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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

HORROR À MODA ANTIGA...

★★★★★★
Título: Terror Em Silent Hill: Revelação (Silent Hill: Revelation)
Ano: 2012
Gênero: Horror
Classificação: 16 anos
Direção: Michael J. Bassett
Elenco: Adelaide Clemens, Kit Harrigton, Sean Bean, Carrie-Anne Moss
País: França, Estados Unidos, Canadá
Duração: 94 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Heather, agora adolescente, morde a isca e volta a Silent Hill para resgatar seu pai que foi sequestrado pela Ordem e descobrir suas verdadeiras origens e quem ela realmente é.

O QUE TENHO A DIZER...
Terror Em Silent Hill: Revelação, é dirigido e escrito pelo inglês Michael J. Bassett, e realmente desconheço qualquer outro trabalho que ele tenha feito. A princípio o filme era pra ser escrito e dirigido por Roger Avary, o mesmo roteirista do primeiro filme, mas aí o cara foi preso porque sofreu um acidente grave de carro com vítimas enquanto estava embriagado, e a produção foi suspensa. Por essas e outras razões a produção demorou seis anos para ter início, o que é um intervalo bem grande de tempo para a continuação de um filme que, embora tenha feito um relativo sucesso, não ficou na memória de muita gente.
Para quem não sabe (será?), o filme é baseado numa série de jogos de horror com o mesmo nome (ao todo são 9 jogos oficiais até o momento). Os produtores Don Carmody e Samuel Hadida sempre quiseram levar um segundo filme para as telas, para concluir o final estranho deixado pelo primeiro, além de também sempre acreditaram que Silent Hill oferecia um grande material para um filme de terror, o que sempre foi verdade, desde quando o primeiro jogo da série surgiu, lá em 1999.
O primeiro filme, Terror Em Silent Hill (Silent Hill, 2006) recebeu críticas positivas no geral, mas foi mais elogiado pelo seu clima sombrio e uma produção de horror caprichada que há muito tempo não se via no gênero, resgatando um estilo de filme que incita o medo sem a necessidade de sustos orquestrados, mas apenas sendo sombrio, que usou e abusou de todas as características dos jogos e sua atmosfera, o que foi impressionante. Tanto que o filme é considerado, de longe, a melhor adaptação de um jogo de video game (talvez a única), por se manter fiel a todos os elementos e ainda ser um filme igualmente assustador.
O segundo filme sofreu diversas modificações na produção. Embora ele ainda mantenha uma classificação de idade alta (16 anos no Brasil, 17 nos EUA), o que é raro, pois o retorno financeiro não é garantido já que limita bastante o público principalmente nos EUA, muitos cortes foram realizados. A produção do primeiro filme teve um orçamento de US$50 milhões, a do segundo caiu para "apenas" US$20 milhões. O primeiro filme teve um pouco mais de 120 minutos, a duração do segundo filme caiu para 94 minutos. Ao mesmo tempo teve a exigência de ser um filme em 3D, o que aumentou os custos e exigiu que a produção tivesse que pisar em ovos, mais do que já estava. O surpreendente é que, apesar de tudo isso, o resultado final ainda é impressionante. Salvo algumas cenas, é praticamente impossível notar qualquer diferença entre essa produção modesta com qualquer outra mais cara. Sem dúvida os produtores tiveram que sambar legal para conseguir manter um nível de qualidade dentro de tantas restrições, o que é outro fator admirável. Como esperado, não fez tanto sucesso quanto o primeiro, mas ao menos conseguiu se pagar com o total US$50 milhões arrecadados no mundo e agradar os fãs em geral.
A história dá continuidade ao primeiro filme e seis anos depois a garotinha Sharon/Alessa agora se chama Heather (Adelaide Clemens) e está bem crescida. Essa confusão com os nomes é explicada no filme, e nem é tão confusa assim, então ninguém precisa se preocupar com esse detalhe. Heather tem constantes sonhos bizarros envolvendo uma estranha cidade chamada Silent Hill, mas seu pai, Christopher (Sean Bean), esconde a verdade de sua origem para defendê-la e evitar que ela volte para lá. O problema surge quando A Ordem captura Christopher para usá-lo como isca. Prevendo que isso poderia acontecer algum dia, ele deixa uma carta a Heather contando suas origens e sendo enfático ao dizer que, custe o que custar ou aconteça o que acontecer, não é para ela ir a Silent Hill. Claro que ela volta para todas as revelações do título acontecerem.
É meio estranho falar do filme porque ele tem coisas ótimas e tem coisas péssimas que se equilibram bem e deixam o gosto dentro de um meio termo, que não dá pra classificá-lo como bom e nem como ruim.
A atriz principal é ótima e caracteriza muito bem a personagem do terceiro jogo, além de todos os demais elementos sombrios como os personagens bizarros, o clima macabro, sujo e até mesmo a trilha sonora característica, estarem lá. Há referências sobre os jogos o tempo todo, e isso para os fãs é como entrar numa loja de doces e poder comer de graça por uma hora. A produção de arte é caprichadíssima, favorecendo uma fotografia caótica e assustadora que mesmo bastante escura consegue ser distinguida facilmente.
