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segunda-feira, 23 de abril de 2012

MELHOR QUE O LIVRO...

★★★★★★
Título: Jogos Vorazes (The Hunger Games)
Ano: 2012
Gênero: Ação, Aventura
Classificação: 12 anos
Direção: Gary Ross
Elenco: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Stanley Tucci, Elizabeth Banks
País: Estados Unidos
Duração: 142 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre tantas coisas... Mas vou tentar ser bastante simples: em um futuro muito, muito distante, depois da Terra ter sobrevivido a diversas guerras, em um lugar conhecido como Panem (onde seriam os Estados Unidos), os humanos vivem em situações precárias com pouca comida e recursos, e além disso, como forma de punição aos civis que se rebelaram contra o governo no passado e fazer com que todos se lembrem de que quem manda é quem pode, todos os anos é sorteado um casal de jovens de cada distrito (há um total de 13) para participarem dos Hunger Games, um evento transmitido em rede nacional onde todos os participantes são postos em uma arena e devem lutar até restar apenas um vivo.

O QUE TENHO A DIZER...
Adaptado do livro homônimo de Suzanne Collins, sendo a primeira parte da trilogia de sua série de ficção para jovens adultos. A direção e o roteiro é de Gary Ross, que dirigiu o belo Pleasantville - A Vida em Preto e Branco (Pleasantville, 1998) e o interessante Nascido Para Ganhar (Seabiscuit, 2003).

A versão cinematográfica consegue ser mais interessante que o livro. A impressão que se tem é que a própria autora (que também assina o roteiro) tentou consertar a simplicidade da sua obra, porque embora o livro seja curto, tem uma narrativa em primeira pessoa bastante simplória. Esse tipo de narrativa muitas vezes é bastante interessante por mostrar pontos de vista objetivos através do narrador sobre os acontecimentos, mas também é um recurso bastante utilizado por aqueles que não conseguem transcrever de forma efetiva um mundo imaginário. Ok, podemos pensar que é um livro direcionado a uma faixa etária dos 15-20 anos e que a tradução em português talvez o empobreça, mas isso não justifica uma literatura tão simplista frente a outras superiores e que também tiveram adaptações cinematográficas, como Harry Potter, de J. K. Rowlings, ou até mesmo O Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien, que foi um livro originalmente intencionado para adolescentes.

De qualquer forma o livro tenta nos transportar para um mundo futurista que mescla tecnologia com sistemas arcaicos. Quem detém a tecnologia são os ricos, e os pobres sobrevivem em métodos um tanto quanto medievais, caçando, vivendo de subsistência, trocando produtos e vendendo a vida para comprar um punhado de farelo de milho, além, claro, de ter que contribuir constantemente com impostoso e viver sobre a sombra do medo de ter um filho, parente, ou amigo, sorteado para participar dos tais Jogos Vorazes.

A mistura das batalhas de gladiadores durante o ápice do Império Romano com aquilo que hoje conhecemos como reality show sem sombra de dúvidas foi o resgate mais interessante da autora para a cultura pop dos últimos anos, tentando criticar de alguma forma o atual sistema de entretenimento, trazendo para os dias atuais aquilo que era conhecido como panem et circus (pão e circo), atualizado como um programa de televisão líder absoluto de audiência e ovacionado por todos, por mais cruel, inaceitável e absurdo que possa ser. Nessa questão o filme sucede e consegue até realizar essa crítica, nunca escondendo de quem assiste que tudo que acontece é falso e uma grande e perversa tragédia disfarçada de espetáculo e entretenimento.

O diretor e roteirista, juntamente com a própria autora, conseguem ampliar tudo o que é limitado no livro, como o mundo e o espaço em que a história se passa, os personagens que fazem parte e as dificuldades e obstáculos que cada um deve superar, mas perde muito tempo mostrando o solitário sofrimento da personagem principal e seus dias perdida na floresta, quando deveria ter utilizado esse tempo para reproduzir mais fielmente toda a voracidade existente nas batalhas travadas entre os participantes do jogo, o que não é feito, dando a impressão que tudo nada mais é do que um bando de adolescentes chatos assediando moralmente uns aos outros e não duelando como animais e matando uns aos outros como máquinas de guerra num jogo de sobrevivência, uma das poucas coisas que são melhores descritas no livro. Mas também sabemos que isso é uma imposição do próprio estúdio que não queria que o filme fosse violento demais e a censura ultrapasse os treze anos de idade, o que limitaria muito a arrecadação na bilheteria. E funcionou bem, pois o filme teve um custo de US$72 milhões (mediano para o tamanho da produção), e já arrecadou mais de US$646 milhões no mundo, além de estar em 6º lugar no ranking dos filmes que mais arrecadaram no seu dia de estréia, conseguindo pagar antecipadamente as próximas duas seqüencias que, segundo o estúdio, só seriam feitas caso isso acontecesse.

De qualquer forma, dentre os atuais filmes baseados em série de livros, Jogos Vorazes consegue ser melhor que a série que o antecedeu, Crepúsculo, principalmente ao colocar como atriz principal a talentosa Jennifer Lawrence, já indicada ao Oscar por Inverno Da Alma (Winter's Bone, 2010), que ao contrário da heroína da outra série, consegue manter sua boca fechada, ser expressiva, convincente e elevar a qualidade do filme, fazendo-o deixar de ser apenas um produto direcionado a adolescentes fãs dos livros, mas também agradar o público adulto por ser madura e carismática o suficiente pra isso.

Os demais personagens coadjuvantes conseguem ser bastante fiéis ao livro em sua caricatura, com o apresentador Caesar Flickerman (Stanley Tucci e suas imensas próteses dentárias expostas em gargalhadas exageradas) e Effie Trinket (Elizabeth Banks, irreconhecível com tanta maquiagem). A narrativa do filme varia entre câmeras fixas e livres, e embora as cenas com câmera livre sejam interessantes por tentar reproduzir a narrativa em primeira pessoa do livro, acaba se tornando cansativa, confusa e enjoativa no meio de tantas explosões e fugas.

O filme não fez tanto sucesso no Brasil já que a série de livros só passou a ser divulgada e mais conhecida pouco antes do filme estreiar no país, mas a legião de fãs e de curiosos tende a aumentar.

CONCLUSÃO...
Poderia ser melhor e mais ousado, mas não chega a ser tão ruim quanto o livro. Para as pessoas com pouco senso crítico o filme cumpre seu papel como um produto de ação fantasioso e que também consegue, da sua maneira, criticar a cultura pop descartável e emburrecente da mídia atual. As atuações e a produção caprichada salvam o filme da superficialidade dominante em outros filmes de ação voltado ao público adolescente.

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