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sexta-feira, 6 de abril de 2012

UM POUCO DE RUINDADE NÃO FAZ MAL A JULIA ROBERTS...

★★★★★★
Título: Espelho, Espelho Meu (Mirror, Mirror)
Ano: 2012
Gênero: Comédia
Classificação: Livre
Direção: Tarsem Singh
Elenco: Julia Roberts, Lily Collins e Armie Hammer
País: Estados Unidos
Duração: 106 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre a Branca de Neve, e se você não conhece essa história, então é hora de diminuir as doses de Rivotril.

O QUE TENHO A DIZER...
O filme não merece tanto o desmerecimento que vem recebendo. Ano passado vi filmes muito piores com direção, roteiro e atuações terríveis e o público enlouquecendo como se estivessem assistindo o melhor filme de suas vidas. Definitivamente não consigo entender o gosto das pessoas. Mas consigo entender porque o diretor Tarsem é tão menosprezado, talvez porque poucos entendam seus conceitos e suas visões artísticas.

Formado no Centro Universitário de Arte e Design de Pasadena, começou sua carreira dirigindo comerciais para a Nike, Coca-Cola e Pepsi (na memorável versão de We Will Rock You, aquele com Enrique Iglesias, Beyonce, Britney Spears e Pink), além de importantes vídeos musicais, incluindo o antológico Losing My Religion, do R.E.M. Sigo sua carreira desde essa época, a qual foi uma grande escola para o amadurecimento de sua atual identidade, visíveis nos filmes A Cela (The Cell, 2000), o pouco visto, menosprezado - e com um terrível título em português - Dublê de Anjo (The Fall, 2006), Imortais (Immortals, 2011) e o atual Espelho, Espelho Meu (Mirror, Mirror, 2012). Ele afirmou em uma entrevista recente ao Hollywood Reporter que procurava projetos que pudessem dar liberdade para extravasar sua identidade mais do que ter um bom roteiro. O braço direito para toda essa sua extravagância foi a figurinista, designer, estilista e diretora artística japonesa Eiko Ishioka, que morreu no começo do ano. Eiko trabalhou com Tarsem em seus quatro filmes, além de também ter sido responsável por Drácula (Bram Stoker's Dracula, 1992). Segundo Tarsem, em uma matéria do MovieLine, não estava nos seus projetos filmar Espelho, Espelho Meu, já que era um filme visualmente orientado, o que ele não queria fazer no momento. Mas resolveu fazê-lo porque Eiko estava com câncer, ele sabia que ela tinha poucos meses de vida e que esta seria a última oportunidade que ele teria de trabalhar com ela, além dela ter expressado o intenso desejo de continuar trabalhando. E assim ele o fez.

O resultado é um filme agradável, direcionado especialmente para crianças, com humor infantil e cores fortes, contrastantes e lúdicas para chamar a atenção desse público em específico, bastante diferente dos trabalhos anteriores tanto de Eiko, quanto de Tarsem (com excessão de Dublê de Anjo). Por essa razão, muitos adultos poderão se sentir entediados ou considerar a história muito fraca. A narrativa é contada pelo ponto de vista da Rainha má, interpretada por Julia Roberts, que mesmo com todo aquele monte de pano ainda é possível notar a mesma requebrada de quadril clássica que lhe deu a fama (depois do sorriso), deixando clara a atuação despretenciosa e que, ao mesmo tempo, oferece os únicos diálogos mais adultos e sarcásticos de todo o filme. Lily Collins (filha do cantor Phill Collins), se encaixa perfeitamente no papel, tendo a doçura e a candidez que a personagem tem tanto nos contos quanto na versão animada da Disney. A história não segue as mesmas características do conto original, mas, depois da trilogia Shrek, nenhum conto de fadas tem mais a obrigação de ser levado a sério. O romance entre Branca de Neve e o Príncipe fica em segundo plano, e a química dos dois é bastante fraca. O Príncipe é representado muito mais como um paspalho do que como um herói, tendo sua alma aventureira e desbravadora substituída por cenas que chegam a ser até constrangedoras para um ator, mas vamos nos manter fiéis ao fato de que este é um filme infantil e tudo é possível.

Os sete anões, com participação e nomes bem diferentes da história original, são aqui apresentados como "bandidos", o que caiu melhor, pois são eles quem treinam e fazem de Branca de Neve tudo aquilo que o Príncipe, nessa história, não é. Embora um tanto diferente dos originais tanto dos irmãos Grimm, quanto da animação da Disney, as mudanças não atrapalham o desenvolvimento da história. O único problema é a falta de comprometimento do roteiro que apresenta as coisas de maneira vaga e em um vai e vem na Floresta Negra que acaba deixando a gente tonto, mas as crianças não prestam atenção nisso, sendo essa a razão do filme estar se saindo tão bem (já arrecadou mais de US$160 milhões em todo o mundo). O final vale até uma apresentação bollywoodiana, já que o diretor é indiano e, como é dito logo no começo do filme, "o reino era um lugar feliz, onde as pessoas cantavam e dançavam dia e noite..."

CONCLUSÃO...
Para quem for assistir para comparar com Branca de Neve e o Caçador (Snow White And The Huntsman, 2012), vai levar um belo tombo do cavalo, pois eles não apresentam nada em comum. Para os adultos que esperam algo exepcional, vão cair do cavalo da mesma forma. Apesar dos defeitos comuns nos filmes de Tarsem, o visual é magnífico e o último trabalho de Eiko Ishioka para ser apreciado em sua totalidade, que com absoluta certeza será muito mais apreciado pelo público infantil do que pelo adulto, que, ao menos no cinema, aparentou ter perdido a alma lúdica já há muito tempo.

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