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segunda-feira, 26 de maio de 2014

SINGER CONSEGUE SAIR PELA TANGENTE...

★★★★★★★
Título: X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido (X-Men: Days Of Future Past)
Ano: 2014
Gênero: Ação
Classificação: 12 anos
Direção: Bryan Singer
Elenco: James McAvoy, Hugh Jackman, Jennifer Lawrence, Michael Fassbender, Ian McKellen, Patrick Stuart, Ellen Page
País: Estados Unidos
Duração: 131 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Wolverine é enviado de volta para a década de 70 para impedir um assassinato que será responsável por dizimar todos os mutantes no futuro.

O QUE TENHO A DIZER...
Há 51 anos atrás a primeira edição de X-Men foi lançada, super heróis mutantes criados por Stan Lee e Jack Kirby pela Marvel Comics. O sucesso desses heróis é visto até os dias de hoje, valendo sempre dizer que eles, juntamente com o diretor Bryan Singer, foram responsáveis e pioneiros por mostrarem no início de 2000 que havia possibilidades do cinema de ação trabalhar com os quadrinhos de maneira relevante tanto como entretenimento como um produto comercial que não fosse inteiramente descartável. Tanto que 90% dos filmes de ação do verão norteamericano nos últimos anos tem sido apenas de super heróis, sejam eles da Marvel ou da DC.

Os X-Men nos quadrinhos se destacaram por vários motivos, mas um deles era de suas histórias se adaptarem com as épocas e fatos que viviam e até mesmo incoroporá-las em suas tramas, o que também deu certo e funcionou no cinema. Mas com o passar dos anos as histórias publicadas perderam fôlego e ficaram confusas, os personagens começaram a entrar em um loop infinito de erros, discordâncias e anacronismos ao ponto de todo o Universo Marvel ter sofrido imensas transformações principalmente nos anos 90 até culminar com a Era do Apocalipse, um evento que zerou novamente todo o universo, e isso sempre vai acontecer quando tudo bagunçar, como aconteceu no ano passado em que parte da Marvel foi novamente resetada com a chegada do Marvel Now (Nova Marvel, no Brasil).

Com o lançamento do primeiro filme dos X-Men em 2000, Bryan Singer teve boas intenções, porém seu excesso de autoestima e afirmação fez o diretor se precipitar ao pegar a história dos mutantes e recontá-la à sua maneira. Singer se manteve fiel a alguns personagens chaves, mas reinventou a história particular muitos deles a seu bel prazer, o que gerou uma confusão entre aquilo que fãs já conheciam e novos fãs estavam conhecendo, tanto que a Marvel teve que sambar para recontar suas histórias publicadas e diminuir essa grande incoerência do que se viu nas telas com o que existia nos quadrinhos até então.

De uma maneira geral, os dois primeiros filmes de Singer funcionaram nas telas e são as referências em qualidade até hoje, mas o terceiro filme, dirigido por Brett Ratner, deixou a desejar e foi quase um suicídio da franquia. Em 2011, houve uma tentativa de fazer um reboot da série, e Matthew Vaughn foi escalado para dirigir o quarto filme, entitulado Primeira Classe, que seria uma pré-sequencia da trilogia original ao contar como Charles Xavier fundou sua escola de jovens super dotados na década de 60, e como a curiosa relação entre ele e seu amigo Erik Lensherr/Magneto culminou em discordâncias ideológicas e se transformou em uma das mais clássicas e conhecidas rivalidade dos quadrinhos.

E aquilo que era pra ser o reinício de uma franquia e esquecer tudo que foi feito anteriormente, se transformou numa discussão entre a massa de fãs que se perguntava: como dar continuidade a essa história e alinhá-la à história da trilogia original?

Depois de ter abandonado a franquia para uma fracassada tentativa de reviver o ícone da DC em Superman Returns (2006), ninguém seria melhor que Bryan Singer para retornar à direção 10 anos depois justamente para realizar esta ponte entre os filmes e (tentar) consertar todos os erros cometidos no passado, inclusive por ele mesmo.

E funcionou?

Por incrível que pareça, sim.

A habilidade de Singer em administrar um grande número de personagens e de tramas paralelas é inegável e novamente visto aqui. Mas dessa vez Singer não apenas teve de lidar com as tramas paralelas do próprio filme como também com os buracos dos anteriores. Muitos dos erros são consertados de maneira discreta, e embora as referências aos filmes anteriores existam o tempo todo (incluindo também os dois péssimos spinoffs de Wolverine), muitas delas são feitas de maneira indireta justamente para não deixar o novo espectador confuso ou perdido e há até momentos para brincar com algumas situações inusitadas, como mostrar em uma sequencia de onde vem o trauma de Wolverine em viajar de avião.

Claro que isso não significa que seja necessário assistir os filmes anteriores para entender este, muito embora deva ser uma obrigação. Mas essa obrigação é para observar como Singer realmente conseguiu transformar tudo, entre erros e acertos, em um produto condensado, aceitável e grandioso dentro de todos esse complexo mundo confuso que ficou os dos X-Men. Parece que Singer finalmente deixou sua arrogante individualidade de lado e resolveu dar ouvido a base de fãs, pois entre méritos e deméritos, construções e desconstruções, este é o filme mais relevante dos X-Men como uma verdadeira adaptação.

