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sexta-feira, 20 de abril de 2012

CUIDADO, CHUCK NORRIS!

★★★★★★
Título: À Toda Prova (Haywire)
Ano: 2012
Gênero: Ação
Classificação: 14 anos
Direção: Steven Soderbergh
Elenco: Gina Carano, Ewan McGregor, Michael Fassbender, Bill Paxton, Michael Douglas
País: Estados Unidos, Irlanda
Duração: 93 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre uma agente que é traída durante uma missão e volta querendo vingança.

O QUE TENHO A DIZER...
Pelo número de filmes que Soderbergh já fez (e a maioria deles muito bons), ele fez questão de querer provar que é um diretor eclético, viajando através dos diferentes gêneros sem esforço, oferecendo abordagens diferenciadas sem sair muito do que é esperado. Ele faz filmes americanos para uma audiência americana diferente, e às vezes filmes hollywoodianos para aqueles que querem algo um pouco diferente do óbvio. E dessa forma Soderbergh provou que pode encabeçar a lista de melhores diretores de seu tempo, mas ao mesmo tempo este é o seu principal problema porque as pessoas geralmente superestimam demais seus filmes, caracterizando-os como obras cinematográficas grandiosas quando muitas vezes é apenas um filme diferenciado.

O diretor realmente começou sua escalada ao sucesso e ao topo dos mais influentes da atualidade com seu filme Sexo, Mentiras e Videotape (Sex, Lies and Videotape, 1989), recebendo uma indicação ao Oscar por Melhor Roteiro Original por ele. Alguns anos e algumas produções pouco lembradas depois, emplacou nas bilheterias e na crítica dois filmes no mesmo ano, Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento (Erin Brockovich, 2000) e Tráfico (Traffic, 2000). Ambos foram ao Oscar, sendo que o primeiro consagrou Julia Roberts como Melhor Atriz daquele ano, e o segundo abocanhou quatro estatuetas, sendo uma delas de Melhor Diretor. Isso foi o suficente para Soderbergh superestimar ele mesmo, lançando um filme por ano e variando entre pequenas e grandes produções, entre público alternativo e popular, mas no geral todo filme novo era um sucesso, fosse de público ou de crítica. Isso foi o suficiente para acreditar que Hollywood estava a seus pés. Ele chegou ao cúmulo de realizar um filme apenas para reunir os amigos e se divertirem, como na continuação absurda e incoerente 12 Homens e Outro Segredo (Ocean's Twelve, 2004). Chegou a fazer ficção científica, arriscou no estilo noir e fez o mais ambicioso de seus projetos até hoje, Che (Che, 2008). Dividido em duas partes, o filme totalizava aproximadamente 4 1/2 horas. Foi pouco foi assistido e lembrado, além de ter sido ignorado pela maioria das premiações e festivais. Foi aí que Hollywood deu sua primeira rasteira, e ele voltou às pequenas e discretas produções.

Para Haywire ele criou um discurso promocional fantástico. Disse que sempre teve vontade de fazer um grande filme de ação e até criticou de maneira generalista, inferiorizando os filmes do gênero de hoje, dizendo que os diretores não sabem fazer mais filmes de ação, apenas explosões, tiros e efeitos especiais. Para quem ouvia essas afirmações imaginava que vinha aí uma grande revolução do gênero e uma obra prima.

Mas não era bem assim. Um bom filme de ação para ele era um com os moldes clássicos, onde o personagem principal bate e arrebenta com os próprios punhos e sem dubles, explosões ou armas. Foi quando conheceu a lutadora de MMA, Gina Carano, e então ele decidiu que era hora de fazê-lo, convidando-a e desenvolvendo o filme especialmente para ela. Ele também chegou a afirmar que sua decisão de resgatar um filme "bate e arrebenta" com uma mulher como personagem principal era que muitos dos filmes de ação usam a sexualidade feminina mais do que seus dons marciais. E assim o filme foi feito. As habilidades de Gina Carano definitivamente excluem dublês, resultando em cenas realistas e intensas.

O filme cumpre o que promete, Sodebergh tenta manter as cenas de ação focadas inteiramente nas lutas e nas sequências de perseguição, nunca usando trilha sonora ou tiros mais do que o necessário para não invadir e encobrir toda a atenção técnica que ele tanto queria experimentar. E funciona, mas não muito. Para uma audiência comum o filme pode não parecer o que esperam, podendo ser frustrante, principalmente se essas declarações do diretor chegaram ao ouvido dessas pessoas antes delas assistirem.

O tema do filme é extremamente previsível e comum, nada que nenhum outro filme de ação já tenha desenvolvido anteriormente, e nós conhecemos Soderbergh o suficiente para saber que toda a complicada trama é apenas para causar a falsa impressão de que seus filmes não são estúpidos.

De qualquer forma, gostei do resultado final e admiro o esforço dele tentar resgatar essas velhas visões técnicas no filme, mas Haywire não sai muito da linha que ele tanto quis ficar de fora. Ele está muito certo ao afirmar que não existem filmes de ação com uma personagem feminina principal interessante, mas ao mesmo tempo é pretencioso demais ele esquecer que antes de Haywire existiu a excelente Trilogia Bourne que revolucionou de alguma forma como os filmes de ação são produzidos hoje em dia, sendo influencia para muitos e poucos conseguindo ser bem sucedidos no resultado final, como, por exemplo, Hanna (2011).

CONCLUSÃO...
É um excelente filme de ação, mas não deve ser assistido como um filme de ação comum. Tem uma narrativa lenta e é um filme muito mais tenso do que frenético. Vale pelas cenas realistas, pois o resto é esquecível já que Gina Carano é muito melhor lutando do que interpretando, e a história do filme não foge muito do habitual dos filmes desse gênero.

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