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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

PRECONCEITOS DE LADO: É BOM MESMO!

★★★★★★★★★☆
Título: Argo
Ano: 2012
Gênero: Ação, Drama
Classificação: 14 anos
Direção: Ben Affleck
Elenco: Ben Affleck, Alan Arkin, John Goodman, Bryan Cranston, Kyle Chandler, Victor Garber
País: Estados Unidos
Duração: 120 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Baseado na missão verídica Canadian Caper durante a Crise de Reféns do Irã em 1979, em que um agente da CIA se infiltra no país para resgatar seis diplomatas norte-americanos sem que o governo iraniano perceba. 
O QUE TENHO A DIZER...
O filme é dirigido, escrito, produzido e atuado por Ben Affleck, a produção também é assinada por George Clooney, que é outro ator que vem desempenhando um forte papel como diretor nos últimos anos, e que talvez tenha sido uma grande mão na roda desse filme, já que sua experiência com longas é bem maior.
Tenho que finalmente torcer minha lingua e concordar que é um bom filme, e realmente tem razão de figurar entre os melhores de 2012. É o terceiro longa metragem do ator que se destacou como roteirista ao ganhar o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado (juntamente com seu então amigo Matt Damon) pelo filme Gênio Indomável (Good Will Hunting, 1997) e agora se tornou uma figura poderosa em Hollywood ao se consolidar como um dos novos e bons diretores dessa geração, e Hollywood tem feito de tudo para promovê-lo assim.
O histórico da carreira de Ben Affleck é cheio de altos e baixos. Da noite para o dia ele se tornou um galã, e do dia para a noite sua fama despencou por conta das constantes perseguições da mídia e do frequente esculacho sofrido a respeito da sua limitada capacidade de interpretação e de sua vida pessoal. Demorou para ele voltar a se resguardar, ser esquecido pela mídia sensacionalista e aos poucos se reestabelecer pessoal e profissionalmente. É o novo patinho feio, e agora Hollywood se aproveita disso para pintá-lo dessa forma e, talvez, de também pedir desculpas por tanto escárnio ao longo de boa parte de sua carreira.
Sr. Affleck vem causando surpresa por ter feito arrastões na temporada de premiações de 2013, já recebendo prêmios de Melhor Diretor e/ou Melhor filme em eventos importantes como o Critics Choice, Globo de Ouro, Screen Actors Guild e Directors Guild. O filme também recebeu sete indicações ao Oscar, mas isso não impediu de que ele fosse esnobado pela Academia que não o incluiu na lista de finalistas de Melhor Direção, embora figure na lista de Melhor Filme. Esse fato tem causado bastante polêmica e levado os membros da Academia a sofrerem fortes críticas por isso frente a tanto favoritismo que Argo vem tendo. Há duas grandes fortes razões para isso ter acontecido. A primeira delas pode ter sido pela mudança da data de votação dos finalistas ao Oscar já que foi feito em um período de férias e festas de final de ano, sendo dito por aí que muitos membros do comitê para a categoria de Melhor Direção não tenham tido tempo suficiente para enviar os votos e que, ao mesmo tempo, muitos outros tenham feito suas votações sem ao menos ter assistido os filmes, dando votos cegos. A segunda razão, e talvez a mais plausível, é pelo comitê não engolir a ascenção de Ben Affleck por puro preconceito mesmo. O próprio ator/diretor/roteirista/produtor já desmonstrou seu descontentamento a cerca disso e não vem evitando situações para sutilmente alfinetar a Academia a cada novo prêmio conquistado.
O filme é baseado no fato verídico do plano Canadian Caper, em que o agente da CIA, Tony Mendez (Ben Affleck), liderou o resgate de seis diplomatas norte-americanos que conseguiram escapar da Embaixada Americana do Irã após a invasão de militantes e estudantes islamitas, levando à Crise de Reféns do Irã, que durou entre 1979 e 1981, envolveu o sequestro de 52 norte-americanos que se encontravam na Embaixada e que foram mantidos em cativeiro por 444 dias. Após várias missões de resgate falharem, Tony Mendez surge com a idéia absurda de se infiltrar no país disfarçado de produtor de cinema canadense que trabalha em Hollywood e que está procurando locações no país para a filmagem de um novo longa de ficção científica chamado Argo. O plano principal era encontrar o grupo foragido e igualmente disfarçá-los de cidadãos canadenses que fazem parte da equipe de filmagem para poder extraí-los do país sem que o governo iraniano percebesse.
Embora Argo seja o título do filme e o título do roteiro utilizado no plano que o filme narra, na missão real de extração o título do roteiro utilizado foi de um filme que nunca foi filmado chamado O Senhor da Luz (Lord Of Light), baseado na obra de Roger Zelazny, e aquilo que parecia absurdo, no fim se tornou um sucesso e um exemplo de parceria e cooperação diplomática entre diferentes nações. Foi isso que chamou a atenção de Ben Affleck para adaptar a história originalmente publicada como um artigo em 2007, mas que já havia se tornado pública durante o governo de Clinton.

