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terça-feira, 12 de novembro de 2013

UMA VERDADEIRA KRIPTONITA AO HERÓI...

★★★★
Título: O Homem de Aço (Man Of Steel)
Ano: 2013
Gênero: Ação
Classificação: Livre
Direção: Zack Snyder
Elenco: Henry Cavill, Amy Adams, Diane Lane, Russell Crowe, Kevin Costner
País: Estados Unidos
Duração: 143 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Novamente a história do homem alienígena que se fortaleceu e se transformou em um superherói na Terra.

O QUE TENHO A DIZER...
Embora seja um herói construído unicamente para a cultura norte americana na intenção de enaltece-la como um indestrutível poder político e bélico, além de promover ao mundo a grande filosofia do american way of life e sua garantia ilusória de vida feliz, não podemos negar o fato de que o herói é uma parte viva de uma cultura popular e muito lembrada principalmente no cinema.

Depois de mais de quase 20 anos no ostracismo desde o último filme da série que estrelava Christopher Reeve, responsável por marcar uma geração e ainda ser a referência mais sólida que temos do herói em carne e osso, a Warner resolveu entregar a responsabilidade de retomar a franquia nas mãos do diretor Bryan Singer. Isso aconteceu pelo fato de ter sido este diretor o responsável pelo grande marco divisório que ocorreu nos filmes de ação baseado em heróis de quadrinhos ao ousar adaptar - e também acertar em cheio - os heróis da Marvel conhecidos como X-Men, ainda em 2000.

O que Bryan Singer fez no início da década de 2000 em trabalhar fortemente na releitura dos quadrinhos de maneira acessível para a linguagem do cinema virou uma regra e uma fórmula contemporânea que há muito o cinema buscava, e que deu certo. A Marvel Comics tomou a frente, produzindo adaptações de sucesso, como Homem Aranha, além dos já citados X-Men. Posteriormente teve uma leva de outros heróis já conhecidos como Hulk, Homem de Ferro, Capitão América e Thor, culminando seu reinado na indústria ao pegar essa entourage e produzir o projeto mais ousado da história do cinema chamado Os Vingadores, que arrecadou quase US$2 bilhões no mundo. A DC Comics com a Warner, por outro lado, se mantiveram na zona de conforto, tendo apenas nas mangas os heróis Superman e Batman. Tentaram apresentar ao mercado o Lanterna Verde, que foi um fiasco de crítica e público.

O reboot do herói foi lançado em 2006 e levou o título de Superman - O Retorno (Superman Returns), em analogia às suas quase duas décadas desaparecido. Singer tentou brincar com esse "sumiço" do herói e, inclusive, justificá-lo no filme de forma bastante aceitável, além de tentar se manter fiel à imagem e mito que o herói se transformou. Mas O Retorno não foi o sucesso esperado, além de ter sido um filme mais nostálgico do que inovador, pois ele nada mais foi do que uma reprise do que já havia sido feito e abordado anteriormente quando estrelado por Christopher Reeve na década de oitenta, deixando o público dividido: enquanto os nostálgicos se sentiram satisfeitos logo na abertura com os rompantes da trilha sonora de John Ottman em sua releitura moderna e fiel a de John Williams, os mais conservadores ficaram decepcionados com os mesmos cliches e um grande grau de insatisfação por conta dos atores protagonistas.

Isso fez a Warner novamente engavetar o herói e pensar no que fazer com ele no futuro, acreditando que a safra de filmes baseado em quadrinhos estava perdendo o fôlego (ledo engano), aguardando para analisar o mercado e observar qual seria a tendência nos anos seguintes. A tendência foi óbvia, e com o reboot de Batman, levando o personagem para dentro de um mundo muito mais obscuro e realista, mas sem deixar de ser igualmente fantástico, fez o gênero tomar um ar fresco e que novamente mudou a forma narrativa de se "brincar" com os quadrinhos na tela. O teor mais humano criado por Cristopher Nolan para o homem morcego foi o que a Warner acreditou ser o que faltava no herói da capa vermelha. Correndo contra o tempo para aproveitar o público que ficou carente com o final da Trilogia Batman, Zack Snyder foi contratado para tocar a produção e o sinal verde para O Homem de Aço foi dado.

Snyder ficou conhecido por fazer filmes que ficaram famosos pelo visual que vaga entre os quadrinhos, mangas e vídeo game, como acontece em 300 (2006), Watchmen (2009) e até com exagero em Sucker Punch (2011), portanto ele aparentava ser uma escolha certeira, tanto que o filme foi um dos mais esperados nos dois últimos anos e boa parte da bilheteria foi arrecadada apenas na primeira semana.

O uso de filtros de imagem, característicos do estilo do diretor, embora usados de forma mais sutil dessa vez, estão presentes tal qual em todos seus filmes anteriores, mas ele definitivamente pesa a mão e não consegue oferecer a mesma fluidez como, por exemplo, em 300, seu único filme mais famoso e criticamente bem aceito. Snyder custosamente tenta dar ao filme uma linguagem mais adulta do que a suportada de forma forçada, e a narrativa desconstruída do roteiro que pinga entre o presente e o passado com flash backs desnecessários para quebrar aquela rotineira história de como um bebê alienígena descobriu seus poderes na Terra, desmotiva e chega a até quebrar o clima em momentos chaves, demorando uma eternidade para chegar aos finalmente de apresentar o homem como um Herói. As mais de duas horas de filme se resumem em apenas uma meia hora quiçá interessante e que nem é possível lembrar qual seja frente a tantos acidentes de percurso.