Os monstros, que são os maiores inimigos e atrativos dos jogos (porque mais bizarros que eles é impossível), também são a grande atração do filme, como as Enfermeiras, o Manequim Monstro (que é fantástico!) e o retorno do Cabeça de Pirâmide, dentre outros. Seres bizarros que, nos jogos, representam a força da cidade agindo sobre os pensamentos caóticos dos personagens, e que o filme até tenta reproduzir isso quando mistura as visões da personagem com a realidade. Apenas uma cabeça brilhantemente insana para criar essas figuras que conseguiram causar o mesmo impacto dos jogos no filme. Elas são assustadoras sem precisar de muito, pois distorcem a imagem daquilo que é inofensivo, e fazem do simples se transformar em um verdadeiro pesadelo. Acho isso fantástico quando bem usados (e no filme são) porque assustar é fácil, já que qualquer ação inesperada faz isso, mas causar o medo e o assombro é difícil porque a imagem está lá o tempo todo, mas é a forma como ela é mostrada que é o verdadeiro fator impressionante.
Há sequências perturbadoras como quando os cavalos do carrossel viram pessoas, ou quando Heather entra em uma cozinha em que o cozinheiro retira um filé que não é mignon, ou o chão de cabeças. Não há como deixar de lembrar de filmes como Hellraiser, pois essa imagem criada pro Clive Barker de que o infernal e perturbador é povoado por figuras de natureza masoquista, que vivem da dor e flagelação, sempre dilaceradas, disformes, costuradas e presas em materiais enferrujados cortantes ou pontiagudos, são seguidas a risca aqui e sem parecerem cópias.
Outro detalhe MUITO importante é que tudo foi feito à moda antiga, com maquiagens reais e cenários de verdade. Com excessão do Manequim Monstro, dos efeitos em cena, e de trabalho de pós produção para dar acabamento a alguns dos seres bizarros, o uso do CG foi limitadíssimo, o que é interessante pro nível de realismo e detalhes. A certa originalidade criada nos jogos e sua forma simples de ser perturbadora são mantidas nesses dois filmes, e esse é o grande show de elementos que realmente fazem desse filme ser mais um grande diferencial nos últimos anos quando o assunto é imagens perturbadoras.
Mas nem tudo é "flores". Assim como nos jogos, a história é boa, mas o roteiro é apressado e desenvolve de forma rápida e sem passagens de tempo, fazendo tudo soar forçado. Com excessão da atriz principal, os demais atores parecem amadores, isso inclui Sean Bean, inexpressivo, caricato e extremamente desinspirado, chega a ser constrangedor. E isso é resultado da carência de uma  direção mais efetiva. Os monstros poderiam ter tido maiores participações, e não aparecido apenas em sequências bastante definidas como se fossem fases de um jogo, o que fez o filme perder o gás conforme se aproximava do fim, como se o repertório de grandes idéias tivesse acabando, exagerando até para uma ceninha de luta pra lá de desnecessária. E o pecado de sempre: personagens e acontecimentos que não trazem acrescimo algum na história ou para o mérito do filme.
As coisas boas são boas mesmo, e as péssimas infelizmente fazem o filme deixar a desejar. Também não é um filme para quem não assistiu ao primeiro ou não conhece os jogos, o que pode deixar muita gente meio perdida e achando que poderia ser melhor. Realmente ele poderia ser melhor, mas não dá pra exigir muito frente a tantas limitações.
Não assisti o filme em 3D, o que me arrependo, já que mas tem muitas pessoas por aí que assistiram e, mesmo não tendo gostado, afirmaram que realmente são bons e impressionavam, pois ele foi filmado com câmeras especiais para isso, e não adicionado em pós-produção, como vem acontecendo com vários títulos atualmente. Mas acredito que isso não era necessário, e para um orçamento tão limitado essa tecnologia podia ter sido evitada para aproveitadar o dinheiro com outas coisas. Só a sequência final de créditos já deve ter ido uns bons milhões. E quem é que vai se importar com créditos finais de filme?

CONCLUSÃO...
É literalmente uma continuação do primeiro filme e uma boa coletânea de todos os elementos que fazem da série de jogos ser aterrorizante, não no sentido de sustos, mas do espectador ficar impressionado e com medo do bizarro como raramente conseguimos com filmes de horror modernos. Junto com o primeiro filme da série, talvez seja o único a ousar esse estilo no circuito comercial, o que é uma grande pena, já que esse gênero carece de boas produções como essa tentou ser, e até consegue. Grande ponto positivo para o uso limitado de CGs, provando que o bom e velho trabalho manual de maquiadores e cenógrafos ainda é insubstituível, principalmente para filmes como esse. Para quem gosta, é um prato generoso, podia ser um prato cheio, mas não podemos reclamar muito, pois o que é que temos melhor que isso atualmente nesse estilo? Nada.

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