sensível os rumos inesperados de um casamento após um trágico episódio e das sinceras dores de se seguir em frente depois disso. Este acontecimento será o grande responsável por abalar todas as fundações da relação de ambos ao ponto de não haver solução para estancar a sangria desenfreada.

Benson até tenta criar um clima de mistério no ar que por alguns momentos nos leva a acreditar que a culpa pode ser tanto de um quanto de outro, dependendo do grau de empatia do espectador com cada personagem, mas em nenhum momento ele força essas situações e muito menos demora a revelar o que de fato aconteceu, ele apenas evita falar sobre isso, pois é isso que os personagens fazem o tempo todo: evitar lidar com a realidade.

É quando a história se torna muito mais densa, pois é muito triste notar conforme ela se desenvolve que nenhum dos dois possui de fato uma culpa sobre a situação que se encontram. Eles até tentam, com muita sinceridade, encontrar alguma solução, um meio termo em consideração ao amor e carinho genuínos que possuem um pelo outro, mas há um gosto amargo no ar sobre algo que não se vê, mas se sente mesmo assim. A atmosfera pesa, o ar fica denso e a presença um do outro é cada vez mais incômoda, como uma vergonha, numa situação insustentável a cada nova tentativa de reaproximação e uma necessidade de se ouvir desculpas de quem não tem desculpas para dar. Esse desenvolvimento lento e doloroso feito pelo diretor/roteirista funciona como a deixar a ferida exposta ao tempo, e por mais que ele tente nos mostrar que ainda possa haver esperanças, no fundo sabemos que não há alternativas. Embora os clichés sejam usados, a construção de tudo é tão honesta, emotiva e instrospectiva que não há outra impressão sobre o filme como um triste olhar sobre um jovem casal que poderia ter dado muito certo caso não fosse o acaso de seus próprios destinos.

Impressionante como a atriz Jessica Chastain tem escolhido filmes com muita acertividade, preferindo papéis mais densos e em produções menores do que ir para o caminho mais óbvio da fama, tanto que ela desistiu de O Homem de Ferro 3 para fazer este filme, que exige dela muito mais sutileza do que seus papéis anteriores porque a dor de Eleanor vem de dentro, de um lugar que nem mesmo o coração dela sabe onde está. Um alguém que a todo momento tenta se fixar em algum lugar na tentativa de recomeçar outra vez, mas não consegue fazê-lo de forma alguma.

CONCLUSÃO...
Uma pena que esse filme vai passar despercebido no grande circuito, pois as atuações são bastante impressionantes e por parte de todo elenco, além de ser uma história sutil, delicada e verdadeira sobre a relação de um casal que se perdeu, de um amor que ainda existe, mas cuja presença esvaneceu e deixou entre eles apenas um vácuo inexplicável.

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