Talvez a grande ganância tenha definitivamente sido a tentativa de seguir os mesmos passos de Christopher Nolan ao dar um tom sombrio a um personagem que não comporta esta abordagem em sua personalidade. Essa tentativa de reprodução é tão forte que igualmente apostaram no sucesso de abolir o nome do herói do título do filme tal qual foi feito com o de Batman em O Cavaleiro das Trevas. Não satisfeitos com isso, acreditaram que criar uma história completamente nova em cima das mesmas fundações seria interessante. A história do herói é novamente e basicamente contada da mesma maneira, mas características e detalhes icônicos que são partes de sua figura tanto quanto sua capa vermelha foram abolidos ou modificados sem coesão. A Kriptonita não existe mais, Kripton deixou de ser um planeta de cristal, Louis Lane agora é loira, a trilha sonora praticamente nem é ouvida e nada carrega do clássico de Williams e o poder do herói agora existe por causa da atmosfera terrestre. Ou seja, nada que valesse realmente a pena ser modificado, mas mesmo assim foi, apenas para dar um ar enganoso de novidade e consumir tempo - e haja tempo - ao ter que, mais uma vez, explicar a razão de tudo ser como é agora.

O filme novamente sofre por um público dividido que não sabe se gosta ou se despreza, e a crítica especializada definitivamente detestou as infames mudanças ocorridas, e fez tanta questão de desprezá-lo que apenas teceu elogios ao porte físico do ator que insistiu unicamente em um rigoroso treino e descartou qualquer hipóstese de ser colocado dentro de um padrão de beleza com uso de anabolizantes ou sessões de depilação. Ou seja... irrelevante.

É um filme que se torna banal e desnecessário, que justifica sua existência apenas com intermináveis destruições que deixam os filmes arrasa-quarteirões de Michael Bay no chinelo. Considerado o pai e o chefe de todos os super heróis justamente por ter um enorme senso de justiça, humanidade e de perda por conta da educação exemplar tida pelos pais adotivos, chega até ser assustador que em momento algum ele tenha se preocupado em derrubar todo e qualquer prédio que aparecesse em sua frente como um Godzilla, e junto matando milhares de civis. Isso tudo deixa no ar essa incoerência de que, para salvar o planeta, ele agora pode destruir cidades inteiras, algo que o herói sempre evitou, seja nos quadrinhos, seja nas telas (incluindo no filme anterior de Bryan Singer).

O vilão Zod até chega a roubar a cena algumas vezes, mas isso também não espanta porque o nível das atuações, em um todo, chega a ser vergonhoso. Até mesmo Diane Lane (Martha Kent) ou Amy Adams (Louis Lane) não seguram as pontas como conseguiriam normalmente. Louis e Martha estão totalmente perdidas, aparecendo em cena sem motivo algum, apenas para serem lembradas de que fazem parte de algum ponto da história. O pior dos momentos sempre sobra para Amy Adams, que na maioria das vezes entra correndo em cena como que atrasada na gravação, e sai andando pra trás à francesa como se fosse excesso de contingência porque nem diálogo que valha a pena ela tem. Enquanto isso Diane Lane só aparece para resmungar de alguma coisa, como a bagunça que a casa ficou depois de ser destruída, ou a panca de mãe durona ao peitar um homem alienígena que ela encara louvavelmente e sem borrar as calças como se fosse um vizinho qualquer. Como se não bastasse ter Russell Crowe, ainda houve espaço para Kevin Costner. Ou seja... está tudo errado. Um elenco que não funciona em uma história pra lá de furada com uma direção que não sabe para onde atirar. Novamente Superman não teve um filme que fizesse jus ao peso de seu nome.

A versão de Bryan Singer pode não ter sido a das melhores, mas os ícones e todo o universo que caracterizam o herói foram mantidos. Não apenas isso, Singer tem uma grande habilidade de conseguir trazer à tona questões e questionamentos humanos em personagens heróicos e fictícios, coisa que em momento algum Snyder consegue fazer. Pelo contrário, Snyder causou uma enorme revolução para, no fim, enfiar um par de óculos no personagem e ainda insistir em chamar aquilo de disfarce. Ele fez a mesma coisa com seu filme anterior, Sucker Puch, promovendo-o sob um enorme barulho para, no fim, ser decepcionante na mesma medida. Snyder está se mostrando um diretor perdido, ruim e sem foco, que começou a carreira utilizando todos seus cartuchos, e hoje em dia não tem uma bala sequer para acertar ao menos uma vez.

Com um orçamento de mais de US$220 milhões, arrecadou mundialmente um pouco mais de US$370 milhões, nada muito surpreendente perto do tanto que foi gasto, mas foi o suficiente para Warner dar sinal verde para uma continuação já entitulada Superman vs. Batman. Ou seja...

CONCLUSÃO...
Fraco, sem foco, perdido e uma verdadeira Kriptonita ao herói. Consegue ser o pior de todos e dificilmente conseguirá se recuperar no futuro. Filme para impressionar aqueles que não conhecem o herói ou para aqueles que simplesmente adoram uma grandiosa destruição sem sentido na tela.

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