A história se passa dez anos depois do Primeira Classe e 50 anos antes da dizimação dos mutantes na Terra. Esse período é baseado em um episódio dos quadrinhos que leva o mesmo nome e que também já foi adaptado na primeira série animada. Tudo começa com uma boa sequencia de ação no futuro, que teoricamente se passaria nos nossos dias atuais, só que completamente diferente do nosso presente, sendo muito mais tecnológico e apocalíptico. Depois perde o ritmo com piadinhas manjadas e uma crise depressiva de Xavier-jovem que não convence muito até mesmo pela facilidade com que ele é convencido a ajudar o Xavier-velho. Há outros momentos já vistos antes, como novamente Magneto isolado em uma prisão de segurança máxima, ou Wolverine novamente sendo neutralizado por Magneto, a relação de amor e ódio entre Xavier e Magneto, e a sempre clássica dúvida entre tentar viver em harmonia com os humanos ou não. Não há uma cena de batalha realmente impressionante ou de tirar o fôlego como nos filmes anteriores, mas nas poucas que existem, como nas batalhas com os Sentinelas, podemos sentir aquele gostinho muito bom de vê-los trabalhando em equipe, o verdadeiro grande atrativo dos X-Men.

Os personagens mais conhecidos estão presentes, e claro que a história novamente vai se concentrar nos personagens mais populares e nos atores que possuem mais relevancia popular e comercial, como Wolverine (Hugh Jackman, reprisando o papel pela sétima vez), Mística (Jennifer Lawrence, atualmente a atriz mais bem paga do cinema) e Magneto (Michael Fassbender, o alemão de ouro de Hollywood). Alguns que fizeram apenas algumas pontas nos anteriores voltaram com alguma participação maior, como Colossus (que outra vez entra mudo e sai calado), Kitty Pride (Ellen Page novamente fazendo aquela sempre cara de que não está nenhum pouco a fim de fazer o filme) e Bob Drake/Homem Gelo (sempre querendo fazer mais, mas Singer sempre oferecendo de menos). Novos mutantes agora aparecem como Quicksilver (que nos quadrinhos é filho de Magneto), Sunspot (não confundi-lo com o Homem Tocha de Quarteto Fantástico), Blink e Bishop, esses três últimos apenas para incrementar as cenas de ação, já que não possuem qualquer relevância em toda a trama.

Essa mania de concentrar as histórias sempre nos personagens ou nos atores mais populares é, talvez, o grande defeito de todo o filme, porque X-Men não é Wolverine, e essa noção de "trabalho em equipe", que sempre foi um dos fundamentos principais de Xavier, se perde. Diferente de Os Vingadores (The Avengers, 2012), em que o Homem de Ferro se tornou o personagem mais popular por conta de sua franquia e mesmo assim o filme soube dar momentos especiais para todos os demais personagens. Mas isso nunca acontece de maneira satisfatória nesse filme.

Apesar de Singer tentar consertar algumas coisas e encaixar a história com os quadrinhos de uma forma que ele nunca havia feito, ele ainda insiste na mesma tecla de deturpar as histórias dos personagens e criar as suas próprias, como o fato de Bishop (que nos quadrinhos é o verdadeiro viajante do tempo) ser o personagem que menos tem a ver com tudo isso no filme, e agora Kitty Pride ter esse novo poder de transportar a consciência dos mutantes para o passado, quando isso deveria ser uma missão de Xavier, Jean Grey, Emma Frost ou até mesmo uma simples máquina no tempo, como aquelas criadas pelo personagem Forge nos quadrinhos. Essas são, talvez, as maiores heresias cometida por ele, e imperdoáveis no ponto de vista de quem conhece a função de cada um nessa história. Essas gafes colossais realmente deixam os fãs um tanto decepcionados, mas para aqueles que pouco conhecem a fundo a história dos mutantes, nada disso é percebido, nem mesmo serão percebidos os erros de continuidade e questões chaves que não deveriam ter sido ignoradas, como o website SCREENRANT publicou.

Na parte do design de produção e figurino, é notável a queda de qualidade do filme anterior para esse. Se em Primeira Classe a década de 60 foi reproduzida com uma qualidade de encher os olhos e, inclusive, elogiada pela crítica em sua maioria, neste filme a década de 70 nem se parece com ela, principalmente depois do deleite visual de Trapaça (American Hustle, 2013). No filme há até um notebook com tela LCD. Além desse ato falho e absurdamente anacrônico, é engraçado observar a atuação dos figurantes, que de tão mal dirigidos ou dirigidos com pressa, fica evitente a mecânica e a coreografia de organização. Enfim, erros pequenos para quem enxerga pouco, mas bem graves para uma produção de US$200 milhões.

Como um todo, não há como negar que Singer conseguiu, a duras penas, aprender que com os X-Men não se brinca e sair pela tangente de maneira fina. A Marvel estava muito preocupada com o que fazer sobre a terceira franquia mais lucrativa da empresa e um dos principais ícones de sua marca. A sequencia final, por si só, define a razão do filme existir e já vale a pena todos os seus 131 minutos, como também é um final nostálgico, trágico e emocionante, que conseguiu transportar pra tela muito desse misto de angústia e esperança que os quadrinhos e a primeira série animada conseguiram fazer, além de, inclusive, dar gás para novos filmes no futuro (uma nova sequencia já foi anunciada para 2016).

Sorte teve Singer em conseguir encontrar linhas comuns entre todos os individuais filmes e, ironicamente, tal qual como o filme, seus erros do passado justificam os resultados desse novo episódio.

CONCLUSÃO...
Novamente é Singer fazendo tudo da sua forma, mas sua habilidade de conseguir lidar com diversos personagens e tramas paralelas fazem desse filme um grande divisor nesta pentalogia. Claro que vai agradar mais os fãs dos filmes do que dos quadrinhos, mas nem por isso vai deixar de emocionar os mais exigentes ao ver seus heróis preferidos personificados na tela, mas também vai despertar o ódio por muitos erros de continuação existirem e questões fundamentais da trilogia original terem sido ignoradas.

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