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sexta-feira, 27 de abril de 2012

BEL AMI DA ONÇA...

★★★★
Título: Bel Ami, O Sedutor (Bel Ami)
Ano: 2011
Gênero: Drama
Classificação:14 anos
Direção:Declan Donnellan, Nick Ormerod
Elenco:Robert Pattinson, Uma Thurman, Christina Ricci, Kristin Scott Thomas
País: Reino Unido, França, Itália
Duração: 102 min.

SOBRE O QUE É O FILME...
Sobre um jovem pobre que busca ascenção financeira e social na sociedade parisiense do século XIX do único jeito que sabe: conquistando as mulheres.

O QUE TENHO A DIZER...
É um projeto bastante ousado adaptar a obra de Guy de Maupassant logo na primeira empreitada dos novatos diretores Declan Donnellan e Nick Ormerod. O livro já foi adaptado no passado para o cinema, TV e teatro. É uma história que não chega a ser complexa, mas requer atenção, já que o personagem principal literalmente faz da cabeça das pessoas degraus sociais em prol da sua insaciável ganância e ambição, um exemplo referencial a tipos comuns, retratando de forma fiel uma sociedade movida a dinheiro e influências, além da sutileza das dependência políticas e sociais entre todos eles. Uma história que, apesar de seu tempo, é atual pela disposição dessas relações ser essencial para a existência e manutenção do poder e da diferença de classes.

A história se passa numa época muito importante da França após a regulamentação da mídia naquele país, onde os jornais, por conta da Lei da Imprensa, tinham liberdade de expressar e de circular sem a necessidade de regulamentação governamental, mas o filme não faz referência alguma a isso, se aprofundando mais nos influentes que passaram a dominar a mídia impressa, fazendo fortunas com o uso da informação, muitas vezes manipulando a política, o comércio e a sociedade, enriquecendo e dando mais poder aos já ricos e poderosos, além de enfraquecer e até mesmo destruir os rivais.

O interessante é que, neste caso, a história tanto do livro quanto do filme dispõem a influência feminina entre os homens. A sociedade conservadora daquela época impedia mulheres de trabalhar ou ter participações políticas. O excesso de casamentos por conveniência favoreciam os relacionamentos extra-conjugais tanto por parte dos homens quanto das mulheres, ampliando as relações, os contatos e a troca de informações. A participação limitada das mulheres na sociedade fazia delas peças importantes e imprecindíveis na guerra do poder, já que muitas delas eram detentoras de grandes fortunas (que podiam desfrutar apenas através de seus cônjuges já que uma mulher solteira e rica não era aceita na sociedade), tinham bons relacionamentos e eram verdadeiras caixas preciosas de informação. Portanto, embora o adultério fosse um crime, homens e mulheres faziam vistas grossas pela necessidade e importância do tráfico de informações e influências. Daí a razão da expressão "por trás de um grande homem há uma grande mulher" cair tão bem. O filme até consegue mostrar de forma digna que os grandes pensadores ou poderosos detentores de informação não eram os homens, mas as mulheres com as quais eles se relacionavam. Não é à toa que George Duroy (Robert Pattinson) começa sua escalada social através da sedução e da manipulação das mulheres, usando cada uma delas para uma razão específica no seu jogo ambicioso.

Os pontos principais do livro estão no filme, como a infiltração social de George Duroy, as relações de interesse, a tentativa de conspiração e boicote de seus rivais, a retaliação e sua constante ascenção. A direção de arte e figurinos são belíssimos, mantendo o mesmo misto de imundice e elegância da França da época, muito embora a fotografia tenha sido mal aproveitada.

Mas a escolha de Robert Pattinson foi de uma imensa infelicidade. Um ator inexperiente, jovem e que aqui mantém as mesmas expressões faciais da Saga Crepúsculo. O filme, que poderia ser agradável e interessante, se torna desconfortável e irritante com as constantes caretas fora de hora numa tentativa do ator expressar uma coisa que não se sabe o que é, ao invés da leveza, simpatia e sutileza de um personagem canastrão, cínico e interesseiro, que na falta de uma educação nobre compensa sua ignorância com a sedução e a manipulação. Talvez tenha sido esse o grande erro do filme, que se preocupa muito mais em tentar convencer de que Robert Pattinson é um grande ator de caretas do que dar mais atenção às relações que o personagem desenvolve, o uso que ele faz das influência das mulheres na sociedade, suas manipulações e chantagens. A impressão que se tem é que o único êxito que o personagem teve foi de levar para a cama todas as personagens principais, quando é muito mais do que isso. Todos os confrontos e complexidades do personagem e suas relações são colocados em um plano bastante coadjuvante e esquecível, o que não deveria acontecer, já que o personagem é a representação de um grupo social, mas é posto como um menino mimado e chato, o que é contraditório e incoerente nessa adaptação, já que ele nunca foi um nobre para agir dessa maneira. O roteiro cai novamente no erro do drama comum ao invés do drama socio-político, como deveria ser. O contraste de atuações é notável quando entra em cena o elenco feminino, que são as verdadeiras engrenagens da história. Uma Thurmam apresenta uma atuação inspirada que não se via desde Kill Bill (2003-2004), como a romântica, intelectual e política Madeleine Forestier. Christina Ricci sempre sobrando com as personagens mais esquisitas como a infeliz, apaixonada e compreensiva Clotilde de Marelle, e Kristin Scott Thomas numa atuação memorável da correta, perturbada e possessiva Virginie Walters.

CONCLUSÃO...
Tinha tudo pra ser uma grande adaptação, com um excelente elenco, cuidado visual e uma grande trama de época, porém não consegue ser convincente por ter um ator que mais irrita do que atua, e um roteiro perdido, que não sabe se desenvolve uma versão boba e superficial dos romances ou se tenta ser algo mais sério e profundo. Foi como disse no começo, é um projeto bastante ousado e ganancioso para ser um primeiro filme dos diretores, e essa inexperiência atinge diretamente a alma de tudo.

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