Sem dúvida é um filme que acaba enaltecendo os Estados Unidos em um período difícil que o país passa de descrença entre seus próprios cidadãos e do constante declínio de sua hegemonia e imagem no resto do mundo. Também acaba sendo sem querer um ponto de vista mais bonito, humanitário e contraditório do filme A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty, 2012), em que a diretora Kathryn Bigelow e o roteirista Mark Boal não mediram esforços para mostrar o lado mais desumano e anti-diplomático dos Estados Unidos quando o assunto envolve a guerra de interesses. Talvez seja por essa razão que o filme de Affleck esteja sendo ovacionado pela crítica e pelo público, pois é um filme que acaba por promover uma imagem que os EUA agora carece.
Enquanto Argo mostra o lado patriótico e pacífico da CIA, A Hora Mais Escura mostra o lado negro da força da agência de inteligência secreta do país, suas influências perigosas e o abuso de força e poder. Por isso, mesmo os dois filmes se passando em épocas e situações distintas, se tornaram importantes títulos que são interessantes de serem assistidos para essa observação ser feita, pois juntos erguem questões fundamentais que o grande público até então tinha pouco acesso.
Enquanto Bigelow deu um ar mais histórico ao seu filme evitando transformar fatos em cenas de ação comuns do gênero, Affleck oferece um tom mais fictício transformando os fatos em um grande entretenimento, e não há como negar os méritos disso. O filme se destaca exatamente por ser igualmente baseado em pesquisas sólidas para retratar e caracterizar tudo da forma mais histórica possível (como é mostrado durante os créditos finais) e ainda recebe as dosagens exatas de humor, ação convencional e suspense. Por conta dessa união feliz de diferentes fatores que poderiam facilmente cair em um grande besteirol, Argo é um filme de ação incomum e inteiramente verídico, porém dentro de um tom teatral útil que entretém e nunca deixa o espectador entediado.
Obviamente que Affleck usa e abusa de clichés para manter um clima de tensão constante, repetindo aquela mesma tática de segurar as situações e enganar o espectador, fazendo-o acreditar que tudo vai dar errado até o clímax ser atingido e todo mundo finalmente poder dizer "ufa". Essa fórmula é repetida não com frequência, mas seguidamente, o que acaba sendo um pouco cansativo e previsível porque depois da primeira vez que isso acontece a tensão continua existindo, mas não há surpresas. Independente disso, para a proposta do filme, a tática funciona bem até o último minuto.
Grandes pontos positivos também para os atores, que também receberam o prêmio SAG de Melhor Elenco de longa metragem, uma das categorias mais importantes do evento e da temporada de premiações, já que é avaliado as atuações como um todo e sua química em cena. Isso deve ser por conta da maioria do elenco ser formado por atores experientes e gabaritados, mais conhecidos por trabalharem em seriados de televisão como: Bryan Cranston, de Breaking Bad; Victor Garber de Alias, Clea DuVall, de American Horror History; Kyle Chandler de Friday Night Lights; e Tate Donovan, Chris Messina e Zeljko Ivanek, de Damages. Atores que já estão acostumados a trabalhar com grandes equipes e tem uma capacidade maior de interação entre si. O grande defeito de elenco é o próprio Ben Affleck, que ainda insiste em atuar (ou finge atuar) em seus próprios filmes. Mas aqui sua incapacidade nem é tão notada, tudo fica bem camuflado no meio de tanta barba, cabelo e demais atores que conseguem roubar as cenas.
O filme ainda concorre ao Oscar de Melhor Edição, que é bastante pontual e funcional, nunca deixando o clima cair ou desandar. A produção de arte e o figurino também são excelentes, retratando bastante os anos 70, inclusive no tipo de filmagem, já que Ben Affleck fez questão de que a imagem tivesse o mesmo aspecto envelhecido de documentos da época, realizando um processo de filmagem convencional, porém em um tamanho menor de imagem, e depois duplicando seu tamanho na hora da revelação para que essa granulação ficasse mais nítida.
Buscando a história real e os fatos verídicos, há alguns anacronismos e desvios que Affleck fez questão de dizer que foram feitos simplesmente para amarrar o roteiro e manter os climas de tensão, desde as coisas mais supérfluas (como as letras de Hollywood em ruínas, que foram restauradas antes da época em que o filme se passa) até as mais sérias, como o fato do filme afirmar que apenas a Embaixada Canadense ofereceu refúgio aos seis americanos, quando na realidade tanto a Embaixada Britânica quanto a Neozelandesa também ofereceram ajuda.

Enfim, como ator Ben Affleck tem se provado um grande diretor e roteirista. Por um lado confesso que meu preconceito me impede de aceitar que Argo realmente tenha a melhor direção, o melhor roteiro e, por fim, acabe sendo o melhor filme de 2012, mas por outro também tenho que concordar que ele realmente não desaponta em nenhum aspecto, além de ter conseguido fazer uma coisa que nenhum dos filmes que figuram na lista dos melhores das premiações conseguiram até o momento, me deixar empolgado e em nenhum momento me entediar ou querer que acabasse logo.
CONCLUSÃO...
É um filme feito sob medida. Tudo nele funciona como deve e em nenhum momento peca por excessos ou faltas, e mesmo sendo um filme baseado fortemente em fatos verídicos, ele é construído em cima de um clima de ação e tensão que o deixa com um aspecto incomum. Interessante quando assistido junto com A Hora Mais Escura, já que é outro título de 2012 também fortemente baseado em fatos verídicos envolvendo ações da CIA e com uma narrativa completamente diferente, mas que ajuda a erguer questões fundamentais que não devem ser ignoradas. É Affleck sabendo escolher bons trabalhos e excelentes parcerias, como a de Clooney na produção e todo o elenco envolvido. O orgulho e preconceito de alguns pode dificultar, mas realmente ele merece estar entre o Top 5 de 2012.

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