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terça-feira, 26 de novembro de 2013

QUEM É ELENA?

★★★★★★★★★☆
Título: Elena
Ano: 2011
Gênero: Drama, Suspense
Classificação: 14 anos
Direção: Andrey Zvyagintsev
Elenco: Nadezhda Markina, Andrey Smirnov, Elena Lyadova, Aleksey Rozin
País: Rússia
Duração: 109 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Elena é uma enfermeira aposentada que há dez anos se transformou em uma dona de casa dedicada e oprimida, mas agora deverá tomar decisões inadiáveis e necessárias para o seu futuro e o de sua família.

O QUE TENHO A DIZER...
Elena é um filme russo dirigo por Andrey Zvyagintsev que obviamente é desconhecido pelo ocidente, mas chamou a atenção com este filme delicado e ao mesmo tempo denso que muito carrega da própria cultura socio política da Rússia e suas consistentes mudanças no decorrer dos tempos. Foi um dos grandes vencedores no Festival de Cannes de 2011 e de outros prêmios independentes pelo mundo (não confundir com o brasileiro Elena (2012), igualmente bem recebido pela crítica e público).

A construção do filme é lenta e gradativamente se aprofunda na história e na vida da personagem principal e dos demais que estão relacionados a ela que, embora seja até previsível em algumas situações, consegue fornecer uma narrativa surpreendente. O que é válido dizer é que Elena é uma enfermeira aposentada, e hoje uma dona de casa oprimida, de origem pobre e proletária que teve a sorte de cuidar e conhecer alguém que pode oferecer a ela uma melhor qualidade de vida. Talvez ela seja feliz em uma relação que hoje se resume em uma situação arranjada, funcional e codependente, cômoda na rotina e em regras determinadas até mesmo para o sexo em uma vida submissa e subalterna. Porém, a personagem agora se encontra em uma fase de decisões necessárias e inadiáveis, importantes para uma mudança de posições a seu futuro e ao de seu filho casado, que ainda mora em condições precárias no subúrbio e tem como profissão receber mensalmente a aposentadoria que sua mãe religiosamente entrega em suas mãos para alimentar seus dois filhos e a total dependência parasitária de sua família. Elena talvez pouco dê atenção a isso ou se importe, já que acredite estar fazendo bem e contribuindo principalmente para o futuro de seus dois netos, além de ter em si o instinto materno do cuidado e do amor incondicional, ou simplemente sentir-se na obrigação de agir assim.

Os "talvez" dessa história não são em vão, pois o trabalho da atriz se vale principalmente na sutileza e na discrição de uma performance complexa e enigmática de uma personagem que nunca deixa transparecer o que acha ou pensa além do necessário e que precisa estar ao alcance dos outros. Em algumas situações ela deixa transparecer tais dúvida, mas os momentos são tão raros e momentâneos que podem passar despercebidos em um piscar de olhos. Essa maestria da atriz e da direção em tecnicmanete ter total controle sobre a personagem, carregando o espectador em uma constante dualidade de conflitos contidos onde nunca sabemos até que ponto suas ações são calculadas ou espontâneas, não apenas são os pontos altos de todo o filme como a grande razão de se apreciar esta pequena e sólida obra. Como dito pelo crítico Peter Bradshaw para o The Guardian, a cena em que o diretor foca uma foto de Elena, provavelmente tirada dez anos antes e pela própria pessoa com quem ela dividiu esses dez anos, é o momento chave em que nos perguntamos quem é ela? O que ela realmente quer? Quem ela ama?

Mas os detalhes não param por aí, a relação entre Elena e sua familia metaforicamente representam as diferença de classes que agora os dividem, retratando uma imagem brutal e contemporânea da sociedade russa que se dividiu brutalmente com a queda do socialismo e se prendeu em uma estrutura familiar um tanto feudal, onde o direito e o respeito deve ser dado ao patriarca que provê nada além do necessário, estando ele no direito de cobrar pelo ofertado e decidir por aqueles que dependem de seus favores ou auxílios, e isso também se estende a seus descendentes. Mas Elena também existe para metaforicamente atuar como um agente modificador dessa estrutura.

Zvyagintsev é preciso, criando um cenário constante, magnificamente filmado e dirigido em tomadas propositalmente óbvias àqueles que observam e assistem atentamente. Também não podemos deixar de notar um certo estilo hitchcockiano em técnicas cinematográficas clássicas e o abuso do voyerismo que constrói um ambiente igualmente tenso e misterioso tal qual os filmes do clássico diretor. Mas neste filme a câmera atua mais que uma ferramenta de imagem, mas como um narrador vivo, mudo e expressivo que compensa a (talvez) apática vida da personagem principal. Enquanto em ambiente de classe alta, suas tomadas são amplas, longas, frias, distantes e lentas; quando em classe média baixa, as tomadas são curtas, editadas, sem movimentos, inconvenientes e invasivas. O único meio termo encontrado é quando Elena vaga livremente de uma zona da cidade para outra, onde temos apenas um leve esboço de sua real natureza.

CONCLUSÃO...
Um filme magnificamente dirigido e que não peca no excesso de perfeição tecnica, com uma história simples e carregada de simbolismos sociais, políticos e familiares fortes, por vezes surpreendente na frieza e profundidade com que toda a história é silenciosamente narrada.

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